A Ambev, a gigante produtora de bebidas brasileira, mostrou que sabe navegar um período de tempestade como o da covid-19. O bom desempenho operacional do segundo trimestre, apesar da queda de 49,4% do lucro ajustado em relação ao mesmo período de 2019, demonstrou que a companhia é um "navio inafundável".
Esta, pelo menos, é a análise feita pelo Credit Suisse sobre a empresa. O banco elevou a recomendação da ação ordinária da Ambev (ABEV3) de neutra para compra. O preço-alvo do papel foi elevado de R$ 15 para R$ 20.
As ações abriram o pregão em forte alta, avançando mais de 5%, para R$ 15,92, mas no fim da manhã passaram a cair, fechando em queda de 3,96%, a R$ 14,55.
A reinvenção da companhia, com a utilização dos canais de vendas digitais, permitiu à empresa manter os clientes ainda mais próximos após as medidas de distanciamento social.
A Ambev também teve que se adaptar às vendas concentradas em canais off-trade — ou seja, hipermercados, supermercados e minimercados —, onde conseguiu manter os clientes o mais próximo possível em razão de sua representatividade no ambiente.
Isto se deve ao fato de os canais on-trade, que correspondem a bares, restaurantes, cafés, hotéis, terem sido interrompidos pelo fechamento do comércio não essencial.
Além disso, na visão do Credit Suisse, em meio às dificuldades enfrentadas pelos concorrentes, os volumes de cerveja produzidos no Brasil pela Ambev se recuperaram mais rapidamente do que o esperado — com queda de apenas 1,6% no 2º trimestre, na comparação com o mesmo período de 2019.
"Em um curto período de tempo, a companhia se reinventou usando
iniciativas de vendas digitais, mantendo os acionistas próximos e as instalações em pleno funcionamento", diz o relatório, assinado por Marcella Recchia.
O banco também vê que as ações da Ambev atualmente se encontram muito descontadas, com um desempenho inferior em mais de 20% ao do Ibovespa desde o fim de março, o que sustenta uma valorização dos papéis.
O teu futuro é favorável
A analista do banco também avalia que o futuro da Ambev vai sofrer os efeitos de "ventos de cauda" do ambiente competitivo, que hoje se encontra mais favorável à companhia.
Com o impulso da cerveja no Brasil, os volumes consolidados cresceram 5% em junho. O Credit Suisse diz que, segundo suas verificações, os volumes de cerveja em julho foram tão sólidos quanto os do mês passado. A expectativa, assim, é de um segundo semestre mais forte, com volumes de cerveja fechando 2020 em alta de 1,7% — e uma alta de 10% no Ebitda da operação com cervejas.
O Credit Suisse disse também que antecipava uma reação positiva das ações da Ambev seguindo o forte resultado da operação cervejeira no Brasil e o desempenho da receita — a receita líquida caiu 10,4% em relação ao mesmo trimestre de 2019.
Riscos à frente
O atraso potencial nos planos de expansão de capacidade da concorrência e o fato de a empresa se beneficiar da integração vertical com sua fábrica de latas de alumínio, assim como o aparente esgotamento dos fornecedores na América Latina até o fim de 2020, são catalisadores para a Ambev.
Os riscos correspondem a impostos, aumento da concorrência e fusões e aquisições no setor.