Mercado entra em pânico e Ibovespa desaba mais de 5%; dólar fecha a R$ 4,65
A percepção de que o surto de coronavírus provocará novos cortes na Selic mantém o dólar à vista estressado e o empurra para novos recordes; o Ibovespa cai, em linha com o exterior

A cautela volta a tomar conta dos mercados globais nesta quinta-feira (5). Mesmo após o salto de mais de 1% visto ontem, o dólar à vista continuou sob intensa pressão e fechou acima dos R$ 4,65; nas bolsas, o tom é de prudência, com um forte movimento de realização de lucros lá fora — o que puxa o Ibovespa ao campo negativo.
A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 4,6515, em alta de 1,56% — na máxima, chegou a bater R$ 4,6670 (+1,90%). E olha que o Banco Central (BC) fez três leilões extras de swap cambial hoje, no valor de US$ 1 bilhão cada.
O Ibovespa também sofre: às 17h30, despencava 5,46%, aos 101.369,57 pontos, indo pior que os índices acionários dos Estados Unidos, que já têm perdas expressivas: o Dow Jones cai 3,78%, o S&P 500 tem baixa de 3,73% e o Nasdaq opera em queda de 3,40%.
Novamente, a tensão com o coronavírus dita as negociações no mundo. Todo o cenário de preocupação fez com que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortasse a taxa de juros do país em 0,5 ponto, de maneira extraordinária na última terça-feira (3), de modo a blindar a economia local de eventuais impactos negativos do surto.
A medida surpreendeu o mercado e renovou a percepção de que um novo ciclo global de afrouxamento monetário será iniciado — o que afeta diretamente o Copom, que pode se ver forçado a continuar reduzindo a Selic.
Mas novos cortes na taxa básica de juros brasileira geram pressão sobre o câmbio, já que o diferencial de juros em relação aos EUA permanecerá inalterado caso o Copom acompanhe o movimento do Fed. Assim, vemos uma pressão contínua no câmbio.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Nesta quinta-feira, as curvas de juros fecharam em alta, num movimento de correção após as fortes baixas vistas nos últimos dias. Mas, mesmo com essa abertura dos DIs, os contratos mais curtos ainda estão em níveis muito baixos, evidenciando que o mercado aposta em mais cortes na Selic.
Veja abaixo como ficaram as curvas mais líquidas nesta quinta-feira:
- Janeiro/2021: de 3,76% para 3,88%;
- Janeiro/2022: de 4,22% para 4,43%;
- Janeiro/2023: de 4,82% para 5,07%;
- Janeiro/2025: de 5,79% para 6,01%.
Nervosismo
A própria postura do BC é motivo de estresse para o mercado de câmbio. Na última terça-feira (3), data em que o Fed cortou os juros nos EUA, a autoridade brasileira assumiu um tom bastante vago ao comentar sua visão do atual momento de turbulência visto no exterior, sem dar qualquer pista sobre os próximos passos quanto à política monetária local.
E a forma escolhida pelo BC para atuar no câmbio e tentar trazer alívio — via leilões extra de swap cambial que são anunciados com antecedência — não tem sido efetiva. Pelo contrário: apenas aumenta a frustração de quem espera uma atitude mais enfática.
- Eu gravei um vídeo com alguns comentários a respeito dessa postura vacilante do BC num momento de disparada do dólar. Veja abaixo:
Para Ricardo Gomes da Silva, operador de câmbio da corretora Correparti, o contexto externo mais complicado tem desencadeado um movimento de fuga de capitais do país. E, para ele, o BC deveria anunciar medidas mais estruturadas para atender à demanda crescente por dólares.
Silva cita a postura do banco central do Chile, que, em meio aos protestos sociais vistos no país no fim de 2019, anunciou um programa prolongado de leilões de swap, garantindo a injeção de recursos no sistema por um período definido. "O Brasil poderia fazer algo parecido, garantindo o abastecimento do mercado por um tempo pré-determinado".
O operador da Correparti, no entanto, lembra que, além do contexto internacional, há também a falta de credibilidade da economia brasileira, em meio à frustração com o crescimento de 1,1% do PIB em 2019 e à leitura de que as projeções para 2020 tendem a ser revisadas pra baixo.
"Há uma descrença grande", disse, citando a dificuldade para avanço das reformas e o ambiente político conturbado.
Turbulência nas bolsas
O pano de fundo para as bolsas segue o mesmo, com o surto de coronavírus ditando a percepção de risco dos investidores. E, nesta quinta-feira, a prudência é dominante, em meio aos relatos de avanço da doença nos Estados Unidos.
"A situação está bem conturbada no curto prazo, e aí tem pouca gente querendo assumir riscos", diz Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos, destacando a notícia de que a Califórnia decretou estado de emergência por causa das novas ocorrências da doença.
Ao todo, já são quase 3,3 mil mortos e mais de 97 mil pessoas contaminadas no mundo. A situação é particularmente preocupante na Itália, que já contabiliza 148 óbitos e pouco menos de quatro mil infectados.
E, em meio à expansão do vírus em escala global, começam a surgir mais sinais de impacto econômico. O setor aéreo, por exemplo, é um dos principais afetados — segundo a Associação Internacional de Transportes Aéreos, o coronavírus fez a demanda global por viagens crescer apenas 2,4% em janeiro, o menor ritmo de expansão desde 2010.
Nesse contexto, também chama a atenção a entrada em recuperação judicial da aérea britânica Flybe, impactada pela queda nas reservas de voos com o surto global da doença.
Além disso, vale ressaltar que, ontem, as bolsas americanas tiveram um desempenho bastante positivo, impulsionadas pelo fortalecimento de Joe Biden nas prévias do partido Democrata. Desta maneira, há um espaço maior para um movimento de realização de lucros.
Por aqui, a constatação de novos casos de coronavírus no Brasil — já são oito contaminados, sendo que duas dessas ocorrências foram resultado de transmissões locais — contribui para aumentar ainda mais a aversão ao risco.
"O mercado está muito errático e a incerteza está cada vez mais forte"
Glauco Legat, analista-chefe da Necton Investimentos
IRB segue na berlinda
Após caírem mais de 30% ontem, as ações ON do IRB (IRBR3) até chegaram a abrir em alta, em meio à demissão da alta cúpula da companhia em função do vexame envolvendo o megainvestidor Warren Buffett.
No entanto, essa ligeira recuperação durou pouco: ainda durante a manhã, os papéis viraram ao campo negativo e, agora, recuam 11,44%, a R$ 16,87. Mais cedo, em teleconferência, a empresa afirmou que não vai rever os balanços passados, questionados pela gestora Squadra.
Top 5
Apenas um papel do Ibovespa opera em alta neste momento: Raia Drogasil ON (RADL3), com ganhos de 1,55%. Veja abaixo as cinco maiores quedas do índice:
- Gol PN (GOLL4): -14,83%
- Azul PN (AZUL4): -11,64%
- IRB ON (RBR3): -11,44%
- Via Varejo ON (VVAR3): -9,28%
- Ultrapar ON (UGPA3): -9,22%
Mexendo o esqueleto: B3 inclui Smart Fit (SMFT3) e Direcional (DIRR3) na última prévia do Ibovespa para o próximo quadrimestre; veja quem sai para dar lugar a elas
Se nada mudar radicalmente nos próximos dias, as duas ações estrearão no Ibovespa em 5 de maio
Alguém está errado: Ibovespa chega embalado ao último pregão de abril, mas hoje briga com agenda cheia em véspera de feriado
Investidores repercutem Petrobras, Santander, Weg, IBGE, Caged, PIB preliminar dos EUA e inflação de gastos com consumo dos norte-americanos
Azul (AZUL4) volta a tombar na bolsa; afinal, o que está acontecendo com a companhia aérea?
Empresa enfrenta situação crítica desde a pandemia, e resultado do follow-on, anunciado na semana passada, veio bem abaixo do esperado pelo mercado
Para Gabriel Galípolo, inflação, defasagens e incerteza garantem alta da Selic na próxima semana
Durante a coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2024, o presidente do Banco Central reafirmou o ciclo de aperto monetário e explicou o raciocínio por trás da estratégia
Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA
Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo
Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide
Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.
Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente
Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.
Azul (AZUL4) chega a cair mais de 10% (de novo) e lidera perdas do Ibovespa nesta segunda-feira (28)
O movimento de baixa ganhou força após a divulgação, na última semana, de uma oferta pública primária
Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste
Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento
Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços
Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana
Ibovespa: Dois gatilhos podem impulsionar alta da bolsa brasileira no segundo semestre; veja quais são
Se nos primeiros quatro meses do ano o Ibovespa tem atravessado a turbulência dos mercados globais em alta, o segundo semestre pode ser ainda melhor, na visão estrategista-chefe da Empiricus
Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações
A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade
OPA do Carrefour (CRFB3): de ‘virada’, acionistas aprovam saída da empresa da bolsa brasileira
Parecia que ia dar ruim para o Carrefour (CRFB3), mas o jogo virou. Os acionistas presentes na assembleia desta sexta-feira (25) aprovaram a conversão da empresa brasileira em subsidiária integral da matriz francesa, com a consequente saída da B3
Vale (VALE3) sem dividendos extraordinários e de olho na China: o que pode acontecer com a mineradora agora; ações caem 2%
Executivos da companhia, incluindo o CEO Gustavo Pimenta, explicam o resultado financeiro do primeiro trimestre e alertam sobre os riscos da guerra comercial entre China e EUA nos negócios da empresa
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado
Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio
Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale
Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal
Dona do Google vai pagar mais dividendos e recomprar US$ 70 bilhões em ações após superar projeção de receita e lucro no trimestre
A reação dos investidores aos números da Alphabet foi imediata: as ações chegaram a subir mais de 4% no after market em Nova York nesta quinta-feira (24)
Subir é o melhor remédio: ação da Hypera (HYPE3) dispara 12% e lidera o Ibovespa mesmo após prejuízo
Entenda a razão para o desempenho negativo da companhia entre janeiro e março não ter assustado os investidores e saiba se é o momento de colocar os papéis na carteira ou se desfazer deles
Por que o ouro se tornou o porto seguro preferido dos investidores ante a liquidação dos títulos do Tesouro americano e do dólar?
Perda de credibilidade dos ativos americanos e proteção contra a inflação levam o ouro a se destacar neste início de ano