Pressionado pelo coronavírus, Ibovespa cai mais 2,59% e fecha na mínima do dia; dólar sobe a R$ 4,47
O mercado até ensaiou um movimento de recuperação no meio da tarde, mas a cautela com o surto de coronavírus prevaleceu, derrubando o Ibovespa — apenas quatro ações do índice fecharam em alta. O dólar cravou mais uma máxima
No meio da tarde desta quinta-feira (27), parecia que os mercados finalmente teriam uma trégua: o Ibovespa ganhou força e chegou a aparecer no campo positivo, enquanto o dólar à vista se afastou das máximas e quase ficou no zero a zero. Esse esboço de recuperação, no entanto, teve vida curta.
Em poucos minutos, a cautela voltou a imperar nos mercados brasileiros, jogando um balde de água fria em quem se animou com uma possível virada no jogo. O coronavírus continuou soberano por aqui, empurrando a bolsa para o vermelho e levando o dólar às máximas.
Mais que isso: o Ibovespa fechou o pregão na mínima do dia, aos 112.983,54 pontos, em baixa de 2,59%. É a menor pontuação de encerramento desde 10 de outubro de 2019, quando o índice estava em 101.817,13 pontos.
Considerando a baixa de 7% da sessão anterior, o Ibovespa já acumula perdas de 9,41% em dois pregões — em fevereiro, a queda é de 9,47%. Desde o início do ano, o índice já recua 10,95%.
O dólar à vista também continua bastante estressado: a moeda americana terminou em alta de 0,78%, a R$ 4,4759, marcando mais um recorde nominal de encerramento. No momento de maior pressão, chegou a R$ 4,5011 — foi a primeira vez que a divisa ultrapassou a barreira dos R$ 4,50.
A sessão não foi ruim apenas no Brasil: lá fora, o dia foi marcado por perdas expressivas nas bolsas e por uma nova onda de valorização do dólar em escala global.
Na Europa, os principais índices acionários fecharam em queda de mais de 3%; nos Estados Unidos, o Dow Jones (-4,42%), o S&P 500 (-4,42%) e o Nasdaq (-4,61%) caíram forte — tudo por causa da disseminação do coronavírus em escala global, que continua em primeiro plano para os mercados.
Em meio ao surto da doença, os agentes financeiros mostram-se receosos quanto aos desdobramentos de médio prazo — tanto do ponto de vista de saúde pública quanto do lado dos impactos econômicos.
E, pouco a pouco, começam a surgir evidências de que o vírus irá causar uma desaceleração mais intensa na atividade global. A Microsoft seguiu os passos da Apple e revisou para baixo suas projeções trimestrais, citando os impactos do surto em sua cadeia de operações.
Ao todo, já são mais de 2,8 mil mortos e outros 82 mil contaminados pelo coronavírus no mundo. A maior parte das ocorrências continua na China, mas o surgimento de outros epicentros — principalmente Itália, Irã e Coreia do Sul — elevou o alerta nos mercados e gerou uma onda de aversão ao risco.
"A bolsa vai continuar a mercê do sentimento, da percepção de risco", diz Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, lembrando que, somente de ontem para hoje, foram mais de 500 novas ocorrências na Coreia do Sul. "Na Europa, o vírus está se alastrando bem rápido".
Em meio à percepção de que a doença provocará impactos à economia global, o mercado também renova as apostas em mais um corte da Selic, de modo a fornecer estímulo extra à atividade doméstica. Nesse cenário, as curvas de juros fecharam em baixa, tanto na ponta curta quanto na longa.
Veja abaixo como ficaram os principais DIs nesta quinta-feira:
- Janeiro/2021: de 4,19% para 4,15%;
- Janeiro/2022: de 4,76% para 4,66%;
- Janeiro/2023: de 5,37% para 5,27%;
- Janeiro/2025: de 6,19% para 6,11%.
Dólar se fortalece
No mercado de câmbio, o dólar à vista ganhou ainda mais força a partir das 10h30, em resposta aos dados mais fortes que o esperado da economia americana. As encomendas de bens duráveis no país caíram 0,2% em janeiro ante dezembro — a expectativa era de baixa de 1,5%.
A percepção de que a economia americana continua forte, apesar das tensões globais com o coronavírus, reforça a posição do dólar como ativo de segurança. Com isso, a divisa ganhou terreno em escala global, tanto em relação às moedas fortes quanto às de países emergentes.
Nem mesmo os leilões extraordinários de swap, anunciados ontem pelo Banco Central (BC), amenizam a escalada do dólar. "Essas operações só amenizam, não revertem a tendência de alta", diz Beyruti, afirmando que a moeda americana deve continuar forte no curto prazo.
Tensão local
Por aqui, a situação também é bastante tensa, em meio aos atritos entre governo e a classe política. Durante o Carnaval, o presidente Jair Bolsonaro disparou vídeos convocando pessoas para uma manifestação no próximo dia 15 — em pauta, está a "defesa do governo contra o Congresso".
Por mais que, por enquanto, a reação das principais lideranças de Brasília tenha sido moderada, o mercado teme que a situação azede de vez a relação entre a administração Bolsonaro e o Congresso, o que poderia culminar num atraso da pauta de reformas econômicas.
"Tudo isso só prejudica ainda mais [o mercado]", diz Beyruti, lembrando que a inflação fraca contribui para abrir mais espaço para novos cortes na Selic — o que, em última instância, pressiona ainda mais o dólar.
Ambev despenca
No front corporativo, destaque para as ações ON da Ambev (ABEV3), em forte baixa de 8,34%. A companhia terminou o quarto trimestre de 2019 com um lucro líquido ajustado de R$ 4,6 bilhões, alta de 24,4% na base anual. O resultado, contudo, desagradou os analistas — as equipes do BTG Pactual e do Credit Suisse classificaram os números como fracos.
Veja abaixo os cinco papéis de pior desempenho do Ibovespa nesta quinta-feira:
- Gol PN (GOLL4): -8,90%
- Ambev ON (ABEV3): -8,34%
- GPA PN (PCAR4): -6,51%
- Azul PN (AZUL4): -6,47%
- Via Varejo ON (VVAR3): -6,13%
Confira também as maiores altas do índice:
- IRB ON (IRBR3): +6,66%
- Hapvida ON (HAPV3): +1,39%
- Banco do Brasil ON (BBAS3): +1,24%
- Itaú Unibanco PN (ITUB4): +0,06%
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