A liquidez injetada por governos e bancos centrais ao longo dos últimos meses tem levado muitos investidores a ignorarem os impactos de uma pandemia que até o momento já provocou a morte de quase 800 mil pessoas em todo o mundo, sendo cerca de 110 mil no Brasil.
De tempos em tempos, porém, os lembretes de que o novo coronavírus segue circulando à solta e só deve ficar sob controle quando finalmente houver uma vacina que o contenha azedam o humor nos mercados financeiros e a aversão ao risco se espalha.
O lembrete desta quarta-feira veio na ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve Bank (o banco central norte-americano). A autoridade monetária dos Estados Unidos cortou as projeções de crescimento econômico para o que resta do ano. Acrescentou ainda que a "natureza incomum" da pandemia do novo coronavírus dificulta a análise dos fatores de risco à economia.
Como os investidores passaram o dia em compasso de espera por causa da ata, nada mais natural do que reagir a ela. Os principais índices de ações de Wall Street, que subiam, passaram a cair. O dólar, que caía ante a maior parte das moedas, passou a subir. E as bolsas europeias só não reagiram porque já estavam fechadas.
Por aqui, o Ibovespa acentuou a queda, uma vez que já caía, e o dólar foi às máximas da sessão ante o real. No fim, o principal índice do mercado brasileiro de ações fechou em queda de 1,19%, aos 100.853,72 pontos, perto das mínimas da quarta-feira.
O pregão de hoje até começou bem. O Ibovespa abriu em alta com os investidores tentando seguir a alta das ações na Europa e dar continuidade ao alívio com a permanência de Paulo Guedes no Ministério da Economia. Mas não houve fôlego para manter a euforia da véspera.
O principal índice da B3 refletia desde cedo os temores locais com o possível rompimento do teto de gastos. Em meio à agenda vazia no cenário local, os investidores aguardavam o resultado de uma reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, à espera de notícias sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2021.
O principal temor entre os investidores é que a proposta orçamentária, que precisa ser entregue pelo governo ao Congresso até o fim do mês, sinalize algum rompimento do teto de gastos.
Também estava no radar um encontro de Maia com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e representantes da Febraban na busca por uma solução que resulte na redução das astronômicas taxas de juros cobradas por instituições financeiras nas linhas de cheque especial e rotativo do cartão de crédito.
Antes de qualquer sinalização local, entretanto, o Fed veio e azedou um pregão que já não ia bem.
Entre os componentes do Ibovespa, o destaque negativo ficou por conta das ações da Sabesp. Os papéis da companhia de saneamento básico do Estado de São Paulo chegaram a cair mais de 10% depois de o governador João Doria ter declarado que a empresa terá uma nova etapa de capitalização a partir deste mês.
Confira a seguir as maiores altas e as maiores quedas do Ibovespa na sessão de hoje.
MAIORES ALTAS
- Marfrig ON (MRFG3) +5,97%
- Ultrapar ON (UGPA3) +4,68%
- JBS ON (JBSS3) +3,14%
- Gerdau PN (GGBR4) +2,72%
- Gerdau Metalúrgica PN (GOAU4) +2,35%
MAIORES BAIXAS
- Cogna ON (COGN3) -5,46%
- Sabesp ON (SBSP3) -5,04%
- IRB ON (IRBR3) -4,77%
- SulAmerica Unit (SULA11) -4,23%
- Lojas Renner ON (LREN3) -3,75%
Dólar e juro
Já o dólar disparou e passou a renovar sucessivamente as máximas da sessão tanto no Brasil quanto no exterior logo depois da divulgação da ata do Fed.
Após abrir em queda, a moeda norte-americana passou a operar acima da marca de R$ 5,50 desde o início da tarde em meio a persistentes temores com relação ao teto de gastos no Brasil às vésperas da apresentação da proposta de orçamento do governo para 2021.
Depois da divulgação da ata, o dólar passou a subir tanto ante moedas fortes quanto a divisas de países emergentes em meio à sinalização de riscos à recuperação econômica norte-americana em meio à pandemia do novo coronavírus.
Com isso, o dólar estabeleceu-se na faixa dos R$ 5,50 pela terceira vez esta semana e retornou aos níveis mais elevados ante o real desde 22 de maio, chegando à marca de R$ 5,5380 na máxima do dia.
No fechamento, a moeda norte-americana era cotada a R$ 5,5302, uma alta de 1,16% em relação a ontem.
Já os contratos de juros futuros, depois de abrirem em queda, passaram a subir depois de o dólar ter acelerado a alta até encerrarem próximos das máximas da sessão.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,690% para 2,780%;
- Janeiro/2023: de 3,880% para 4,000%;
- Janeiro/2025: de 5,680% para 5,830%;
- Janeiro/2027: de 6,700% para 6,850%.