Governo precisa decidir o que quer do BNDES, avalia Joaquim Levy
Economista prestou depoimento na CPI do BNDES, na Câmara dos Deputados, e falou sobre várias questões que envolveram seu curto mandato
O ex-presidente do BNDES Joaquim Levy disse nesta quarta-feira, 26, que o fim da transferência de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para o BNDES pode comprometer as atividades do banco e afetar a democratização do crédito no Brasil. Ele ressaltou, no entanto, que esse movimento deve ser visto como uma política formal do governo e avaliado sob o ponto de vista do papel da instituição no País.
"O que o governo quer do BNDES? Qual o tamanho? Que atividades o governo quer que ele faça?", questionou Levy, em depoimento na CPI do BNDES, na Câmara dos Deputados.
Como exemplo, ele citou que as atividades de apoio do banco ao programa de privatizações do governo não precisa de muitos recursos. "O FAT é um funding que tem papel importante na democratização do crédito no Brasil", afirmou. "É importante, para os bancos pequenos, que se tenha um funding estável, de longo prazo, para emprestar para pequenas empresas."
A Constituição Federal determina que 40% dos recursos do FAT sejam transferidos ao BNDES para bancar financiamentos das empresas. O restante é usado para o pagamento do seguro-desemprego e abono salarial.
O fim do repasse obrigatório dos recursos do FAT ao BNDES está no relatório da reforma da Previdência, apresentado pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP).
A medida, que obriga que o dinheiro seja usado para o pagamento de aposentadorias e pensões, recebeu muitas críticas depois da divulgação. A ideia é fazer com que o fim do repasse seja gradual. Dessa forma, o "desmame" do BNDES do dinheiro do FAT seria feito ao longo de um período, ainda em análise. O rombo do FAT no ano passado foi superior a R$ 9 bilhões.
Leia Também
Levy ressaltou que o desafio do banco é estar bem capitalizado e ser um banco sólido. Diante da potencial perda de recursos do FAT, segundo ele, técnicos da tesouraria do banco aumentaram a percepção de risco da instituição.
Gustavo Montezano
Sobre o novo presidente do banco, Gustavo Montezano, Levy disse que ele é uma pessoa capaz e afirmou que chegou a convidá-lo para integrar o BNDES.
Na época, porém, ele preferiu ficar na secretaria de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia e trabalhar com o secretário especial Salim Mattar.
BNDES atual
O ex-presidente do BNDES disse que a instituição financeira hoje é mais transparente e não faz mais empréstimos com juros subsidiados. Segundo ele, os desembolsos do banco hoje estão no mínimo histórico e essa situação deve permanecer no futuro. "Sem dúvida nenhuma, o BNDES hoje é muito mais magrinho do que no passado", afirmou, em depoimento na CPI. Para ele, as consequências dessa decisão para o futuro devem ser avaliadas.
Levy passou a responder a perguntas dos deputados que integram a CPI. Antes, ele já respondeu aos questionamentos do relator da CPI, deputado Altineu Côrtes (PR-RJ).
Inicialmente, ele fez uma breve apresentação separada em três partes: a atuação do BNDES entre 2009 e 2014; seu papel como ex-ministro da Fazenda na devolução de recursos pelo banco ao Tesouro; e sua fase como ex-presidente da instituição financeira.
Ao falar sobre os empréstimos que o BNDES fez para empresas que fizeram obras no exterior, entre 2009 e 2014, Levy disse acreditar que o banco foi vítima das companhias. Também segundo ele, o banco foi vítima de ações de contabilidade fiscal do governo - já que, entre 2011 e 2014, o governo não fez a equalização dos empréstimos.
"Há sinais de que o BNDES foi um pouco empurrado para essas atividades", disse ele, ressaltando o fato de que o governo deixou de usar a linha de financiamento Proex, pois ela exigia recursos do Orçamento, e passou a contar diretamente com o BNDES, o que não elevava o déficit primário.
Ainda sobre os empréstimos para serviços de engenharia, Levy disse que eles se davam dentro do marco legal, em cumprimento a políticas definidas pelos ministérios de Relações Exteriores e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Segundo ele, porém, a parcela de serviços exportados era pequena na comparação com os bens vendidos ao exterior.
"Infelizmente os itens de maior valor vinham de outros países", disse Levy. "Havia um desequilíbrio. Em um empréstimo de US$ 3 bilhões, US$ 1 bilhão era de elementos importados de outros países e US$ 200 milhões eram serviços", afirmou, ressaltando que outros bancos de desenvolvimento do exterior também participavam desses empréstimos.
"Por isso, das várias ações que tomamos em 2015, isso foi bloqueado. Saneamos, resolvemos o problema fiscal, começamos com a devolução dos recursos", acrescentou, já se referindo à sua atuação como ministro da Fazenda.
Levy ressaltou que os serviços de engenharia no exterior normalmente custavam entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão por ano ao banco, uma parcela pequena dos US$ 80 bilhões financiados anualmente. "Lógico que apesar de os valores serem comparativamente pequenos, eram empréstimos com implicações bastante sérias e que, em anos mais recentes, resultaram em diversas inadimplências e diversas outras questões", disse.
A situação do BNDES hoje, segundo ele, é muito diferente. Ele ressaltou que atualmente há convergência entre a taxa básica de juros, a Selic, e a TLP, utilizada pela instituição para financiamentos.
Esforços de comunicação
Ao comentar sobre comunicação no BNDES, Levy disse que a instituição não tem nada a esconder. A resistência em "abrir a caixa preta" do banco é uma das causas de sua saída da instituição.
"Acho que fiz esforços de sucesso em comunicar tudo que acontece no BNDES", afirmou, em depoimento na CPI do BNDES, na Câmara dos Deputados. "Obviamente esse esforço de comunicação do BNDES tem que melhorar", admitiu.
Para ele, embora haja acesso às informações por especialistas, a população, de forma geral, tem dificuldades para entender dados e indicadores do banco.
Levy disse que o banco não tem nada a esconder e que hoje há compartilhamento total de recursos com o Tribunal de Contas da União (TCU), Controladoria-Geral da União (CGU), Ministério Público Federal (MPF) e, agora, com a CPI.
Ele frisou que o grau de transparência que o BNDES tem hoje é algo que poucos bancos possuem. "O problema da caixa preta é que ela tem vários sentidos", disse, referindo-se à caixa preta de aviões, que normalmente é acessada para explicar as causas de um acidente. Nesse sentido, ele afirmou que "o BNDES tem uma história registrada".
BNDESPar
O ex-presidente do BNDES disse que pretendia vender as ações que o BNDESPar, braço de participações da instituição, detém em empresas, mas ressaltou que essa saída deve ser feita de forma transparente e estruturada. "Lógico que o BNDESPar ia vender ações. Eu ia vender, mas precisa de um processo", comentou.
A demora em vender essas participações é apontada como uma das causas de sua saída do banco.
Levy reconheceu que a exposição do banco a empresas no ramo de proteínas é grande e ressaltou que a instituição atua para defender seus interesses e os da sociedade diretamente nos conselhos das empresas.
O ex-presidente do BNDES disse ter criado uma diretoria especializada para o BNDESPar para se dedicar justamente a esses desinvestimentos. "Isso tem que ser levado com muito cuidado", disse. Segundo ele, era preciso que a diretoria analisasse como fazer essa saída com segurança. "O BNDESPar tem que sair de empresas, mas de maneira totalmente transparente e estruturada", afirmou. "A carteira do BNDESPar deve ser repensada e reestruturada."
Devolução de recursos
O ex-presidente do BNDES comentou também que a devolução de recursos da instituição ao Tesouro era uma questão "muito pacífica". Levy disse que a devolução deveria ser feita "levando em consideração os objetivos do banco".
Ao mencionar os R$ 30 bilhões devolvidos em maio, ele disse que esses recursos "não teriam uso nem no curto nem no médio prazo e tinham cumprido sua missão". "Recursos parados não geram retorno para o banco e fazia sentido devolver", afirmou.
Levy afirmou ter dito ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que seria possível chegar ao fim do ano e devolver os recursos "com conforto". Guedes disse, em março, que o Tesouro pretendia cobrar do BNDES a devolução de R$ 126 bilhões neste ano - bem acima dos R$ 26 bilhões inicialmente planejados.
A resistência de Levy a esse pedido foi apontada como uma das causas de sua saída, anunciada no domingo, 16 de junho, um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro dizer que ele estava com a "cabeça a prêmio".
O ex-presidente do BNDES disse que era preciso cuidado com a devolução, pois era necessário avaliar se o dinheiro devolvido efetivamente tinha cumprido sua função no banco. Levy citou que essa condição estava prevista em acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o tema.
Levy ressaltou ainda que a discussão sobre a devolução ocorria ao mesmo tempo em que a regra de ouro também não estava resolvida no Congresso. Segundo ele, o dinheiro poderia ser utilizado como justificativa pelos parlamentares para não aprovar o crédito suplementar de R$ 248 bilhões.
*Com Estadão Conteúdo.
Checklist do Enem: o que levar, o que deixar em casa e o que só vai te dar dor de cabeça
Documento de identidade e caneta esferográfica preta são itens obrigatórios, e há itens de vestuário que são proibidos
“Valores conservadores são o tema das eleições. Não é economia. Não são valores liberais. Conservadores tomaram tudo”, diz Paulo Guedes
Ex-ministro da Economia acredita que o mundo vive um novo momento de desordem em que os conservadores estão à frente das mudanças
Lula confirma que irá disputar as eleições em 2026: “vou completar 80 anos, mas tenho a mesma energia de quando tinha 30”
Em visita à Indonésia, Lula confirmou que pretende disputar um quarto mandato; pesquisas mostram o petista na liderança das intenções de voto
Brasileiros não apoiam exploração de petróleo na Foz do Amazonas, diz pesquisa — e afirmam que Lula deve proibir perfuração
Levantamento feito pelo Datafolha pressiona governo por definição clara antes da COP30, enquanto Petrobras aguarda liberação do Ibama
Barroso anuncia aposentadoria e vai deixar cargo de ministro do STF
Com a decisão, Barroso encerrará um ciclo de 12 anos no STF
Eleições 2026: Lula mantém liderança em todos os cenários de 2º turno, e 76% querem que Bolsonaro apoie outro candidato, diz pesquisa
Levantamento Genial/Quaest indica resistência à nova candidatura do presidente, enquanto eleitorado bolsonarista se divide sobre o futuro político do ex-presidente
Derrota para o governo: Câmara arquiva MP 1.303 e livra investimentos de aumento de imposto de renda — bets também saem ilesas
Deputados retiraram a votação do texto da pauta e, com isso, a medida provisória perde a validade nesta quarta-feira (8)
Pesquisa Genial/Quaest mostra popularidade de Lula no maior patamar do ano após crise com EUA
Aprovação sobe a 48%, impulsionada por percepção positiva da postura do governo diante de tarifas impostas por Trump
Imposto de renda sobre CDB, Tesouro Direto, JCP e fundos ficará em 18% após avaliação por comissão do Congresso Nacional
Medida provisória 1.303/25 é aprovada por comissão mista do Congresso e agora segue para ser votada nos plenários da Câmara e do Senado
Lula e Trump finalmente se falam: troca de afagos, pedidos e a promessa de um encontro; entenda o que está em jogo
Telefonema de 30 minutos nesta segunda-feira (6) é o primeiro contato direto entre os líderes depois do tarifaço e aumenta expectativa sobre negociações
Lula e Trump: a “química excelente” que pode mudar a relação entre o Brasil e os EUA
Alexandre Pires, professor de relações internacionais e economia do Ibmec, analisa os efeitos políticos e econômicos de um possível encontro entre os dois presidentes
Com Tarcísio de Freitas cotado para a corrida presidencial, uma outra figura surge na disputa pelo governo de SP
Cenário nacional dificulta a nomeação de candidatos para as eleições de 2026, com impasse de Bolsonaro ainda no radar
Comissão do Senado se antecipa e aprova projeto de isenção de IR até R$ 5 mil; texto agora depende dos deputados
Proposta de isenção de IR aprovada não é a do governo Lula, mas também cria imposto mínimo para altas rendas, programa de renegociação de dívidas e prevê compensação a estados e municípios
Senado vota regulamentação dos novos impostos sobre consumo, IBS e CBS, nesta quarta-feira (24)
Proposta define regras para o novo comitê gestor do IBS e da CBS, tributos que vão substituir impostos atuais a partir de 2027
O que Lula vai dizer na ONU? Soberania e um recado sutil a Trump estão no radar
A expectativa é que o discurso seja calibrado para o público global, evitando foco excessivo em disputas políticas internas
Câncer de Bolsonaro: o que é o carcinoma de pele encontrado em duas lesões removidas
Ex-presidente recebeu alta após internação por queda de pressão, vômitos e tontura; quadro exige acompanhamento médico periódico
LCI e LCA correm o risco de terem rendimentos tributados, mas debêntures incentivadas sairão ilesas após negociações no Congresso
Relator da MP que muda a tributação dos investimentos diz que ainda está em fase de negociação com líderes partidários
“Careca do INSS”: quem é o empresário preso pela PF por esquema que desviou bilhões
Empresário é apontado como “epicentro” de fraudes que desviaram bilhões de aposentadorias
STF condena Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão; saiba quais opções restam ao ex-presidente
Placar final foi 4 a 1 para condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão em regime fechado
Aprovação de Lula sobe para 33% e chega ao maior nível desde dezembro de 2024, diz Datafolha
O índice de reprovação do petista ainda é um dos maiores entre presidentes desde a redemocratização a esta altura do mandato, mas, na comparação direta, Bolsonaro sai perdendo