Você quer ser feliz, estar certo ou ganhar dinheiro?
O mercado financeiro não é — bom, ao menos, não deveria ser — uma olimpíada mundial de corrida intelectual. Também não é um teste de QI, que, na verdade, só serve para mostrar o quão bom você é em testes de QI

Ele já terminou há mais de 10 minutos o livro que lia na “sala do meio”, a forma com que batizaram o cômodo de transição entre a sala de estar e o corredor que leva até os quartos. Liga a televisão e não está passando nenhum jogo de futebol minimamente interessante. O replay de Mirassol e Bragantino já é demais. Desliga o aparelho e vai até a sala. Chama o elevador. Sabe que apertar o botão apenas uma vez é suficiente — todos nós sabemos. Tomado pela ansiedade e impaciência, porém, ele repete o procedimento outras três vezes.
Tenta adiantar a presença do meio de transporte que iminentemente vai conduzi-los do apartamento à garagem, como se aqueles 30 segundos economizados entre o chamamento do elevador e sua efetiva chegada à estação fossem suficientes para compensar os 45 minutos de atraso para a festa de batizado do sobrinho.
Finalmente. O apartamento de 315 metros quadrados em Pinheiros é grande para os dois, mas ainda assim permite que ele ouça o barulho dos saltos altos enfrentando o chão com vigor — ela tem essa mania, que ele considera um pouco de falta de educação; traz poluição sonora. Ela, enfim, está pronta. Sua figura vem se aproximando pelo corredor; não precisa olhar, nota o aumento dos decibéis. Poderia jurar se tratar de uma cavalaria, dada a altura daquela sinfonia sem cordas, típica dos atabaques. É apenas a esposa chegando. Ela pergunta:
“Estou bonita, amor?”
Ela é viciada em chocolates e a herança do último feriado deixou sequelas. Não tinha como ser diferente. Ingeriu uma caixa inteira de especialidades da Lacta, com cada unidade na forma de ovos em seu maior tamanho. Preservou a proporção original. Somente ovos do tipo Sonho de Valsa foram três. Ah, sim, isso antes do domingo fatídico — além de comilona, é ansiosa; não conseguiu esperar o almoço de Páscoa para esbanjar-se na combinação cacau e açúcar, com maior ênfase no segundo. “Chocolate amargo não presta”, gosta de repetir.
Veste um vestido creme, um pouco abaixo do joelho. Claramente está apertado. Talvez tenha encolhido com a lavagem. Ou, então, comprou um número abaixo, quem sabe…
Leia Também
Não é o caso. Ela apenas está acima do peso. Para piorar, as faixas horizontais sobre a predominância da cor clara do vestido ajudam a depreciá-la esteticamente — por dentro, ela continua uma perfeição esbelta; por fora, aproxima-se assintoticamente de uma esfera. As linhas vermelha e amarela na linha do ombro parecem os Trópicos de Câncer e Capricórnio.
Três longos parágrafos depois, o marido ainda não encontrou uma resposta minimamente razoável. Sim, ela conserva o rosto bonito. Mas o desenvolvimento das bochechas e a papada de pelicano não permitem uma afirmação categórica de que o todo ainda é bonito. A resposta honesta ou a cordial? O respeito à verdade ou a conservação de um dia minimamente agradável?
Ele percebera na noite anterior o inchaço dos seios da esposa. Não precisa de sexo para constatar — se fosse por aí, estaria perdido; preserva uma vaga lembrança da última vez. A dilatação é tamanha que pode ser notada mesmo com as mamas mantendo-se dentro do sutiã. Também identificara a retenção de líquido na região pélvica.
Não há dúvidas. Ela está na TPM. Melhor não arriscar. Vamos de resposta cordial.
“Você está linda, meu amor.”
Ele prefere ser feliz a estar certo. É uma piada clássica, apresentada de várias formas. Além de clássica, é propositiva. Deveria transbordar para atitudes em seus investimentos.
Em Bolsa, você quer estar certo ou ganhar dinheiro?
O mercado financeiro não é — bom, ao menos, não deveria ser — uma olimpíada mundial de corrida intelectual. Também não é um teste de QI, que, na verdade, só serve para mostrar o quão bom você é em testes de QI.
Você não está aqui para se provar mais inteligente do que ninguém. Isso não é uma competição entre aqueles cujas teses formuladas ex-ante sobre o futuro dos mercados vão se provar acertadas (ou não) a posteriori.
Eu já apresentei o argumento ao citar o artigo “Understanding is a poor substitute for convexity”, de Nassim Taleb, que volto a relacionar como leitura recomendada para o final de semana. Daí você nota que não concordo com a proposta aparentemente inteligente, mas, na verdade, bastante clichê de que você só pode comprar o que entende. Você não precisa entender o que está comprando; basta compreender como o que está comprando afeta seu portfólio.
Comprei um tico de bitcoin sem entender uma linha sobre esse negócio — você já notou que ele está agora em 25 mil reais? Por onde andam os profetas do apocalipse, defensores da moral, dos bons costumes e do value investing? Ganhei uma bela grana exatamente igual aos maiores entendidos no tema. O mercado é democrático com ignorantes (eu) e PhDs, entre pobres e ricos, entre profissionais e leigos, entre originais e operadores de máquinas fotocopiadoras — os ativos sobem (e caem) do mesmo jeitinho pra todo mundo.
Realidade
X não é F(x), como insiste Taleb. X é a realidade — no caso, o bitcoin e toda a realidade das criptomoedas. F(x) é como a realidade afeta seu portfólio — no exemplo, como a compra de um pouquinho de criptomoedas pode afetar seu bolso; eu comprei sabendo que poderia ir a zero (por isso coloquei um percentual bem baixo do meu portfólio), mas, ao mesmo tempo, poderia caminhar até o infinito. Havia uma assimetria convidativa e aquilo me bastava.
Deixe-me dar outro exemplo ilustrativo. Ele é inventado, mas poderia muito bem ser real. Como diria Alberto Dines, há situações verdadeiras que não são verossímeis, e vice-versa.
Às vésperas das últimas eleições presidenciais norte-americanas, a maior parte dos agentes acreditava na vitória de Hillary Clinton sobre Donald Trump. Em tese, de acordo com os sábios de Wall Street, isso seria bom para as Bolsas norte-americanas, pois representaria continuidade frente às políticas de Barack Obama, o que conferia previsibilidade ao processo.
Havia dois grandes investidores ali. O primeiro estava com o consenso e esperava a vitória da candidata democrata. Ora, diante disso, sua decisão foi ir lá no home broker e comprar um bocado de ações, dado que o prognóstico era de alta em caso de vitória de Hillary.
O outro investidor era um contrarian. Ele vinha acompanhando diligentemente pesquisas de intenção de voto nas profundezas dos EUA. Estava convicto da eleição de Donald Trump. Portanto, foi lá e montou uma grande operação short (vendida) em S&P 500.
O que aconteceu? Como todo mundo sabe, Trump foi eleito e as Bolsas norte-americanas rasgaram pra cima, renovando recorde atrás de recorde. O investidor que errou o resultado da eleição ganhou dinheiro. E o investidor que acertou o resultado da eleição perdeu dinheiro.
Desista de ter razão
Estar certo e ganhar dinheiro são coisas diferentes. Neste nosso jogo, é a segunda coisa que importa. Desafiando seus próprios egos e o desafio narcísico de provar-se intelectualmente um gênio, as pessoas deveriam desistir de querer ter razão, no sentido de acertar teses, e passar a se preocupar mais com ganhar dinheiro.
E como ganhar dinheiro sem necessariamente estar certo (de novo, no sentido de antever cenários)? Perseguindo assimetrias de retorno, comparando o quanto você pode perder no caso negativo e o quanto pode ganhar no caso positivo, consideradas, claro, as probabilidades de cada evento.
A carta de 20 anos do mitológico fundo Verde abre assim: “O Verde completou vinte anos de vida nesse mês de janeiro. Aproveitamos a data para rever um pouco de nossa história, relendo todos os relatórios que escrevemos ao longo desse tempo, de maneira a entender um pouco do que aconteceu com o fundo nesse período, e como a gestão mudou ao longo do caminho. Essa retrospectiva mostra vinte anos de busca constante por retornos assimétricos (grifo meu), aprendizado incansável e permanente sobre o Brasil e o mundo, e uma enorme evolução, tanto dos mercados em que investimentos quanto das ferramentas e da análise que utilizados)”.
E segue: “O início do fundo foi caracterizado por dois grandes trades, que trouxeram importantes retornos, e de certa maneira, consolidaram o DNA de gestão de buscar oportunidades assimétricas (grifo meu novamente) de investimento”.
Com efeito, se você recuperar os grandes trades da história do Verde, a maior parte não veio necessariamente de acertos de teses concebidas como antevisões do futuro, mas, sim, dessas apostas em coisas que poderiam pagar muito se provassem-se certas, e representar um irrelevante prejuízo caso contrário. Pra mim, essa é a maior genialidade da gestão, não percebida e/ou seguida por nenhum outro agente do mercado financeiro brasileiro — ao menos, não nessa proporção e recorrência. Apesar de eu entender que o Fabio Okumura, da Gauss, também tenha uma cabeça bastante talebiana — não à toa, depois dos problemas enfrentados na época de Credit Suisse, agora o cara está voando baixo de novo.
Apostas
Eu sei que é difícil conviver com a ideia de que o melhor a se fazer é incorrer numa sequência de apostas assimétricas e, lá no final, apurar um resultado consolidado positivo. Todos nós queríamos certezas da nossa capacidade de colher boas performances a partir de cada tese formulada a priori. Nosso cérebro não é treinado para conviver com a incerteza e a dúvida; ele gosta de tudo muito bem planejado e dos cenários certos. Infelizmente, não dá. A razão é uma grande emoção, é o desejo de controle.
Você vai ter que fazer um montão de apostas assimétricas ao longo da sua vida, sabendo que uma porção significativa delas vai ser malsucedida. Vários e vários erros no meio do caminho, até um grande acerto capaz de pagar a conta toda. Obviamente, isso só funciona se você resistir até o tal grande acerto — não pode morrer no meio do caminho e ser expulso do jogo. A ideia é válida assumindo alguma convergência às propriedades do Teorema do Limite Central e à Lei dos Grandes Números.
Aqui entra um segundo problema. Se você está acompanhando o raciocínio, entendeu que o investidor bem-sucedido vai precisar aprender a conviver com a perda. Ou melhor, com várias perdas. E isso é muito, mas muito, mas muito custoso do ponto de vista psíquico-emocional. O prejuízo gera um nível de insatisfação pessoal muito grande.
Os estudos de Finanças Comportamentais apontam que, na média, o desconforto gerado por uma perda é cerca de 2,5 vezes mais forte do que a satisfação gerada por um ganho da mesma magnitude. Grosso modo, se você tiver um lucro de 1 real, sua satisfação aumenta 1 ponto. Se tiver um prejuízo de 1 real, sua tristeza cresce 2,5 pontos. Ou seja, você pode até ficar rico, pois seus lucros vão ser maiores do que os prejuízos se tudo der certo do ponto de vista financeiro. Ainda assim, as perdas no meio do caminho podem fazê-lo infeliz. Esse foi inclusive um ponto que Daniel Kahneman tentou levar a Nassim Taleb quando ambos debatiam o livro “Antifrágil”, o que Taleb infelizmente parece não ter entendido muito bem e rebateu com a arrogância que lhe é peculiar: “Ow, you didn’t get the point” — a resposta típica da falta de argumentos.
Kahneman obviamente tinha entendido o ponto: além de não estar certo, talvez você precise abrir mão de parte de sua felicidade para ficar rico. Eu não sei se eu deveria lhe dizer isso, mas… é o que é. Bom final de semana!
Mercados
Mercados brasileiros iniciam a sexta-feira em baixa, repercutindo resultados abaixo do esperado da Vale e alguma apreensão com a indefinição em torno da guerra comercial entre EUA e China, que ameaça retaliar Donald Trump pelos recentes aumentos de tarifa. Ibovespa Futuro registra baixa de 0,5 por cento.
Agenda local traz três referências de inflação. Prévia do IPC-Fipe veio aquém do esperado, enquanto primeira medição mensal do IGP-B superou projeções. IPCA, por sua vez, marcou alta de 0,57 por cento em abril, abaixo da mediana das estimativas em 0,62, o que ajuda a empurrar juros futuros para baixo.
Nos EUA, inflação ao consumidor marcou 0,3 por cento, frente a projeções de 0,4 por cento. Agenda norte-americana ainda traz resultado fiscal.
Tem offshore? Veja como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa jurídica no IR 2025
Regras de tributação de empresas constituídas para investir no exterior mudaram no fim de 2023 e novidades entram totalmente em vigor no IR 2025
A coruja do Duolingo na B3: aplicativo de idiomas terá BDRs na bolsa brasileira
O programa permitirá que investidores brasileiros possam investir em ações do grupo sem precisar de conta no exterior
Como declarar recursos e investimentos no exterior como pessoa física no imposto de renda 2025
Tem imóvel na Flórida? Investe por meio de uma corretora gringa? Bens e rendimentos no exterior também precisam ser informados na declaração de imposto de renda; veja como
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
Tarifaço de Trump pode não resultar em mais inflação, diz CIO da Empiricus Gestão; queda de preços e desaceleração global são mais prováveis
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, fala sobre política do caos de Trump e de como os mercados globais devem reagir à sua guerra tarifária
Dividendos da Petrobras (PETR4) podem cair junto com o preço do petróleo; é hora de trocar as ações pelos títulos de dívida da estatal?
Dívida da empresa emitida no exterior oferece juros na faixa dos 6%, em dólar, com opções que podem ser adquiridas em contas internacionais locais
Não foi só o Banco Master: entre os CDBs mais rentáveis de março, prefixado do Santander paga 15,72%, e banco chinês oferece 9,4% + IPCA
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado; no mês passado, estoque de CDBs no país chegou a R$ 2,57 trilhões, alta de 14,3% na base anual
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
110% do CDI e liquidez imediata — Nubank lança nova Caixinha Turbo para todos os clientes, mas com algumas condições; veja quais
Nubank lança novo investimento acessível a todos os usuários e notificará clientes gradualmente sobre a novidade
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
XP rebate acusações de esquema de pirâmide, venda massiva de COEs e rentabilidade dos fundos
Após a repercussão no mercado, a própria XP decidiu tirar a limpo a história e esclarecer todas as dúvidas e temores dos investidores; veja o que disse a corretora
PGBL ou VGBL? Veja quanto dinheiro você ‘deixa na mesa’ ao escolher o tipo de plano de previdência errado
Investir em PGBL não é para todo mundo, mas para quem tem essa oportunidade, o aporte errado em VGBL pode custar caro; confira a simulação
De Minas para Buenos Aires: argentinos são a primeira frente da expansão do Inter (INBR32) na América Latina
O banco digital brasileiro anunciou um novo plano de expansão e, graças a uma parceria com uma instituição financeira argentina, a entrada no mercado do país deve acontecer em breve
XP Malls (XPML11) é desbancado por outro FII do setor de shopping como o favorito entre analistas para investir em março
O FII mais indicado para este mês está sendo negociado com desconto em relação ao preço justo estimado para as cotas e tem potencial de valorização de 15%
Mata-mata ou pontos corridos? Ibovespa busca nova alta em dia de PIB, medidas de Lula, payroll e Powell
Em meio às idas e vindas da guerra comercial de Donald Trump, PIB fechado de 2024 é o destaque entre os indicadores de hoje
Debêntures da Equatorial se destacam entre as recomendações de renda fixa para investir em março; veja a lista completa
BB e XP recomendaram ainda debêntures isentas de IR, CRAs, títulos públicos e CDBs para investir no mês
Vencimento de Tesouro Selic paga R$ 180 bilhões nesta semana; quanto rende essa bolada se for reinvestida?
Simulamos o retorno do reinvestimento em novos títulos Tesouro Selic e em outros papéis de renda fixa
Estrangeiro “afia o lápis”, mas ainda aguarda momento ideal para entrar na bolsa brasileira
Segundo o Santander, hoje, os investidores gringos mantêm posições pequenas na bolsa, mas mais inclinados a aumentar sua exposição, desde que surja um gatilho apropriado