É possível viver (ou morrer) de day-trade na bolsa?
Estudo com base em dados da CVM mostra que não faz sentido tentar ganhar a vida negociando Ibovespa e dólar futuro. Outra pesquisa mostra que comprar e manter a posição também não tem resultado melhor. A solução seria diversificar

Virar um trader profissional, mandar o patrão à merda, com crase e tudo, e protagonizar algumas cenas do filme “O Lobo de Wall Street” tem se mostrado um sonho cada vez mais comum entre os brasileiros.
Mas um estudo feito por especialistas da Fundação Getulio Vargas (FGV) com investidores reais mostra que viver de day-trade não passa mesmo de um sonho.
Antes de entrarmos nos detalhes, vai aqui um teaser. Dos que se aventuraram no day-trade de mini contratos de Ibovespa por mais de 300 pregões, 91% tiveram prejuízos e dentro um universo de 1.558 pessoas apenas 13, isso mesmo, TREZE, obtiveram lucro médio diário acima de R$ 300.
Outro ponto desmistificado é que não existe uma “curva de aprendizado”, o investidor não melhora quanto mais persiste na atividade. Na realidade ele piora.
Os pesquisadores Fernando Chague e Bruno Giovannetti usaram um banco de dados disponibilizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que contém a atividade completa durante os anos de 2012 a 2017 de todos os day-traders que são pessoas físicas para concluir que:
“Apresentamos fortes evidências de que não faz sentido, ao menos econômico, tentar viver de day-trading. Os dados indicam que a chance de obter uma renda significativa é remota para as pessoas que persistem na atividade. Por outro lado, a chance de se obter prejuízo é muito elevada. Além disso, os dados indicam também que à medida que o day-trader vai persistindo na atividade seu desempenho tende a ir piorando”, dizem os autores.
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O foco do artigo são os contratos de mini índice e mini dólar. O day-trader lucra quando seu preço médio de venda é maior do que seu preço médio de compra, descontando-se os custos de operação.
Segundo o estudo, em um mercado financeiro ocupado por grandes instituições com ferramentas de alta tecnologia, não parece ser razoável supor que uma pessoa, utilizando o computador de sua casa, consiga exercer a atividade de day-trader de maneira consistentemente lucrativa. “Não parece que seja possível, nos termos dos fóruns da internet, ‘viver de day trading’”, dizem os pesquisadores.
No entanto, o número de pessoas que busca viver de day trading no Brasil parece estar aumentando, pois é isso que indica a dinâmica temporal da busca pelo termo “day trade” a partir de computadores localizados no Brasil, reportada pelo "Google Trends", de 2004 a 2019. O número de buscas multiplicou por 4 nos últimos 5 anos.
O que motivou o estudo foi a falta de informação pública de qualidade sobre qual é o resultado obtido pelas pessoas que decidem investir na carreira de day-trader. Segundo os pesquisadores, as informações disponíveis publicamente, em geral "nas mídias de informação ligadas às corretoras", sugerem que embora não seja fácil viver de day trading, é possível.
Além disso, ponderam os estudiosos, a mensagem comum desses especialistas é que há uma curva de aprendizado de aproximadamente um ano e que as pessoas que persistirem na atividade passando pelo período de aprendizado têm boas chances de sucesso. No entanto, essas informações não estão lastreadas em dados públicos.
Assim, a partir de dados anônimos completos de day-trading de todas as pessoas físicas entre 2012 e 2017, os pesquisadores respondem às seguintes perguntas: Das pessoas que começam a fazer day-trading, quantas continuam? Qual é o resultado obtido pelas pessoas que decidem continuar na atividade?
'Bad day'
Um total de 19.696 pessoas começaram a fazer day-trade em mini índice em 2013, 2014 e 2015. Dessas, 1.558 fizeram day-trades em mais de 300 pregões. Levando em conta a zeragem de taxas vistas no fim do ano passado e o interesse pelo tema é de se esperar que esse número venha a aumentar.
Com alguma liberdade de interpretação, os autores definiram essas pessoas como as que levaram à sério o conselho de passar pelo suposto período de aprendizado e continuaram na atividade. Para alguém que esteja interessado em viver de day-trading, dizem os autores, é fundamental conhecer a performance dessas 1.558 pessoas.
Segundo os pesquisadores, os dados não são animadores. Sem considerar custo de corretagem e despesas com plataformas de negociação e cursos (considerando-se então apenas os custos de emolumentos e taxa de registro variável cobrados pela B3), 91%, ou 1.415 dessas 1.558 pessoas, perderam dinheiro. Dos 9% que conseguiram lucro positivo, apenas 13 pessoas (menos de 1%) conseguiram lucro médio diário acima de R$ 300.
Quase ninguém aprende
Segundo o estudo, se houvesse, de fato, um período de aprendizado durante o qual os traders performam pior e aprendem a tarefa, seria importante que essa parte da amostra fosse excluída para calcular a performance desses profissionais. “No entanto, tal exercício não altera substancialmente a conclusão.”
Mesmo excluindo os primeiros 250 pregões de cada indivíduo, os autores encontram que 88% das 1.558 pessoas (1.367) tiveram lucro negativo e, dos 12% que conseguiram lucro positivo, apenas 15 pessoas (menos de 1%) conseguiram lucro médio diário acima de R$ 300.
Resumindo, das 19.696 pessoas que começaram a fazer day-trade em mini índice entre 2013 e 2015, 18.138 (92,1%) desistiram, umas mais cedo, outras mais tarde. Das 1.558 pessoas que passaram pelo período de aprendizado de um ano e continuaram a fazer day-trade, a grande maioria teve prejuízo e um número bem reduzido de pessoas obteve lucro médio diário acima de R$ 300.
“Desta forma, concluímos que a probabilidade de alguém começar a fazer day-trade e conseguir, após o período de aprendizado, uma renda média diária acima de R$ 300, é igual a 15 dividido por 19.696, ou 0,08%”, dizem os autores.
E no mercado de dólar?
As conclusões são semelhantes para os day-traders de mini contrato de dólar. Um total de 14.748 pessoas começaram a fazer day-trade em mini dólar em 2013, 2014 e 2015.
Dessas, 13.617 (92,3%) desistiram, umas mais cedo, outras mais tarde. Das 1.131 pessoas que passaram pelo período de aprendizado de um ano e continuaram a fazer day-trade, a grande maioria teve prejuízo (83% se considerarmos o período todo, 84% se consideramos só os pregões a partir do 250º pregão) e um número bem reduzido de pessoas obteve lucro médio diário acima de R$ 300 (16 se considerarmos o período todo, 20 se consideramos só os pregoes a partir do 250º).
Assim, a probabilidade de alguém começar a fazer day-trade em mini dólar e conseguir, após o período de aprendizado, uma renda média diária acima de R$ 300, é de 0,13%. Considerando quem opera por mais de 300 pregões, a probabilidade é de 1,76%.
Os autores enfatizam que não são considerados possíveis custos de corretagem, cursos e tecnologia.
Piora com o tempo
Os autores também fizeram um estudo econométrico para testar a hipótese que os day-traders vão melhorando com sua persistência. Resultado:
“Surpreendentemente, os dados mostram que, ao invés de irem melhorando com o tempo, os day-traders vão na verdade piorando com o tempo.”
Ou seja, o resultado esperado do pregão 100 é pior do que o do pregão 1 e melhor do que o do pregão 200.
“Uma possível explicação é que à medida que a perda acumulada do day-trader vai aumentando, ele vai tomando decisões cada vez mais equivocadas.”
O estudo também mostra quem são aqueles que mais persistem no day-trade. Os aposentados lideram a permanência enquanto os estudos são os que abandonam a prática mais cedo.
E no mercado de ações?
O estudo "É possível viver de day-trading?" foi uma dica do professor da FGV Samy Dana, que falou dos "resultados assustadores" na sua conta no "Twitter".
O Bruno Giovanetti e o Fernando Chague, ambos professores da FGV, fizeram um estudo a pedido da CVM sobre as pessoas físicas que fazem day trade. Ainda hoje, farei uma thread. Resultados assustadores- Não percam
— Samy Dana (@samydana) March 7, 2019
Enquanto buscava por esse estudo me deparei com outra publicação, igualmente interessante, de Bruno Giovannetti, sobre :“A baixa performance dos indivíduos no mercado de ações brasileiro”, apresentada em evento da CVM no fim do ano passado.
A pesquisa analisou o comportamento dos investidores individuais, que compram ações em pequenas e médias quantidades. A pesquisa foi dividida em dois blocos principais: buy-to-hold (compra e mantém) e day-traders.
O resultado: na média, os indivíduos que operam diretamente no mercado de ações tomaram más decisões e o retorno médio (lucro) foi quase sempre negativo. Quem lucrou, teve ganho médio aproximado de R$ 60,60, considerado quase insuficiente para pagar os custos de transação.
No grupo "compra e segura", a base de dados utilizada considerou transações individuais no Brasil de 1º de janeiro de 2012 a 16 de agosto de 2017. Um total de 903.617 pessoas diferentes compraram ou venderam ações nesse período. No grupo day-trade, houve o total de 182.794 diferentes pessoas realizando pelo menos um day-trade no período analisado.
A conclusão final da pesquisa, apresentada no blog "Penso, logo investido?", da CVM, é que para o indivíduo médio o buy-and-hold tende a gerar perdas antes mesmo de se considerar os custos de transação, já o day-trade gera pequenos lucros, que, contudo, são dizimados pelos custos.
"Pode-se considerar que operar diretamente no mercado de ações pode gerar perdas e que simplesmente investir em um portfólio de ações bem diversificado é, em geral, uma ideia melhor."
A pesquisa destaca os vieses comportamentais que podem estar impedindo uma melhor performance. Entre eles estão a aversão à perda, excesso de confiança e atenção limitada. Esses vieses, sugere a pesquisa, geram erros comuns como: pouca diversificação do portfólio, compra de ações em evidencia na mídia e no mercado, preferência por ações que aparentam loteria e ilusão de preço nominal.
A íntegra do estudo "É possível viver de day-trading?" está disponível aqui.
A apresentação sobre "A baixa performance dos indivíduos no mercado de ações brasileiro" está aqui e esse é o endereço do blog da CVM com os resultados da pesquisa.
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