No xadrez do mercado de câmbio, o tabuleiro está favorável para o real no 2º semestre de 2019
A reforma da Previdência e um movimento de corte de juros nas principais economias do mundo tendem a mexer com as negociações de câmbio nos próximos meses. Mas esses dois vetores parecem convergir para um fortalecimento do real ante o dólar

O mercado financeiro é, de certa maneira, parecido com um jogo de xadrez: para ter sucesso, é preciso saber bem as regras e estar sempre pensando adiante. Apenas reagir ao cenário que se desenha durante o desenrolar das partidas costuma não ser suficiente para sair vitorioso.
Mas engana-se quem pensa que um novato não pode derrotar um enxadrista experiente, ou que é impossível que um iniciante nos mercados consiga ter ganhos relevantes. É tudo uma questão de possuir as ferramentas certas para analisar o panorama dos investimentos — e, com isso, tomar as decisões corretas, no momento mais adequado.
O xadrez dos mercados é particularmente difícil no tabuleiro do câmbio. Por lá, os jogos são especialmente agitados, com peões, bispos, cavalos e torres movimentando-se de maneira frenética. As negociações de moedas, afinal, são as que possuem mais fatores capazes de influenciar o andamento das partidas.
Assim, antecipar uma jogada certeira no câmbio é uma tarefa árdua, mas não precisa ter medo de entrar para o clube. Nós conversamos com diversos especialistas e ouvimos as melhores estratégias para o mercado de moedas nos próximos meses.
E, apesar das inúmeras variáveis, os agentes do mercado financeiros concordam em um ponto: as peças do real estão bem posicionadas no tabuleiro para o segundo semestre deste ano.
Onde Investir no 2º semestre de 2019
Esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre onde investir no segundo semestre de 2019, com as perspectivas para os diferentes ativos. São eles:
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Partida em andamento
Tanto no Brasil quanto no exterior, eventos cruciais estão sendo encaminhados — e o desfecho desses episódios irá definir se é melhor fazer uma jogada ofensiva ou defensiva.
No âmbito doméstico, a reforma da Previdência aparece como linha mestra para as estratégias de câmbio. O cenário-base, de aprovação da proposta, tende a aumentar a confiança dos investidores — tanto locais quanto estrangeiros — e melhorar a situação fiscal do país. Nesse panorama, a tendência é de enfraquecimento do dólar na comparação com o real.
Para Flavio Serrano, economista-chefe do banco chinês Haitong no Brasil, a aprovação de uma reforma "potente" implicaria numa melhora das expectativas, o que resultaria em entrada de recursos e aumento do fluxo de investimentos externos. "Isso contribuiria favoravelmente para um movimento de apreciação [do real]", diz ele.
Posição semelhante é defendida por Luca Bindelli, estrategista-chefe de câmbio do Credit Suisse. Em relatório, ele destaca que, entre as divisas de países emergentes, o real aparece bem posicionado para os próximos meses.
"As reformas sociais parecem estar caminhando na direção certa", escreve Bindelli, ponderando ainda que, com a inflação subindo lentamente no Brasil, as expectativas em relação à política do Banco Central poderiam se tornar mais agressivas.
Assim, o noticiário de Brasília tende a ser decisivo para o comportamento do dólar à vista ao longo de 2019. Caso a tramitação da reforma continue avançando sem grandes entraves — ou seja, dentro de um cronograma razoável e sem movimentos expressivos de desidratação da potência fiscal —, o câmbio tende a reagir no curto prazo, com a moeda americana perdendo força ante o real.
Mas e se a reforma não correr como o planejado? Neste caso, é provável que o movimento contrário aconteça, como destaca Fernando Barroso, diretor da CM Asset. "[A Previdência] é um vetor mais especulativo", diz ele. "Se não acontecer, irá causar um estrago na economia e na relação fiscal, e isso, para o Brasil, seria comprometedor a ponto de ter até uma fuga de capitais".
Peças em movimento
Um segundo grande fator influencia o andamento do xadrez cambial: a política monetária dos principais bancos centrais do mundo. E a tendência, no momento, é de um movimento coordenado de estímulo por parte das autoridades.
Esse cenário tem como pano de fundo a desaceleração econômica global. Na Europa, as principais economias da zona do euro dão sinais de estagnação há meses; na Ásia, a China já começa a sentir os efeitos nocivos da guerra comercial e, no Japão, a atividade tem patinado nos últimos trimestres.
E até mesmo o último porto seguro contra uma recessão, os Estados Unidos, começam a mostrar sinais de fadiga. Os dados econômicos americanos mais recentes indicam uma certa perda de tração por parte da economia do país — o que acendeu uma luz amarela nos mercados globais.
Em meio a esse cenário de desaceleração sincronizada, os BCs começam a colocar as mangas para fora e movimentam suas peças: a ordem do momento é promover ajustes negativos nas taxas de juros ao redor do mundo, de modo a estimular as economias.
Na Europa, por exemplo, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, já sinalizou que cortes de juros estão no radar da instituição; nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) mostra-se cada vez mais inclinado a reduzir as taxas ainda neste ano, embora a intensidade dessa diminuição ainda esteja em debate.
E qual o resultado disso tudo para o mercado de câmbio? Há duas maneiras de se interpretar.
Barroso, da CM Asset, explica que a adoção de uma política monetária expansionista implica em estímulos fiscais ao crédito e geração de inflação, o que culmina em desvalorização das moedas locais. Assim, um corte de juros por parte do Fed, do BCE e de outras economias fortes tende a enfraquecer essas divisas — e dar força ao real.
Já Serrano, do Haitong, pondera que esse efeito só seria aplicável caso os juros no Brasil permanecessem inalterados enquanto os demais bancos centrais cortam as taxas — o que tende a não acontecer, já que, na última reunião do Copom, o BC deu a entender que uma redução na Selic está condicionada à aprovação da reforma da Previdência.
"Por um lado, você teria um dólar mais fraco, mas, por outro, o diferencial de juros permaneceria praticamente inalterado. A gente não ganharia nem perderia, porque faríamos um movimento correlato", diz Serrano. "Com os dois cortando as taxas, o impacto provavelmente seria neutro [para o câmbio]".
Cerco ao rei
Considerando as incertezas e diversos fatores que podem influenciar os vetores locais e externos, os especialistas ponderam que a tendência é de um enfraquecimento extra do dólar ante o real até o fim do ano.
Os cenários-base considerados levam em conta a aprovação da reforma da Previdência e um movimento de cortes de juros nas principais economias do mundo — e também no Brasil.
A intensidade das economias a serem geradas pela reforma e o timing das reduções de taxas pelos BCs, contudo, não é consenso. Assim, os movimentos da taxa de câmbio ao longo dos próximos meses podem sofrer solavancos — mas, ao fim do ano, a expectativa é de valorização do real ante a divisa americana.
O Credit Suisse traça o cenário mais conservador: a instituição projeta que o dólar estará na faixa de R$ 3,80 daqui a três meses, podendo recuar a R$ 3,70 nos próximos 12 meses.
Já Barroso, da CM Asset, aposta numa taxa de câmbio de cerca de R$ 3,75 ao fim do ano. Serrano, do Haitong, vai além: enxerga o dólar numa faixa entre R$ 3,70 e R$ 3,75 no término de 2019.
"Vemos o real apreciando um pouco em relação ao dólar, talvez mais agora no curto prazo, com um certo otimismo por conta da aprovação da reforma da Previdência", diz o economista do banco chinês. "Mas, no médio prazo, talvez haja alguma instabilidade, por causa da desaceleração econômica global e dos cortes de juros".
Os especialistas, assim, estão mais otimistas que os economistas ouvidos pelo Banco Central para o boletim Focus. Em 25 de junho, o mercado projetava que o dólar encerraria o ano na faixa de R$ 3,80.
Ataques e recuos no primeiro tempo
No primeiro semestre deste ano, o dólar à vista passou por momentos de estresse e alívio. Lá atrás, o cenário era de otimismo em relação à reforma e ao governo Jair Bolsonaro, embora o cenário externo estivesse conturbado.
Mas, nos últimos seis meses, a partida passou por reviravoltas. As crises de articulação política da gestão Boslonaro mexeram com os brios do mercado e trouxeram instabilidade ao dólar. E, lá fora, as idas e vindas da guerra comercial — e a mudança de rota dos bancos centrais — trouxeram uma dose extra de emoção ao jogo.
O saldo disso tudo? O dólar à vista saiu de R$ 3,87 ao fim de 2018 para o nível de R$ 3,84 no término de junho — uma queda acumulada de 0,80% no período. Mas a frieza dos números não traduz com exatidão o que aconteceu.
Afinal, ao fim de janeiro, o dólar chegou a operar na faixa de R$ 3,65 — mas, a partir daí, passou por uma onda de fortalecimento, chegando a R$ 4,10 em maio. E, desde então, com os avanços na tramitação da Previdência, voltou aos níveis de R$ 3,83.
E nada impede que oscilações parecidas ocorram ao longo dos próximos seis meses, embora as ferramentas atualmente disponíveis indiquem que o dólar tende a cair até o fim do ano. Assim, é bom pensar numa estratégia para se proteger contra essas instabilidades — ou para lucrar ainda mais num cenário de queda da divisa americana.
Peça dourada
Na contramão, o ouro é um dos ativos que costumam se valorizar quando a tendência da moeda americana é de queda. Nas projeções feitas pela Genial Investimentos, por exemplo, a moeda pode chegar aos R$ 3,70 no médio prazo.
Diante desse cenário, o ouro entra como um seguro que pode amortecer as possíveis perdas que você tenha na carteira em função das oscilações do câmbio. Quem explica é o responsável pela mesa institucional de futuros da plataforma, Roberto Motta.
“Por conta do cenário externo mais negativo de desaceleração mundial e das perspectivas melhores de ajuste fiscal com a aprovação da Previdência, o dólar deve cair. Com isso, o ouro seria a melhor opção para quem deseja se proteger e diversificar os investimentos porque a cotação tende a subir”, destaca o especialista.
E algumas gestoras já estão de olho no ativo desde o começo do ano. Ricardo Kazan, um dos sócios da Novus Capital, conta que a casa montou uma posição razoável no ouro — e que ela foi responsável por garantir uma das melhores performances de um de seus fundos até agora.
Kazan ainda disse que o foco da gestora está em montar posições que apostam na desvalorização do dólar frente ao real e na consequente subida do ouro.
Para ele, apenas dois fatores poderiam atrapalhar a possível queda do dólar: a não-aprovação da reforma da Previdência ou uma mudança de direção do Fed no corte de juros, com possíveis sinais de que a economia americana não está desacelerando. Porém, Kazan vê ambas as opções como pouco prováveis, diante do cenário para o qual caminha a economia.
De qualquer forma, o investidor deve ter sempre em mente que em um cenário bastante negativo para o economia mundial com dólar desvalorizado em relação ao real, o ouro terá vantagem entre os seguros. E é nele que você deverá se apoiar.
Então é melhor fugir do dólar?
Não é bem assim. Para os investidores, o dólar é um ativo de proteção. Você já percebeu que quando o mercado se assusta, geralmente, o Ibovespa cai e o dólar sobe?
Se você leu as outras matérias do especial do Seu Dinheiro sobre Onde Investir no 2º Semestre você deve ter percebido que o mercado está otimista para a bolsa. Só que o tão sonhado ciclo de alta do Ibovespa depende de fatores que ainda são incertos, como a aprovação de uma reforma da Previdência robusta.
Se ela sair, maravilha, quem comprou bolsa deve ganhar um bom dinheiro. Mas e se o texto não passar no Congresso ou sofrer uma "desidratação" que compromete o ajuste fiscal? Será um duro golpe para o investidor da bolsa. É por isso que é importante você ter alguma posição comprada de dólar na sua carteira para proteger parte do seu dinheiro de um golpe como esse.
Nunca é demais se assegurar antes de entrar de cabeça no xadrez. Uma boa opção é variar os investimentos, movendo ora a peça do câmbio, ora a do ouro, ora os demais ativos. Afinal, nada melhor que ter as peças bem posicionadas para tentar dar um xeque-mate.
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