Hoje é véspera de mais um feriado e a pausa amanhã na cidade de São Paulo pelo Dia da Consciência Negra deve enxugar a liquidez dos negócios locais, podendo provocar novas distorções nos preços dos ativos domésticos. Ainda mais diante do fôlego encurtado dos investidores para esticar o rali no exterior, em meio às incertezas em torno da guerra comercial.
O impasse nas negociações entre Estados Unidos e China penalizou o real, levando o dólar a registrar nova marca histórica ontem, fechando acima de R$ 4,20, em meio a um baixo volume financeiro. O movimento pressionou os negócios com juros futuros e pesou na Bolsa brasileira, apagando a direção vista durante boa parte da sessão, e reflete também a saída recorde de dólares do país neste ano.
Lá fora, o sentimento de cautela em relação a um acordo comercial de primeira fase entre as duas maiores economias do mundo volta a prevalecer hoje. Os mercados internacionais amanheceram com poucas oscilações, após uma sessão mista na Ásia, diante das preocupações quanto ao progresso nas negociações sino-americanas.
Xangai subiu 0,9% e Hong Kong avançou 1,4%, enquanto Tóquio recuou 0,5% e Seul caiu 0,3%. Em Nova York, os índices futuros das bolsas exibem leves altas, um dia após os três índices renovarem a máxima histórica apurada na sexta-feira passada. As principais praças europeias também sinalizam uma abertura no positivo. Nos demais mercados, o petróleo recua, enquanto o dólar e os títulos norte-americanos (Treasuries) estão de lado.
Mantendo padrão
A ausência de notícias e dados econômicos relevantes mantém a dinâmica positiva dos mercados. Os investidores sustentam um padrão e seguram posições, à espera de novidades capazes de impulsionar ainda mais os ganhos nos ativos de risco acumulados durante o ano ou dar início a uma correção mais firme nos preços, em caso de frustração com o cenário à frente já precificado.
O fato é que o mercado financeiro resiste em aceitar, mas as dificuldades em se chegar à fase um do acordo comercial põem em dúvida a capacidade de ambos os lados alcançarem um consenso mais amplo, que envolva questões como propriedade intelectual, transferência de tecnologia e política industrial. Por ora, os investidores se apoiam na perspectiva de que um acordo sobre tarifas é muito mais fácil do que em outras áreas.
Mas isso não significa que a disputa entre as duas maiores economias do mundo chegará ao fim. Ao contrário, à medida que a Trade War ganhar contornos mais claros de Tech War, com a inteligência artificial e o Big Data no centro do embate, maiores serão os riscos de fricção entre Pequim e Washington. E esse confronto tende a afetar mais fortemente o crescimento econômico global à frente, alterando o fluxo comercial e a cadeia produtiva.
Agenda sem destaque
A agenda econômica esvaziada nesta terça-feira, tanto no Brasil quanto no exterior, deve contribuir para uma sessão morna no mercado doméstico. O calendário traz apenas uma nova prévia do IGP-M neste mês (8h) e dados sobre a construção de moradias nos Estados Unidos em outubro (10h30).
Entre os eventos de relevo, destaque para a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em audiência pública na Comissão de Assunto Econômicos (CAE) do Senado, a partir das 10h. A expectativa é que ele dê pistas sobre o rumo do juros básicos (Selic) e a atuação da autoridade monetária no mercado de câmbio.