O lucro dos bancos pode cair até R$ 6 bilhões com a decisão do governo de estabelecer o limite de até 8% ao mês para os juros cobrados nas linhas do cheque especial. Os cálculos são do Credit Suisse.
Considerando apenas os quatro grandes bancos listados em bolsa – Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil – o impacto pode chegar a R$ 3,4 bilhões no pior cenário. Esse valor representaria uma queda de 3,6% no lucro de 2020.
As ações dos bancos, que já vêm com um desempenho ruim nas últimas semanas, reagem em queda à medida anunciada ontem à noite pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Por volta das 12h10, os papéis do Itaú (ITUB4) recuavam 0,95% e os do Bradesco (BBDC4) eram negociados em baixa de 1,31%. As ações do Banco do Brasil (BBAS3) caíam 0,36% e as do Santander, 0,91%.
O número de até R$ 6 bilhões pode assustar à primeira vista, mas para o Credit Suisse o impacto é bem menor do que parece. "A redução nas receitas pode ser parcialmente compensada pela possibilidade de os bancos agora cobrarem tarifas nos limites pré-aprovados", escreveram os analistas, em relatório a clientes.
Em um cenário em que os bancos venham a cobrar tarifas dos clientes com limite acima de R$ 500, a redução no lucro dos bancos seria de "apenas" R$ 2,1 bilhões, e a conta dos quatro grandes ficaria em R$ 1,2 bilhão.
Mesmo que não consigam cobrar pelo limite do cheque especial, os bancos ainda podem diminuir a alocação de capital para compensar a perda da receita com a limitação dos juros. Nesse caso, a queda no lucro ficaria em pouco mais de 1,4 bilhão para Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander, segundo o Credit Suisse.
"Acreditamos que a nova regulação é mais justa, porque reduz a carga para os clientes de baixa renda, ao mesmo tempo em que permite aos bancos cobrarem taxas de clientes com limites de crédito aprovados mais altos, o que também é mais alinhado às práticas internacionais", afirmaram os analistas.
Santander cobra mais caro
Os cinco maiores bancos brasileiros cobram hoje taxas de juros nas linhas de cheque especial acima do limite de 8% ao mês estabelecido pelo CMN. Em alguns casos bem acima.
Considerando apenas os cinco grandes, o Santander é o líder desse ranking nem um pouco honroso, com uma taxa de 14,82% ao mês, equivalente a 425,03% ao ano, de acordo com dados do Banco Central.
O Bradesco aparece em segundo, com 12,63% ao mês (316,75% ao ano), seguido pelo Itaú, cuja taxa é de 12,47% ao mês e 309,88% ao ano.
As taxas das três instituições ficam acima da praticada pela média do sistema financeiro em outubro, de 12,4% ao mês (306,9% ao ano), também segundo o BC.
Os bancos públicos se saem um pouco melhor. O Banco do Brasil cobra juros de 12,11% ao mês (294,15% ao ano) no cheque especial.
Antes da decisão do governo de limitar as taxas, a Caixa decidiu cortar os juros no cheque especial a 4,99% ao mês. Mas os dados do BC – que se referem ao período de 7 a 13 de novembro – ainda não captaram esse movimento e apontam que a taxa cobrada pelo banco está em 9,39% ao mês (193,59% ao ano).
Vale lembrar que o efeito nos resultados vai depender não só da taxa de juros como do volume de recursos na linha nos balanços. Os bancos não abrem especificamente o saldo de financiamentos concedidos no cheque especial.
Eu procurei os bancos e a Febraban, mas nenhum deles se pronunciou até o momento.