Qual salto de fé pode dar o dinheiro de um cético?
Empresas como Mercado Livre e Magazine Luiza são avaliadas em cifras que, na ponta do lapis, não se justificam – entendo que é um caso de fé. Em alguma medida, todos precisamos dela
E se, no final, tudo que tivermos de fazer for dar um salto de fé? É difícil para um apreciador das ideias de Sextus Empiricus, um dos pais da escola cética. Não me dou muito bem com os filósofos religiosos, mas aqui cedo à proposição de Kierkegaard.
Em alguma medida, por menor que seja, precisamos de seu “leap of faith”. Mesmo o maior dos céticos precisa acreditar em alguma coisa. Mesmo que seja no nada, o que é diferente de acreditar em coisa alguma. Só há o nada. E do nada pode surgir um monte de coisa. Não há limites ou restrições — faça o que quiseres pois é tudo da lei.
Fora das discussões semânticas, você só atravessa a rua porque crê na capacidade de chegar ao outro lado. Acorda pensando que vai dormir vivo, e por aí vai. Há um conjunto de convenções mínimas a se acreditar, alguns até consensualmente.
Olhando para a Bolsa hoje, vejo que muitas coisas são, em última instância, questão de fé. Claro que todos nós, doutores em finanças, vestidos em nossos ternos italianos azul-marinho bem cortados, jamais admitiremos que, no final do dia, tudo não passa de mera crença. Os super-heróis da Faria Lima estão sempre de uniforme, indumentário e retórico. Criamos as narrativas que queremos, as teses mais mirabolantes da nova fintech, do novo modelo disruptivo, do novo edtech — tudo cabe na falácia da narrativa. Se empregar o termo “Super App” numa apresentação institucional, os múltiplos saltam instantaneamente 30 por cento sob a suposta e imperiosa necessidade de um re-rating.
Imputamos os dados que queremos nas planilhas e as fazemos cuspir o que já gostaríamos ex-ante, usando a suposta frieza dos números para pseudocomprovar uma ideia que já tínhamos antes. Advogados dos apriorismos e das próprias convicções pré-concebidas disfarçados de cientistas. Sob tortura, os dados confessam qualquer coisa.
Como Nietzsche escreveu sobre os filósofos em “Além do Bem e do Mal”: “Ainda que o neguem, são advogados e frequentemente astutos defensores de seus preconceitos, que eles chamam de verdades”. Demonstrações tautológicas de uma pensamento prévio travestidas de modelos de fluxo de caixa descontado, comparações por múltiplos ou análise fundamentalista em geral.
Leia Também
Deixe-me ser um pouco mais claro sobre isso. Não há problema algum com a fé. Muitas vezes, é a única coisa que nos resta diante de um futuro opaco e impermeável, que insiste em ficar no futuro. Contudo, precisa estar claro para todo mundo, inclusive para nós mesmos, que a fé se trata de… fé. E isso é um pouquinho diferente de ciência.
Vamos falar mais especificamente de ações.
Você viu o que aconteceu ontem com os papéis de Mercado Livre? Bom, subiram 12 por cento, após a publicação de resultados acima do esperado. Agora, a empresa está avaliada em 34,2 bilhões de dólares — só para você ter uma ideia (e sem qualquer julgamento aqui), o eBay, que vende cinco vezes mais, vale os mesmos 34 bilhões de dólares.
Sou fã de Mercado Livre. Operação muito redonda, management excelente, uma verdadeira fintech preparada para capturar essa mudança radical no e-commerce em toda a América Latina. Agora, o lucro trimestral foi de 16 milhões de dólares.
Isso não oferece qualquer possibilidade de se comentar valuation. Não tem conta, não tem múltiplo, não tem análise quantitativa. É uma questão de fé, no qualitativo, na capacidade de os caras serem, no futuro (este negócio estranho a que somente os videntes têm acesso), um dos grandes vencedores do mercado.
Não estou criticando as ações. Muito pelo contrário. É possível, diria até provável, que continuem subindo. Há excelentes gestores brasileiros defendendo o case publicamente. Mas, na ponta do lápis, desculpa, na base da conta, do valuation, não se justifica. E tudo bem. Só entendo que seja um caso de fé.
Mercado Livre é só um exemplo. Não é muito diferente de Magazine Luiza. Um espetáculo de operação. Varejo tem dois pilares muito importantes: gerenciamento de estoque (faço um paralelo com uma grande mesa de operações de banco, em que você compra um negócio e mais ou menos sabe o preço final de venda, só que precisa gerir bem o meio do caminho) e custo operacional. Magazine faz os dois com brilhantismo e tem uma exploração de big data talvez sem precedentes no Brasil, o que aumenta o giro do estoque e faz rodar como um reloginho seu marketplace. Agora, neste valuation? Talvez ela ainda dobre de preço, tomando justamente o Mercado Livre aí de cima como referência de apreçamento. Pode ser, claro. Mas, de novo, na base da conta, os múltiplos atuais não se justificam. Você precisa simplesmente acreditar que ela é uma das ganhadoras da nova dinâmica do varejo no Brasil. De novo, questão de fé. E está limpo.
E o que dizer de Banco Inter? Primeiro um elogio pessoal e o registro de minha irrestrita admiração pelo João Vitor Menin, uma referência de management. Ele veio aqui, explicou a operação e achei tudo realmente um espetáculo. E agora com a turma do Softbank pode receber um banho adicional de tecnologia. Novo app em setembro talvez seja novo trigger para as ações. Só que… neste preço? Nada contra. Ao contrário. Tenho várias coisas a favor. Mas não é fácil ter vantagem competitiva aqui. Banco médio no Brasil, em que pese o discurso de nicho, maior agilidade e outros blá-blá-blás, sempre teve dificuldade de ter uma vantagem material frente aos grandes no crédito. Se for partir para ser uma plataforma de investimentos, vai brigar, além dos bancões, contra XP e BTG (o resto que existe por aí é só tentativa; de material mesmo, só esses dois), num outro jogo duro de ser jogado. É mais uma vez uma crença — fundamentada por aspectos qualitativos e preferências pessoais por vezes nem sequer percebidas pelo próprio analista, entorpecido pelos próprios vieses comportamentais.
Todo mundo quer brincar de fintech, de lançar Super App, de ter base enorme de cliente, que, na verdade, nem são clientes, mas apenas “leads”, porque a maior parte não dá dinheiro. Será que toda essa turma vai conseguir rentabilizar esse prospect? Olha, eu estou nesta há dez anos e posso dar meu depoimento pessoal: não é fácil.
Veja as corretoras. Cada uma que aparece em matéria do Valor tem 1 milhão de clientes. Já vi umas cinco dessas. Há um pequeno probleminha: só há 1 milhão de CPFs cadastrados em toda B3. Talvez haja investidor aí cadastrado em alguma outra Bolsa brasileira, vai saber…
Já que estamos no campo da fé sobre as fintechs, compartilho o que eu acho que deve se perseguir para comprar uma ação de um troço desse: um management visionário e completamente obcecado pelo que faz, pelo propósito transformador de sua empresa, e que seja, acima de tudo, um bom administrador de egos. Não subestime esse último ponto.
Quando eu formo minhas próprias crenças, penso no Lindy Effect de Nassim Taleb. Se uma coisa sobreviveu ao teste do tempo, se está aqui por várias décadas e passou por várias crises, talvez haja ali algum mérito.
Com todo respeito às fintechs e aos modelos disruptivos, quem liderou TODOS os movimentos do setor financeiro no Brasil nos últimos 30 anos foi o Itaú. E se o Cade não tivesse barrado, teria 100 por cento da XP. Então, eu sou comprador de Itaú ainda. E digo abertamente: por uma questão de fé, de que cedo ou tarde esses caras se resolvem, mesmo que seja comprando outras coisas que venham a surgir. Bolso é fundo.
E, nessa toada, ainda acredito no petróleo, que há uns 200 anos vai acabar nos próximos 30. Claro que tenho medo da Guerra Comercial levar o mundo para recessão e junto com ele o preço das commodities. Mas acho que os árabes não vão deixar o barril de petróleo vir para os 40 dólares. Também penso numa retomada das tensões com o Irã. E acho que os novos estímulos monetários dos bancos centrais pelo mundo vão valorizar os ativos reais, como as commodities. Se a oferta de moeda aumenta no mundo, tudo o que não é moeda, cuja oferta não mudou, fica mais valorizado na relação de troca. Com muita moeda e o mesmo número de coisas, trocam-se coisas por moedas numa proporção mais favorável às coisas.
Então, eu compro Petro, que deve ter uns 50 por cento de upside com o barril de petróleo a 55 dólares. Se for a 60 dólares, aí PETR4 pode dobrar se fizer a lição de casa e continuar vendendo ativo “non core”.
Ah, mas ninguém sabe o preço do petróleo. Verdade. De novo, questão de fé. Mas como eu sou um cético, compro Azul também, que faz o hedge de minha proteção em Petrobras e PetroRio. Faz cinco anos que o Buffett vem comprando aéreas e nego segue com preconceito pelo que ele falou cem anos atrás.
Eu não sei se a vitória será do conservadorismo ou da disrupção. Não sei quem vai ganhar ou perder. Os próximos heróis ou vilões. Seja como for, ponderando bem as coisas, apostando diversificadamente e com as devidas proteções, você pode estar preparado para qualquer coisa. Venha o que vier. Uma única relação histórica não pode ser quebrada. Aquela que realmente importa. Feliz Dia dos Pais a todos!
Debandada da B3: quando a onda de saída de empresas da bolsa de valores brasileira vai acabar?
Com OPAs e programas de recompras de ações, o número de empresas e papéis disponíveis na B3 diminuiu muito no último ano. Veja o que leva as empresas a saírem da bolsa, quando esse movimento deve acabar e quais os riscos para o investidor
Medo se espalha por Wall Street depois do relatório de emprego dos EUA e nem a “toda-poderosa” Nvidia conseguiu impedir
A criação de postos de trabalho nos EUA veio bem acima do esperado pelo mercado, o que reduz chances de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro; bolsas saem de alta generalizada para queda em uníssono
Depois do hiato causado pelo shutdown, Payroll de setembro vem acima das expectativas e reduz chances de corte de juros em dezembro
Os Estados Unidos (EUA) criaram 119 mil vagas de emprego em setembro, segundo o relatório de payroll divulgado nesta quinta-feira (20) pelo Departamento do Trabalho
Sem medo de bolha? Nvidia (NVDC34) avança 5% e puxa Wall Street junto após resultados fortes — mas ainda há o que temer
Em pleno feriado da Consciência Negra, as bolsas lá fora vão de vento em poupa após a divulgação dos resultados da Nvidia no terceiro trimestre de 2025
Com R$ 480 milhões em CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai 24% na semana, apesar do aumento de capital bilionário
A companhia vive dias agitados na bolsa de valores, com reação ao balanço do terceiro trimestre, liquidação do Banco Master e aprovação da homologação do aumento de capital
Braskem (BRKM5) salta quase 10%, mas fecha com ganho de apenas 0,6%: o que explica o vai e vem das ações hoje?
Mercado reagiu a duas notícias importantes ao longo do dia, mas perdeu força no final do pregão
SPX reduz fatia na Hapvida (HAPV3) em meio a tombo de quase 50% das ações no ano
Gestora informa venda parcial da posição nas ações e mantém derivativos e operações de aluguel
Dividendos: Banco do Brasil (BBAS3) antecipa pagamento de R$ 261,6 milhões em JCP; descubra quem entra no bolo
Apesar de o BB ter terminado o terceiro trimestre com queda de 60% no lucro líquido ajustado, o banco não está deixando os acionistas passarem fome de proventos
Liquidação do Banco Master respinga no BGR B32 (BGRB11); entenda os impactos da crise no FII dono do “prédio da baleia” na Av. Faria Lima
O Banco Master, inquilino do único ativo presente no portfólio do FII, foi liquidado pelo Banco Central por conta de uma grave crise de liquidez
Janela de emissões de cotas pelos FIIs foi reaberta? O que representa o atual boom de ofertas e como escapar das ciladas
Especialistas da EQI Research, Suno Research e Nord Investimentos explicam como os cotistas podem fugir das armadilhas e aproveitar as oportunidades em meio ao boom das emissões de cotas dos fundos imobiliários
Mesmo com Ibovespa em níveis recordes, gestores ficam mais cautelosos, mostra BTG Pactual
Pesquisa com gestores aponta queda no otimismo, desconforto com valuations e realização de lucros após sequência histórica de altas do mercado brasileiro
Com quase R$ 480 milhões em CDBs do Banco Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai mais de 10% na bolsa
As ações da companhia recuaram na bolsa depois de o BC determinar a liquidação extrajudicial do Master e a PF prender Daniel Vorcaro
Hapvida (HAPV3) lidera altas do Ibovespa após tombo da semana passada, mesmo após Safra rebaixar recomendação
Papéis mostram recuperação após desabarem mais de 40% com balanço desastroso no terceiro trimestre, mas onda de revisões de recomendações por analistas continua
Maiores quedas do Ibovespa: Rumo (RAIL3), Raízen (RAIZ4) e Cosan (CSAN3) sofrem na bolsa. O que acontece às empresas de Rubens Ometto?
Trio do grupo Cosan despenca no Ibovespa após balanços fracos e maior pressão sobre a estrutura financeira da Raízen
Os FIIs mais lucrativos do ano: shoppings e agro lideram altas que chegam a 144%
Levantamento mostra que fundos de shoppings e do agronegócio dominaram as maiores valorizações, superando com sobra o desempenho do IFIX
Gestora aposta em ações ‘esquecidas’ do Ibovespa — e faz o mesmo com empresas da Argentina
Logos Capital acumula retorno de quase 100% no ano e está confiante com sua carteira de ações
Ibovespa retoma ganhos com Petrobras (PETR4) e sobe 2% na semana; dólar cai a R$ 5,2973
Na semana, MBRF (MBRF3) liderou os ganhos do Ibovespa com alta de mais de 32%, enquanto Hapvida (HAPV3) foi a ação com pior desempenho da carteira teórica do índice, com tombo de 40%
Depois do balanço devastador da Hapvida (HAPV3) no 3T25, Bradesco BBI entra ‘na onda de revisões’ e corta preço-alvo em quase 50%
Após reduzir o preço-alvo das ações da Hapvida (HAPV3) em quase 50%, o Bradesco BBI mantém recomendação de compra, mas com viés cauteloso, diante de resultados abaixo das expectativas e pressões operacionais para o quarto trimestre
Depois de escapar da falência, Oi (OIBR3) volta a ser negociada na bolsa e chega a subir mais de 20%
Depois de a Justiça reverter a decisão que faliu a Oi atendendo um pedido do Itaú, as ações voltaram a ser negociadas na bolsa depois de 3 pregões de fora da B3
Cogna (COGN3), C&A (CEAB3), Cury (CURY3): Veja as 20 empresas que mais se valorizaram no Ibovespa neste ano
Companhias de setores como educação, construção civil e bancos fazem parte da lista de ações que mais se valorizaram desde o começo do ano