Captação em ofertas públicas em 2019 já supera volume de todo o ano passado
Juro baixo e perspectiva de recuperação econômica estimulam empresas a buscarem recursos no mercado de capitais e investidores a buscarem investimentos que possam render mais
O mercado de capitais brasileiro está, sem dúvida, agitado neste ano. Com a taxa de juros mais baixa da história, as perspectivas de recuperação da economia e a progressiva saída do Estado do financiamento às empresas, as companhias têm buscado mais recursos no mercado de capitais e os investidores têm recorrido a investimentos que possam render mais do que a renda fixa conservadora.
Até o final de setembro, o volume de recursos captado em ofertas públicas de renda fixa e variável já superou a captação de todo o ano de 2018, constituindo o maior volume da série histórica iniciada em 2013.
Destaque para o volume captado em ofertas de ações, que só ficou atrás dos volumes de 2007 e 2010.
De janeiro a setembro de 2019, foram captados R$ 335,1 bilhões em todas as ofertas públicas, sendo R$ 57,6 bilhões em renda variável, R$ 211,3 bilhões em renda fixa e híbridos e R$ 66,2 bilhões em ofertas no mercado externo.
O recorde anterior era de 2017, quando a captação total em ofertas públicas foi de R$ 324,3 bilhões.
Os dados foram divulgados nesta tarde pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
O número de ofertas públicas realizadas neste ano também foi elevado. Foram 718 entre janeiro e setembro, pouco menos que as 741 realizadas no mesmo período de 2018.
O ano passado detém o recorde de número de ofertas da série histórica iniciada em 2013, com 1.026 emissões.
Quantidade e volume de IPOs ainda são baixos
Apesar do volume recorde, a maior parte dos recursos captados na renda variável veio de ofertas subsequentes (follow-ons) e não de ofertas iniciais (IPOs).
Foram apenas dois IPOs (Centauro e Neoenergia) contra 22 follow-ons na bolsa neste ano. O IPO da Vivara, realizado nesta quinta-feira (10) ficou de fora porque só entra na conta do quarto trimestre.
As ofertas subsequentes, responsáveis por uma captação de R$ 53,1 bilhões de janeiro a setembro de 2019, são aquelas ofertas de ações efetuadas por companhias que já tem ações negociadas na bolsa; já os IPOs, responsáveis pela captação de R$ 4,5 bilhões em 2019, são as ofertas realizadas quando as companhias abrem o capital e estreiam na bolsa.
Saiba mais sobre os tipos de ofertas de ações e as diferenças entre eles.
A captação de R$ 57,6 bilhões em ofertas de ações nos três primeiros trimestres de 2019 ficou atrás apenas das captações de R$ 70,4 bilhões em 2010 e R$ 75,5 bilhões em 2007.
O título de ano com mais ofertas em geral e IPOs em particular continua com 2007, quando foram efetuadas 76 ofertas de ações, sendo 64 IPOs e 12 follow-ons.
A quantidade de 24 ofertas realizadas em 2019 por enquanto está em linha com outros anos bons em termos de ofertas de ações.
Pessoa física não tem sido convidada para as festas das ofertas de ações
Apesar dos bons números de volume captado e até de quantidade de ofertas de ações neste ano, vale notar que a maior parte delas não foi aberta para a maioria esmagadora dos investidores pessoas físicas.
Das 24 ofertas realizadas até agora, 19 foram ofertas de esforços restritos, aquelas em que apenas investidores institucionais e profissionais podem participar. Eles foram responsáveis por R$ 34,8 bilhões captados na renda variável até agora.
Apenas cinco foram ofertas registradas, podendo contar com a participação de qualquer investidor. Elas responderam pela captação de R$ 22,8 bilhões.
É a primeira vez que as ofertas de esforços restritos aparecem com tanto destaque entre as ofertas de renda variável.
Ofertas de debêntures não aceleraram...
Com o juro baixo e a saída progressiva do Estado no financiamento a empresas, as debêntures - títulos de dívida emitidos por empresas - têm estado entre os ativos mais promissores.
Mas apesar da grande demanda por esse tipo de título de renda fixa, o volume captado de janeiro a setembro de 2019 foi de R$ 122,3 bilhões quase o mesmo que os R$ 120,4 bilhões captados nesse tipo de emissão no mesmo período do ano passado. Mas ainda dá tempo de superar os R$ 153,7 bilhões captados em 2018.
...mas volume captado em renda fixa e fundos imobiliários foi forte
Porém, quando analisamos todas as ofertas de renda fixa e híbridos, como os fundos imobiliários, os números são bem mais robustos.
Neste grupo incluem-se debêntures, fundos de investimento imobiliário (FII), notas promissórias, Letras Financeiras, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).
Os R$ 89 bilhões captados de janeiro a setembro de 2019 em ofertas públicas desses ativos já superam o total captado em 2018 (R$ 82,7 bilhões) e 2017 (R$ 86,3 bilhões), constituindo uma captação recorde para a série histórica iniciada em 2013.
Destaque para o volume captado com as emissões de FII, de R$ 23,1 bilhões.
Fundos de investimento com grande apetite
A participação dos fundos nas ofertas de ações subiu para 42,8% nos três primeiros trimestres de 2019. No mesmo período de 2018, ela foi de 26,6%, totalizando 29,6% no ano inteiro.
Os fundos também foram os principais subscritores de debêntures, totalizando 56,2% do volume captado neste ano, contra 44,8% no mesmo período do ano passado e 40,1% em 2018 inteiro.
Eles foram os principais subscritores de debêntures incentivadas e CRI, onde sua participação em volume cresceu.
Nos mercados de CRA e FII, no entanto, a maior parte do volume captado veio de pessoas físicas, como nos anos anteriores.
Segundo José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, o aumento da participação dos fundos se deve ao crescimento da indústria de gestão de recursos, estimulado pela proliferação das plataformas on-line de investimento.
Participação dos investidores estrangeiros no volume das ofertas de ações caiu
Enquanto a participação dos fundos de investimento nas ofertas de ações cresceu, a participação dos investidores estrangeiros caiu.
Os gringos responderam por apenas 44,6% do volume de janeiro a setembro de 2019, contra 63,7% no mesmo período do ano passado. Nos números exibidos de 2015 para cá, a participação estrangeira nunca tinha sido inferior a 50%.
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