🔴 ONDE INVESTIR EM NOVEMBRO: AÇÕES, DIVIDENDOS, FIIS E CRIPTOMOEDAS – CONFIRA

Luciana Del Caro

UMA FÓRMULA DE SUCESSO EM PERIGO

O modelo 3G sobrevive a consumidores exigentes e concorrência sem barreiras?

Ações das empresas do grupo, como AB InBev, Kraft Heinz e Burger King perderam valor. Investidores questionam capacidade de empresas de conquistar o consumidor e crescer após temporada de cortes de custos.

Luciana Del Caro
11 de março de 2019
5:32 - atualizado às 11:07
Jorge Paulo Lemann Masterclass Na Prática
Jorge Paulo Lemann - Imagem: VALÉRIA GONÇALVEZ/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/

Não está fácil para ninguém. Nem para a 3G Capital, ícone de uma geração de empresários e símbolo de sucesso do empreendedorismo brasileiro, que agora enfrenta críticas e questionamentos sobre seu modelo de gestão.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Uma das dúvidas que pairam é se a cultura da empresa, baseada no corte de custos e na eficiência, consegue se adaptar a um ambiente de negócios em que a inovação e os novos produtos vêm ganhando espaço das marcas tradicionais, como as detidas pelo portfólio de companhias com o modelo 3G: AB InBev, Kraft Heinz e Restaurant Brands.

O mercado vem dando o seu recado de descontentamento. No ano passado, as ações dessas empresas tiveram desvalorizações significativas, refletindo a desconfiança dos investidores sobre a capacidade de as companhias crescerem de forma orgânica.

Em 2018, o valor de mercado da Kraft Heinz caiu 44%, o da AB InBev escorregou 41% e o da Restaurant Brands (holding de restaurantes dona do Burger King, Tim Hortons e Popeye’s) reduziu-se 10%, segundo dados da Economatica.

Neste ano, os papéis da cervejeira e da rede de restaurantes se recuperam, com altas de 25% e 19% até o dia 5. Mas os da gigante do setor de alimentação continuam afundando: o valor de mercado da Kraft Heinz caía 23% até a mesma data.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Vale lembrar que AB InBev não é do portfólio de investidas da 3G (como são Kraft Heinz e Restaurant Brands), e sim investimento de três dos cinco sócios da 3G, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. Mas a filosofia de gestão é a mesma.

Leia Também

O que vem pesando é, em parte, o modo de operação da 3G, baseado na escolha de companhias estáveis e com marcas fortes, mas com pesadas estruturas de custos. Aí entra a expertise do grupo comandado por Lemann: cortam-se os custos de tudo o que não gera valor e buscam-se ganhos e sinergia por meio de aquisições. No entanto, após as melhorias, vem o desafio de crescer.

O jogo mudou

Nessa seara é que a coisa vem se mostrando mais complicada. E aí está outra parte da questão, talvez até mais relevante do que o questionamento ao modelo 3G: as mudanças no mundo do consumo. Enquanto a AB InBev vem enfrentando a competição das cervejas artesanais, a Kraft Heinz e mesmo o Burger King estão tendo que lidar com a busca por alimentos frescos e menos industrializados.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

E, no caso da Kraft Heinz, com a crescente competição de marcas próprias de supermercados e com consumidores menos a dispostos a gastar mais com marcas conhecidas. Se, antes, conforme dito pelo próprio Lemann, era só comprar uma companhia com marcas líderes e administrá-la eficientemente, agora o desafio parece ser conquistar o consumidor.

Outro ponto de questionamento de analistas passou a ser a constante pressão por custos baixos, que teria sido excessiva. Cristalizou-se a opinião de que a filosofia 3G acabou investindo pouco nas marcas das empresas, levando-as a perder mercado. Recentemente, a Kraft Heinz teve que reavaliar as suas marcas – para menos.

No dia 21 de fevereiro, ao divulgar os resultados do quarto trimestre de 2018, a Kraft Heinz surpreendeu os investidores com uma baixa contábil de US$ 15,4 bilhões, resultante da reavaliação de ativos (por conta do teste de “impairment”) de algumas unidades e de marcas da Kraft e Oscar Meyer.

Para piorar, a companhia também tornou público que havia sido notificada que a Securities and Exchange Commission (SEC) havia iniciado uma investigação das práticas contábeis do departamento de vendas. Em função disso, a companhia registrou um aumento de custos de US$ 25 milhões nos produtos vendidos – levando os investidores a ficar com um pé atrás. No dia seguinte, veio o tombo de 27% das ações.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Após o episódio, o gestor Whitney Tilson – que geriu fundos com a filosofia de value investing por vinte anos, na Kase Capital – tratou o assunto em um email de sua atual empresa, a Kase Learning.

Para ele, todas as companhias de consumo que tradicionalmente se beneficiaram de escala estão sofrendo e continuarão a sofrer os impactos da tecnologia no marketing, produção e distribuição de seus produtos, num cenário em que há a entrada de muitos concorrentes e mudança de hábitos dos consumidores (como a desintermediação provocada pela venda pelo site da Amazon).

Ele se refere especificamente às companhias que atuam com CPG (consumer packaged goods), que equivale à nossa definição de bens não-duráveis: bebidas, alimentos, cigarros, roupas etc.

Lata de cerveja da Skol, da Ambev
Lata de cerveja da Skol, da Ambev - Imagem: Shutterstock

A situação tende a se agravar, acredita: “As companhias em pior posição são as que adotaram um modelo de private equity baseado em alta alavancagem, crescimento constante e baixo e corte de custos”. Justamente como o adotado pela 3G.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ele vai além: “Haverá uma grande destruição de valor nos próximos cinco anos, independentemente do ambiente econômico”.
Tilson considera que o problema principal não é o modelo da 3G, mas sim os setores nos quais ela investiu. Para ele, os fundamentos não são positivos para todas as companhias tradicionais desses setores. “Acredito que a 3G avaliou mal quão difícil seria crescer”, afirmou.

David Kallás, professor do Insper, afirma que as pesquisas demonstram que múltiplos fatores contribuem para o êxito de uma companhia – e que nem sempre o modelo que funciona em uma garante um bom desempenho em outra: “A literatura sobre as companhias mostra que o sucesso geralmente vem de um conjunto de fatores. Portanto, não é possível atribuir o sucesso da Ambev, hoje AB InBev, exclusivamente ao modelo de gestão adotado pela 3G”.

O modelo que funcionou na cervejeira não necessariamente funciona na Kraft Heinz: “Mesmo para empresas do mesmo grupo, nem sempre é possível pegar uma estratégia e aplicar para todas as companhias”. Diferenças em outros aspectos – como o poder de barganha da companhia no ponto de venda (se há exclusividade do fabricante, como na venda de bebidas em bares, ou não) e o tipo de consumo (se é por impulso, como a cerveja, ou mais planejado) – podem auxiliar na explicação de por que a fórmula aparenta estar funcionando com menos eficiência na Kraft Heinz.

Outro ponto é que, na gestão empresarial, nada está garantido para sempre: “Nem sempre os fatores que levaram alguém ao sucesso até determinada parte do caminho continuarão a levar ao sucesso no futuro”, diz João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive. Ele considera que os modelos de gestão, mesmo os de sucesso como o da 3G, podem ser revisitados em face a mudanças no ambiente de negócios e sofrer ajustes para incorporar outras agendas, como a inovação.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Hora de revisar o modelo

Para ele, o time de gestores formado na cultura 3G tem experiência e recursos para repensar as atividades. Caberia aos líderes olhar para dentro de casa e analisar se é necessário promover algum ajuste na cultura para fazer face aos novos desafios de mercado. Em empresas obsessivas com custos e eficiência, geralmente o espaço para inovação (que pode implicar em fracassos, e não só em sucessos) é menor.

Além de lidar com os novos hábitos de consumo, as companhias do grupo terão que enfrentar a tarefa de reter e atrair talentos, diz Souza. No modelo 3G, sobressaíram-se os profissionais com excelente formação acadêmica, focados em resultados e que buscavam desenvolvimento acelerado – o que se tornou possível graças a estratégia de aquisições. “Como será a retenção desses profissionais num ambiente de crescimento mais modesto?”, pergunta Souza.

Outro ponto é a atração de talentos, considera o executivo. Enquanto as gerações que fizeram a cultura de “ame-a ou deixe-a” da 3G estavam voltadas aos resultados e admitiam trabalhar em ambientes mais competitivos e agressivos, as novas gerações têm uma necessidade de trabalhar com um propósito e alinhadas às suas convicções, sejam elas ligadas à ecologia e à sustentabilidade ou a outras causas que podem trazer melhoras ao mundo.

Aparentemente, os empresários da 3G parecem estar escutando o recado do mercado e vem buscando entender melhor as novas tendências por meio de iniciativas como o grupo de inovação Zx Ventures, da AB InBev, criado em 2015 e que investe em e-commerce e testa cervejas artesanais e caseiras.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mas as mudanças de cultura organizacional levam tempo, especialmente em organizações de grande porte. E, em geral, requerem não apenas uma decisão convicta dos controladores das empresas, mas também a mudança de executivos aferrados às crenças antigas. “Líderes direcionam a cultura, e a cultura direciona o restante”, diz Souza. Resta saber se o ritmo da mudança será condizente com a velocidade de inovações do mercado.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
AÇÃO DO MÊS

Itaú (ITUB4) perde a majestade e seis ações ganham destaque em novembro; confira o ranking das recomendações dos analistas

4 de novembro de 2025 - 6:02

Após voltar ao topo do pódio da série Ação do Mês em outubro, os papéis do banco foram empurrados para o fundo do baú e, por pouco, não ficaram de fora da disputa

NO TOPO

Petrobras (PETR4) perde o trono de empresa mais valiosa da B3. Quem é o banco que ‘roubou’ a liderança?

3 de novembro de 2025 - 14:46

Pela primeira vez desde 2020, essa companhia listada na B3 assumiu a liderança do ranking de empresas com maior valor de mercado da bolsa brasileira; veja qual é

LOCATÁRIOS DE PESO

Fundo imobiliário GARE11 vende 10 imóveis, locados ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), por R$ 485 milhões

3 de novembro de 2025 - 14:15

A venda envolve propriedades locadas ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), que pertenciam ao FII Artemis 2022

FECHAMENTO DOS MERCADOS

Ibovespa atinge marca inédita ao fechar acima dos 150 mil pontos; dólar cai a R$ 5,3574

3 de novembro de 2025 - 11:53

Na expectativa pela decisão do Copom, o principal índice de ações da B3 segue avançando, com potencial de chegar aos 170 mil pontos, segundo a XP

PARA FECHAR COM CHAVE DE OURO

A última dança de Warren Buffett: ‘Oráculo de Omaha’ vai deixar a Berkshire Hathaway com caixa em nível recorde

1 de novembro de 2025 - 13:08

Lucro operacional da Berkshire Hathaway saltou 34% em relação ao ano anterior; Warren Buffett se absteve de recomprar ações do conglomerado.

A SEMANA DOS MERCADOS

Ibovespa alcança o 5º recorde seguido, fecha na marca histórica de 149 mil pontos e acumula ganho de 2,26% no mês; dólar cai a R$ 5,3803

31 de outubro de 2025 - 18:15

O combo de juros menores nos EUA e bons desempenhos trimestrais das empresas pavimenta o caminho para o principal índice da bolsa brasileira superar os 150 mil pontos até o final do ano, como apontam as previsões

REAÇÃO AOS RESULTADOS

Maior queda do Ibovespa: o que explica as ações da Marcopolo (POMO4) terem desabado após o balanço do terceiro trimestre?

31 de outubro de 2025 - 12:20

As ações POMO4 terminaram o dia com a maior queda do Ibovespa depois de um balanço que mostrou linhas abaixo do que os analistas esperavam; veja os destaques

DINHEIRO EXTRA

A ‘brecha’ que pode gerar uma onda de dividendos extras aos acionistas destas 20 empresas, segundo o BTG

30 de outubro de 2025 - 16:24

Com a iminência da aprovação do projeto de lei que taxa os dividendos, o BTG listou 20 empresas que podem antecipar pagamentos extraordinários para ‘fugir’ da nova regra

REAÇÃO AO RESULTADO

Faltou brilho? Bradesco (BBDC4) lucra mais no 3T25, mas ações tombam: por que o mercado não se animou com o balanço

30 de outubro de 2025 - 8:56

Mesmo com alta no lucro e na rentabilidade, o Bradesco viu as ações caírem no exterior após o 3T25. Analistas explicam o que pesou sobre o resultado e o que esperar daqui pra frente.

FECHAMENTO DOS MERCADOS

Montanha-russa da bolsa: a frase de Powell que derrubou Wall Street, freou o Ibovespa após marca histórica e fortaleceu o dólar

29 de outubro de 2025 - 17:19

O banco central norte-americano cortou os juros pela segunda vez neste ano mesmo diante da ausência de dados econômicos — o problema foi o que Powell disse depois da decisão

VALE MAIS QUE DINHEIRO

Ouro ainda pode voltar para as máximas: como levar parte desse ganho no bolso

29 de outubro de 2025 - 14:35

Um dos investimentos que mais renderam neste ano é também um dos mais antigos. Mas as formas de investir nele são modernas e vão de contratos futuros a ETFs

O RALI NÃO ACABOU

Ibovespa aos 155 mil pontos? JP Morgan vê três motores para uma nova arrancada da bolsa brasileira em 2025

29 de outubro de 2025 - 13:32

De 10 de outubro até agora, o índice já acumula alta de 5%. No ano, o Ibovespa tem valorização de quase 24%

REAÇÃO AO RESULTADO

Santander Brasil (SANB11) bate expectativa de lucro e rentabilidade, mas analistas ainda tecem críticas ao balanço do 3T25. O que desagradou o mercado?

29 de outubro de 2025 - 10:38

Resultado surpreendeu, mas mercado ainda vê preocupações no horizonte. É hora de comprar as ações SANB11?

NA GANGORRA

Ouro tomba depois de máxima, mas ainda não é hora de vender tudo: preço pode voltar a subir

29 de outubro de 2025 - 6:05

Bancos centrais globais devem continuar comprando ouro para se descolar do dólar, diz estudo; analistas comentam as melhores formas de investir no metal

FECHAMENTO DOS MERCADOS

IA nas bolsas: S&P 500 cruza a marca de 6.900 pontos pela 1ª vez e leva o Ibovespa ao recorde; dólar cai a R$ 5,3597

28 de outubro de 2025 - 17:25

Os ganhos em Nova York foram liderados pela Nvidia, que subiu 4,98% e atingiu uma nova máxima. Por aqui, MBRF e Vale ajudaram o Ibovespa a sustentar a alta.

GIGANTE LOGÍSTICO

‘Pacman dos FIIs’ ataca novamente: GGRC11 abocanha novo imóvel e encerra a maior emissão de cotas da história do fundo

28 de outubro de 2025 - 11:23

Com a aquisição, o fundo imobiliário ultrapassa R$ 2 bilhões em patrimônio líquido e consolida-se entre os maiores fundos logísticos do país, com mais de 200 mil cotistas

OS QUERIDINHOS DOS GRINGOS

Itaú (ITUB4), BTG (BPAC11) e Nubank (ROXO34) são os bancos brasileiros favoritos dos investidores europeus, que veem vida ‘para além da eleição’

27 de outubro de 2025 - 18:43

Risco eleitoral não pesa tanto para os gringos quanto para os investidores locais; estrangeiros mantêm ‘otimismo cauteloso’ em relação a ativos da América Latina

AINDA HÁ ESPAÇO NA FESTA?

Gestor rebate alerta de bolha em IA: “valuation inflado é termo para quem quer ganhar discussão, não dinheiro”

27 de outubro de 2025 - 15:52

Durante o Summit 2025 da Bloomberg Linea, Sylvio Castro, head de Global Solutions no Itaú, contou por que ele não acredita que haja uma bolha se formando no mercado de Inteligência Artificial

BALANÇO SEMANAL

Vamos (VAMO3) lidera os ganhos do Ibovespa, enquanto Fleury (FLRY3) fica na lanterna; veja as maiores altas e quedas da semana

25 de outubro de 2025 - 16:11

Com a ajuda dos dados de inflação, o principal índice da B3 encerrou a segunda semana seguida no azul, acumulando alta de 1,93%

DE OLHO NO GRINGO

Ibovespa na China: Itaú Asset e gestora chinesa obtêm aprovação para negociar o ETF BOVV11 na bolsa de Xangai

24 de outubro de 2025 - 19:15

Parceria faz parte do programa ETF Connect, que prevê cooperação entre a B3 e as bolsas chinesas, com apoio do Ministério da Fazenda e da CVM

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar