Na segunda-feira 28 de janeiro, primeiro dia em que as ações da Vale foram negociadas após o desmoronamento da barragem do Feijão, em Brumadinho, um amigo meu de longa data comprou ações da empresa. Ele achou que a queda de 24% foi exagerada.
Talvez tenha sido. Talvez não.
Raciocinando de maneira oposta, os especialistas da Inversa que fazem indicações pontuais sobre o mercado de ações aconselharam aos assinantes de suas newsletters que ficassem de fora do papel.
Nós, da Inversa, podemos ter posições antagônicas (e muitas vezes temos) a respeito dos diversos mercados. Não existe uma política centralizada de julgamento. Algo como:
“Vamos nos posicionar a favor do real contra o dólar.”
Acontece que, desta vez, tenho exatamente a mesma opinião de meus colegas. Acho que, em meio a um bull market fantástico como o que estamos vivendo, comprar Vale só porque caiu muito não compensa.
Por que eu fico de fora?
Há sérias razões para isso. Um sem número de ameaças paira sobre a mineradora.
Para começar, a companhia vai descomissionar (desativar) 10 barragens de rejeitos de minério de ferro em Minas Gerais. Todas usam o método de alteamento a montante.
Nelas, a contenção é feita por intermédio de degraus em cuja construção são usados os próprios rejeitos. Esse sistema custa muito mais barato, mas é menos seguro. Tanto é assim que já foi proibido em diversos países. O Chile, por exemplo, é um deles.
O descomissionamento vai custar R$ 5 bilhões aos cofres da empresa. Quarenta milhões de toneladas de minério de ferro e 11 milhões de toneladas de pellets deixarão de ser produzidos por ano.
A mina de Brucutu, que produz isoladamente 30 milhões de toneladas, teve suas operações suspensas peja Justiça de Minas Gerais.
Diversas decisões judiciais bloquearam até agora 11 bilhões de reais de recursos da empresa.
Ninguém sabe quantas multas ainda virão.
Imaginemos agora o rigor com que as minas da Vale serão fiscalizadas.
E os ambientalistas, que andavam com a crista baixa após a eleição de Jair Bolsonaro? Eles agora têm 142 mortos e 194 desaparecidos para estimulá-los na volta à refrega.
Imaginemos se acontece uma nova tragédia. O raio já caiu em Minas duas vezes nestes pouco mais de três anos e pode cair uma terceira. Afinal de contas, o descomissionamento de barragens não pode ser feito da noite para o dia. Dependendo do caso, leva de um a três anos.
Pode ser que, com a possibilidade de aprovação da reforma da Previdência, o bull market da Bolsa se estique tanto que leve a Vale a reboque.
Só que, em minha opinião, há papéis muito mais atraentes. Não há necessidade de sair por aí catando uma barganha.
(Esta coluna foi publicada na Inversa Publicações. Para acompanhar os conteúdos gratuitos do Ivan Sant'Anna na Inversa, entre aqui. Ele também escreve uma newsletter matinal chamada Warm Up Pro, para experimentar, acesse aqui.)