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Bruna Furlani
Bruna Furlani
Jornalista formada pela Universidade de Brasília (UnB). Fez curso de jornalismo econômico oferecido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Tem passagem pelas editorias de economia, política e negócios de veículos como O Estado de S.Paulo, SBT e Correio Braziliense.
Entrevista

Movida aposta no aluguel mensal, seminovos e avalia novas captações de recursos no Brasil

Renato Franklin, presidente da locadora de veículos cujas ações (MOVI3) são destaque na bolsa neste ano, me contou sobre os esforços para melhorar as margens no negócio de seminovos, o “calcanhar da Aquiles” da companhia

Bruna Furlani
Bruna Furlani
23 de maio de 2019
5:58 - atualizado às 3:16
Renato Franklin, CEO da Movida
Renato Franklin, CEO da Movida - Imagem: Leo Martins/SEU DINHEIRO

Fugindo um pouco do tradicional laranja que sempre dominou os corredores do nono andar de um edifício comercial em São Paulo, agora a sala do presidente da Movida, Renato Franklin, está mais colorida.

Os itens alaranjados dividem espaço também com uma camisa, relógio e um par de meias roxos, que ele exibe com orgulho. A nova cor é fruto da marca recém-criada pela empresa controlada pela JSL em setembro do ano passado, a Movida Seminovos. Conhecido como o "calcanhar de Aquiles" da companhia, o segmento de seminovos melhorou, mas ainda não chegou onde o mercado deseja.

O crescimento na venda de automóveis desse tipo foi de 39,4% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Para melhorar ainda mais esse número, Franklin disse que pretende atuar mais no varejo do que no atacado e que espera alcançar a geração de caixa suficiente para a manutenção das operações, já desconsiderando pagamentos de juros e de impostos (margem Ebitda), ainda neste ano.

O mercado reconheceu o avanço da companhia. Desde o início do ano, as ações da Movida (MOVI3) acumulam a maior valorização entre as empresas do segmento listadas na B3, com uma valorização de mais de 36%.

Depois de iniciar negociação de recibos de ações (ADRs) no exterior, Franklin disse também que pode fazer nova emissão de papéis a depender de como estará o mercado nos próximos meses, só que desta vez no Brasil.

Outra aposta da empresa é o aluguel mensal, uma tendência que vem crescendo junto com a mudança nos hábitos dos consumidores. A Movida também anunciou recentemente uma parceria com o Sem Parar para instalar sistemas de pedágio automático em toda a frota de 96 mil veículos.

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Saiba mais sobre as perspectivas para a locadora de veículos nesta conversa que eu tive com o presidente da Movida:

Durante a conversa, o CEO da Movida, Renato Franklin, me contou os planos para este ano e falou das novidades que que a companhia vai lançar nas próximas semanas - Imagem: Leo Martins/SEU DINHEIRO

Depois dos últimos resultados, o "calcanhar de Aquiles" da Movida diminuiu de tamanho. Só que mesmo com o crescimento no volume de vendas de seminovos, a margem desse segmento ainda está fraca. O que a Movida pretende fazer para mudar isso?

O trabalho na área de seminovos teve início no ano passado e já trouxe resultados no primeiro trimestre de 2019. Desde a implantação do plano, evoluímos 2,7 pontos percentuais na margem Ebitda (potencial geração de caixa) e essa evolução tem sido constante. Nos próximos meses, a expectativa é que o volume de vendas aumente ainda mais, fazendo com que a despesa fixa se dilua e que a margem cresça.

Como vai ser a estratégia?

Vamos vender mais no varejo do que no atacado. E com o volume que estamos conseguindo, teremos uma melhora na idade do carro vendido, o que vai se refletir em melhora de preço. Com isso, esperamos aumentar o valor médio dos carros. Por meio dessa estratégia, faremos com que a linha de negócios voltada para os seminovos gere caixa suficiente para a manutenção de suas operações, já desconsiderando pagamentos de juros e de impostos (margem Ebitda), ainda neste ano.

No caso do setor de seminovos, um dos pontos que muitos analistas destacaram é a questão da idade média dos veículos ser mais alta do que a média das locadoras. Como pretendem diminuir esse valor e reduzir a quilometragem para tornar os veículos mais competitivos em relação à concorrência?

Sei que a média de idade dos nossos veículos seminovos está em 18 meses, mas queremos voltar ao patamar que praticávamos no passado, que era entre 14 e 15 meses. A expectativa é que o volume que vendemos no primeiro trimestre e o que vamos vender nos próximos devem nos ajudar a trazer essa idade para baixo. À medida em que formos vendendo mais cedo o carro, com uma idade menor, a margem vai melhorar. O resultado que tivemos de janeiro a março já nos permitiu reduzir a idade média dos carros de aluguel de carros para menos de nove meses.

E o que vocês estão planejando de novidade agora para este trimestre?

No caso dos segmentos de seminovos, estamos com duas ações saindo do forno. A primeira é o test-drive 27 horas, que busca dar maior segurança a quem compra. Dessa forma, o consumidor vai conseguir testar o veículo e levar o carro a um mecânico de confiança para avaliação. O aluguel é de uma diária. Em um mês de operação, foram feitos 94 testes e a ativação foi de 5% em vendas.

Além dela, há outra carta na manga?

Outro tema que deve estrear já nas próximas semanas é uma parceria com a rede Ipiranga em São Paulo para aumentar a cobertura de oferta de veículos. Vai funcionar assim: durante três meses, os postos credenciados vão receber um caminhão da Movida. Dentro dele, o cliente poderá agendar um test drive e escolher modelos de seminovos. O projeto terá início em São Paulo, mas a expectativa é que ele seja ampliado para outras cidades no segundo semestre deste ano.

Agora falando um pouco sobre o segmento de aluguel mensal para pessoas físicas. Eu, por exemplo, quando ando de aplicativo percebo que muitos motoristas estão alugando carros de companhias como a Movida. Como tem sido o desempenho do aluguel mensal para pessoa física?

Esse público está crescendo mês a mês. Não é à toa que, em abril, lançamos o Movida Mensal Flex Nacional. Por meio dele, a pessoa física consegue retirar veículos em diferentes cidades e Estados com um único contrato. Não abrimos os números do aluguel mensal de carros para pessoa física, mas ele é um produto bastante demandado. Se não é o maior, é um dos que mais tem crescido percentualmente em relação aos demais produtos da companhia.

E por que esse produto vem ganhando mais importância? 

O consumidor está percebendo a vantagem de fazer um aluguel mensal, em vez de comprar um carro. É como se fosse um leasing melhorado, porque sai bem mais barato do que comprar um veículo. O processo de contratação dispensa registro do veículo, licenciamento e outras obrigações. Essa é uma das apostas da Movida. Além dela, estamos apostando forte nos seminovos.

Saindo um pouco do negócio da Movida para falar de expectativa para a economia. Sei que já estamos cansados de ouvir sobre o vai e vem da Previdência, mas como está a sua expectativa com relação à aprovação da reforma?

Há sim alguns percalços no caminho. Não é uma linha reta, mas a expectativa é positiva. Acredito que a aprovação de qualquer nível de reforma já será boa para o país. E a arrancada só deve vir mesmo no segundo semestre. Do ponto de vista do investidor, os preços já estão subindo e tem alguns gatilhos que ninguém sabe quando eles serão pressionados.

E se a reforma não ocorrer? Que impacto teria para a Movida? 

O que a gente fez até hoje foi sem ela. Eu não vejo possibilidade de a nossa demanda não crescer. O nosso plano de negócios não considera a aprovação ou não da reforma.

Por que você diz isso?  

Ainda há um universo que não foi alcançado por nenhuma das companhias de aluguel de carros. Hoje, as três grandes possuem por volta de 55% do mercado. Ou seja, dá para dobrar de tamanho. A indústria de carros como serviço está crescendo a mais de dois dígitos. E o que temos atualmente na Movida nos permite crescer uns dois ou cinco anos. O mercado hoje cresce mais rápido do que a gente consegue oferecer. A nossa taxa de crescimento médio de receita é de 54% ao ano.

Como sustentar essa expansão?

Estamos discutindo novas operações que melhoram o custo e alongam o prazo da nossa dívida, mas ainda não dá para comentar sobre isso. Iniciamos negociação de recibos de ações na bolsa dos Estados Unidos (ADRs) em fevereiro deste ano. Mas agora a nossa ideia é que a próxima emissão de papéis seja no Brasil para evitar o risco do câmbio.

Há alguma ideia do que deve ser feito? 

Estamos pensando, mas a emissão de debêntures conversíveis que fizemos foi bem-sucedida e há espaço para fazer melhores. Hoje, existe a possibilidade de fazer novas emissões por aqui, mas isso vai depender de como vai se comportar o mercado nos próximos meses. Acreditamos que há várias pessoas que estão com dinheiro, mas sem lugar para alocá-lo por aqui.

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