Michael Burry. Um nome bastante familiar para quem gosta de mercado financeiro ou de cinema (ou dos dois): trata-se do guru que percebeu a formação de uma bolha imobiliária nos Estados Unidos e previu a crise de 2008 — a história foi retratada no filme 'A Grande Aposta', de 2015.
Mas engana-se quem pensa que Burry vive apenas das glórias do passado: de olho na indústria bilionária dos videogames, o megainvestidor fez uma nova previsão. E, assim como ocorreu lá em 2008, ele rema contra a maré.
Nada de insights brilhantes sobre a Microsoft, a Sony ou a Nintendo, as três maiores forças desse universo. Burry está particularmente otimista com a GameStop — uma espécie de brechó de videogames cujas ações já despencaram quase 70% na bolsa de Nova York desde o início do ano.
Para quem não sabe, a GameStop é uma rede americana de lojas de videogame que compra jogos e consoles usados e os revende. É verdade que a companhia também comercializa itens novos e todo tipo de mercadoria ligada ao universo dos games, mas a maior parte de sua receita é gerada pela venda dos artigos de segunda mão.
Esse modelo de negócio fazia muito sentido nos início dos anos 2000, quando a GameStop foi fundada. Afinal, naquela época, era obrigatório que os jogos de videogame fossem lançados em alguma mídia física, sejam elas CDs, DVDs ou cartuchos. E, assim, a venda ou a troca dessas unidades por outras era uma possibilidade interessante.
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Mas, conforme a indústria foi evoluindo, esse modelo de compra e venda de mídias usadas foi perdendo força. Os consoles de última geração — caso do Playstation 4, do Xbox One e do Nintendo Switch —, continuam usando mídias físicas, mas também disponibilizam jogos por meios digitais.
Basta entrar numa loja virtual, escolher o título de sua preferência, pagar pelo download — muitas vezes, num preço menor que o da cópia física — e pronto: você tem um novo jogo, sem sair de casa. Só que, ao contrário das cópias físicas, não há a possibilidade de vender um arquivo digital para um brechó, ou trocar com um amigo.
E, naturalmente, é tentador imaginar que, assim como os DVDs de filmes ou os CDs de música foram massacrados pelas mídias digitais, a indústria de videogames tende a seguir pelo mesmo caminho, deixando os discos de lado para adotar um modelo de vendas e distribuição totalmente baseado na internet.
Sendo assim, por que Michael Burry está fazendo essa grande aposta na GameStop?

Coloque uma ficha para jogar
O segredo está na próxima geração de videogames: tanto a Sony quanto a Microsoft devem lançar os sucessores do Playstaton 4 e do Xbox One em 2020 ou 2021. E se a atual safra de consoles já usa lojas virtuais, a seguinte deve abolir de vez o uso das mídias físicas, certo?
Errado: as duas empresas já sinalizaram que a próxima geração de consoles não será 100% digital e continuará contando com jogos lançados em discos. Ou seja, a GameStop ainda terá material para dar continuidade ao seu modelo de negócio.
É claro que o uso de mídias físicas tende a diminuir cada vez mais, dada a comodidade das lojas virtuais da Sony, da Microsoft e da Nintendo. No entanto, o que Burry argumenta é que a GameStop terá uma sobrevida interessante, de, ao menos, mais uma geração de consoles.
Vale lembrar que os ciclos de videogames são relativamente longos. Tanto o Playstation 4 quanto o Xbox One, atuais carros-chefe da Sony e da Microsoft, respectivamente, foram lançados em 2013. Portanto, é de se esperar que a GameStop consiga sobreviver por mais algum tempo, sustentado pelos discos dos jogos da nova geração de consoles.
Burry alia toda essa linha de raciocínio à tendência bastante negativa das ações da GameStop neste ano. Com base na crença de que a rede de lojas caminha para a extinção com a nova geração de videogames batendo à porta, os papéis da companhia saíram do nível de US$ 12,62 no fim do ano passado e chegaram a ser negociados perto dos US$ 3,00 neste mês.
O que o guru quer dizer é: a GameStop não está condenada à morte, como muitos acreditavam — e, no atual nível de preços, suas ações oferecem um potencial interessante de retorno. Se você se convenceu pela visão otimista do megainvestidor, basta colocar algumas fichas da empresa e entrar no jogo.