O alívio no front da guerra comercial entre Estados Unidos e China deu força aos mercados globais como um todo nesta segunda-feira (1), colocando as principais bolsas do mundo no terreno positivo. E um grupo de ações reagiu de maneira particularmente forte ao desfecho das conversas entre Donald Trump e Xi Jinping — e a uma sinalização em relação à Huawei, gigante chinesa do setor de telecomunicações.
Em meio ao otimismo , os papéis das empresas americanas do segmento de tecnologia destacaram-se e tiveram ganhos neste primeiro pregão de julho. Fabricantes de microchips, de semicondutores ou de outros produtos dentro desse universo avançaram em bloco e deram sustentação aos índices acionários de Nova York.
As ações da Advanced Micro Devices (AMD), por exemplo, fecharam em alta de 2,73%, enquanto os papéis da Micron Technology avançaram 3,94%. Também tiveram ganhos os ativos da Qorvo (+5,96%), Broadcom (+4,34%), Qualcomm (+1,91%), NVIDIA (+1,18%) e Intel (+0,38%).
Os papéis das gigantes do setor de tecnologia também subiram forte nos Estados Unidos. As ações da Apple recuperaram-se das perdas da última sexta-feira (28) e tiveram alta de 1,83%, enquanto Microsoft subiu 1,28%. Nesse cenário, o Dow Jones (+0,44%), o S%P 500 (+0,77%) e o Nasdaq (+1,06%) avançaram em bloco.
Esse clima de otimismo se deve à trégua anunciada pelos governos americano e chinês no último fim de semana, trazendo alívio aos temores do mercado em relação à escalada nas tensões da guerra comercial — o governo Trump decidiu não sobretaxar mais US$ 300 bilhões em produtos da China.
No entanto, a forte reação das ações do setor de tecnologia possui relação com um outro detalhe do acerto entre Washington e Pequim. Como parte da trégua, Trump disse que as empresas americanas estão estão livres para voltarem a comercializar com a Huawei, gigante chinesa do setor de telecomunicações.
....amounts of agricultural product from our great Farmers. At the request of our High Tech companies, and President Xi, I agreed to allow Chinese company Huawei to buy product from them which will not impact our National Security. Importantly, we have opened up negotiations...
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 29, 2019
Para quem não está acompanhando a novela da guerra comercial desde os primeiros episódios, eis um rápido resumo: em meio às tensões entre Estados Unidos e China, o governo Trump colocou a Huawei numa espécie de "lista negra", alegando riscos à segurança nacional e aos interesses da política externa americana.
Para a administração Trump, a empresa chinesa estaria "espionando comunicações sensíveis" através de sua rede de engenharia de comunicação — e, assim, determinou que as companhias do país deixassem de comercializar tecnologia americana com a Huawei.
A medida adotada por Washington foi entendida como um indício de que a guerra comercial, na verdade, possui um fundo científico, uma vez que a Huawei é uma das líderes globais no desenvolvimento de tecnologias 5G — e o embargo colocaria um freio no desenvolvimento da companhia chinesa, dependente de chips e processadores americanos.
No entanto, o boicote oficial à Huawei também afetou diretamente as empresas americanas desse setor, uma vez que a medida causou uma disruptura na demanda por esse tipo de produtos e trouxe forte instabilidade às negociações globais de produtos tecnológicos.
Assim, com a retirada da Huawei da lista negra, os mercados globais voltam a depositar suas fichas nas companhias do segmento de tecnologia dos Estados Unidos — o que impulsiona em especial o Nasdaq, índice que reúne o maior número de ações de empresas com esse perfil.
E, na China, os ativos da gigante de telecomunicações também reagiram positivamente à trégua. As ações da Huawei terminaram a sessão desta segunda-feira em alta de 4,36%, sendo peça fundamental para os fortes ganhos de 3,84% contabilizados pelo SZSE Component, principal índice acionário da bolsa de Shenzhen.
Esse impasse entre americanos e chineses, afinal, vinha trazendo fortes dúvidas a respeito do futuro da Huawei — o próprio presidente da empresa, Ren Zhengfei, disse que o embargo causaria uma redução de cerca de US$ 30 bilhões na receita da companhia nos próximos dois anos.