O que você quer ser quando crescer? Aposentado!
Seu Dinheiro apresenta série de reportagens sobre a incompreendida e essencial questão fiscal. Reforma da Previdência é tema urgente, mas pouco compreendido

Praticamente todas as discussões envolvendo o desafio fiscal e o ajuste nas contas públicas passam por uma reforma da Previdência. O tema é controverso, complexo e se tratado de forma descuidada vira alvo fácil de propaganda negativa.
Esse é o tema da reportagem de hoje, depois de falarmos do explosivo comportamento da dívida bruta e do incompreendido teto de gastos.
Bilhões e bilhões
Sempre que dos deparamos com o tema, a Previdência nunca vem dissociada do termo “déficit” e números alarmantes na casa das centenas de bilhões. No entanto, a forma como o assunto vem sendo tratado parece dificultar o seu entendimento. E essa uma questão cara ao brasileiro, que está quase sempre contanto os anos para se aposentar.
A questão previdenciária não está restrita a uma diferença de receitas e despesas em um único ano ou período de tempo. Não é um problema de estoque, que seria resolvido como mágica cobrando dívidas, taxando os ricos ou vinculando receitas, como sugerem alguns vídeos no “YouTube”.
A Previdência é um problema de fluxo. O volume de pagamentos cresce de forma constante e em velocidade superior às receitas a perder de vista. Assim, uma reforma do sistema não visa acabar com o déficit de R$ 218 bilhões estimado para 2019, mas sim tornar o fluxo entre receitas e despesas sustentável para que todos tenham a possibilidade de receber no futuro.
Alguns números
Para dar dimensão do que o desembolso com Previdência representa, o Orçamento de 2019 estima um gasto de R$ 767,8 bilhões com o setor privado (INSS), servidores públicos civis e militares. Isso representa mais de seis vezes o gasto com saúde, de R$ 118 bilhões, e mais de sete vezes o que se gasta com educação (R$ 98 bilhões).
Leia Também
Barroso anuncia aposentadoria e vai deixar cargo de ministro do STF
Esse valor representa mais de 50% das despesas totais do governo. Quanto mais esse gasto cresce, menos recursos sobram para outras demandas, como saúde, educação e segurança. Dando outro parâmetro, apenas o aumento anual do déficit, da ordem de R$ 50 bilhões, é superior a todo investimento público.
Problema semelhante também é enfrentado pelos Estados. Um bom exemplo é o Rio de Janeiro onde vimos aposentados sem receber por falta de dinheiro. No caso dos chamados Regimes Próprios de Previdência Social (RPPSs), também há crescente descompasso entre receitas e despesas, da ordem de R$ 40 bilhões.
Se falta recurso ou governo corta despesa onde dá, pega emprestado ou aumenta impostos. A primeira alternativa está se esgotando, pois além do gasto com aposentadorias e pensões, o governo tem uma série de outros gastos “obrigatórios”, ficando com uma margem de manobra cada vez mais restrita. De volta ao Orçamento, cerca de 7% do dinheiro pode ser usado livremente pelo governo, os outros 93% já estão “carimbados”. A alternativa de tomar dívida também se mostra inconsistente. A dívida bruta já se aproxima dos 80% do PIB, tendo subido de cerca de 60% em 2013. E elevar a carga tributária também parece fora de cogitação.
Falando com um especialista
Para nos ajudar a entender o problema, fiz algumas perguntas para o consultor Legislativo do Senado Pedro Fernando Nery, que tem abordado e esse e outros temas fiscais em diferentes artigos.
Estou tentando tratar a questão previdência como um problema de fluxo e não de estoque. Então, qual seria a origem desse constante e crescente descompasso entre receitas e despesas? Demografia ou temos outros vetores?
A demografia é essencial: as pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos. Nos anos 50 eram seis filhos por mulher, desde a década passada são menos de dois. Como o regime é por repartição, em que trabalhadores em atividade financiam os inativos, há uma pressão.
A demografia, no entanto, não explica tudo. Ela afeta um sistema que tem regras mal desenhadas, em que os mais ricos se aposentam mais cedo do que os mais pobres e, muitas vezes, recebem o benefício por mais tempo do que contribuíram para ele.
Além disso, uma pressão importante sobre o financiamento é o aumento real do salário mínimo, porque ele é o piso da Previdência. Quando o salário mínimo aumenta, dois terços dos benefícios são reajustados acima da inflação.
Quais alternativas temos para sanar esse descompasso? Idade mínima? Aumento na contribuição dos inativos? Achar novas fontes de receita? Uma combinação de alternativas?
A despesa previdenciária cresce somente na União em R$ 50 bilhões por ano. Então o ajuste precisa de uma combinação de medidas, que inclui tanto a despesa (mudança de regras de acesso a benefícios) quanto a receita (tributação). No INSS, a medida mais importante é mesmo a idade mínima para aposentadoria por tempo de contribuição - como existe no mundo todo e em outros benefícios da Previdência. A contribuição dos inativos existe no serviço público e deve ser majorada porque ajudaria os Estados, que vivem grave crise fiscal.
Sem reforma da Previdência há alternativa para o governo respeitar o teto de gastos e conter o aumento do endividamento? Essas possibilidades seriam mais ou menos custosas?
O teto de gastos não vai ser respeitado sem reforma da Previdência. O aumento do endividamento também prescinde da reforma, mas, rigorosamente, não há impeditivo para que um grande aumento de impostos, em escala inédita, possa cobrir o déficit primário. Seria necessário criar uma nova CPMF todo ano.
Proposta de Jair Bolsonaro fala em mudar de regime de repartição para capitalização. É algo realmente viável, mesmo que só para novos entrantes? Já Fernando Haddad fala em fazer uma reforma gradual, começando pelos RPPSs, como esse ajuste poderia ser feito? Aumentando contribuições dos servidores?
Só é viável para novos entrantes, ou então sobre uma parcela muito pequena do salário, o que não faz muito sentido. A capitalização é na verdade uma reforma complementar à uma reforma no regime de repartição, como a proposta por Michel Temer. Não dá pra fugir disso: idade mínima, mudanças nas pensões, no reajuste do salário mínimo, etc. Como a capitalização provoca inicialmente uma perda de arrecadação, e só melhora o sistema décadas a frente, ela não é prioridade.
Muito pode ser feito nos RPPSs, que são o principal responsável pela crise financeira dos Estados (não a corrupção). Aumentar contribuição dos servidores é só uma das medidas. O maior problema nesses entes são as aposentadorias especiais, porque boa parte dos servidores estaduais são professores, policiais, profissionais de saúde, que podem se aposentar ainda mais cedo. É um ajuste impopular, mas infelizmente imprescindível que o novo presidente terá que encarar.
Batalha da comunicação
Quando escrevi sobre o tema para o especial sobre os planos de governo chamei atenção para a importância da comunicação com relação ao tema e isso merece ser novamente destacado.
Pesquisa XP/Ipespe feita no começo de agosto mostrou que apenas 28% do eleitorado coloca a reforma da Previdência como a mais importante (54% citam a reforma política). Além disso, 51% se disseram contra a reforma previdenciária. Mais recentemente, levantamento do BTG Pactual/FSB, de outubro, mostrou que 79% dos entrevistados são contra um aumento da idade de aposentadoria para 65 anos.
É natural que ocorra uma confusão entre expectativa de vida ao nascer e a expectativa de sobrevida, que mede quantos anos a mais, em média, alguém vive depois de chegar aos 60 anos. Em 1980, a expectativa de sobrevida era de 15,2 anos e está, agora, na casa dos 22,1 anos e sobe a 25,2 anos em 2060. O gráfico abaixo, que peguei de uma apresentação do Ministério da Fazenda, ajuda ilustrar a questão.
Outro levantamento, feito pela Fenaprevi-Ipsos, mostrou que 75% dos entrevistados atribuem o déficit da previdência à corrupção no sistema, evidenciando o amplo desconhecimento do problema. Algo que também transparece na avaliação de 51% que acreditam que o modelo atual é sustentável, podendo continuar da mesma forma por muitos anos.
O governo vai precisar conquistar aliados dentro e fora do governo para conseguir levar adiante essa reforma. E isso passa por comunicar de forma clara que as mudanças nas regras visam, como bem disse Nery, os mais ricos, que se aposentam mais cedo, e as classes especiais do funcionalismo.
Lembro que falei a um colega, que trabalhava no governo quando Temer começou a tratar de sua proposta, que eles estavam errando na comunicação ao não deixar claro são os mais pobres que acabam sustentando as aposentadorias integrais de parte do funcionalismo público. Meu amigo disse que eles sabiam disso, mas que o governo optou por não cobrar comprar a briga com os servidores.
Para encerar esse tema árido, lembro de um diálogo que certa vez presenciei entre uma mulher de uns 40 anos, com uma menina de uns nove, e que ilustra como aposentadoria é paixão nacional:
- Mulher: Paulinha, o que você quer ser quando crescer?
- Paulinha: Aposentada, que nem a vovó!
Imposto de renda sobre CDB, Tesouro Direto, JCP e fundos ficará em 18% após avaliação por comissão do Congresso Nacional
Medida provisória 1.303/25 é aprovada por comissão mista do Congresso e agora segue para ser votada nos plenários da Câmara e do Senado
Lula e Trump finalmente se falam: troca de afagos, pedidos e a promessa de um encontro; entenda o que está em jogo
Telefonema de 30 minutos nesta segunda-feira (6) é o primeiro contato direto entre os líderes depois do tarifaço e aumenta expectativa sobre negociações
Lula e Trump: a “química excelente” que pode mudar a relação entre o Brasil e os EUA
Alexandre Pires, professor de relações internacionais e economia do Ibmec, analisa os efeitos políticos e econômicos de um possível encontro entre os dois presidentes
Com Tarcísio de Freitas cotado para a corrida presidencial, uma outra figura surge na disputa pelo governo de SP
Cenário nacional dificulta a nomeação de candidatos para as eleições de 2026, com impasse de Bolsonaro ainda no radar
Comissão do Senado se antecipa e aprova projeto de isenção de IR até R$ 5 mil; texto agora depende dos deputados
Proposta de isenção de IR aprovada não é a do governo Lula, mas também cria imposto mínimo para altas rendas, programa de renegociação de dívidas e prevê compensação a estados e municípios
Senado vota regulamentação dos novos impostos sobre consumo, IBS e CBS, nesta quarta-feira (24)
Proposta define regras para o novo comitê gestor do IBS e da CBS, tributos que vão substituir impostos atuais a partir de 2027
O que Lula vai dizer na ONU? Soberania e um recado sutil a Trump estão no radar
A expectativa é que o discurso seja calibrado para o público global, evitando foco excessivo em disputas políticas internas
Câncer de Bolsonaro: o que é o carcinoma de pele encontrado em duas lesões removidas
Ex-presidente recebeu alta após internação por queda de pressão, vômitos e tontura; quadro exige acompanhamento médico periódico
LCI e LCA correm o risco de terem rendimentos tributados, mas debêntures incentivadas sairão ilesas após negociações no Congresso
Relator da MP que muda a tributação dos investimentos diz que ainda está em fase de negociação com líderes partidários
“Careca do INSS”: quem é o empresário preso pela PF por esquema que desviou bilhões
Empresário é apontado como “epicentro” de fraudes que desviaram bilhões de aposentadorias
STF condena Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão; saiba quais opções restam ao ex-presidente
Placar final foi 4 a 1 para condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão em regime fechado
Aprovação de Lula sobe para 33% e chega ao maior nível desde dezembro de 2024, diz Datafolha
O índice de reprovação do petista ainda é um dos maiores entre presidentes desde a redemocratização a esta altura do mandato, mas, na comparação direta, Bolsonaro sai perdendo
Debêntures incentivadas devem continuar isentas de IR, mas LCI e LCA seguem na mira da MP que muda a tributação dos investimentos, diz jornal
Texto deve manter mudanças na alíquota única de IR para ativos tributáveis e na compensação de créditos tributários, pontos que despertam preocupação no mercado
Governo Trump sobe o tom contra o Brasil, e Itamaraty condena ameaças dos EUA de usar “poder militar”
O documento do Itamaraty foi publicado após a porta-voz da Casa Branca ser questionada sobre a possibilidade de novas sanções ao Brasil por conta do julgamento de Jair Bolsonaro
Bolsonaro era líder de organização criminosa que tentou golpe de Estado, diz Moraes — Dino acompanha o relator e vota por condenação
Ministros destacaram provas de uma trama articulada desde 2021 e pediram condenação dos sete réus. Dino, entretanto, vê diferentes níveis de culpa
O julgamento de Bolsonaro e o xadrez eleitoral com Lula e Tarcísio: qual é o futuro do Brasil?
O cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, analisa o impacto da condenação de Jair Bolsonaro, a estratégia de Tarcísio de Freitas e as dificuldades de Lula em chegar com força para as eleições de 2026
Pedimos para a inteligência artificial da Meta produzir imagens de Lula, Trump, Bolsonaro, Alexandre de Moraes e outros — e o resultado vai te surpreender (ou não)
A inteligência artificial da Meta entregou resultados corretos em apenas duas das seis consultas feitas pela redação do Seu Dinheiro
STF encerra primeira semana do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados; confira os principais pontos do segundo dia
A sessão será retomada na próxima terça-feira (9), às 9 horas, com o voto do relator e ministro do STF, Alexandre de Moraes
A suspeita de rombo nos cofres que levou ao afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, pelo STJ
Investigado na Operação Fames-19, Barbosa é suspeito de participar de um esquema de R$ 73 milhões em contratos emergenciais durante a pandemia
Filho de ourives e clientes como Neymar, Vini Jr e Ludmilla: quem é TH Joias, deputado preso por suspeita de negociar armas com o Comando Vermelho
Investigado por suposta ligação com o Comando Vermelho, o parlamentar conhecido como TH Joias já havia sido preso em 2017 por acusações semelhantes