Ao avaliar os seus primeiros meses no comando do Bradesco, Octavio de Lazari acabou fazendo um bom resumo do que foi o ano de 2018. Para ele, um investidor estrangeiro que visitasse o Brasil em janeiro, fosse embora e tornasse a avaliar apenas agora os principais ativos jamais desconfiaria da confusão que o país atravessou nesse meio tempo.
Afinal, os níveis do câmbio e das taxas de juros hoje são praticamente os mesmos do começo do ano. Isso com toda a volatilidade durante o processo eleitoral e de eventos como a greve dos caminhoneiros.
"Apesar de todo esse cenário, o banco soube extrair resultados das oportunidades que se apresentaram", disse Lazari, que assumiu a presidência do Bradesco em março deste ano. Ele e os demais executivos da cúpula do banco participaram de um almoço com a imprensa hoje.
O tema do investidor estrangeiro voltou à pauta quando os executivos foram questionados sobre as perspectivas para o país a partir de 2019. Para o Bradesco, a cautela do gringo vem diminuindo e pode se traduzir em uma entrada relevante de recursos para a bolsa brasileira no ano que vem. Pelas projeções do banco, esse volume pode passar dos US$ 100 bilhões.
A concretização desse cenário depende, é claro, da aprovação da reforma da Previdência pelo governo Bolsonaro. Se não for a reforma necessária, que seja a "possível", como defendeu o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Desde que seja suficiente para mostrar um maior controle da situação fiscal.
De onde vem o dinheiro
Pouco mais da metade dos recursos estrangeiros previstos para entrar o Brasil deve vir do bolso dos investidores de mercados emergentes.
O Brasil chegou a ter 16% no portfólio desses investidores. Esse número chegou a cair para 5% e deve encerrar o ano entre 7% a 8%. Se retornar aos maiores níveis históricos, serão US$ 57 bilhões a mais no mercado brasileiro, pelas contas do Bradesco.
"Isso tem um efeito em cascata, pois joga a bolsa para cima, aprecia o real, o que ajuda a manter a inflação baixa e taxas de juros estáveis", disse o vice-presidente do Bradesco, Marcelo Noronha.
O Bradesco promoveu no mês passado um evento para investidores em Nova York. Na ocasião, Noronha se encontrou com dois grandes gestores globais de fundos. E ambos voltaram a falar em investir no Brasil - um deles depois de cinco anos fora.
Nas contas do Bradesco, fundos como esses têm potencial para injetar mais US$ 50 bilhões na bolsa brasileira.
Infraestrutura
Além do dinheiro para o mercado de ações, o estrangeiro está de olho em investimentos diretos e na área de infraestrutura. Pelos cálculos do Bradesco, esse número pode chegar a US$ 200 bilhões ao longo dos próximos de cinco anos.
"Os investidores estão olhando com curiosidade e disposição para voltar ao mercado brasileiro", disse Noronha aos jornalistas.