Quem quer pôr o pé no mercado de ações do exterior ainda encontra dificuldades para dar o primeiro passo. As opções continuam limitadas e, no geral, muitos fundos com essa estratégia fazem exigências restritivas, como aportes iniciais, e inibem a ação do pequeno investidor.
Mas há uma luz no fim do túnel: de olho nesse público, mais corretoras com foco em papéis lá de fora tentam aproximar o brasileiro desse mercado.
A Avenue Securities, que começa a operar em novembro, promete te deixar comprar e vender ativos de bolsas americanas sem ser preciso abrir conta lá fora ou fazer remessas internacionais. O foco da plataforma é o varejo - e não haverá valor mínimo para aportes. A empresa quer ser uma corretora americana para a América Latina, com interface em português e espanhol, via site ou aplicativo.
Com a Avenue, Roberto Lee, ex-executivo da XP, tem a ambição de ampliar o acesso ao mercado externo. O investidor comprará diretamente mais de 3 mil ações e de 1 mil ETFs de renda fixa e variável. A empresa também terá um "braço" brasileiro para operar câmbio.
Funcionará assim: você transfere o valor para a Avenue, que envia o montante correspondente em dólar para a corretora - que vai cobrar um spread em torno de 2%. Isso é necessário porque as negociações serão em dólar.
Para resgatar, o montante é convertido em reais e o dinheiro cai na sua conta bancária local. A Avenue enviará informes de rendimento e o valor deverá ser declarado como ganho no exterior, com IR de 15% e pagamento via carnê-leão.
O que temos por aí
Hoje, se você fizer uma busca no mercado vai se deparar com duas opções para quem tem interesse nesse tipo de investimento: os ETFs, fundos que replicam índices, e os recibos de ações de empresas estrangeiras (BDRs).
"Só compensa investir diretamente no exterior com patrimônio a partir de R$ 1 milhão", Michael Viriato, professor de finanças do Insper
Quem tem menos de R$ 1 milhão para investir só tem acesso a oito opções de papéis - os chamados BDRs patrocinados -, como os da Dufry e da Biotoscana.
A alternativa mais viável, então, é adquirir um ETF com índice estrangeiro, como o S&P 500, que replica o desempenho das 500 empresas mais relevantes dos Estados Unidos. A cota do iShares S&P 500, por exemplo, está na faixa dos R$ 120, e o lote mínimo é de dez cotas. A alta desse investimento acumulada em um ano é de 46%.
Nesse caso, você pode comprar seus ETFs "gringos" diretamente ou aplicar em robôs, que usam algoritmos para montar carteiras customizadas. As plataformas Warren, Vérios e Monetus oferecem fundos que replicam índices estrangeiros.
Comprar papéis de outros países é uma boa alternativa se você quer investir em empresas de tecnologia ou de entretenimento, segmentos que ainda têm pouca representatividade na Bolsa brasileira.
O mercado dos "qualificados"
Atualmente, são negociados na Bolsa pouco mais de 100 recibos de ações de empresas estrangeiras, os chamados BDRs (Brazilian Depositary Receipts). Mas, para comprar a maioria deles - como os populares Google, Amazon e Coca-Cola - é preciso ser um investidor qualificado (ter ao menos R$ 1 milhão em aplicações). Quanto aos ETFs, a B3 oferece apenas duas opções do mesmo indicador, o S&P 500.
Quem quer investir em BDRs também acaba ficando exposto às flutuações do câmbio, pois os preços dos ativos em reais variam seguindo a cotação da moeda americana. Em períodos de alta volatilidade, como o que o País enfrenta atualmente, esse impacto é ainda maior. Desde o início do ano até o fim de setembro, o dólar negociado à vista subiu mais de 22%.
Viriato, do Insper, acredita que o apetite externo dos investidores deve crescer, mas é preciso cautela.
"Diversificar não significa ganhar mais; não é só colocar em aplicações diferentes. Deve-se atentar para o melhor potencial de retorno e a menor correlação entre os ativos: como eles variam conjuntamente."
*Com Estadão Conteúdo e jornal O Estado de S. Paulo.