Fora do eixo: três destinos que elevam o turismo gastronômico no Brasil
De Belém a BH, passando por Salvador, uma rota de chefs e sabores que redefinem a definição de cozinha brasileira contemporânea

Nesta segunda-feira (12), São Paulo recebe a aguardada edição 2025 do Guia Michelin, que volta os holofotes da gastronomia mundial para a cozinha brasileira. Ou, ao menos, para uma parte dela.
A nova seleção contempla casas do Rio de Janeiro e da capital paulista — e, ao passo que mira naturalmente sobre criadores mais conhecidos e centros com mais circulação, resta a pergunta: num país de dimensões continentais como o nosso, que Brasil está sendo posto à mesa?
Fora do eixo Rio-SP, há os criadores que surpreendem a tradição mesmo em lugares com uma cozinha já tão singular quanto a Bahia, por exemplo. Há ainda quem inove a partir da vastidão amazônica da região Norte, mantendo os insumos de seus milhões de quilômetros de florestas e milhares de quilômetros de rios. Mesmo em Minas Gerais, berço de tanto do que se entende como comida brasileira, há quem ressignifique as mais tradicionais técnicas da cozinha nacional.
Para alegria de viajantes e comensais, cada vez mais esses nomes são reconhecidos em premiações nacionais e estrangeiras – caso, por exemplo, do The 50 Best Discovery, que em 2024 fez quatro menções à capital mineira.
A seguir, visitamos três destinos que escapam ao roteiro da cerimônia desta segunda-feira, mas que estão no centro do mapa gastronômico brasileiro para quem sabe olhar além do prato de entrada.
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Belém
A sede da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025) não está apenas no radar dos ambientalistas. Belém, que já havia sido reconhecida como Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco em 2015, foi recentemente eleita o 7º melhor destino gastronômico do mundo pela Lonely Planet, e não é difícil entender o porquê.
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Talvez poucas capitais brasileiras se apoiem de modo tão equivalente às influências indígenas, portuguesas e africanas quanto Belém. Mas são os insumos locais, como tucupi, jambu, açaí e mandioca, que fazem da gastronomia paraense um patrimônio cultural.
Dois restaurantes premiados merecem destaque. O Casa do Saulo Onze Janelas, próximo ao icônico Mercado Ver-o-Peso, valoriza ingredientes amazônicos em pratos como o filé de peixe com camarões rosa grelhados ao molho de castanha do Pará, que ali vem servido com banana-da-terra frita, arroz e farofa (R$ 189).
Como entrada, o Trio Tapajônico (R$ 54) oferece uma amostra perfeita da região: dadinhos de tapioca com geleia de cupuaçu apimentada, bolinhos de piracuí e iscas de peixe com geleia de açaí. De sobremesa, a pedida é o Da Selva (R$ 39), um creme de cupuaçu selvagem com chocolate do Combú.
Já o Remanso do Peixe, no bairro do Marco, é o que poderíamos chamar de cozinha afetiva brasileira sem medo. Comandado pela família Castanho, o espaço inclui entre os destaques do cardápio a isca crocante de filhote (R$ 46), o pirarucu defumado (R$ 170) e a tradicional caldeirada de pescada amarela (R$ 130). Para adoçar, o tiramisù de bacuri (R$ 35) é um dos mais pedidos.
Casa do Saulo Onze Janelas: R. Siqueira Mendes, S/N - Cidade Velha – Belém
Remanso do Peixe: Travessa Barão do Triunfo, 2590 - Bairro do Marco, Belém
Salvador
A pesquisadora Roberta Malta Saldanha define, apropriadamente, em seu livro Culinária Brasileira, Muito Prazer (Alaúde, 2018): há a culinária nordestina e há a culinária baiana. Se em outros lugares a base europeia adquiriu contornos regionais, em Salvador foi a cultura alimentar africana que foi absorvendo elementos paralelos.
É assim até hoje, da comida de rua às inovações contemporâneas: a herança africana continua sendo a alma dos sabores locais, presente em pratos como a moqueca, o acarajé e o bobó de camarão. Mas é uma nova geração de chefs que vem redesenhando o futuro da cozinha soteropolitana, reinterpretando tradições com criatividade e respeito às raízes.
Entre os destaques está o restaurante Origem, comandado por Fabrício Lemos e Lisiane Arouca. Recém-eleito o melhor restaurante do Brasil pela seleção da Exame e único representante do Nordeste entre os 100 melhores do ranking The 50 Best Latin America, o Origem propõe uma cozinha autoral que valoriza ingredientes locais.
Seu menu degustação "Nossas Heranças" (R$ 380), composto por 14 etapas, passa por crudo de peixe com leite de tigre de acerola, carne de sol com lentilha beluga e farofa de beiju, e finaliza com sorvete de mungunzá e gel de tamarindo.
Outro nome forte é o Manga, do casal Dante e Katrin Bassi. Localizado no Rio Vermelho, o restaurante combina alta gastronomia e sabores baianos de forma ousada.
O menu degustação (R$ 425, ou R$ 750 com harmonização de vinhos) propõe uma imersão sensorial, mas há também ótimas opções no à la carte, como o croquete de pato no tucupi (R$ 48) e o pato maturado e assado na brasa com nirá, alho-poró e farofa (R$ 168).
Salvador, no entanto, vai além dos restaurantes premiados. A tradição da boa comida está nas ruas: os tabuleiros de acarajé continuam firmes, e lugares como o Mercado do Rio Vermelho (Ceasinha) oferecem uma imersão completa nos sabores da Bahia, do vatapá às frutas tropicais como umbu e caju.
Origem: Alameda das Algarobas, 74 - Pituba, Salvador
Manga: Rua Professora Almerinda Dutra, 40, Salvador
Belo Horizonte
Belo Horizonte é onde a cozinha brasileira se sente em casa: acolhedora, afetiva e, hoje, cada vez mais cheia de identidade. A capital dos botecos, a cidade transformou cada esquina em um convite para apreciar sua gastronomia, que ultimamente tem ido muito além da comida raiz.
Nos últimos anos, BH vem consolidando uma cena gastronômica inovadora, com chefs que resgatam raízes mineiras e reinventam sabores com criatividade. Ingredientes como ora-pro-nóbis, quiabo e queijo canastra fortalecem o equilíbrio entre tradição e modernidade.
Entre os principais nomes da transformação está o Glouton, de Leo Paixão, o médico que virou chef e que hoje acumula uma coleção impressionante de prêmios regionais, nacionais e internacionais. Leo, que também foi jurado do extinto Mestre do Sabor, tornou-se referência tanto nas redes sociais quanto nas mesas.
No Glouton, boas pedidas incluem o ovo mole com creme de queijo e surubim defumado (R$ 69), a mandioca brava em mil-folhas com maionese de malagueta (R$ 53) e a galinha caipira assada com angu de milho verde (R$ 123), finalizando com os profiteroles de fubá e doce de leite (R$ 50).
Já no Pacato, de Caio Soter, que propõe uma "cozinha de quintal, autoral e inventiva que faz o tempo parar". O cardápio é dividido entre opções à la carte, menu executivo durante a semana e um menu degustação completo (R$ 380), uma homenagem ao sabor mineiro, mas com inventividade fora do comum.
No bairro Lourdes, a gastronomia mineira é homenageada pela chef Ana Gabi Costa no Trintaeum. Conhecida por sua participação no reality Mestre do Sabor, da Rede Globo, Ana partiu para celebrar Minas com uma cozinha autoral, que se vale exclusivamente de insumos produzidos no estado para propor criações contemporâneas e inovadoras.
Por lá o destaque é o frango com quiabo (R$ 99). Na receita de Ana, ele vem com angu de milho verde, sobrecoxa grelhada, gema empanada, quiabo tostado e regado com caldo de galinha.
Outro marco da cidade é o Mercado Novo. O espaço, revitalizado recentemente, tornou-se referência ao reunir pequenos produtores, bares autênticos e iniciativas gastronômicas inovadoras, como a Cozinha Tupis, que se destaca pela valorização dos ingredientes locais e pelo compromisso em ressignificar a culinária mineira.
Sob o comando do chef Henrique Gilberto, a proposta gastronômica é contemporânea e sazonal, com pratos que variam diariamente, criando uma experiência conectada com a identidade regional – o que não passou despercebido aos olhares atentos do guia The 50 Best Discovery, que o incluiu ao lado do Pacato e do Birosca S2 em sua seleção de 2024.
E é justamente completando a lista dos inovadores de BH que entram a chef Bruna Martins e o Birosca S2. Inspirada por ninguém menos que Milton Nascimento e sua música, ela mergulhou na cultura do bairro tradicional de Santa Tereza para pesquisar o que seria a origem desse, que foi crescendo para se tornar um endereço conhecido na capital mineira.
Por lá opções como a costelinha de porco ao pé de moleque vem lambuzada com tamarindo, rapadura e amendoim (R$ 48). Já o rolinho primavera mineiro chega com carne, queijo e couve, fonduta de queijo cabacinha e mel (R$ 48). E a galinhada mentirosa tem gosto de verdade, com risoni caldoso com galinha caipira desfiada, coraçãozinho, vegetais, gema e crocante de angu (R$ 78). Tudo com uma virada, sem deixar o sotaque para trás.
Pacato: Rua Rio de Janeiro, 2735, Lourdes, Belo Horizonte
Glouton: Rua Bárbara Heliodora, 59. Lourdes, Belo Horizonte
Trintaeum: R. Prof. Antônio Aleixo, 20. Lourdes, Belo Horizonte
Mercado Novo: R. Rio Grande do Sul, 499 - Centro, Belo Horizonte
Cozinha Tupis: loja 2169 do Mercado Novo
Birosca S2: R. Silvianópolis, 486 - Santa Tereza
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