🔴 SELECIONAMOS AS MELHORES RECOMENDAÇÕES DO BTG PACTUAL PARA VOCÊ – ACESSE GRATUITAMENTE

Ana Paula Ragazzi

REPORTAGEM ESPECIAL

Azzas cortadas? O que está por trás da disputa que pode separar o maior grupo de moda da América Latina

Apesar da desconfiança sobre o entrosamento entre os líderes, ninguém apostava num conflito sem solução para a Azzas 2154, dona de marcas como Hering e Arezzo

Ana Paula Ragazzi
26 de março de 2025
6:28 - atualizado às 15:16
Roberto Jatahy (à esquerda) e Alexandre Birman, principais acionistas e gestores da Azzas 2154
Roberto Jatahy (à esquerda) e Alexandre Birman, sócios da Azzas 2154 - Imagem: Divulgação/LinkedIn

Quando a Arezzo e o Grupo Soma anunciaram uma fusão, em fevereiro de 2024, a nova empresa foi rebatizada com o ambicioso nome de Azzas 2154 (AZZA3) como símbolo de planejamento estratégico e visão de longo prazo.

Mas já na época da divulgação da combinação de marcas como Hering e Reserva, 11 em cada 10 analistas e gestores de recursos apontavam um problema claro no radar: a convivência entre os dois principais acionistas: Alexandre Birman e Roberto Jatahy

Ainda assim, a notícia publicada pelo site Pipeline semanas atrás de que ambos contrataram assessores para tratar de um divórcio apenas sete meses após a consumação da união entre as empresas não foi recebida sem surpresa pelo mercado.

“Nunca vi um negócio ser desfeito num intervalo tão curto de tempo”, disse um gestor. 

Líderes fortes e fusões problemáticas

Apesar de desconfiar que desentendimentos entre os dois líderes seriam um potencial problema, ninguém apostava num conflito sem solução para o maior grupo de moda da América Latina.

Os sócios não negaram uma separação ao afirmarem em nota que “no momento” não há qualquer discussão em andamento sobre a compra de participação ou sobre cisão ou segregação de negócios e que “dialogam constantemente sobre aprimoramento na governança”. 

Leia Também

Os analistas do JP Morgan acreditam em “divergências importantes” entre os acionistas. “O termo ‘neste momento’ não exclui a possibilidade de cisão ou uma aquisição de participação do outro, sendo Birman o adquirente”, escreveram em relatório.

Para os analistas do banco americano, ter dois líderes fortes numa mesma empresa já se mostrou problemático em outras fusões, uma vez que tende a criar um ambiente operacional complexo, ao mesmo tempo em que atrasa a captura de sinergias.

Azzas (AZZA3): ação está barata, mas…

A ação da Azzas, que já valia na bolsa metade do preço negociado quando saiu a fusão, caiu ainda mais. Hoje, a companhia é negociada entre 7-8 vezes o lucro projetado para 2025.

A ação está cotada por volta dos R$ 24, enquanto os analistas das corretoras (sell-side) estimam um preço-alvo entre R$ 45 e R$50 para 2025, acreditando no potencial do negócio. São oito recomendações de compra e nenhuma de manutenção ou venda, de acordo com dados do Trademap.

“A ação está barata demais, mas o problema é que tem muita ação muito barata na Bolsa para alguém querer se meter numa empresa em que os sócios aparentemente estão em guerra”, resumiu um gestor. “E o pior é que ninguém espera uma solução de curto prazo.”

Para um analista, os fundos de ações sofrem com resgates, e os gestores estão com medo de errar: “Tem outras opções hoje na bolsa tão baratas quanto Azzas e com negócio ‘redondinho’. Como é que eles vão justificar para os cotistas que estão comprando essa briga?”, disse.

Um dia antes da notícia sobre uma possível reversão do negócio, o Azzas divulgou um resultado para o quarto trimestre – o primeiro com os dois negócios integrados – que decepcionou o mercado. 

As receitas até cresceram, mas as despesas com a integração das operações continuaram altas e a empresa acabou queimando caixa – justamente naquele que é o melhor trimestre do ano para uma varejista.  O grupo ainda não está entregando as sinergias esperadas e num cenário macro que se complica por conta da alta dos juros e da inflação.

Azzas: casamento precipitado? 

A fusão parecia fazer sentido pela complementaridade dos grupos. A Arezzo, criada pelo pai de Birman, é líder em calçados femininos e tinha o desejo de crescer em vestuário.

O Soma, de Jatahy, criado após a união entre as marcas de moda feminina FARM e Animale, em 2010, também vinha traçando um caminho de expansão para o exterior, com a FARM Global, e maior participação em moda mais popular, após a aquisição da Hering, em 2021.

A fusão foi consumada ao preço de tela da época, ou seja, sem prêmio em relação à cotação em bolsa. A Arezzo era maior e seus acionistas ficaram com 54% do Azzas; e os acionistas do Soma, com 46%.

Birman virou o CEO do Grupo; e Jatahy passou a liderar a unidade de moda feminina reportando-se a Birman. 

“Acho que o Jatahy se assustou e se precipitou ao fechar negócio por conta do fim de incentivos fiscais em janeiro do ano passado, que pesaram para as empresas de varejo. E ele ainda tinha pagado muito caro pela Hering, que precisava de uma reestruturação”, disse um analista.

As diferenças nos negócios

Para ele, o Soma tem mais perspectivas de crescimento no mercado de vestuário feminino, que é maior do que o de calçados. Já a Arezzo, com todo o mérito pelo trabalho dos últimos anos, já tem uma participação relevante em calçados e vai crescer em ritmo menor.

Além disso, Jatahy aceitou se reportar a Birman sabendo que a rotatividade de executivos na diretoria da Arezzo era maior do que no Soma. Além disso, corre um bastidor de que Birman seria uma pessoa difícil de lidar.

“Considerando que o Birman é o CEO, é fácil imaginar que quem está invadindo o quadrado do Jatahy é ele, não o contrário”, disse o analista. Depois dos atritos, Jatahy teria passado a se reportar ao conselho de administração.

Existe ainda uma percepção no mercado de que Birman não pretende deixar o negócio. Mas do lado do Soma a quantidade de sócios é maior e mais propensa a vender as ações gradualmente, depois do lock-up de cinco anos. 

“Antes de sair a notícia, já tinha ouvido falar em conflitos entre eles, mas achei até positivo porque indicava que o Roberto [Jatahy], assim como o time Soma, estariam sim bastante comprometidos com o dia a dia”, disse o analista de uma gestora.

Divórcio na crise

Mas agora a discórdia não anima ninguém e não se espera uma solução fácil. Nos valores atuais, nem Birman nem Jatahy venderiam suas ações.

A separação dos negócios, com cada um levando o que tinha, também não seria simples. Muito menos considerando a possibilidade de a Hering passar para a Arezzo.

O Azzas 2154 vale hoje pouco menos de R$ 5 bilhões na Bolsa. Para efeito de comparação, o Soma pagou R$ 5,1 bilhões pela Hering em 2021, na época concorrendo com uma oferta de R$ 3,5 bilhões da Arezzo, a atual sócia. 

“Até entendo que a Hering poderia ficar com a Arezzo. O Alexandre sempre quis e ele é um cara mais de franquias, um modelo que o Roberto não acredita muito. Mas como eles ajustariam, numa separação, o valor Hering?”, questiona um investidor. 

Para um analista, o melhor cenário é que o bom senso prevaleça e os dois achem uma maneira de conviver. Outro especialista torce mesmo é pela dissolução do negócio: “Aí cada um poderia escolher em qual cavalo apostar”.

Soma vai melhor que Arezzo

O retrato de 2024 mostrou que o ano foi melhor para o Soma do que para Arezzo, de acordo com o balanço da Azzas. 

As receitas de vestuário feminino subiram 23%; e a FARM Global acelerou 39%. Mas a base de comparação era mais fraca, por conta de problemas na operação em 2023.

A Hering também reportou crescimento, de 18% — um resultado que mostra que a empresa está reagindo, mas que acabou ignorado pelo mercado. 

Já a receita de calçados e acessórios cresceu moderados 4,5%. O resultado sofreu o impacto principalmente pela queda de 7,8% nas vendas multimarcas e pela reestruturação na marca Schutz. 

“As marcas Soma parecem ter mais opcionalidades, com FARM Global e NV, já que o mercado endereçável é muito maior”, diz um gestor.

No portfólio da Arezzo, por conta de resultados fracos, as marcas Alme, Reversa, Dzarm e Simples foram descontinuadas e a BAW, revendida aos antigos donos.

Na Reserva, os fundadores deixaram o grupo após a fusão e um ajuste nos estoques da marca pesou no resultado do quarto trimestre. Para analistas, esse pode ser um sinal de que a marca não é tão rentável.

A Reserva focava muito em vendas e para isso mantinha estoques altos, para não ter ruptura de vendas. Assim, fazia promoções e investia muito em marketing e em marketing, para aparecer primeiro no Google, de acordo com um analista.

“Se precisava gastar muito e manter muito estoque para conseguir crescer, a sinalização é de que não adianta crescer porque a rentabilidade não é boa. E existe o risco de a qualidade de estoques ser pior do que se imagina.”

Apesar do retrato, quando se fala nas coleções que levaram ao resultado do quarto trimestre, os analistas lembram que as decisões ocorrem até nove meses antes e, portanto, não refletem decisões tomadas pelo grupo pós fusão.

Risco de execução

Em relatório antes da divulgação dos problemas de convivência na liderança do Azzas, os analistas do BTG pontuaram que fusões e aquisições no varejo de moda não são fáceis por conta de “culturas, sistemas e marcas diferentes na integração, o sempre significa que a captura de sinergias pode levar mais tempo”.

Para os analistas, o mercado deverá ficar em modo de espera em vez de pagar antecipadamente por essas expectativas de ganhos.

“Um problema como esse aumenta o risco de execução e vai ser observado de perto daqui para a frente. O mercado não está pensando hoje em valor, mas no ‘momentum’ da ação”, resumiu um gestor.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
BOLSO CHEIO

Dividendos e JCP: saiba quanto a Multiplan (MULT3) vai pagar dessa vez aos acionistas e quem pode receber

13 de junho de 2025 - 19:40

A administradora de shopping center vai pagar proventos aos acionistas na forma de juros sobre capital próprio; confira os detalhes

AGORA VAI?

Compra do Banco Master: BRB entrega documentação ao BC e exclui R$ 33 bi em ativos para diminuir risco da operação

13 de junho de 2025 - 16:43

O Banco Central tem um prazo de 360 dias para analisar a proposta e deliberar pela aprovação ou recusa

TÁ VALENDO, MAS COM CAUTELA

Prio (PRIO3): Santander eleva o preço-alvo e vê potencial de valorização de quase 30%, mas recomendação não é tão otimista assim

13 de junho de 2025 - 14:08

Analistas incorporaram às ações da petroleira a compra da totalidade do campo Peregrino, mas problemas em outro campo de perfuração acende alerta

COMEÇOU COM PÉ DIREITO

Estreia na Nyse pode transformar a JBS (JBSS32) de peso-pesado brasileiro a líder mundial

13 de junho de 2025 - 12:24

Os papéis começaram a ser negociados nesta sexta-feira (13); Citi avalia catalisadores para os ativos e diz se é hora de comprar ou de esperar

PARE ESTA FUSÃO

Minerva (BEEF3) entra como terceira interessada na incorporação da BRF (BRFS3) pela Marfrig (MRFG3); saiba quais são os argumentos contrários

13 de junho de 2025 - 12:08

Empresa conseguiu autorização do Cade para contribuir com dados e pareceres técnicos

IMPACTO E RENTABILIDADE

“Com Trump de volta, o greenwashing perde força”, diz o gestor Fabio Alperowitch sobre nova era climática

13 de junho de 2025 - 8:54

Para o gestor da fama re.capital, retorno do republicano à Casa Branca acelera reação dos ativistas legítimos e expõe as empresas oportunistas

ALÔ, ACIONISTAS

Dividendos e JCP: Telefônica (VIVT3), Copasa (CSMG3) e Neoenergia (NEOE3) pagam R$ 1 bilhão em proventos; veja quem tem direito a receber

12 de junho de 2025 - 19:12

A maior fatia é da B3, a operadora da bolsa brasileira, que anunciou na noite desta quinta-feira (11) R$ 378,5 milhões em juros sobre capital próprio

VOO COM HORA MARCADA

Radar ligado: Embraer (EMBR3) prevê demanda global de 10,5 mil aviões em 20 anos; saiba qual região é a líder

12 de junho de 2025 - 16:50

A fabricante brasileira de aviões projeta o valor de mercado de todas as novas aeronaves em US$ 680 bilhões, avanço de 6,25% em relação ao ano anterior

MAIS IMPOSTOS

Até o Nubank (ROXO34) vai pagar a conta: as empresas financeiras mais afetadas pelas mudanças tributárias do governo

12 de junho de 2025 - 16:24

Segundo analistas, os players não bancários, como Nubank, XP e B3, devem ser os principais afetados pelos novos impostos; entenda os efeitos para os balanços dos gigantes do setor

BOM OU RUIM

Dividendo de R$ 1,5 bilhão da Rumo (RAIL3) é motivo para ficar com o pé atrás? Os bancos respondem

12 de junho de 2025 - 16:03

O provento representa 70% do lucro líquido do último ano e é bem maior do que os R$ 350 milhões distribuídos na última década. Mas como fica a alavancagem?

OS ACIONISTAS ESTÃO DE OLHO

O sinal de Brasília que faz as ações da Petrobras (PETR4) operarem na contramão do petróleo e subirem mais de 1%

12 de junho de 2025 - 14:29

A Prio e a PetroReconcavo operam em queda nesta quinta-feira (12), acompanhando os preços mais baixos do Brent no mercado internacional

DESFEZ O MATCH?

Dia dos Namorados: por que nem a solteirice salva apps de relacionamento como Tinder e Bumble da crise de engajamento

12 de junho de 2025 - 7:32

Após a pandemia, dating apps tiveram uma queda grande no número de “pretendentes”, que voltaram antigo método de conhecer pessoas no mundo real

REPORTAGEM ESPECIAL

Bradesco (BBDC4) surpreende, mas o pior ficou para trás na Cidade de Deus? Mercado aumenta apostas nas ações e diretor revela o que esperar

12 de junho de 2025 - 6:07

Ações disparam após balanço e, dentro da recuperação “step by step”, banco mira retomar níveis de rentabilidade (ROE) acima do custo de capital

FECHANDO CAPITAL

Despedida da Wilson Sons (PORT3) da bolsa: controladora registra OPA; veja valor por ação

11 de junho de 2025 - 19:44

Os acionistas que detém pelo menos 10% das ações em circulação têm 15 dias para requerer a realização de nova avaliação sobre o preço da OPA

TEM POTENCIAL

A Vamos (VAMO3) está barata demais? Por que Itaú BBA ignora o pessimismo do mercado e prevê 50% de valorização nas ações

11 de junho de 2025 - 18:01

Após um evento com os executivos, os analistas do banco reviram suas premissas e projetam crescimento de lucro para 2025 e 2026

NA BOCA DO POVO

A notícia que derruba a Braskem (BRKM5) hoje e coloca as ações da petroquímica entre as maiores baixas do Ibovespa

11 de junho de 2025 - 16:21

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e o empresário Nelson Tanure falaram sobre o futuro da companhia e preocuparam os investidores

“ACUSAÇÕES SÉRIAS DEMAIS”

T4F (SHOW3) propõe pagar R$ 1,5 milhão para encerrar processo sobre trabalho análogo à escravidão no Lollapalooza, mas CVM rejeita

11 de junho de 2025 - 10:47

Em 2023, uma fiscalização identificou que cinco funcionários da Yellow Stripe, contratada da T4F para o festival, estavam dormindo no local em colchonetes de papelão

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Em meio ao ânimo com o Minha Casa Minha Vida, CEO da Direcional (DIRR3) fala o que falta para apostar mais pesado na Faixa 4

11 de junho de 2025 - 6:01

O Seu Dinheiro conversou com o CEO Ricardo Gontijo sobre a Faixa 4 do Minha Casa Minha Vida, expectativas para a empresa, a Riva, os principais desafios para a companhia e o cenário macro

UM DIA APÓS O REBAIXAMENTO

Petrobras (PETR4) respira: ações resistem à queda do petróleo e seguem entre as maiores altas do Ibovespa hoje

10 de junho de 2025 - 16:30

No dia anterior, a estatal foi rebaixada por grandes bancos, que estão de olho das perspectivas para os preços das commodity

MAIS OU MENOS

AgroGalaxy (AGXY3) reduz prejuízo no 1T25, mas receita despenca 80% em meio à recuperação judicial

10 de junho de 2025 - 16:02

Tombo no faturamento decorre do cancelamento da carteira de pedidos da safrinha de milho, tradicionalmente o principal negócio do período para distribuidoras de insumos agrícolas

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar