🔴TRÊS ROBÔS CRIADOS A PARTIR DE IA “TRABALHANDO” EM BUSCA DE GANHOS DIÁRIOS – ENTENDA AQUI

Felipe Miranda: Erro de diagnóstico

A essência do problema da conjuntura brasileira reside na desobediência às sinalizações do sistema de preços, que é um dos pilares do bom funcionamento do capitalismo

27 de janeiro de 2025
20:00 - atualizado às 18:37
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com montagem de gráficos ao fundo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Imagem: Montagem Beatriz Azevedo

“Retoque na maquiagem”, estampa a capa da revista semanal. E complementa: “De olho em 2026, Lula investe em mudança radical na comunicação do governo”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Um grande jornalista já enunciou: toda vez em que um governo identificar um problema grave de comunicação, ele, de fato, tem um problema grave, que não é de comunicação. 

Quando você tem o diagnóstico errado, é difícil encontrar a cura. Talvez até seja pior. O apontamento de um problema falso é um mapa errado, que, como sabemos, deve ser preterido a não ter mapa algum. Se você tem dengue, tomar aspirina vai diminuir suas plaquetas e dificultar a coagulação.

Contra a alta dos alimentos, gravamos vídeos na horta prometendo medidas para contenção dos preços. Contra a insatisfação do monitoramento do PIX, criminalizamos o mensageiro.

Se parece um pato, nada como um pato e grasna como um pato, há boas chances de ser mesmo um pato. O erro é simplesmente de diagnóstico, de uma visão de mundo equivocada e arraigada, que, aliás, é um museu de grandes novidades. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Rui Costa acaba de sugerir trocar a cara laranja por alguma outra fruta, para evitar a carestia. Há 11 anos, Márcio Holland, carinhosamente apelidado de Márcio Ovolland, recomendou a substituição da valorizada carne pelo ovo, mais barato. Até a presidente Dilma, que deve adorar um churrasco, considerou a declaração extremamente infeliz.

Leia Também

A essência do problema da conjuntura brasileira reside na desobediência às sinalizações do sistema de preços, que é um dos pilares do bom funcionamento do capitalismo. Na prática, o governo não valoriza nem gosta dos mecanismos de mercado e tenta combatê-los com mais Estado. 

Se o dólar sobe, a culpa é dos especuladores do mercado. Se os alimentos ficam mais caros, falamos em intervenção, para depois desmentir, mas deixar no ar ideias de alimentação popular (o que requereria mais subsídios, mais Estado) ou menor alíquota de importação. 

Claro que você pode adotar medidas cosméticas para, na margem, ajudar a conter o preço dos alimentos. O Brasil é muito rigoroso em seus critérios de validade, quando boa parte do mundo adota o conceito de “best before”, e também na rigidez de venda de remédios OTC, que poderiam ser disponibilizados em supermercados e lojas de conveniência, dando escala e ajudando a baratear custos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na essência, porém, o alimento está caro por conta da alta do preço internacional das commodities (restrições de oferta por problemas climáticos), pela demanda aquecida internamente (fruto de uma economia crescendo acima do potencial) e da desvalorização da taxa de câmbio (resultado, sobretudo, de uma desconfiança com a política econômica brasileira, além de um fortalecimento do dólar no exterior).

O governo e os sintomas do colapso

Há duas grandes ideias erradas em curso. A primeira é de que o mercado normalmente está errado e precisa de ajuste, enquanto o Estado deve ser o grande indutor do crescimento, guiar a economia e selecionar os campeões nacionais. A segunda é a insistência em estímulos de demanda no momento em que a economia cresce muito acima de seu potencial, cujas consequências são mais inflação e deterioração da conta corrente.

Já temos sinais de que o modelo do governo começa a colapsar a partir de uma série de indicadores antecedentes.

Os embarques de embalagens de papelão ondulado caíram 1,1% em dezembro; a produção de veículos em desaceleração, de um crescimento de 24,7% em outubro, para 16,5% em novembro e 10,8% em dezembro; a produção de motocicletas, que cresceu 18,0% em outubro e 10,7% em novembro, se expandiu 5,1% no último mês de 2024; o tráfico de veículos pesados roubou 0,7% em dezembro, a produção industrial recuou 0,2%. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A economia já passa por um freio de arrumação. Cresce a probabilidade de uma recessão técnica, talvez antes do contemplado mesmo pelas estimativas mais pessimistas. Precisamos manter a guarda alta contra a tendência humana a sempre acreditar em trajetórias lineares e graduais. Os movimentos que realmente importam acontecem em saltos e de maneira súbita, não linear e com complexidade e reações em cadeia.

Ao mesmo tempo em que a atividade desacelera de maneira intensa, a inflação e suas expectativas continuam se deteriorando. O IPCA da sexta-feira veio bem pior do que o esperado, tanto no nível quanto em sua composição. Por sua vez, a mediana das projeções para inflação oficial de 2025 saltou de 5,08% para 5,50%.

Com atividade caindo e inflação subindo, temos, por definição, a contratação de uma piora do índice de miséria (soma da inflação com o desemprego; quanto menor, melhor). Conforme escrito nesta newsletter ao final do ano passado, o ano de 2025 indicava um encontro marcado entre Wall Street e Main Street, a Faria Lima e a 25 de março, o mercado malvadão e o mal estar geral da sociedade.

O índice de miséria carrega alta correlação com a confiança do consumidor, que, por sua vez, anda de mãos dadas com a popularidade do presidente.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Eis que, para a surpresa de um total de zero pessoas, a FGV acaba de anunciar um recuo de 5,1 pontos percentuais na confiança do consumidor em janeiro, para 86,2 pontos, seu menor nível desde fevereiro de 2023. Em paralelo, pesquisa da Genial/Quaest apontou uma redução de 5 pontos na aprovação do governo Lula  no último mês (a desaprovação supera a aprovação).

A avaliação negativa subiu 6 pontos, com 50% dos entrevistados acreditando que o país está indo na direção errada, contra 39% identificando uma direção correta.

A notícia mais negativa, segundo o levantamento, é a tentativa de regulamentação do PIX. A sociedade emite um recado claro: não compactua com a agenda de aumento de impostos. Enquanto a sociedade pede menos impostos e mais liberdade econômica, o governo insiste numa agenda de mais Estado. Não há convergência e, assim, ambos vão se afastando cada vez mais.

2025: um ano de transição

Aqui talvez entre uma das grandes e relevantes particularidades do ano de 2025. Como tenho insistido, ele representa a antessala de 2026. Não é apenas uma obviedade aritmética. Isso significa uma característica que tradicionalmente não encontramos nos investimentos: teta positivo

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Aos pouco familiarizados, esclareço: o teta representa uma das chamadas “gregas”, no apreçamento das opções, a sensibilidade daquele derivativo à passagem do tempo, a derivada parcial do preço da opção em relação ao tempo.

Tradicionalmente, uma opção vai perdendo valor conforme o tempo passa. Aqui, é exatamente o contrário: conforme tempo passa, o apreçamento dos ativos brasileiros deveria ganhar valor, porque começa a entrar na conta com maior peso o evento das eleições de 2026.

Minha defesa é de que, em algum momento ainda deste ano, o apreçamento dos ativos de risco no Brasil vai começar a ser feito conforme um modelo binomial de opções reais, sendo a bifurcação dada pelo evento eleitoral de 2026.

O preço do kit Brasil, no caso da eleição de um governo pró-mercado, vezes a probabilidade de ocorrência deste evento mais o preço do kit Brasil, no caso da reeleição da atual administração (ou de um nome por ela apontada), multiplicado pela sua probabilidade de ocorrência, trazido a valor presente. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Como isso é trazido a valor presente, conforme nos aproximamos do evento, ele vai “engordando”, vai ganhando preço. Por isso, o tal "teta positivo”. Isso é bastante relevante para determinarmos alocação de recursos.

E o segundo ponto importante, claro, é que a perda de popularidade do presidente aumenta as chances de vitória de uma administração mais pró-mercado.

Embora ainda estejamos longe, o evento eleições é um cataclisma, muito mais importante do que se o déficit primário deste ano vai ser zero ou negativo em meio ponto percentual.  

Esclarecimento rápido: não acho que o investidor representativo vai, de fato, realizar um apreçamento de acordo com um modelo binomial. Poucos são treinados em opções reais. Mas, intuitivamente, mesmo sem saber, é isso que ele vai fazer, no que poderia ser sintetizado em algo como: “eu não sei quem vai ganhar a eleição, mas, na dúvida, compra aí um pouco de Banco do Brasil e um bocado de SMAL11…. Vai que….” 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Um monte de gente comprando um pouco vira um monte, principalmente num momento em que a posição técnica é muito favorável e os valuations são convidativos. Se as alocações em renda variável já tangenciavam as mínimas, pioraram em dezembro.

Aqui, no entanto, há que se ter o devido cuidado: boa parte do enorme barro do final do ano veio de dois grandes resgates, de um grande FoF local e de um grande fundo soberano internacional. Tempestade perfeita, ao que se costuma seguir-se um período melhor, com correção de certos exageros.

“Ah, mas não temos catalisadores relevantes neste primeiro semestre.” Normalmente, períodos de extrema depressão e valuations muito baratos, não contam mesmo com triggers identificáveis a priori.

Afinal, se contassem, voltaríamos a um apreçamento de acordo com um modelo binomial, em que a mera probabilidade de ocorrência do tal catalisador já faria preço ex-ante. A falta de visibilidade da melhora é que torna as coisas tão baratas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

As grandes inflexões costumam vir mesmo de eventos não-mapeados. Pode ser, sei lá, um tuíte do Bill Ackman, uma queda no banheiro, um Trump mais brando capaz de desenhar um abrangente acordo com a China, o final do aspirador de pó do fluxo de recursos anteriormente destinado apenas para as Big Techs norte-americanas.

Seja qual for, em tempos de DeepSeek, as cotações de bons ativos brasileiros seguem extremamente doentes. E estamos contratando o devido tratamento de choque, dia após dia, ajudados pela mera passagem do tempo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor

13 de agosto de 2025 - 20:00

Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço

13 de agosto de 2025 - 8:52

Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo

12 de agosto de 2025 - 8:13

Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?

12 de agosto de 2025 - 6:18

Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente

11 de agosto de 2025 - 19:58

Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar

11 de agosto de 2025 - 8:08

Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim

VISÃO 360

O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?

10 de agosto de 2025 - 8:00

Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias. 

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque

8 de agosto de 2025 - 8:22

Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin

SEXTOU COM O RUY

Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito

8 de agosto de 2025 - 7:01

Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras

7 de agosto de 2025 - 8:21

Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?

6 de agosto de 2025 - 19:59

A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília

6 de agosto de 2025 - 8:22

Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump

5 de agosto de 2025 - 8:31

Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump

5 de agosto de 2025 - 6:27

Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno

4 de agosto de 2025 - 20:00

O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão

4 de agosto de 2025 - 8:28

Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil

TRILHAS DE CARREIRA

Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece

3 de agosto de 2025 - 8:30

Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale

1 de agosto de 2025 - 8:34

Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem

SEXTOU COM O RUY

A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata

1 de agosto de 2025 - 6:08

Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale

31 de julho de 2025 - 8:13

Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar