Selic a 15% ao ano, inflação e fantasma fiscal: por que a Kinea está vendida na bolsa brasileira?
Responsável por mais de R$ 132 bilhões em ativos, a gestora afirma que “existem melhores oportunidades no exterior”; veja onde a Kinea investe hoje
A recente deterioração do cenário macroeconômico doméstico alimentou a falta de apetite pela bolsa brasileira entre os grandes tubarões do mercado — e a Kinea Investimentos é uma das gestoras atualmente pessimistas com as ações locais.
A casa controlada pelo Itaú, responsável por mais de R$ 132 bilhões em ativos sob gestão, encontra-se com posição vendida na bolsa brasileira e afirma que “existem melhores oportunidades no exterior”.
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“Na atual precificação da curva de juros, preferimos manter apenas pequenas posições táticas, reconhecendo as incertezas atuais”, escreveu a gestora, em carta a investidores.
Se alguém ainda apostava em um rali de fim de ano para o Ibovespa, o fechamento de novembro veio como um balde de água fria. O principal índice de ações da B3 recuou 3,12% no acumulado do mês, pressionado pelas ações de construtoras, varejistas e outros segmentos ligados ao consumo.
Por trás do pessimismo da Kinea sobre a bolsa brasileira
Na avaliação da Kinea, o Brasil “dependerá principalmente das suas próprias ações” daqui para frente — e as respostas que temos até o momento para o desafio que está por vir são insuficientes.
“Embora as medidas do pacote sejam na direção correta de cumprir o arcabouço fiscal, mais uma vez o governo falha em ancorar as expectativas”, escreveu a gestora.
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Nas projeções da casa, como o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo federal na semana passada esteve “mais pautado em pente-fino, e com poucas medidas estruturais”, o ajuste deve gerar, na prática, uma economia bem menor do que o previsto.
Relembrando, o plano fiscal lançado pelo Ministério da Fazenda prevê a economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos.
Junto com o pacote, o governo ainda aprovou a isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês, promessa de campanha de Lula que tira R$ 40 bilhões dos cofres públicos em arrecadação.
Se, por um lado, os desembolsos fiscais dos últimos anos impulsionaram o Brasil para uma economia sobreaquecida, com crescimentos do PIB (Produto Interno Bruto) em cerca de 3%, a expectativa da Kinea é que o impulso fiscal perca tração nos próximos meses.
“O fato de o governo não estar mais com os dois pés no acelerador contribui para a atividade voltar a rodar em um ritmo mais fraco”, disse a gestora.
Economia, fiscal e juros
A desaceleração da economia brasileira deve bater diretamente em outra variável macroeconômica: os juros. A tendência é que a política monetária do país se torne cada vez mais contracionista.
“Em nosso cenário base, a desaceleração não será intensa o suficiente para tirar pressão sobre nosso hiato do produto, dificultando o processo de desinflação. No cenário negativo, podemos ter um ambiente de estag-inflação, com os choques de condição financeira e aumento da incerteza pesando sobre a atividade, enquanto a depreciação do real eleva a inflação”, projetou a gestora, que prevê os núcleos de inflação próximos a 6% no primeiro semestre de 2025.
Para a Kinea, a resultante de uma atividade resiliente com inflação acima da meta é uma constante pressão sobre o Banco Central para elevar a taxa básica de juros (Selic).
Se considerada a “regra de Taylor” — equação que relaciona a taxa de juros de curto prazo à inflação real, à meta de inflação, ao PIB e taxa de desemprego —, a Selic precisaria chegar ao patamar de 15% ao ano para ser capaz de trazer a inflação de volta à meta.
No início de novembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros brasileira em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. Atualmente, o mercado já precifica uma Selic terminal na casa de 14% a.a.
“Uma taxa Selic a esses níveis pode trazer novamente o fantasma do problema fiscal estrutural brasileiro, em que um primário com déficit em torno de 1% e o elevado nível de juros reais pressionam o crescimento da relação dívida/PIB, fazendo com que a política monetária perca potência.”
O “Risco Trump” para a bolsa
Para além dos fatores domésticos, há ainda uma questão externa que deve atrapalhar uma retomada da bolsa brasileira, segundo a Kinea.
Com a volta de Donald Trump à Casa Branca e a adoção das novas políticas protecionistas e de estímulos a empresas norte-americanas prometidas pelo republicano, a tendência é que haja um constante fluxo de capital para os Estados Unidos.
Isso tende a drenar o fluxo de investimentos para a Eurásia e mercados emergentes, como o Brasil.
“Em um ambiente onde o capital é atraído para os Estados Unidos, não nos sentimos compelidos a manter posições compradas em países emergentes”, afirmou a Kinea.
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Se não na bolsa brasileira, onde a Kinea investe hoje?
Ainda que a bolsa brasileira faça gestores brasileiros como a Kinea torcerem o nariz, a renda variável no exterior chama a atenção da gestora ligada ao Itaú.
A gestora tem posição comprada na bolsa norte-americana, com apetite maior por setores que devem se beneficiar das políticas defendidas por Donald Trump, como os bancos e pequenas empresas.
Veja algumas das apostas da Kinea em ações nos EUA:
- Setor industrial: Eaton e Parker Hannifin;
- Bancos: Bank of America, Wells Fargo e posições em bancos regionais;
A gestora também se desfez das posições tomadas em juros na parte longa da curva norte-americana (que se beneficiariam da subida dos juros longos).
Na parte curta da curva de juros dos EUA, o portfólio continuou posicionado para uma abertura do diferencial de juros norte-americanos em relação às demais economias desenvolvidas.
A chegada de Trump e da nova política de tarifas também deve continuar a dar tração ao fortalecimento do dólar, a partir da desvalorização de moedas que exportam para os Estados Unidos.
A Kinea se manteve comprada na moeda norte-americana e no iene japonês, e com posição vendida no yuan e em uma cesta de moedas europeias.
Do lado das commodities, a cesta comprada da Kinea inclui café, ouro e boi gordo. Já a ponta vendida conta com petróleo, açúcar, soja, trigo e cobre.
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