Não foi no escurinho no cinema, mas, de repente, um filme mostrou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em imagens do circuito interno de TV do Palácio do Planalto sem confrontar invasores nos ataques de 8 de janeiro. O general Gonçalves Dias pediu demissão e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou.
O flagra provocou a derrubada do primeiro ministro do atual governo e colocou uma nova crise política no horizonte petista — Lula convocou uma reunião de emergência no Planalto com as figuras mais importantes de sua equipe ministerial para avaliar a situação.
Lula aceitou o pedido de exoneração de Gonçalves Dias, ainda sem ter um substituto para o cargo tamanho desgaste. Mas, no final da noite, o presidente acabou escolhendo o secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Capelli, para comandar o GSI interinamente.
Antes da demissão, as funções do general já haviam sido esvaziadas pelo presidente, que reclamou publicamente de falhas na inteligência e não escondeu a desconfiança dos militares da ativa com relação aos ataques de 8 de janeiro.
"Nós não deixaremos de julgar cada um dos golpistas porque nesse País não existe espaço para nazista, para fascista e para quem não gosta de democracia", disse Lula na cerimônia de posse do Conselho de Participação Social e de lançamento do processo de elaboração do Programa Plurianual (PPA) Participativo, nesta quarta-feira.
Na declaração, o presidente ressaltou que todos terão presunção de inocência.
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A operação abafa CPMI
As imagens que mostraram a inação de Gonçalves Dias na invasão de Brasília foram divulgadas inicialmente pela CNN Brasil.
As imagens mostram homens com uniforme do GSI que não detém golpistas, nem sequer os abordam — um deles chega a fazer um gesto de positivo e cumprimenta os manifestantes, enquanto outro serve água.
Diante da revelação, o governo se convenceu de que não havia mais como segurar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que a oposição quer instalar para investigar os atos antidemocráticos.
Até agora, o Planalto ainda nutria alguma esperança de retirar assinaturas para a abertura da CPMI, por meio da distribuição de cargos e emendas.
O arcabouço de Lula
Não é à toa que o governo estava tentando, a todo custo, barrar a CPMI sobre os atos antidemocráticos. A ideia de Lula era garantir que votações consideradas vitais como a do arcabouço fiscal não fossem obstruídas.
Depois de assinada pelo presidente na terça-feira (18), a proposta foi entregue ao Congresso pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Mais cedo, o líder do PP na Câmara, André Fufuca, disse que, pelo texto atual, o arcabouço enviado pelo governo não tem votos para ser aprovado, mas o apoio pode ser construído a depender das alterações feitas na matéria.
Fufuca também está descrente quanto ao prazo dado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), seu correligionário, para que o texto seja votado na Casa até o dia 10 de maio, mesmo com pedido de urgência que vem sendo articulado por membros do governo.