Com Selic alta e quebra de empresas, Brasil pode ter crise bancária como a dos EUA? O diretor do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) responde
Para Daniel Lima, diretor-executivo da entidade, não há ameaça de risco sistêmico, pois empresas e bancos brasileiros já têm experiência em crises
Juro alto por tempo prolongado é algo que provoca frio na espinha de empresários, banqueiros e investidores: encarece o crédito, reduz o consumo e aumenta o custo de oportunidade (reduzindo os investimentos produtivos), o que aumenta a inadimplência e os saques de depósitos bancários, ao mesmo tempo que prejudica os resultados das empresas e derruba os preços dos ativos.
As taxas elevadas também acabam fazendo uma “seleção natural” dos negócios mais robustos e resilientes. Quando o dinheiro é farto e barato, dá para fazer muita barbeiragem sem maiores consequências, mas quando a maré vira é que vemos quem está nadando pelado, parafraseando Warren Buffett.
O início de 2023 foi marcado por uma série de eventos, no Brasil e no exterior, que apontavam para uma possível crise de crédito e até para uma crise bancária, dados os juros elevados na tentativa de conter uma inflação galopante.
Por aqui, vimos renegociações de dívidas e até mesmo a quebra de uma série de empresas relevantes, incluindo uma segunda recuperação judicial da Oi e a da mais nova vítima, a Light. Mesmo a crise das Americanas, cujo rombo bilionário teve indícios de fraude, talvez não tivesse sido postergada se a Selic não se encontrasse em 13,75% ao ano há tanto tempo.
Nos Estados Unidos, a alta dos juros tomou a forma de um princípio de crise bancária, que já levou à lona três bancos de médio porte: o Silicon Valley Bank (SVB), o Signature Bank e o First Republic Bank. Houve ainda, na Europa, o episódio do Credit Suisse, comprado às pressas pelo rival UBS.
- Ainda tem dúvidas sobre como fazer a declaração do Imposto de Renda 2023? O Seu Dinheiro preparou um guia completo e exclusivo com o passo a passo para que você “se livre” logo dessa obrigação – e sem passar estresse. [BAIXE GRATUITAMENTE AQUI]
Uma crise no setor financeiro com corrida bancária é um dos maiores temores em momentos como esse, pois mesmo pessoas físicas que não têm muito mais do que algumas economias num banco podem acabar sendo atingidas.
Leia Também
No Brasil, a quebradeira de empresas e os sinais negativos vindos dos EUA levantaram o questionamento sobre se aquilo que ocorreu com os bancos americanos poderia acabar acontecendo aqui também.
“Brasil e EUA enfrentam ciclos de mercado de crédito muito diferentes. Não vejo nenhum risco, nenhuma ameaça de risco sistêmico por aqui”, diz Daniel Lima, diretor-executivo do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em entrevista ao Seu Dinheiro.
Para Lima, a concentração do mercado bancário em um punhado de grandes instituições financeiras protege, de certa forma, o sistema financeiro brasileiro. Além disso, as empresas e bancos locais têm, inegavelmente, “experiência” em enfrentar crises e um mercado muito volátil.
No caso do SVB, por exemplo, houve falha na gestão de riscos e um descasamento de prazos entre os ativos do banco – alocados em títulos de longo prazo – e a necessidade de recursos por parte dos clientes, cujos saques para honrar obrigações agora mais caras aumentaram muito num espaço de tempo curto.
“A gente tem um mercado muito concentrado, e empresas robustas, fortes, bem preparadas, que já atravessaram diversas intempéries. Não é a primeira vez que enfrentam condições de crédito duras. Acho que a gente vive num ambiente de juros mais voláteis que os EUA, e a gestão de ativos e passivos das instituições financeiras está acostumada a oscilações de taxas de juros. Acontecer algo parecido com o que aconteceu com o SVB, tipo comprar um título público longo sem ficar atento à duration, é bem difícil acontecer aqui”, diz o diretor-executivo do FGC.
Quebra da BRK e da Portocred não era um ‘sinal’?
A ameaça de uma crise de crédito no Brasil ganhou contornos mais sombrios quando o Banco Central anunciou a liquidação de duas financeiras em fevereiro deste ano: a BRK e a Portocred.
Na época, o mercado ficou com uma pulga atrás da orelha: seria aquele um indício do começo de uma quebradeira de instituições financeiras no Brasil? Segundo Daniel Lima, não era o caso, pois os problemas dessas duas financeiras já eram conhecidos “há muito tempo” e tinham “relação baixa com os riscos do mercado atual”.
“Podemos ter eventos [de crédito] pontuais, isso faz parte do jogo. Temos 222 associados, então não é nada incomum que um deles acabe sofrendo com um plano de negócios mal sucedido. Mas não vejo isso acontecendo com uma porção deles. Então, não há risco, ao menos do tipo que seja possível antever”, completa.
De meados de março até 18 de maio, o FGC já havia pago R$ 1,97 bilhão a mais de 45 mil credores da BRK e da Portocred com depósitos elegíveis à garantia, como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), Letras Financeiras (LFs) e Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs).
No total, as duas instituições financeiras têm cerca de 54 mil credores com direito a receber cerca de R$ 2,2 bilhões, mas, segundo o FGC, quase 20% deles sequer iniciaram o processo de solicitação do pagamento pelo aplicativo do fundo.
No caso da BRK, muitos credores eram pessoas físicas, que investiram nos CDBs da financeira que eram distribuídos em plataformas de investimento.
Embora BRK e Portocred tenham sofrido liquidação na mesma data, os pagamentos das garantias começaram com alguns dias de diferença. Lima explica que essa diferença pode acontecer porque a forma de organização dos bancos de dados das instituições financeiras varia de uma para a outra.
“O liquidante enfrenta o desafio operacional de montar uma lista de credores. Ele precisa cruzar os dados das corretoras com os da B3 e os da instituição que quebrou, ver se não há bloqueio no Sisbacen, se não houve transferência de custódia do título… Há muito trabalho envolvido”, diz.
- Leia também: FGC inicia pagamentos de garantias aos investidores de CDBs da BRK Financeira; veja como ser ressarcido
Como funciona o FGC
O Fundo Garantidor de Créditos é uma instituição privada, sem fins lucrativos e mantida pelas próprias instituições financeiras associadas com o objetivo de manter a estabilidade do sistema financeiro brasileiro.
Sua função é garantir depósitos em contas-correntes, contas-poupança ou aplicações financeiras de renda fixa (como CDBs, LCIs, LCAs, LCs e LFs) emitidas por essas associadas em um limite de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ por instituição financeira, totalizando um limite global de R$ 1 milhão por CPF ou CNPJ em todas as instituições financeiras. Já no caso dos DPGEs, o limite de cobertura sobe para R$ 40 milhões.
Quando uma instituição financeira quebra, o que o FGC faz é assumir o lugar dos depositantes na fila de credores do banco ou financeira em questão. Em outras palavras, o fundo reembolsa quem tem depósitos elegíveis à garantia e depois passa a concorrer como credor da instituição financeira na tentativa de reaver ao menos parte dos valores pagos e recompor o saldo do fundo.
“O FGC não é um mecanismo a fundo perdido e nem é de interesse da sociedade que seja”, explica Lima. “Esta é uma das formas que o fundo tem de recompor suas reservas. Se não, seria muita destruição de valor.”
VEJA TAMBÉM — “A Bet365 travou meu dinheiro!”: este caso pode colocar o site de apostas na justiça; entenda o motivo
No ano passado, o patrimônio do FGC cresceu 15,65%, para R$ 107,9 bilhões, e sua liquidez passou de R$ 71,5 bilhões para R$ 86,9 bilhões, resultando num índice de 2,23%, mais próximo do patamar pré-pandemia. Em 2020, este índice de liquidez, que deve ser mantido entre 2,30% e 2,70%, chegou a cair para menos de 2,00%.
Lima explica que, durante a pandemia, não foi um aumento no pagamento de garantias – em razão, por exemplo, de uma quebradeira de bancos – que fez o indicador cair, mas sim uma forte alta nos depósitos com garantia do FGC, numa fuga dos investidores para aplicações financeiras mais seguras diante da crise.
Para o diretor-executivo do fundo, isso denota uma confiança das pessoas no sistema bancário, o que explicaria também a alta dos depósitos garantidos ao longo de 2022, para além da questão dos juros altos.
“Os demais produtos destinados às pessoas físicas estão passando por alta volatilidade, mas o produto bancário sofre menos com isso. A grande preocupação é se o banco vai te pagar depois. Mas como o sistema bancário é sólido, e as pessoas confiam nele, elas acabam recorrendo a ele. Contribui para essa percepção o fato de que o FGC está muito bem capitalizado”, diz.
Corte de 0,25 p.p. ou 0,50 p.p.? Nada disso: senadores democratas pedem diretamente para o chefe do BC dos EUA que Fed corte juros em 0,75 p.p.
As autoridades dos EUA acrescentam que “claramente” chegou a hora de reduzir as taxas, diante da desaceleração dos preços e de dados indicando o arrefecimento do emprego
Dólar cai e se aproxima dos R$ 5,50 mesmo com ‘puxadinho’ de Flávio Dino no Orçamento — e a ‘culpa’ é dos EUA
Real tira proveito da queda do dólar nos mercados internacionais diante da expectativa de corte de juros pelo Fed
Ouro nas máximas históricas: tem espaço para mais? Goldman Sachs dá a resposta e diz até onde metal deve ir
“Nossos analistas veem uma alta potencial de cerca de 15% nos preços do ouro com o aumento das sanções norte-americanas, igual àquele visto desde 2021”, destaca o relatório
Não tem como fugir da Super Quarta: bolsas internacionais sentem baixa liquidez com feriados na Ásia e perspectiva de juros em grandes economias
Enquanto as decisões monetárias da semana não saem, as bolsas internacionais operam sem um único sinal
Agenda econômica: Decisões de juros no Brasil e nos EUA são destaque em “Super Semana” de decisões de política monetária
Além das decisões dos juros das principais economias globais, a agenda econômica também aguarda índices de inflação no Reino Unido, Zona do Euro e Japão
Senhorio com CNPJ: com US$ 320 bilhões em imóveis, maior operadora de residenciais para renda do mundo conta como quer consolidar mercado no Brasil
A Greystar opera mais de US$ 320 bilhões em imóveis em quase 146 mercados e estreou no país com o lançamento de um empreendimento em São Paulo
Fazenda atualiza estimativas e eleva previsão para inflação em 2024; veja quais são os ‘vilões’ do IPCA
Segundo o boletim macrofiscal, a expectativa da Fazenda é de que a inflação volte a cair no acumulado em doze meses após outubro
O tamanho que importa: Ibovespa acompanha prévia do PIB do Brasil, enquanto mercados internacionais elevam expectativas para corte de juros nos EUA
O IBC-Br será divulgado às 9h e pode surpreender investidores locais; lá fora, o CME Group registrou aumento nas chances de um alívio maior nas taxas de juros norte-americanas
O Ibovespa vai voltar a bater recordes em 2024? Na contramão, gestora com R$ 7 bi em ativos vê escalada da bolsa a 145 mil pontos e dólar a R$ 5,30
Ao Seu Dinheiro, os gestores Matheus Tarzia e Mario Schalch revelaram as perspectivas para a bolsa, juros e dólar — e os principais riscos para a economia brasileira
Banco eleva preço-alvo para o Nubank — mas explica por que você não deveria se animar (tanto) com as ações
Apesar do aumento do target de US$ 12,80 para US$ 15, a nova cifra implica um potencial de valorização de apenas 5% em relação ao último fechamento
Fundadora do ChatGPT pode ser avaliada em quase R$ 850 bilhões — e se consolidar entre as empresas mais valiosas do mundo
Empresa está planejando uma nova rodada de captação de recursos, que pode incluir investimentos de big techs como Apple, Microsoft e Nvidia
Itaú revisa projeção para Selic e agora vê juros a 12% em janeiro de 2025, mas espera dólar (um pouco) mais barato
Relatório do banco aponta ciclo de alta da Selic até atingir certa desaceleração da economia, podendo voltar a cair no final do ano que vem
Disclaimer nas bolsas: Wall Street ganha uma ajudinha da inteligência artificial, enquanto mercado aguarda corte de juros na Europa
Durante o pregão regular de ontem (11), a Nvidia, joia da coroa do setor, chegou a saltar mais de 8% e animou os índices internacionais nesta quinta-feira
Donald Trump vs Kamala Harris: os melhores momentos do primeiro debate entre os candidatos à presidência dos EUA
Donald Trump e Kamala Harris se enfrentaram pela primeira vez na corrida eleitoral pela presidência dos Estados Unidos; os candidatos falaram sobre economia, guerra na Ucrânia e aborto
Felipe Miranda: Testando o cercadinho
Scott Galloway costuma dizer que uma das dificuldades de se lidar com Elon Musk deriva do fato de que seu efeito líquido sobre a sociedade é claramente positivo
A Nucoin vai deixar de ser ‘coin’: Nubank anuncia fim da criptomoeda própria e vai reformular programa de recompensas
A partir de hoje, as Nucoins passarão a ser utilizadas exclusivamente para trocas por benefícios
Banco Central já devolveu mais de R$ 1 bilhão em fraudes e falhas do Pix; instituição recebeu mais de 6 milhões de pedidos de reembolso
A maior parte dos pedidos feitos e valores liberados se referem a fraudes: de um total de 6.685.239 solicitações, 2.057.246 foram aceitas e 4.627.993, rejeitadas
Bitcoin (BTC) finge que vai — mas não vai: entenda por que criptomoeda não deve ver disparada de preços tão cedo
Amanhã (11) será divulgado o CPI de agosto nos Estados Unidos e, na semana que vem, acontece a decisão de juros do Federal Reserve
O Inter (INBR32) ficou caro? Por que a XP rebaixou o banco digital após lucro recorde no 2T24 — e o que esperar das ações
Na avaliação da XP, depois de mais do que dobrar de valor na B3 em um ano, o Inter agora confere uma “vantagem limitada” para quem quer investir na fintech
Morar e comer ficou mais barato: veja o que levou a inflação a cair pela primeira vez em mais de um ano. E agora, Campos Neto?
O IPCA de agosto caiu 0,02% no mês de agosto; a mediana das projeções dos especialistas ouvidos pelo Broadcast apontava para uma alta de mesma intensidade