Os testes de personalidade de carreira são uma grande furada?
O MBTI, um dos mais tradicionais testes de personalidade usados por equipes de RH no mundo, está no centro de um debate: ele segue válido?
Alimento uma grande admiração pelo psicólogo organizacional Adam Grant, autor de livros como Originais e Pense de Novo. Para quem ainda não o segue nas redes sociais, fica aqui a minha primeira recomendação de hoje.
E faz algumas semanas que ele postou um desabafo manifestando sua decepção com uma ferramenta de avaliação de personalidade amplamente utilizada pelos profissionais de RH, coaches de carreira e mentores: o MBTI.
Sigla em inglês para Myers-Briggs Type Indicator, o MBTI é um teste psicológico de personalidade, ou avaliação comportamental, que se baseia na teoria de Carl Jung. Ele identifica a personalidade das pessoas com base em quatro pares de opostos:
- extroversão (E) versus introversão (I);
- sensação (S) versus intuição (N);
- pensamento (T) versus sentimento (F); e
- julgamento (J) versus percepção (P).
Com base nas respostas do indivíduo, o assessment atribui uma combinação de quatro letras que representam sua personalidade. Para que você entenda a treta que o Adam está encabeçando, aqui está o post que ele fez sintetizando sua visão sobre a ferramenta:
Em tradução livre, "Tipos de personalidade são um mito. Cada traço existe em um continuum moldado como uma curva de sino. O MBTI está desatualizado. É mais provável que você seja um ambivertido do que um introvertido ou extrovertido. E você não precisa escolher entre ser um indivíduo racional ou um sentimental."
O fim de uma paixão
Como um bom curioso, fui dar uma olhadinha nos comentários do post e, como eu imaginava, a turma estava bem dividida nas opiniões. Esperava encontrar essa polarização, visto que o MBTI é um teste queridinho e muito amado dentro do mundo do desenvolvimento humano.
Leia Também
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Inclusive, o texto de Adam em sua newsletter mensal, que deu origem ao post, é escrito em um formato de carta, como se ele fosse um ex-namorado que foi muito apaixonado pelo MBTI, o que reforça a minha percepção de que este é um assessment-xodó-tudo-de-bom para muitos profissionais.
Mas, em seu relato, essa admiração acabou. Grant sugere que o MBTI precisa ser atualizado e melhorado, incorporando as últimas descobertas da ciência, e que deveria deixar de lado a terminologia de "tipos" em favor de "traços" mais confiáveis e precisos.
Ele argumenta que outros assessments são mais precisos, mais amplos e multiculturais, e pede que o MBTI siga algumas regras básicas da ciência se quiser continuar relevante.
Eu concordo com a reivindicação do Adam sobre a ausência de evidência, mas ela é também uma ferramenta, aplicada globalmente por milhares de organizações e profissionais — e continua sendo validada empiricamente por esses atores como um instrumento que apresenta uma certa precisão. Ou seja, o MBTI tem o seu valor.
Inclusive em minha própria experiência prática, como profissional certificado e que aplica essa avaliação, as pessoas reagem positivamente ao resultado, alegando com muita frequência sobre a acuracidade dele.
Se você ainda não fez esse teste, há uma versão gratuita que parece se aproximar do original na internet, chamado de 16 personalities (personalidades). Já fiz o meu oficial, realizado por profissionais certificados, e também essa versão grátis e, de fato, o resultado foi muito similar.
E o principal motivo pelo qual decidi escrever sobre esse tema é que talvez Grant tenha exagerado na reação — e listo a seguir os porquês.
1. Os testes de personalidade ajudam nos processos de autoconhecimento e desenvolvimento individual
O segredo está em usá-los como um mapa, que serve para navegar em pontos que não conseguimos perceber sobre nós mesmos e também reforçar outros que já temos mais clareza.
Por exemplo, perceber que você tende a ser mais extrovertido o tempo todo pode ser um convite a pensar em quais momentos você poderia introverter, nos quais esse traço poderia gerar mais valor na atividade ou trabalho em questão.
Como disse o Adam no post, ninguém é uma coisa só, caminhamos nas dicotomias das nossas personalidades o tempo todo e saber usá-las a nosso favor é o ponto-chave aqui.
Lembre-se que testes de personalidade mostram preferências e tendências de comportamento em diferentes situações e contextos. Ele deve ser um aliado em seu processo de desenvolvimento e não um oráculo que responde o que você é ou deveria ser.
Use e abuse dos mais diversos testes de personalidade, desde que você assuma uma postura curiosa e aberta para entendê-los como oportunidades de ampliação do olhar sobre si mesmo.
2. Usá-lo como meio para reflexão e não assumir como um fim ou justificativa para provar sua personalidade
"Eu sou assim e ponto." Não sei você, mas quando escuto essa frase, já viro os olhinhos.
Alecrim dourado, não sou obrigado a aceitar suas sombras porque você as atribui como tipos de personalidade. Buscar o nosso próprio desenvolvimento pessoal é desafiar principalmente nossas sombras e questionar por que atuamos desse jeito — e como poderíamos fazer diferente.
Como ilustração, imagine que você é uma pessoa extremamente racional e precisa tomar uma decisão que impacta pessoas. Por mais que você queira justificar que seu processo decisório será integralmente racional, é natural que você use mais da sua faceta de imaginar os impactos que a decisão terá sobre as pessoas.
Isso é navegar entre traços opostos, mostrando que a personalidade é flexível e deveria se adequar a cada contexto, mesmo tendo nossas preferências basais.
Leia as últimas colunas do Trilhas de Carreiras:
- O ChatGPT pode ajudar você a arrumar o próximo emprego. Mas é correto usar a inteligência artificial em um processo de seleção?
- Talvez você não seja tão especial assim. Melhor já avisar o RH também
- O ciclo vicioso das metas para um novo ano — como escapar e planejar a carreira
3. Alô, RH! Este é um teste que definitivamente não deveria ser usado como elemento excludente em processos de recrutamento
Como tudo na vida, o risco é alto para que a finalidade de algo seja desvirtuada a depender de quem opera a coisa em si. Usar o MBTI ou qualquer outro instrumento avaliador requer cuidado e clareza sobre o que se espera extrair do resultado.
Quando passamos a operar de uma forma determinística, dizendo que tal pessoa é assim e tem determinada personalidade, estamos entrando em um território reducionista, o oposto de um mapa.
E quando falamos de gente, a única certeza é de que o indivíduo será plural e muito maior do que um resultado de quatro letras.
Nesse sentido, o tipo psicológico em um processo de recrutamento só deveria ser utilizado para trazer insights para começarmos um papo, validando com o avaliado o que faz e o que não faz sentido, tendo em vista que tudo é mutável e a transformação pessoal é sempre possível.
Ficou curioso? Saiba mais sobre o teste
Se ficou curioso sobre o tema e ainda não o conhecia, há vários outros testes disponíveis no mercado: o Big Five, o Hogan Personality Inventory, o PrinciplesYou, o CliftonStrengths, entre outros.
Quando você estiver no papel de avaliado, recomendo que explore os resultados com o profissional que aplicou o teste. Faça perguntas que possam revelar suas preferências pessoais e as origens de seus comportamentos, de forma a obter aprendizados para impulsionar sua carreira. Essa conversa pode trazer luz a aspectos importantes de sua personalidade e ajudá-lo a se desenvolver profissionalmente.
Antes de me despedir, gostaria de compartilhar um breve resumo sobre minha personalidade, identificada como ENFP pelo MBTI. Para aqueles que só me conhecem por meio desta coluna, acredito que seja uma oportunidade para entender um pouco mais sobre quem escreve para vocês.
ENFPs são pessoas extrovertidas, intuitivas, sentimentais e prospectivas. Eles são energizados por interações sociais, tem uma natureza criativa e focam em ideias e possibilidades futuras. São empáticos e têm uma forte compreensão das emoções dos outros. Eles preferem manter suas opções abertas e podem ter dificuldade em tomar decisões finais.
Posso concluir que tem muita coisa da minha personalidade nessa descrição. Por isso, diferentemente do Adam Grant, posso dizer que ainda estou em um relacionamento com o MBTI — não exclusivo, obviamente.
Até a próxima. Um abraço,
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região
Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje
Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço
Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo
Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje
Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel
Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.
Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje
Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento
Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada
A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa
Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje
Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.