"Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro".
Verso sem autoria confirmada, mas conhecido e cantado pela voz de Belchior.
E chegamos mais uma vez ao final do ano.
Se você, assim como eu, deixou pelo caminho algumas metas estabelecidas no início do ano, incluindo aquelas relacionadas à sua carreira profissional, seja bem-vindo ao meu mundo.
E o pior é que entra ano, sai ano, e essa história de estabelecer metas e não cumprir continua nos frustrando.
Como sair desse ciclo vicioso, Veras?
Se no ano passado morri, definitivamente não quero morrer no próximo. Tenho certeza que você também não. Então meu convite é que a gente se adiante e olhe para a morte como uma bela oportunidade de mudarmos o presente. Assim, o exercício de planejamento de carreira deste ano será uma análise pré-mortem. E faremos isso com uma prática já consagrada de Natal: escrever uma carta com os nossos desejos.
Veras, você está de brincadeira, né?
Calma, eu já aceitei e hoje sei que o Papai Noel não existe. Por isso, aceito mudar o destinatário da carta. Que, neste caso, seremos nós mesmos. De Thiago Veras para Thiago Veras. De você para você mesmo.
Afinal, a maturidade nos traz a (triste) consciência de saber que somos nós mesmos os responsáveis por mudar os nossos próprios caminhos — ainda que a sorte e a aleatoriedade possam nos ajudar com um empurrãozinho.
Então, já separa o envelope, a folha e o selo. Eu prometo que vai ser legal. Já usei esse método em outra situação e foi uma experiência, no mínimo, divertida. Além de ter sido altamente eficaz para eu enxergar os obstáculos que surgiriam no futuro e já me adiantar e mitigar uma porrada de coisas, que poderiam ter dado errado naquela ocasião.
Análise pré-mortem é um termo cunhado por Gary Klein e utilizado dentro da temática de projetos. Segundo o autor, um pré-mortem é o oposto hipotético de um post-mortem. Uma autópsia em um ambiente médico permite que os profissionais de saúde e a família saibam o que causou a morte de um paciente. Todos se beneficiam, exceto, é claro, o paciente.
Um pré-mortem em um ambiente de negócios ocorre no início de um projeto e não no final, para que o projeto possa ser melhorado em vez de autopsiado.
Ao contrário de uma sessão clássica de análise de riscos, na qual os membros da equipe do projeto são questionados sobre o que pode dar errado, o pré-mortem opera com base na suposição de que o “paciente” já morreu e, portanto, pergunta o que deu errado. A tarefa dos membros da equipe é gerar razões plausíveis para o fracasso do projeto. Ou seja, pré-mortem é um exercício de perspectiva e retrospectiva.
Agora quero convidar você, leitor(a), para ser minha cobaia e transpor esse exercício de gestão de projetos, adaptando-o para que você consiga a tão sonhada promoção no trabalho em 2023. Caso este não seja o seu principal objetivo para o ano vindouro, essa metodologia poderá ser facilmente utilizada para fazer o seu planejamento de carreira como um todo.
O exercício é bem simples, mas por ser lúdico pode trazer insights interessantes para o seu plano. Use a criatividade, quanto mais livre os pensamentos, mais você poderá acessar as nuances que em planejamentos formais você poderia esquecer facilmente de capturar.
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O exercício
Imagine-se em janeiro de 2024: seu planejamento de conseguir a tão sonhada promoção falhou completamente e você continua estagnado na mesma posição de hoje.
Você é repórter e correspondente do Seu Dinheiro. E hoje você vai escrever para você, a partir do futuro.
Escreva uma história sobre o que deu errado. Agora, é sua vez de ser criativo. Desenvolva seu próprio pré-mortem respondendo às seguintes perguntas em um formato narrativo:
1. Pense em todos os passos que você precisará dar para a sua promoção e narre como será o encadeamento das ações em um formato de história ou reportagem
Colinha para te ajudar: já está claro para você o que precisará acontecer e o que é necessário para ser elegível a uma promoção? Descreva tudo em seu texto.
Pense nas conversas que você terá com quem precisa saber do seu plano. Não adianta somente você estar comprometido com ele. As coisas só acontecerão quando os responsáveis por essa decisão estiverem engajados no plano.
Pense como será a execução do plano e o reporte dos resultados para quem precisará saber do cumprimento das ações. Ou seja, aquele que dará sim a sua promoção.
2. O que deu errado?
Colinha para te ajudar: repasse por todo o plano e imagine tudo o que poderá dar errado para cada item. Force a criatividade para não deixar escapar nenhum possível futuro erro. Quanto mais trágica a visão, melhor será a captura do que você precisará estar atento para não se auto sabotar ao longo da jornada.
3. Gere razões plausíveis para o fracasso da sua promoção
Colinha para te ajudar: sabe quando a gente já tem em mente o que poderá dar errado? Por exemplo, um chefe com pouca atitude ou passivo demais poderá deixar você na mão e não "te defender" para o chefe dele e/ou RH, e sua promoção ficará a ver navios.
Portanto, o segredo nessa fase do exercício é mapear tudo aquilo que você já sabe que poderá ser um revés. Não tenha medo de escrever nada. As razões do possível fracasso servirão como aliadas para mitigar riscos e criar planos alternativos.
Talvez você esteja se perguntando por que planejar dessa forma. Transpondo essa ferramenta de gestão de projetos para a nossa temática de carreira, este exercício nos sensibiliza para identificar os primeiros sinais de problemas, assim que o plano de conseguir a promoção estiver em andamento.
No final, uma análise pré-mortem pode ser a melhor maneira de mitigar uma necessidade de uma autópsia dolorosa no futuro.
Um abraço e vejo vocês em 2023. Aproveito para desejar um feliz ano novo e uma carreira próspera e de realização para cada um.
Obrigado pela companhia neste ano.