Mais pra cá do que pra lá: os erros e acertos de Lula na economia nos primeiros 100 dias de governo
Lula cometeu mais erros do que acertos nas questões econômicas neste início de governo, dependendo de bombeiros mais de uma vez

Depois de muito suor, chegamos ao final dos primeiros 100 dias do terceiro mandato do presidente Lula.
Bem diferente do que poderia ter sido, o período foi consideravelmente conturbado, não só por fatores domésticos, mas por questões internacionais também — vide os bancos regionais nos EUA e o Credit Suisse na Europa.
Em retrospectiva, o contexto pós-eleitoral permitiu a formação de expectativas no sentido de um caminho semelhante ao que foi o primeiro mandato do presidente, o Lula 1, com respeito às políticas ortodoxas estabelecidas durante o governo de FHC associado às políticas sociais típicas da matriz do PT.
A realidade, porém, se impôs severamente.
Os primeiros meses foram, na verdade, de muita frustração interna, falta de consolidação política e impasse em torno da política fiscal. Isso sem falar nas rusgas entre o Poder Executivo e o Banco Central — todos gostaríamos de cortar a taxa básica de juros, mas as expectativas de inflação estão desancoradas.
Como se não bastasse a política monetária bem contracionista, incorremos em um déficit público estrutural da ordem de 2% do PIB, o qual não parece ser passível de solução a menos que haja uma revolução nas receitas (se você pensou em mais impostos ou mais inflação, pensou corretamente).
Por falar em inflação, os preços permanecem subindo de maneira persistente, enquanto as expectativas insistem em não ceder na velocidade desejada.
Leia Também
Para piorar, os canais de crédito estão entupidos na esfera doméstica por conta, sobretudo, do evento Americanas. É difícil crescer desse jeito, o que explica a ansiedade do governo.
A agenda internacional de Lula
Em meio à confusão, acredito ser necessário estabelecer uma diferença entre os avanços nas pautas internacional, social e econômica.
Sobre a primeira, vale lembrar que Lula desfruta de amplo respeito da comunidade internacional, tendo a simpatia de boa parte do capitalismo progressista do Ocidente, bem como de nichos na Faria Lima.
Dessa forma, o presidente tem buscado reposicionar o país nos grandes fóruns globais, o que fomentou uma agenda internacional intensificada — não fossem problemas de saúde, teria visitado a China, além dos EUA, Uruguai e Argentina, devendo visitar em breve os Emirados Árabes Unidos, Portugal, Espanha e Japão.
A ideia seria a de reabrir os eixos multilaterais nos quais o Brasil pode exercer liderança, como a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) — sim, o distanciamento da OCDE no eixo das prioridades preocupa, mas não entendo que a iniciativa seja abandonada.
Por enquanto, ainda não vimos os movimentos se converterem em grande fluxo de entrada de recursos para o país, o que frustrou um pouco as expectativas de curto prazo. Neste contexto, aqui a frente me parece mais ficar na retórica do que nas vias de fato. Muito blá-blá-blá e pouca efetividade. Essa é a realidade.
A retomada dos programas sociais
Já sobre a pauta social, me permito ser breve. Nesses três meses e meio de governo, Lula adotou novas políticas públicas e relançou programas sociais, sendo que alguns de forma aprimorada, como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, por exemplo. A brevidade sobre o ponto é para que foquemos na economia.
- Quer acompanhar todas as decisões e acontecimentos dos primeiros 100 dias do governo Lula e comparar com o início da gestão de Jair Bolsonaro? Acompanhe AQUI a cobertura do Seu Dinheiro.
Perspectivas econômicas
Resta entrar ao que nos cabe como investidores: as perspectivas econômicas. Aqui, apesar dos esforços da equipe da Fazenda, o governo ficou devendo bastante. Sim, adoraríamos gastar mais, mas não há dinheiro.
Adicionalmente, seria interessante mais investimento público, mas o orçamento é engessado. Fica difícil se o cobertor for curto.
Mas já que citamos a equipe, vale a menção ao trabalho realizado pelo Ministro Haddad, que tem surpreendido positivamente, não só pelo esforço nos pacotes fiscais e na apresentação do arcabouço, mas também pela tentativa de alinhamento à ortodoxia fiscal, tentando criar pontes entre o governo e o Banco Central.
Mas são raras as vezes que um exército de um homem só funciona. Os 100 primeiros dias foram marcados por atritos desnecessários entre Poder Executivo e Banco Central. A discussão de natureza equivocada clama por redução dos juros para que haja mais crescimento, mas a conta, infelizmente, não fecha.
Com isso, as brigas entre a ala política, comandada por Rui Costa, e a ala econômica, comandada por Haddad, apenas se intensificam.
Os dois ministros ocupam as pastas mais importantes da administração federal e são presidenciáveis para 2026, o que estressa ainda mais a situação. O resultado é ruído desnecessário sobre o mercado.
Os choques mostram que o governo parece um pouco perdido nos esforços do que chamam de "arrumar a casa". Há, contudo, uma nítida dificuldade, acarretando, inclusive, problemas de comunicação e bate cabeça interno, como aconteceu no caso de Carlos Lupi e Márcio França (ganharam puxão de orelha de Lula).
- Pensando em como buscar lucros em 2023? Este material completo e exclusivo mostra os caminhos mais promissores para buscar ganhos com ações, FIIs, BDRs e muito mais neste ano. CONFIRA AS INDICAÇÕES AQUI
Provas de fogo para Lula
Isso tudo gera desgaste desnecessário em um governo que já enfrenta graves problemas de coerência interna e articulação política, uma vez que o controle do Congresso é frágil, prejudicando a governabilidade (o governo não tem uma base própria e depende do presidente da Casa, Arthur Lira).
A tramitação do arcabouço fiscal e a posterior discussão da Reforma Tributária serão a prova de fogo da capacidade da administração de tocar os trabalhos nos próximos anos, fazendo dos próximos meses uma janela vital para que consigamos compreender para onde caminhamos até 2026, quando voltaremos às urnas.
Os dois projetos, tanto do arcabouço como da Reforma Tributária, encontram resistência, mas são fundamentais para o país. Se por um lado o governo vem errando com a política de privatização (diminuição da lista de candidatas) e regulação (revisão do Marco do Saneamento), pode tentar acertar minimamente no fiscal.
Sabemos que não dá para querer muito de um governo de esquerda no âmbito fiscal, mas o mínimo aceitável deve impedir com que o país exploda nos próximos anos, possibilitando o início da flexibilização da política monetária. Por isso, será vital acompanhar os detalhes do texto que deverá ser enviado ainda nesta semana.
Leia também
- Uma janela para internacionalizar seus investimentos pode estar se abrindo
- Em busca de um porto seguro: Como o ouro pode proteger seus investimentos em meio a uma crise bancária global
- Surreal! O ‘peso-real’ deixou todo mundo histérico, mas inutilmente; entenda por que moeda comum não vai sair do papel
A bolsa continua barata
Enquanto isso, a Bolsa segue barata em termos de múltiplo, negociando a cerca de dois desvios padrões abaixo da média histórica de preço sobre lucro projetado para os próximos 12 meses. Sim, será difícil que ela fique cara, mas ficar barata por tanto tempo não me parece estranho. Converter para média deveria ser possível.
Para isso, entretanto, as expectativas precisam estar devidamente ancoradas, o que permitiria queda dos juros, impedindo uma desaceleração doméstica muito severa ou até mesmo uma recessão (questões de crédito me preocupam). Assim, uma combinação com caixa (CDI), proteção (dólar e ouro) e ações me parece fazer sentido.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas. Aliás, no contexto atual, entendo que mesmo os mais arrojados deveriam se valer de bastante caixa; afinal, não é todo dia que ele rende dois dígitos.
Os 100 primeiros dias de governo não foram uma nota zero, mas estão bem distantes de um 10, de maneira muito semelhante à proposta geral do novo arcabouço fiscal.
No começo do ano disse que estávamos no caminho entre a mediocridade e o desastre. Flertamos algumas vezes com o desastre em 2023, mas a média ainda é possível.
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã
Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell
Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa
Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar
Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?
Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)
Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas
Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã
Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo
É tempo de festa junina para os FIIs
Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado
Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã
Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil
Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos
É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente.
Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã
Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos
Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar
Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?
Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego
Enquanto Copom e Fed preparam nova decisão de juros, Trump cogita envolver os EUA diretamente na guerra
Do alçapão ao sótão: Ibovespa repercute andamento da guerra aérea entre Israel e Irã e disputa sobre o IOF
Um dia depois de subir 1,49%, Ibovespa se prepara para queimar a gordura depois de Trump abandonar antecipadamente o G-7
Acima do teto tem um sótão? Copom chega para mais uma Super Quarta mirando fim do ciclo de alta dos juros
Maioria dos participantes do mercado financeiro espera uma alta residual da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira, mas início de cortes pode vir antes do que se imagina
Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?
Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Desdobramentos do conflito que começou na sexta-feira (13) segue ditando o humor dos mercados, em semana de Super Quarta
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco
Labubu x Vale (VALE3): quem sai de moda primeiro?
Se fosse para colocar o meu suado dinheirinho na fabricante do Labubu ou na mineradora, escolho aquela cujas ações, no longo prazo, acompanham o fundamento da empresa
Novo pacote, velhos vícios: arrecadar, arrecadar, arrecadar
O episódio do IOF não é a raiz do problema, mas apenas mais uma manifestação dos sintomas de uma doença crônica