Depois de algum estresse ao longo do primeiro trimestre, começamos abril com o dólar mais uma vez flertando com os R$ 5,00.
O patamar é emblemático, uma vez que se tornou usual comentar sobre o quanto o real tem estado desvalorizado há algum tempo, mais precisamente desde que a pandemia estourou.
É curioso refletir sobre como há cinco anos a nossa moeda, como podemos ver abaixo, flertava com patamares inferiores a R$ 3,50.
Inegavelmente, o exótico real tem sido um veículo bastante volátil ao longo dos últimos anos, sendo que a força do dólar em nível internacional e as incertezas domésticas contribuíram para isso.
Fonte: Trading Economics
Se fôssemos avaliar as razões internas que poderiam justificar isso, poderíamos destacar a alta do Credit Default Swap (CDS, que funciona como um "seguro contra calote" dos títulos públicos) de cinco anos e a queda dos juros para 2% por um período considerável, de 2020 a 2021. Note que o CDS segue acima de 200 pontos.
Fonte: World Government Bonds
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Em contrapartida, a taxa de juros foi para dois dígitos novamente neste novo ciclo recente de aperto monetário.
Ainda assim, seguimos com um dólar relativamente elevado contra o real. O grande problema, em meu entendimento, é a desancoragem das expectativas, em grande parte por conta da incerteza fiscal.
Veja que bastou a apresentação geral do arcabouço fiscal para que voltássemos a flertar com os R$ 5 no Brasil, com a ajuda da fraquejada do Dollar Index (DXY, um índice que mede a força do dólar contra uma cesta de divisas) depois da crise dos bancos regionais nos EUA, que já comentei neste espaço em outra oportunidade.
Está tudo interconectado
As coisas estão conectadas. De 2020 para cá, o Brasil passou por inúmeros choques orçamentários, começando com a pandemia, passando pelos precatórios e chegando ao ano eleitoral, com PEC das Bondades e PEC da Transição.
Consequentemente, os movimentos colocaram em dúvida a capacidade de bom pagador do Brasil.
Sim, o real tem espaço para voltar para a faixa dos R$ 4,75 como já fez no ano passado.
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Precisamos de mais certezas
O problema é que mais certezas precisam ser dadas, algo que só teremos gradualmente ao longo dos próximos meses, com a apresentação do texto formal da nova regra fiscal e com a devida tramitação no Congresso.
Até lá os juros seguirão elevados na curva — note abaixo que houve uma evolução versus há um mês, mas ainda estamos piores do que há seis meses —, o dólar continuará encontrando resistência, e a Bolsa se manterá nesses patamares indecorosos, negociando a múltiplos baratos, mas sem gatilhos de curto prazo.
Fontes: Highcharts.com e World Government Bonds
Com isso devidamente explicado, entendo que o saldo final dos próximos meses, ainda que morosamente, possa ser positivo, com uma aprovação de um arcabouço fiscal minimamente aceitável, ainda que muito dependente de arrecadação. Sim, há dúvidas sobre o texto; logo, enquanto elas não forem sanadas, a moeda enfrentará resistência.
De qualquer forma, o movimento geral poderá possibilitar que o dólar se mantenha mais próximo da faixa entre R$ 4,75 e R$ 5,00 do que do patamar entre R$ 5,50 e R$ 5,75, como já fez antes, quando o risco era maior. Uma nova janela para internacionalização de investimentos pode estar começando a se abrir.