Felipe Miranda: A lei da gravidade na bolsa — a queda dos juros e os ciclos de alta das ações
A bolsa brasileira passou por uma sequência inesperada de quedas, mas a história mostra que movimentos de baixas de juros impulsionam ações

Os mercados acabam de fazer uma de suas coisas favoritas: frustrar consensos.
Já vivemos três anos neste 2023 e, a julgar pelo jeitão da caminhada, talvez ainda tenhamos mais uns 12 meses até o final do ano.
Em janeiro, era um pessimismo completo. Então, veio uma aproximação de Haddad a Roberto Campos Neto, sob o pano de fundo do afastamento da recessão global iminente, e vivemos um grande otimismo entre abril e julho.
Aí chegou o cachorro louco. A gosto de Deus (ou do diabo, sei lá), voltou o clima tétrico.
Quando todos esperavam impactos imediatos do início do ciclo de afrouxamento monetário sobre os ativos de risco no Brasil, com arcabouço fiscal aprovado e reforma tributária andando, enfrentamos a mais longeva sequência de quedas do Ibovespa em toda série histórica (pelo menos entre as disponíveis pra nós) e entramos em setembro quase com saudades do trágico agosto (por enquanto, é claro) — se não fosse pela disparada de Petrobras no ano, a situação do Ibovespa seria bem pior; estamos infelizes e não sabemos.
O breve bull market das ações brasileiras já teria chegado ao fim?
Leia Também
Não foi exatamente pouca coisa o que aconteceu desde agosto. Essa preocupação com as taxas de juros de mercado nos países desenvolvidos, sobretudo nos EUA, é coisa séria.
O déficit fiscal nos EUA é grande — a necessidade de financiamento do setor público caminha para algo próximo a 8%.
As expectativas de inflação caem em ritmo lento e grandes compradores globais de Treasuries estão reduzindo sua exposição, mediante aquilo que se convencionou chamar de “dollar weaponization" — desde que os EUA resolveram usar o dólar como arma geopolítica ao congelar as reservas russas, os coleguinhas chineses decidiram se preocupar.
O Japão flexibilizou o controle de sua curva de juros e a Arábia Saudita também tem diminuído seu estoque de Treasuries.
Ao mesmo tempo, a China deu sinais sucessivos de um ritmo menor de crescimento, enquanto os EUA continuam com uma expansão razoável — preocupação a mais para emergentes e alocação global.
E, no Brasil, ficou clara a dificuldade de fechar o orçamento de 2024, o que catalisou uma fúria por receitas tributárias, com suas típicas consequências microeconômicas e impactos sobre os lucros corporativos.
- LEIA TAMBÉM: Felipe Miranda: O que está acontecendo com o PIB?
Os ciclos do mercado e a influência da queda das taxas de juros
Apesar do (de)mérito de cada uma dessas questões e de ainda ser provável bastante volatilidade de curto prazo, principalmente se considerarmos a tradicionalmente ruim sazonalidade do mês de setembro, parece haver bons argumentos para sustentar se tratar de um período ruim dentro de uma trajetória estrutural de recuperação para os ativos de risco brasileiro.
Howard Marks, talvez tacitamente e de maneira não deliberada, nos ensina uma coisa interessante. Ele tem um livro muito bacana, chamado “A coisa mais importante”.
O título é uma brincadeira consigo mesmo. Ele conta que, em seus maravilhosos memorandos escritos ao longo do tempo, usou, em situações diversas, algo como “a coisa mais importante em investimentos é…”.
O livro reúne todas essas coisas mais importantes em 23 capítulos, sendo que cada capítulo trata de “uma coisa mais importante” diferente.
O mesmo Howard, no entanto, tem um outro livro legal, de nome “Dominando os ciclos de mercado.” Ora, então eu penso: se há um livro de 23 coisas mais importantes e outro livro inteiro tratando só dos ciclos de mercado, então a coisa mais importante mesmo deve ser o próprio ciclo de mercado!
Lei da gravidade: juros estão apenas começando a cair
O ciclo de mercado funciona quase como uma lei gravitacional. E quem manda no ciclo é, fundamentalmente, o comportamento das taxas de juro. Essa taxa de juro apenas começa a cair no Brasil agora.
Talvez ainda mais relevante: embora a Selic já tenha tido sua primeira queda, o juro real, na verdade, ainda está aumentando, porque a inflação saiu de 9% para 4,5% e o juro nominal teve uma mudança apenas marginal.
Nos EUA, por sua vez, ainda que tenhamos essa discussão circunstancial de uma elevação a mais ou não no juro básico até o final do ano, estamos claramente na fase de ajuste fino.
Daqui a um ano, é provável que o Fed já tenha iniciado seu ciclo de cortes na taxa básica. E, por aqui, a Selic pode estar rondando 10% ao ano.
Como muito bem resumiu Walter Maciel, CEO da AZ Quest: "Em mais de 30 anos de carreira, quando não tem uma recessão ou crise severa, em ciclos de corte de juros há uma forte valorização dos ativos de risco.”
Tudo isso num momento em que os ativos brasileiros negociam em níveis de preço atraentes. No elementar Preço sobre Lucro, o Ibovespa negocia hoje abaixo de 8x, contra uma média histórica na casa dos 11x.
Em ciclos de queda da Selic, há espaço para re-rating (reavaliação para cima dos múltiplos) e também para aumento dos lucros, porque a atividade costuma reagir (mais receitas e mais lucros para as empresas) e as despesas financeiras caem.
ONDE INVESTIR EM SETEMBRO - Novo programa do SD Select mostra as principais recomendações em ações, dividendos, FIIs e BDRs
Em paralelo, na margem, a China emite sinais de que, embora passe longe de uma situação pujante, também não está colapsando.
Ela é um dos principais importadores da maior parte de commodities e os preços das matérias-primas, no geral, vão muito bem, obrigado.
Apesar de não ter feito um grande pacote fiscal como muitos gostariam, o país acumula uma série de pequenos estímulos monetários e fiscais que vão se somando e acabando estancando a sangria — agora mesmo acabamos de ver liberação para as seguradoras comprarem mais ações.
A questão fiscal no Brasil irá atrapalhar a baixa dos juros?
Internamente, a situação fiscal, de fato, não é boa e dificilmente cumpriremos a meta de zerar o déficit primário em 2024.
Mas a realidade objetiva é que boa parte do mundo, incluindo os países desenvolvidos, enfrentam desafios fiscais desde que foi dada uma licença geral para gastar na pandemia. Se “somos todos keynesianos agora” (mais uma vez), a conta chega depois.
Há uma certa complacência global com descumprimentos de metas fiscais. Se não houver explosão e chegarmos perto do objetivo anunciado, o mercado vai acabar tolerando e sublimando isso no médio prazo.
Sendo pragmático, o arcabouço fiscal impede uma trajetória do tipo Argentina, crescer despesas em termos reais a 2,5% já é uma baita conquista diante de um governo de esquerda (os anos petistas trouxeram incremento médio de 6,5%) e não haver retrocessos nas reformas realizadas desde o governo Temer permite que colhamos os frutos dessa caminhada liberalizante e mais fiscalista dos últimos seis anos.
- SAIBA MAIS: Conheça a estratégia financeira com dólar que pode gerar renda extra de até R$ 2.500 por mês
Oportunidades em ações brasileiras antes de queda maior dos juros
Claro que mesmo os bull markets mais longevos e poderosos enfrentam percalços no meio do caminho, com quedas de 20%, 30%, 40%, até 50% — depois, isso vira um pequeno lapso no gráfico de longo prazo (embora seja um terror enquanto passamos por ele).
Aliás, a definição de uma trajetória de alta requer topos e fundos (sim, e fundos!) ascendentes. Precisamos passar por correções até para testar o modelo.
Em meio aos ciclos mais estruturais, há pequenos ciclos de mercado e também psicológicos mais desfavoráveis — agora mesmo estamos passando por um pico de estresse e pessimismo generalizado.
Alguns se desesperam, outros vão às compras para se apropriar das barganhas. A mais recente carta do fundo Verde oferece uma síntese útil: “o fundo está com exposição neutra em bolsa global, e aproveitou a piora recente para voltar a expandir sua alocação em bolsa brasileira."
Somente nessas horas que você consegue comprar de altíssima qualidade a preços descontados. Ninguém precisa (nem deve) inventar a roda. Cosan, Localiza, Equatorial, Eneva, BTG, Iguatemi. Tudo isso está aí em promoção.
Hypera (HYPE3): quando a incerteza joga a favor e rende um lucro de mais de 200% — e esse não é o único caso
A parte boa de trabalhar com opções é que não precisamos esperar maior clareza dos resultados para investir. Na verdade, quanto mais incerteza melhor, porque é justamente nesses casos em que podemos ter surpresas agradáveis.
Dona do Google vai pagar mais dividendos e recomprar US$ 70 bilhões em ações após superar projeção de receita e lucro no trimestre
A reação dos investidores aos números da Alphabet foi imediata: as ações chegaram a subir mais de 4% no after market em Nova York nesta quinta-feira (24)
Subir é o melhor remédio: ação da Hypera (HYPE3) dispara 12% e lidera o Ibovespa mesmo após prejuízo
Entenda a razão para o desempenho negativo da companhia entre janeiro e março não ter assustado os investidores e saiba se é o momento de colocar os papéis na carteira ou se desfazer deles
O que está derrubando Wall Street não é a fuga de investidores estrangeiros — o JP Morgan identifica os responsáveis
Queda de Wall Street teria sido motivada pela redução da exposição dos fundos de hedge às ações disponíveis no mercado dos EUA
OPA do Carrefour (CRFB3): com saída de Península e GIC do negócio, o que fazer com as ações?
Analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro indicam qual a melhor estratégia para os pequenos acionistas — e até uma ação alternativa para comprar com os recursos
‘Momento de garimpar oportunidades na bolsa’: 10 ações baratas e de qualidade para comprar em meio às incertezas do mercado
CIO da Empiricus vê possibilidade do Brasil se beneficiar da guerra comercial entre EUA e China e cenário oportuno para aproveitar oportunidades na bolsa; veja recomendações
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
É investimento no Brasil ou no exterior? Veja como declarar BDR no imposto de renda 2025
A forma de declarar BDR é similar à de declarar ações, mas há diferenças relativas aos dividendos distribuídos por esses ativos
Desempenho acima do esperado do Nubank (ROXO34) não justifica a compra da ação agora, diz Itaú BBA
Enquanto outras empresas de tecnologia, como Apple e Google, estão vendo seus papéis passarem por forte desvalorização, o banco digital vai na direção oposta, mas momento da compra ainda não chegou, segundo analistas
Ação da Neoenergia (NEOE3) sobe 5,5% após acordo com fundo canadense e chega ao maior valor em cinco anos. Comprar ou vender agora?
Bancos que avaliaram o negócio não tem uma posição unânime sobre o efeito da venda no caixa da empresa, mas são unânimes sobre a recomendação para o papel
A decisão de Elon Musk que faz os investidores ignorarem o balanço ruim da Tesla (TSLA34)
Ações da Tesla (TSLA34) sobem depois de Elon Musk anunciar que vai diminuir o tempo dedicado ao trabalho no governo Trump. Entenda por que isso acontece.
Embraer (EMBR3) divulga carteira de pedidos do 1º tri, e BTG se mantém ‘otimista’ sobre os resultados
Em relatório divulgado nesta quarta-feira (23), o BTG Pactual afirmou que continua “otimista” sobre os resultados da Embraer
Agora 2025 começou: Ibovespa se prepara para seguir nos embalos da festa do estica e puxa de Trump — enquanto ele não muda de ideia
Bolsas internacionais amanheceram em alta nesta quarta-feira diante dos recuos de Trump em relação à guerra comercial e ao destino de Powell
Solana (SOL) no Itaú: banco expande sua oferta de criptomoedas e adiciona 3 novos tokens no app
Além do bitcoin (BTC) e do ethereum (ETH), disponíveis desde 2024, Itaú adiciona XRP, solana (SOL) e USDC ao seu catálogo de investimentos
Banco Central acionou juros para defender o real — Galípolo detalha estratégia monetária brasileira em meio à guerra comercial global
Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Gabriel Galípolo detalhou a estratégia monetária do Banco Central e sua visão sobre os rumos da guerra comercial
Dólar fraco, desaceleração global e até recessão: cautela leva gestores de fundos brasileiros a rever estratégias — e Brasil entra nas carteiras
Para Absolute, Genoa e Kapitalo, expectativa é de que a tensão comercial entre China e EUA implique em menos comércio internacional, reforçando a ideia de um novo equilíbrio global ainda incerto
Orgulho e preconceito na bolsa: Ibovespa volta do feriado após sangria em Wall Street com pressão de Trump sobre Powell
Investidores temem que ações de Trump resultem e interferência no trabalho do Fed, o banco central norte-americano
Tenda (TEND3) sem milagres: por que a incorporadora ficou (mais uma vez) para trás no rali das ações do setor?
O que explica o desempenho menor de TEND3 em relação a concorrentes como Cury (CURY3), Direcional (DIRR3) e Plano & Plano (PLPL3) e por que há ‘má vontade’ dos gestores
Trump x Powell: uma briga muito além do corte de juros
O presidente norte-americano seguiu na campanha de pressão sobre Jerome Powell e o Federal Reserve e voltou a derrubar os mercados norte-americanos nesta segunda-feira (21)
Bitcoin (BTC) em alta: criptomoeda vai na contramão dos ativos de risco e atinge o maior valor em semanas
Ambiente de juros mais baixos costuma favorecer os ativos digitais, mas não é só isso que mexe com o setor nesta segunda-feira (21)