🔴 ONDE INVESTIR EM FEVEREIRO? CONFIRA MAIS DE 30 RECOMENDAÇÕES ACESSE GRATUITAMENTE

Felipe Miranda: O que está acontecendo com o PIB?

O indicador cresceu 0,9% no segundo trimestre, superando a expectativa de consenso de 0,3% — e o agro não foi a única surpresa

4 de setembro de 2023
20:13 - atualizado às 10:19
milagre brasileiro ganhar dinheiro politica monetária brasil carteira ibovespa ações macro summit cenário macro
O carrego estatístico aponta para uma evolução de 3,1% do PIB brasileiro neste ano | Imagem: Adobe Stock/Montagem: Giovanna Figueredo

Pouca gente sabe, mas minha especialidade mesmo é dor de garganta. Graduação em amidalite, mestrado em faringite. Formação exclusivamente derivada da experiência prática, claro. Durante a infância, as semanas em que eu não ia ao otorrino eram aquelas em que estava tomando os antibióticos receitados por ele.

Começava com a dificuldade para engolir. Depois, a tal “garganta raspando” virava uma coisa mais séria, vinha a febre e eu já conseguia imaginar os próximos passos: Cataflam, azitromicina (tinha alergia ao amoxil)…

Lá em casa, nimesulida a gente compra por kilo. A Raia Drogasil, que conhece bem os meus dados (ainda bem!), já me manda a newsletter para compra em um clique com uma oferta especial: "entregamos de balde”.

Lembrei disso primeiro por uma razão óbvia: não fui ao otorrino nesta semana, o que implica, estatisticamente, que estou sob efeitos da droga enquanto escrevo. E o segundo ponto me veio ao refletir sobre o PIB brasileiro divulgado na sexta-feira.

“This needs a little explanation”, diz a personagem de Ethan Hawke para seu filho em “Boyhood”, ao lhe entregar seu presente de aniversário, o álbum preto dos Beatles, produzido pelo próprio pai — uma mistura pós-Beatle do melhor de cada carreira solo. Essas situações cotidianas costumam oferecer ensinamentos valiosos. Isso também requer uma pequena explicação… já chego lá.

Não sei se ainda é assim, mas na minha época (sim, eu virei a pessoa que fala “na minha época”, desculpe) rolava uma lenda de que os formandos em Economia, se quisessem escrever uma carreira acadêmica minimamente consistente, precisariam estudar álgebra linear.

Leia Também

A narrativa era de que toda aquela história de inversão de matriz, base vetorial e afins seria cobrada na prova da Anpec. Então, como dois céticos que acreditavam em lendas uspianas, fomos eu e Rodolfo fazer um curso estrito de álgebra linear no IME (Instituto de Matemática e Estatística). 

Mas, se você conhece a hierarquia da Academia, sabe que os economistas, que estudam em livros ridículos do tipo “Matemática para Economistas”, são ruins em matemática comparados àqueles que frequentam o IME — mais do que isso, são percebidos como ruins (não à toa, George Soros, que é filósofo e sempre quis o respeito intelectual do Karl Popper, por sua vez muito preocupado com epistemologia, batizou os economistas de invejosos da Física).

Estava morrendo de medo para a primeira prova de álgebra linear. Comecei a me preparar alguns dias antes até que… garganta raspando, glote fechada, febre… aquela coisa toda.

Eu deveria ir ao médico, o que implicaria sair de casa, pegar 40 minutos de trânsito, mais 10 minutos para estacionar, esperar 30 minutos na recepção do hospital, ter 7 minutos de consulta, ir até o carro e demorar mais 40 minutos para voltar para casa. Ou seja, acabou o tempo que tinha para estudar. Tudo isso para recolher a tal receita de azitromicina, que eu já sabia precisar….

Apelei ao pragmatismo e liguei para o médico:

“Doc, o senhor já deve saber o motivo da ligação… tô com o problema de sempre. Dor de garganta, corpo judiado, febre. Tenho prova amanhã. Álgebra linear é dureza… Rola aquela receitinha?”

“Eu preferiria te ver. Você sabe que é o correto.”

“Sim, eu sei. O senhor tem toda razão. O senhor sempre tem. Mas é que…”

“Venha até meu consultório.”

Então tive que ir. Roteiro de sempre, com duas exceções: a consulta durou 6 minutos em vez dos 7 tradicionais e o trânsito na volta da Giovanni Gronchi estava especialmente caótico. O resultado? Azitromicina, claro, e um dia de estudo perdido.

Se fosse hoje, eu poderia ter feito uma consulta online. A telemedicina teria resolvido o meu problema em 6 minutos e talvez eu não tivesse errado aquela inversão de matriz.

As origens da surpresa do PIB

O PIB brasileiro cresceu 0,9% no segundo trimestre, contra uma expectativa de consenso de 0,3%. A grande surpresa veio, mais uma vez, do agro, cuja queda foi de 0,9%, enquanto se esperava um recuo da ordem de 5% depois da forte expansão do trimestre anterior e da queda no preço de commodities agrícolas.

Outro elemento surpreendente foi o consumo das famílias, com expansão de 0,9%, frente a um prognóstico de crescimento em torno de 0,5%.

Sob o resultado, o carrego estatístico aponta para uma evolução de 3,1% do PIB brasileiro neste ano — ou seja, se não houver crescimento nos demais trimestres, esse será o incremento deste ano. Vale lembrar que, no começo de 2023, as projeções apontavam uma expansão inferior a 1% neste ano!

É evidente a maior dificuldade de estimativa para o segmento agro — ele é tradicionalmente mais volátil e suscetível a questões climáticas. Também são sabidos os impactos extraordinários advindos dos estímulos pontuais ao setor automobilístico, a antecipação do abono salarial e o efeito do novo salário mínimo.

Ainda assim, é sintomático como o consenso tem subestimado o crescimento da economia brasileira — há três anos, começamos o ano projetando baixa expansão do PIB, passamos 12 meses revisando para cima as projeções e, mesmo assim, no final do processo os números se mostram melhores do que o esperado. Em três anos, subestimamos o crescimento brasileiro em cinco pontos percentuais.

Os modelos, claramente, não estão funcionando bem. A verdade é que modelos econométricos para variáveis macroeconômicas ou séries financeiras normalmente não funcionam bem mesmo.

Todo começo de ano as pessoas se debruçam sobre o relatório Focus para, 12 meses depois, checarem o quanto foram erradas as projeções. O mais curioso é que repetem o procedimento no ano seguinte!

A realidade é não ergódica, ou seja, não pode caber em planilhas de Excel ou coisas parecidas. Mas o tamanho do erro e, mais do que isso, o viés nas estimativas (erros sistemáticos numa determinada direção, no caso em subestimar o crescimento) chamam atenção.

Investimentos de Setembro: FII com retorno de até 17,6%, ação que pode valorizar 43% + 100 recomendações de investimento

Reformas ou cenário mundial: o que mais pesou para o PIB?

Um esclarecimento talvez desnecessário: se você leu atentamente, percebeu que o período contempla parte do governo Bolsonaro e parte do governo Lula, de tal modo que a análise é suprapartidária e apolítica. Dispensam-se considerações infantis do tipo “faz o L” ou “Volta Paulo Guedes”. 

Há uma corrente importante de pensadores defendendo que o maior crescimento realizado no Brasil decorre das reformas macro e microeconômicas feitas desde o governo Temer, aprofundadas no governo Bolsonaro, cujos frutos estariam sendo colhidos agora. De fato, faz algum sentido. Boa parte das reformas institucionais e fiscalistas têm mesmo efeitos de longo prazo e vão aparecendo aos poucos.

No entanto, se você olha para a economia global, com exceções aqui e ali, percebe se tratar de um fenômeno mais amplo, que transborda nossas fronteiras. A economia mundial também tem, sistematicamente, crescido mais do que o esperado. A tal recessão americana que viria em 2023 não atendeu o discurso dos pessimistas.

Poucos seriam capazes de antecipar um impacto material tão pequeno sobre a economia de um aperto monetário tão vigoroso lá fora — o juro básico norte-americano saiu de zero para 5,5% e a economia continuou crescendo. Não me parece que a reforma da previdência brasileira esteja afetando o PIB global… Deve haver alguma outra coisa acontecendo.

Existem tentativas de explicação para esse comportamento. Ainda estaríamos sob os impactos de uma política fiscal expansionista, que entra como PIB agora e vai cobrar seu preço lá na frente; as pessoas ainda estariam gastando o excesso de poupança acumulado na covid; os juros por muito tempo ficaram em patamares muito baixos, onde os efeitos da política monetária são menores (algo como uma armadilha de liquidez). 

Suspeito que a covid possa ter acelerado mudanças importantes em prol de maior produtividade, seja dentro do mercado de trabalho ou no sentido de reduzir o custo e o tempo atribuído a uma porção de tarefas — com a proliferação do Zoom e do Teams, muitos deslocamentos puderam ser evitados, por exemplo; não estou dizendo que todas as reuniões presenciais podem ser substituídas, mas muitas delas podem.

A telemedicina, por exemplo, pode ter catapultado a produtividade do setor de saúde — e evitado que alguns alunos perdessem dias importantes de estudo em seu deslocamento até a consulta.

Muita automatização foi também acelerada e isso talvez seja só o começo diante das múltiplas possibilidades da inteligência artificial. Você vai fazendo pequenos avanços setoriais, desatando um nó aqui e outro ali, quando vê a produtividade agregada aumentou bastante.

Em seu último artigo na Folha, Samuel Pessoa lança uma hipótese auspiciosa: “o que surpreende mais é a trajetória da desinflação. Com o crescimento do gasto público em uma economia com desemprego muito baixo, era de esperar que a inflação de serviços não caísse.

É possível que a taxa de crescimento da produtividade do trabalho seja maior do que imaginamos. É impossível saber com antecedência.

As próximas leituras da inflação serão o teste dessa tese. Se a desinflação de serviços persistir por mais alguns meses, mesmo com a surpresa positiva na atividade e com o mercado de trabalho forte, será sinal de uma elevação do crescimento potencial da economia.”

Essa seria uma notícia muito poderosa, pois significaria um crescimento de médio e longo prazo mais alto. É muito difícil dizer por enquanto, mas, em se confirmando a hipótese, a conjuntura cíclica favorável, muito estimulada por queda de juros, poderia se tornar algo um pouco mais estrutural.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
GUERRA COMERCIAL

Ambev (ABEV3), JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3): quem ganha e quem perde com o tarifaço de Trump, segundo o BTG

4 de fevereiro de 2025 - 14:32

Analistas destacam possíveis impactos positivos e negativos para empresas brasileiras, com a redução da competitividade das exportações dos EUA e de países afetados

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Um olho na estrada, outro no retrovisor: Ibovespa reage à ata do Copom enquanto se prepara para temporada de balanços

4 de fevereiro de 2025 - 8:06

Investidores também repercutem a relatório de produção e vendas da Petrobras enquanto monitoram desdobramentos da guerra comercial de Trump

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A mensagem de uma mudança: Ibovespa se prepara para balanços enquanto guerra comercial de Trump derruba bolsas mundo afora

3 de fevereiro de 2025 - 8:01

Trump impõe ao Canadá e ao México maiores até do que as direcionadas à China e coloca a União Europeia de sobreaviso; países retaliam

ANOTE NO CALENDÁRIO

Agenda econômica: Discursos de lideranças do Fed e ata do Copom movimentam a semana de IPCA no Brasil

3 de fevereiro de 2025 - 7:02

Após a Super Quarta, a semana deve ser agitada por indicadores decisivos e dados sobre atividade econômica e inflação por aqui

DIA 12

Vão dar o bote? O barulho das tarifas de Trump acaba com o sossego de Lula e de Xi Jinping

31 de janeiro de 2025 - 19:50

Enquanto o presidente brasileiro fala em reciprocidade no relacionamento com os EUA, a China se prepara para ser alvo de taxação de 10%

DÓLAR

Trump tem medo da moeda dos Brics? Por que as ameaças do presidente dos EUA podem surtir efeito oposto ao desejado

31 de janeiro de 2025 - 15:20

Trump repete ameaça de impor sobretaxa de 100% aos países que compõem o Brics se eles insistirem em moeda alternativa ao dólar, mas acaba revelando fraqueza

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A bolsa assim sem você: Ibovespa chega à última sessão de janeiro com alta acumulada de 5,5% e PCE e dados fiscais no radar

31 de janeiro de 2025 - 8:01

Imposição de tarifas ao petróleo do Canadá e do México por Trump coloca em risco sequência de nove sessões em queda do dólar

TOMA LÁ, DÁ CÁ

Quem vence o ‘cabo de guerra’ das commodities: setor alimentício ou agronegócio? BTG elege as 4 ações que podem sair vencedoras dessa batalha 

30 de janeiro de 2025 - 16:31

Após um período de preços baixos das commodities agrícolas, o banco vê uma inversão no cenário a partir de 2025

DESTAQUES DA BOLSA

Ações do Magazine Luiza (MGLU3) saltam 10% com Ibovespa nas alturas. O que está por trás da pernada da bolsa hoje?

30 de janeiro de 2025 - 15:34

Por volta das 15h08, o principal índice de ações da B3 subia 2,78%, aos 126.861 pontos, com as ações cíclicas dominando a ponta positiva

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O primeiro encontro: Ibovespa reage à alta dos juros pelo Copom e à manutenção das taxas pelo Fed

30 de janeiro de 2025 - 8:01

Alta dos juros pesa sobre Ibovespa e ativos de risco em geral, mas é positiva para a renda fixa conservadora

COM A PALAVRA, OS CEOs

Minerva Foods (BEEF3) e SLC Agrícola (SLCE3): como os desafios logísticos afetam os negócios das gigantes do agro brasileiro

30 de janeiro de 2025 - 7:24

Os CEOs das duas companhias alertaram sobre a escassez de contêineres nos portos e os problemas tributários na exportação da produção

POLÍTICA MONETÁRIA

Até quando Galípolo conseguirá segurar os juros elevados sem que Lula interfira? Teste de fogo do chefe do BC pode estar mais próximo do que você imagina 

29 de janeiro de 2025 - 10:12

Para Rodrigo Azevedo, Carlos Viana de Carvalho e Bruno Serra, uma das grandes dúvidas é se Galípolo conseguirá manter a política monetária restritiva por tempo suficiente para domar a inflação sem uma interferência do governo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Super-juros, ativar: Ibovespa busca recuperação improvável em dia de Fed, Copom e reação a relatório de produção e vendas da Vale

29 de janeiro de 2025 - 8:04

Investidores antecipam interrupção de corte de juros nos EUA e aumento da taxa Selic no Brasil na primeira Super Quarta de 2025

DIA 9

O tiro pela culatra de Donald Trump

28 de janeiro de 2025 - 19:49

Sucesso da DeepSeek mostra que restrições iniciadas por Biden e sanções prometidas por Trump podem ter forçado empresas chinesas a buscarem maneiras de inovar com baixo custo

VISÃO DO GESTOR

“Piquenique à beira do vulcão”: o que Luis Stuhlberger tem a dizer sobre o fiscal, inflação e juros no Brasil antes da reunião do Copom

28 de janeiro de 2025 - 17:40

Para o gestor da Verde Asset, o quadro macro do país nunca esteve tão exacerbado, com uma dívida pública crescente, inflação elevada, juros restritivos e reservas de dólar encolhendo

VOLTOU A SER POP?

Após tempestade em 2024, CEO do Banco do Brasil (BBAS3) aposta no agronegócio para expansão da carteira de crédito neste ano

28 de janeiro de 2025 - 14:35

Para Tarciana Medeiros, a melhora dos níveis de produção, aliada ao equilíbrio da carteira de crédito do banco e às boas condições de renda e emprego, sustenta a visão otimista

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Depois do bombardeio: Ibovespa repercute produção da Petrobras enquanto mundo se recupera do impacto da DeepSeek

28 de janeiro de 2025 - 7:59

Petrobras reporta cumprimento da meta de produção e novo recorde no pré-sal em 2024; Vale divulga relatório hoje

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Erro de diagnóstico

27 de janeiro de 2025 - 20:00

A essência do problema da conjuntura brasileira reside na desobediência às sinalizações do sistema de preços, que é um dos pilares do bom funcionamento do capitalismo

DIAS 6 E 7

O dia em que Trump sentiu o calor do sangue latino e teve que recuar — mas essa foi só a ponta do iceberg

27 de janeiro de 2025 - 12:32

Depois da negativa da Colômbia em receber deportados, o republicano ameaçou com tarifas, mas sentou à mesa e fechou um acordo graças a uma ajudinha vinda da China

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A semana vai pegar fogo: Maré vermelha nas bolsas emperra largada do Ibovespa em semana de Copom e Fed

27 de janeiro de 2025 - 8:07

Do Nasdaq Futuro às criptomoedas, investidores reagem mal a avanços anunciados por empresas chinesas no campo da inteligência artificial

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar