E agora, ‘Mercado’? Gestores divergem sobre tamanho da crise após cenas de terrorismo e destruição em Brasília — mas concordam que bolsa, juros e dólar devem ter dia difícil
De um lado, alguns especialistas acreditam em um acontecimento pontual, sem desdobramentos em uma crise institucional. Do outro, gestores apontam que o investidor estrangeiro pode ficar preocupado, e o xadrez político volta a se movimentar
Nos últimos dias, mais precisamente desde os primeiros passos do governo de transição e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, o mercado financeiro foi pauta dentro e fora da bolha de especialistas e investidores que acompanham o dia a dia da bolsa de valores, do câmbio e da curva de juros.
Isso porque, para muitos, a “entidade Mercado” não estaria em sintonia com as demandas da economia real — e, por isso, foi acusada por muitos de certo exagero nas preocupações que trouxeram pressão aos ativos domésticos na semana passada.
Em meio às cenas de terrorismo que tomaram conta de Brasília nesta tarde (8) e que se seguiram por horas, não é exagero dizer que a reação do mercado financeiro na segunda-feira (9) será acompanhada de perto por especialistas, curiosos e leigos.
Com as imagens de depredação e vandalismo frescas na memória — e com as forças de segurança ainda tentando recuperar o controle do Congresso e demais palácios da República — a reportagem do Seu Dinheiro procurou diversos gestores do mercado para sentir a temperatura do que se deve esperar para os ativos brasileiros logo na abertura das negociações.
O quebra-quebra em Brasília garantiu lugar nos livros de história. Na ressaca dos atos terroristas na capital federal, como deve ser o dia da bolsa, dólar e juros?
Convulsão social
Existem diferenças de visão entre os analistas sobre o grau de impacto nos ativos domésticos e quais deles devem ser mais impactados. Mas a certeza é uma só: seja um susto passageiro ou um movimento mais prolongado, com nuances a serem analisadas, o dia deve ser negativo.
O primeiro instinto dos especialistas foi tentar comparar o que aconteceu em Brasília aos eventos do dia 6 de janeiro de 2021 nos Estados Unidos — a invasão do Capitólio americano por apoiadores do candidato derrotado à reeleição, Donald Trump, com o registro de violência armada e mortes.
O dia era de otimismo nas bolsas em Nova York, e apesar de os investidores terem pisado no freio após as inéditas cenas de violência no país, apenas o Nasdaq fechou o dia no vermelho.
Com os dois episódios tendo ligações — sendo o ataque brasileiro espelhado nos acontecimentos de dois anos atrás — há quem acredite em um dia de estresse que não se confirme em uma crise, ou o início de uma.
“Os bolsonaristas estão sozinhos, e esse ato tresloucado foi mais uma ação de desespero do que de virada de mesa”, apontou um dos gestores que atendeu a nossa reportagem.
Cicatrizes abertas
Mas nem todos estão tão otimistas. O economista-chefe de uma asset paulista apontou que as cenas de violência vistas em Brasília abrem “uma caixa de Pandora”, e que “ninguém sabe onde isso vai parar”.
E incerteza é o maior inimigo do mercado financeiro, ainda que a resposta institucional do governo Lula — com interferência nas forças de segurança do Distrito Federal e cobrança para a apuração dos culpados e financiadores dos ataques — tenha sido vista como correta e esperada diante do episódio.
A instabilidade, no entanto, é sinônimo de mais prêmio de risco dos ativos locais — o que explica o muito provável ajuste negativo que devemos ver no pregão desta segunda-feira.
“Acho que o que já dá para dizer é que o câmbio deve ser o ativo que vai refletir melhor a sensação de risco do mercado. A bolsa e os juros já estão muito descontados”, disse um especialista, apontando que a pressão recente após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1º de janeiro, abre espaço para uma acomodação.
Na opinião de outro gestor consultado pelo SD, os atos criminosos desta tarde podem mais uma vez mexer com o xadrez político nacional — e impedir que a direita e o liberalismo voltem a ser posturas defendidas pela população geral. Uma mudança que, se for confirmada, deve ser precificada ao longo do tempo.
“Esse é um evento que enfraquece o apoio popular à direita e o presidente tende a ganhar mais poder de barganha. Sendo assim, um cenário de Lula moderado, que já vinha perdendo força, começa a ficar menos provável”.
Sem fiador
Uma preocupação no radar de alguns dos gestores consultados é a leitura negativa que o investidor estrangeiro pode ter da situação — ainda que agentes locais pesem menos o ocorrido, o humor no exterior pode mudar o rumo dos negócios.
Até o momento de publicação dessa matéria, as imagens de destruição em Brasília estampavam os principais jornais internacionais, e chefes de Estado de todo o mundo, incluindo Emmanuel Macron, da França, e Joe Biden, dos EUA, já haviam repudiado os ataques.
Um especialista lembra que desde a eleição de Lula, bem visto e popular na cena internacional, o investidor estrangeiro vinha atuando como um “elemento estabilizador dos ativos locais”. Assim, os acontecimentos na capital federal pode afugentar o capital gringo, com o temor de que a violência se transforme em uma crise institucional.
A potencial reação negativa dos investidores estrangeiros, no entanto, não é unanimidade entre os gestores com quem conversamos.
"O Brasil hoje é 1,75% do PIB mundial. Nada mais do que acontece aqui importa muito. Enquanto os juros estiverem altos, a gente empurra com a barriga”, finalizou um dos mais pessimistas com o mercado doméstico.
*Colaboração: Victor Aguiar
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