O fim está próximo? As oportunidades de lucro (e os riscos) do Tesouro Direto com a alta da Selic na reta final
Com o fim do ciclo de alta da Selic e a perspectiva de uma inflação mais controlada, é hora de comprar prefixados para ganhar com sua valorização? Pode até ser, mas lucros não virão sem riscos
Em sua última reunião de decisão de juros, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) não só aumentou a taxa básica de 9,25% para 10,75% ao ano, como também sinalizou que o ciclo de alta da Selic está se aproximando do fim.
A instituição acredita que os efeitos da política monetária devem começar a surtir efeito na inflação num horizonte curto de tempo, já sendo necessário começar a “dosar melhor” as novas elevações na Selic. Afinal, aumentar juros sacrifica o crescimento econômico, que neste ano já deve ficar bastante machucado.
Para quem fica de olho em oportunidades de lucro com investimentos mais arrojados no Tesouro Direto, o fim de um ciclo de alta de juros aliado a uma inflação mais controlada é um cenário que, no geral, é benéfico para os títulos prefixados.
Em outras palavras, em situações como essa, é possível que surjam oportunidades de compra desses títulos para quem quer ganhar com a sua valorização. Mas, dado o pano de fundo de aperto monetário global, risco fiscal e eleições presidenciais, será que os prefixados estão mesmo interessantes?
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Prefixados e títulos atrelados à inflação têm apanhado
Os títulos prefixados e atrelados à inflação (que têm parte da sua remuneração prefixada) têm uma dinâmica de preços um pouco contraintuitiva para a maioria das pessoas.
Eles se valorizam quando há uma queda nos juros futuros (que precificam as perspectivas do mercado para as taxas de juros) e suas remunerações prometidas caem; da mesma forma, se desvalorizam quando os juros futuros avançam e suas remunerações prometidas sobem.
Nesta matéria, eu explico, com mais detalhes, por que isso ocorre e como esses papéis são precificados.
Devido a essas características, é possível investir nesses títulos de duas maneiras: você pode levá-los até o vencimento e receber a rentabilidade contratada, ou vendê-los antes do fim do prazo para embolsar os lucros de uma eventual valorização. Eu falo mais sobre essas duas estratégias de investimento nesta matéria.
Desde o ano passado, estamos vivendo um cenário de alta nos juros futuros, que precificam o risco fiscal elevado do país e a necessidade de o Banco Central aumentar a Selic para conter a inflação.
Em razão disso, os prefixados e os títulos Tesouro IPCA+ têm apanhado um bocado. Em 2021, eles recuaram entre 0,39% (caso do Tesouro IPCA+ 2026) e 25,47% (Tesouro IPCA+ 2045), ficando entre os piores investimentos do ano, em termos de classes de ativos.
O ciclo de alta dos juros está chegando ao fim
Mas o ciclo de alta da Selic, um dos fatores que vêm pesando sobre os juros futuros e os preços dos títulos, está prestes a chegar ao fim. Tanto no comunicado divulgado após sua última reunião, em 2 de fevereiro, quanto na ata divulgada ontem (08), o Copom indicou a redução no ritmo de ajuste monetário, embora não tenha se comprometido com valores.
Espera-se, portanto, que as próximas altas sejam inferiores ao 1,5 ponto percentual da última reunião. O mercado prevê mais uma ou duas elevações, para 11,75%, 12,00% ou 12,25%. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, a mediana das estimativas é de uma Selic em 11,75% no fim de 2022 e uma queda para 8,00% até o final de 2023.
Já para a inflação, a mediana das estimativas aponta para um IPCA de 5,44% em 2022 - ainda acima do teto da meta, que é de 5% -, caindo para 3,50% em 2023, mais próximo da meta, de 3,25%.
Ou seja, apesar de o aperto monetário estar chegando ao fim e a inflação ter perspectiva de ficar mais controlada, ela ainda deve ficar alta por mais algum tempo. Até porque há uma série de fatores externos pressionando os preços, como a alta das commodities e a inflação nos países desenvolvidos.
É hora da redenção dos prefixados?
Com isso em mente, é ou não uma boa hora para comprar títulos prefixados no Tesouro Direto com vistas a ganhar com a sua possível valorização? Aliás, essa pausa na alta dos juros, junto com uma inflação mais controlada, embora alta, pode levar a uma queda nas taxas futuras e consequente valorização desses títulos?
Para Marc Forster, head da Western Asset, até existe oportunidade de valorização, tanto nos prés quanto nas NTN-Bs, porque de fato os juros estão em um patamar elevado, e as remunerações prometidas por esses títulos estão historicamente altas. Mas os riscos também são grandes, então não é uma barbada.
“Ganho de capital evidente não tem em nenhum vencimento, na verdade, dados os riscos atuais”, me disse Forster, em entrevista por telefone.
Ele destaca o risco fiscal - pressionado agora pelo projeto do Congresso para baixar o preço dos combustíveis via corte de impostos - e as eleições presidenciais, que costumam ser um grande fator de volatilidade nos mercados. Por sinal, desta vez sequer temos clareza - ao menos por enquanto - sobre o grau de responsabilidade fiscal dos candidatos mais competitivos.
Em adição a isso, o aperto monetário promovido pelo Federal Reserve, o banco central americano, não facilita as coisas por aqui, mantendo os juros pressionados.
Riscos são elevados, mas prefixados curtos ainda têm o melhor risco-retorno
Na nossa reportagem especial sobre renda fixa da série Onde Investir em 2022, publicada no início de janeiro, Forster foi um dos especialistas que destacou a atratividade dos títulos prefixados de prazos mais curtos naquele momento (seu preferido, na época, era o de vencimento em 2023, mas no Tesouro Direto o mais curto à venda é o 2024).
Do dia da publicação da matéria até ontem (cerca de um mês), o Tesouro Prefixado 2023 valorizou 0,76%, e o 2024 subiu 0,25% (considerando o preço de compra no início do período e o preço de venda no final do período).
Para Forster, esses títulos de vencimento próximo ainda são os prefixados mais atrativos no momento. “A relação risco-retorno dos prés mais curtos para ganho de capital é melhor”, diz.
Preferência pelos títulos privados
Laís Costa, analista de renda fixa da Empiricus, também gosta dos prefixados de prazos mais curtos, mas não tanto dos títulos públicos com esse perfil. Ela prefere os títulos privados. “Títulos que estejam pagando acima de 12% ao ano (bruto), emitidos por instituições financeiras sólidas, com prazo de um ou dois anos”, diz.
Lembrando que títulos emitidos por bancos, como CDBs, LCIs e LCAs, contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para investimentos de até R$ 250 mil por CPF, por instituição financeira - a mesma garantia da poupança.
Os prefixados de prazos mais curtos, públicos ou privados, são mais influenciados pela política monetária, e evidentemente há uma previsibilidade maior até seus respectivos vencimentos.
Já os mais longos, que Laís também considera mais arriscados no momento, sofrem mais influência do cenário fiscal e do resultado eleitoral. A analista lembra, inclusive, que o próprio Banco Central manifestou, na ata da última reunião do Copom, preocupação em relação ao fiscal e a como esse risco pode continuar pressionando a inflação, apesar da alta da Selic.
O BC não cita diretamente, por exemplo, a iniciativa de tentar baixar os preços dos combustíveis por meio do sacrifício na arrecadação, mas diz na ata que “mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva.”
Inflação pode permanecer pressionada por mais tempo que o esperado
Já Jorge Dib, sócio e gestor macro da Frontier Capital, acredita que o mercado de títulos já está “muito bem precificado”, dados todos esses riscos. Para ele, inclusive, uma aposta em um Tesouro IPCA+ de vencimento em 2035 em diante está com uma relação risco-retorno melhor do que a compra de um prefixado no Tesouro Direto.
Isso porque, segundo ele, as NTN-Bs estão precificando uma inflação mais elevada que os prefixados. Ele lembra que, na média, a inflação brasileira dos últimos 20 anos foi de 6,30%, isso num cenário desinflacionário no mundo, que não é o que está ocorrendo agora.
Assim, supor uma inflação relativamente alta por um tempo prolongado no Brasil daqui em diante não seria algo tão fora da caixa. Ainda mais se considerarmos as incertezas em relação às próximas eleições. “Como será o próximo governo? É improvável que ele seja muito austero fiscalmente. Então a inflação brasileira ainda deve ficar alta por algum tempo”, diz Dib.
Ele lembra ainda que não há como manter os juros altíssimos por tempo prolongado, porque assim se sacrifica demais o crescimento. Nesse caso, o BC pode acabar se vendo obrigado a cortar juros, futuramente, mesmo com a inflação num patamar mais alto, o que beneficiaria mais as NTN-B.
Mas então, o que fazer?
Segundo os especialistas com quem eu conversei, a compra de títulos prefixados ou atrelados à inflação para tentar lucrar com sua valorização é uma aposta arriscada, neste momento, mesmo com a chegada ao fim do ciclo de aperto monetário. Pode acontecer, mas não sem uma boa dose de volatilidade no meio do caminho.
A própria diversidade de opiniões já evidencia o quanto o cenário está nebuloso adiante. O lado bom disso tudo é que, ao comprar um título de renda fixa, inclusive um título público, o investidor não tem perdas nominais caso fique com ele até o vencimento.
E, embora a Selic possa acabar surpreendendo para cima até a data de vencimento dos títulos públicos à venda atualmente no Tesouro Direto, é fato que as taxas que estão sendo oferecidas hoje, tanto nos prés quanto nas NTN-B, são historicamente elevadas. Todos os prefixados estão pagando mais de 11% ao ano, enquanto a maioria dos Tesouro IPCA+ estão remunerando em torno de 5,5% ao ano mais IPCA.
Assim, se a aposta de valorização num prazo mais curto não se concretizar, ao menos o investidor sabe que irá receber um bom retorno se carregar o título até o fim do prazo. Ele não precisa realizar uma eventual perda na marcação a mercado. “É pra ter esses papéis na carteira sim”, diz Marc Forster, da Western Asset.
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