Lula vai “salvar” Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3)? O que esperar das ações das gigantes de educação no governo petista
Ações de Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3) avançaram com a perspectiva da vitória do petista, mas o futuro das empresas de educação hoje depende menos do que acontece em Brasília
O clima de polarização das eleições na disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se refletiu de uma maneira curiosa na bolsa brasileira às vésperas do primeiro turno.
De um lado, as ações das estatais reagiam de forma positiva a qualquer sinal de que o atual presidente pudesse sair vitorioso da disputa. Do outro, setores que floresceram durante os primeiros anos do governo Lula disparavam com a percepção de que o passado poderia se repetir.
No caso das “ações do Lula”, um dos desempenhos mais expressivos ainda no período pré-eleitoral foi o do setor de Educação. Entre as ações do Ibovespa, o protagonismo do movimento ficou com Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3).
Os papéis subiram cerca de 30% nas semanas anteriores à votação — já que essas companhias possuem uma maior exposição aos alunos de baixa renda e, no passado, foram algumas das companhias mais favorecidas pela injeção de dinheiro público no sistema educacional.
O salto nos papéis foi em nome da esperança — o famoso “sobe no boato e cai no fato”. Tanto que as ações apagaram todo o ganho acumulado no período pré-eleitoral — e mais um pouco.
Seja como for, a vitória de Lula voltou a despertar a atenção dos investidores para o setor, um dos mais castigados dos últimos anos. Os papéis da Yduqs acumulam uma queda da ordem de 70% na B3 desde 2017. A situação da Cogna é ainda mais dramática, já que a empresa perdeu quase 90% do valor na bolsa no mesmo período.
Leia Também
Santander (SANB11), Raia Drogasil (RADL3), Iguatemi (IGTI11) e outras gigantes distribuem mais de R$ 2,3 bilhões em JCP e dividendos
Eztec (EZTC3) renova gestão e anuncia projeto milionário em São Paulo
Como não bastasse a redução dos programas do governo, ambas as empresas sentiram os reflexos da pandemia, que derrubou o número de estudantes matriculados.
- Magazine Luiza (MGLU3) já era? Cara ou barata? Com uma queda de mais de 40% no ano, alguns fatores marcantes podem impactar a ação e concorrentes daqui para frente. Acesse neste link mais detalhes.
Mas afinal de contas, o terceiro mandato de Lula pode representar uma nova “Era de Ouro” para as empresas do setor de educação? Boa parte dos investidores pessoas físicas parecem acreditar que sim, mas analistas e gestores do mercado financeiro ainda são céticos sobre o que pode acontecer — por dois motivos.
O primeiro é que pouco se sabe sobre o tamanho dos estímulos governamentais que serão adotados no setor, principalmente em 2023 e 2024, anos em que o orçamento público deve ser mais restritivo.
Em segundo lugar, Yduqs e Cogna estão longe de serem as mesmas empresas do passado. Ou seja, possivelmente elas tentariam não depender tanto de programas como o Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) para crescer. Os últimos anos obrigaram as duas empresas a encontrar outras vias de receita. Ou seja, hoje talvez elas não precisem mais ser “salvas” por Lula.
Para essa matéria, o Seu Dinheiro conversou com Conrado Rocha, sócio e gestor da Polo Capital; Gabriel Barros, analista da ARX Investimentos; Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos e Daniel Damiani, sócio da JK Capital.
Um olhar para o passado das empresas e das ações
Falar sobre Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3) é como contar uma história de ascensão e queda. Num primeiro momento, ambas surfaram os bons tempos dos programas federais, principalmente o Fies, com aumento em sua base de alunos e forte impulso nas receitas.
O programa concede financiamento a estudantes para o pagamento de mensalidades em universidades privadas — como é o caso das unidades sob a gestão de Cogna e Yduqs. A grande sacada para as empresas é que o risco é federal, ou seja, as faculdades recebem o dinheiro mesmo em caso de inadimplência.
O período de 2010 a 2014 engloba o auge do programa: em 2010, foram fechados um total de 76 mil contratos do Fies no Brasil. O ano com o recorde de contratos foi 2014, com um total de 732,7 mil, segundo dados do Ministério da Educação.
As ações de Cogna e Yduqs — que na época ainda se chamavam Kroton e Estácio — acompanharam o crescimento do financiamento estudantil. Em um período de pouco mais de dois anos, entre 2012 e 2014, ambas mais que triplicaram de valor na bolsa. E isso em um período no qual o Ibovespa praticamente andou de lado.
Freio de arrumação
A partir de 2015, ainda durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), a estrutura começou a ser enxugada, com regras mais rígidas de acesso. O total de contratos do Fies caiu para 287,5 mil. Com uma baixa progressiva, em 2020 foram celebrados apenas 54 mil contratos, bem abaixo do que era visto poucos anos antes.
No ano passado, o número caiu para 46 mil contratos.
O grande problema é que o programa mostrou-se insustentável ao longo do tempo, o que fez o governo secar a verba — e, por consequência, a receita dos grupos de educação privados como Cogna e Yduqs.
As ações de ambas as empresas foram na mesma direção e caíram fortemente com o corte no programa. Nos anos seguintes, tanto Cogna como Yduqs tiveram alguns momentos de recuperação no mercado, mas eles acabaram interrompidos pela pandemia, quando o setor perdeu mais de 1 milhão de estudantes com a migração das atividades para o ambiente digital.
Hoje é praticamente consenso entre os gestores e analistas: para voltar, o Fies precisa ser reformulado e mais sustentável. Afinal, as próprias empresas não desejam passar por tais dificuldades outra vez por dependerem tanto do programa.
Além de Lula: o pote de ouro no fim do arco-íris para Cogna e Yduqs
Com a fonte do Fies secando, foi preciso um longo processo de adaptação. Hoje, o principal foco e fonte de dinheiro das companhias está em dois segmentos: ensino à distância (EAD) e cursos como medicina e veterinária.
O primeiro grupo garante uma base de alunos maior, já que o acesso é mais fácil e há uma maior flexibilidade de horário, além de mensalidades que custam R$ 200, em média.
Aqui, ganha-se pela quantidade de estudantes com um custo baixíssimo, que exclui as despesas dos cursos presenciais. Ou seja, receita maior com baixo custo, uma combinação bastante desejada.
Já os cursos de medicina, veterinária e odontologia são vantajosos graças às mensalidades caras, que podem custar de R$ 10 mil a R$ 15 mil por mês. Ajuda também o fato de que esses cursos têm forte demanda mas poucas vagas disponíveis, além da alta concorrência nas universidades públicas.
Durante o Cogna Day, realizado na semana passada, os próprios executivos da empresa fizeram uma retrospectiva dos últimos anos, marcados pela reestruturação de portfólio e foco no ensino híbrido e digital. O resultado disso foi o crescimento de receita tanto no ensino superior quanto nas unidades de educação básica.
Entre 2019 e 2022, houve um aumento de 165% nos cursos EAD disponibilizados pela empresa, enquanto a baixa demanda presencial levou ao fechamento de unidades.
Hoje, a companhia diz que já não carrega mais o peso da reestruturação e prefere olhar para o crescimento contratado.
Para 2023, a Cogna deseja crescer em suas três linhas de negócios: venda de material didático, ensino superior e educação básica.
Aquisições no radar?
A reestruturação e a mudança no perfil dos estudantes levou todo o setor de educação a um forte movimento de consolidação nos últimos anos. Mas para Daniel Damiani, da JK Capital — boutique especializada em fusões e aquisições e captação de recursos —, as operações do gênero estarão concentradas apenas na vertical de saúde no próximo ano — e o cenário deve se manter assim até que exista uma acomodação e saturação do mercado.
Para Damiani, o próximo passo de crescimento para o setor e para as grandes consolidadoras pode ser uma profissionalização do mercado educacional não regulado — como cursos de marketing digital e outros assuntos, hoje restritos ao oferecimento em sites como Hotmart e Instagram.
Cogna e Yduqs: Ainda vale a pena investir nas ações?
Se você está pensando em investir em ações de YDUQ3 e COGN3 de olho em uma possível injeção de dinheiro federal com a retomada dos programas educacionais e dos preços convidativos, talvez seja melhor esperar mais um pouco.
Entre analistas e gestores consultados pelo Seu Dinheiro, o consenso é de que ainda é muito cedo para embarcar nos papéis olhando apenas para a perspectiva de renascimento dos programas de financiamento estudantil. O Fies ajuda, mas dificilmente será transformacional como em seus primeiros anos de vida.
Com a captação caindo nos últimos anos e custos fixos menos diluídos, a perspectiva é que as margens se mantenham pressionadas — levando a um crescimento pelas duas vias que menos dependem do Fies: o ensino digital e o de medicina.
Gustavo Harada, da Blackbird, aponta que, no curto prazo, as ações estão mais reféns do cenário macroeconômico desfavorável.
Mas na visão de um gestor de fundos ouvido pela reportagem, esse pode ser justamente um dos trunfos de Yduqs e Cogna. Isso porque a opção pelo EAD feito pelas companhias elimina o custo fixo do aluno presencial.
Além disso, a vertical de saúde com os cursos de medicina segue em expansão, ainda sem dar sinais de saturação de mercado. Outro estrategista de um grande fundo indicou que YDUQ3 consegue atuar bem nos dois segmentos, sendo, assim, a sua ação favorita.
Conrado Rocha, sócio e gestor da Polo Capital, lembra que o ensino a distância depende menos de financiamento do governo pelo ticket médio mais baixo. Por outro lado, empresas mais endividadas, como é o caso da Cogna, sofrem com os juros mais altos — hoje a Selic se encontra no patamar de 13,75% ao ano.
“Essas empresas embutem um grande valor significativo. O problema é que, atualmente, tem poucos gatilhos e poucas alavancas que poderiam fazer com que o mercado comprasse o valor intrínseco delas”, complementa Gabriel Barros, analista da ARX Investimentos.
Daniel Damiani, da JK Capital, parece concordar e lembra que muitas empresas de educação têm procurado cindir as suas unidades de medicina. Essa seria uma forma de forçar o mercado a precificar melhor o valor existente ali dentro, sem o viés de outras linhas do balanço.
Por fim, se você decidir investir no setor, a preferência do mercado é por Yduqs (YDUQ3). Das 13 recomendações de analistas para a empresa, sete são de compra e seis neutras, com preço-alvo que varia de R$ 13 a R$ 33. Ou seja, um potencial de alta de 28,84% a 233,99%, de acordo com dados da plataforma Trademap.
Já para a Cogna — menos exposta ao setor de medicina, com maior dificuldades de crescimento e alto grau de endividamento —, das 13 recomendações, seis são de venda, enquanto sete são neutras. O preço-alvo varia de R$ 2,20 a R$ 3,10 — um potencial de alta de 5,26% a 48,33%.
A reorganização societária da Suzano (SUZB3) que vai redesenhar o capital e estabelecer novas regras de governança
Companhia aposta em alinhamento de grupos familiares e voto em bloco para consolidar estratégia de longo prazo
Gafisa, Banco Master e mais: entenda a denúncia que levou Nelson Tanure à mira dos reguladores
Uma sequência de investigações e denúncias colocou o empresário sob escrutínio da Justiça. Entenda o que está em jogo
Bilionária brasileira que fez fortuna sem ser herdeira quer trazer empresa polêmica para o Brasil
Semanas após levantar US$ 1 bilhão em uma rodada de investimentos, a fundadora da Kalshi revelou planos para desembarcar no Brasil
Raízen (RAIZ4) precisa de quase uma “Cosan” para voltar a um nível de endividamento “aceitável”, dizem analistas
JP Morgan rebaixou a recomendação das ações de Raízen e manteve a Cosan em Neutra, enquanto aguarda próximos passos das empresas
Direito ao voto: Copel (CPLE3) migra para Novo Mercado da B3 e passa a ter apenas ações ordinárias
De acordo com a companhia, a reestruturação resulta em uma base societária mais simples, transparente e alinhada às melhores práticas do mercado
Então é Natal? Reveja comerciais natalinos que marcaram época na televisão brasileira
Publicidades natalinas se tornaram quase obrigatórias na cultura televisiva brasileira durante décadas, e permanecem na memória de muitos; relembre (ou conheça) algumas das mais marcantes
Com duas renúncias e pressão do BNDESPar, Tupy (TUPY3) pode eleger um novo conselho do zero; entenda
A saída de integrantes de conselhos da Tupy levou o BNDESPar a pedir a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária para indicar novos nomes. Como o atual conselho foi eleito por voto múltiplo, a eventual AGE pode resultar na eleição de todo o colegiado
Natal combina com chocolate? Veja quanto custa ter uma franquia da incensada Cacau Show e o que é preciso para ser um franqueado
A tradicional rede de lojas de chocolates opera atualmente com quatro modelos principais de franquia
Energisa (ENGI3) avança em reorganização societária com incorporações e aumento de capital na Rede Energia
A Energisa anunciou a aprovação de etapas adicionais da reorganização societária do grupo, com foco na simplificação da estrutura e no aumento da eficiência operacional
Sinal verde no conselho: Ambipar (AMBP3) aprova plano de recuperação judicial
Conselho de administração aprovou os termos do plano de recuperação do Grupo Ambipar, que já foi protocolado na Justiça, mas ainda pode sofrer ajustes antes da assembleia de credores
AZUL4 com os dias contados: Azul convoca assembleias para extinguir essas ações; entenda
Medida integra o plano de recuperação judicial nos EUA, prevê a conversão de ações preferenciais em ordinárias e não garante direito de retirada
Totvs (TOTS3) acerta aquisição da empresa de software TBDC, em estratégia para fortalecer presença no agro
Negócio de R$ 80 milhões fortalece atuação da companhia no agronegócio e amplia oferta de soluções especializadas para o setor
Entre dividendos e JCP: Suzano (SUZB3), Isa (ISAE4), Porto Seguro (PSSA3) e Marcopolo (POMO4) anunciam pacote bilionário aos acionistas
Dividendos, JCP e bonificações movimentam quase R$ 4 bilhões em operações aprovadas na última sexta-feira antes do Natal
‘Socorro’ de R$ 10 bilhões à Raízen (RAIZ4) está na mesa da Cosan (CSAN3) e da Shell, segundo agência
Estresse no mercado de crédito pressiona a Raízen, que avalia aporte bilionário, desinvestimentos e uma reestruturação financeira com apoio dos controladores
WEG (WEGE3) abre o cofre e paga R$ 5,2 bilhões em dividendos
Os proventos autorizados nesta sexta-feira (19) serão divididos em três parcelas anuais de R$ 1,732 bilhão cada; confira os detalhes
Embraer (EMBJ3) testa protótipo de “carro voador” elétrico e inicia fase de certificação; ações chegam a subir 3%
Aeronave eVTOL da Eve Air Mobility inicia campanha de certificação com quase 3 mil encomendas; ações da Embraer avançam após voo inaugural
Raízen (RAIZ4) acelera desinvestimentos e vende carteira de comercialização de energia para Tria Energia, da Patria Investimentos
O negócio envolve o portfólio de contratos de trading de energia mantido pela Raízen no mercado livre; entenda
Mais um presente aos acionistas: Axia Energia (AXIA6) vai distribuir R$ 30 bilhões em bonificação com nova classe de ações
A distribuição ocorrerá com a criação de uma nova classe de ações preferenciais, a classe C (PNC). Os papéis serão entregues a todos os acionistas da Axia, na proporção de sua participação no capital social
Do campo de batalha ao chão da sala: a empresa de robôs militares que virou aspirador de pó — e acabou pedindo falência
Criadora dos robôs Roomba entra em recuperação judicial e será comprada por sua principal fabricante após anos de prejuízos
É para esvaziar o carrinho: o que levou o JP Morgan rebaixar o Grupo Mateus (GMAT3); ações caem mais de 2%
Embora haja potencial para melhorias operacionais, o banco alerta que o ruído de governança deve manter a ação da varejista fora do radar de muitos investidores
