“Pedra de ferro, futuro aço do Brasil”. Esse é um trecho de “Confidência do Itabirano”, que trata das relações de Carlos Drummond de Andrade com a mineração. O poema é cheio de antíteses assim como a Usiminas (USIM5) nesta sexta-feira (10): as ações da empresa estiveram entre as maiores baixas na B3 depois de performances consideradas históricas no quarto trimestre de 2021.
O motivo? A queda do preço do minério de ferro, que arrasta os papéis da empresa, apesar do aumento de 30% do lucro entre outubro e dezembro do ano passado. A principal matéria-prima do aço recuou 2,3% no porto de Qingdao, na China, para US$ 149 a tonelada.
Mesmo diante dessa antítese mineira, o BTG Pactual reiterou a recomendação de compra para a Usiminas, com preço-alvo de R$ 25,00 em 12 meses - um potencial de ganho de 49% considerando o fechamento de ontem das ações.
Por volta de 13h40, USIM5 caía 5,54%, a R$ 15,85. Ao longo do dia, os papéis aceleraram as perdas e terminaram com queda de 7,45%, a R$ 15,53.
Usiminas na visão do BTG
Para o banco, a história de bons resultados da Usiminas continua intacta com a divulgação dos resultados do quarto trimestre. O Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), de R$ 1,84 bilhão, veio em linha com o estimado pelo BTG, apesar da queda de 38% em relação ao trimestre anterior.
Em grande parte, segundo o banco, esse desempenho se explica pelo acompanhamento ao aumento de custos e menores vendas de aço para o mercado interno somado às exportações a preços mais baixos no mix geral.
“Acreditamos que a história do ativo agora se voltará para o impulso operacional em 2022 e a capacidade da empresa de continuar implementando sua estratégia de preços, especialmente no segmento automotivo – que esperamos superar as expectativas de consenso”, diz o BTG em relatório.
O desempenho no trimestre e no ano
A Usiminas reportou lucro líquido de R$ 2,488 bilhões no quarto trimestre de 2021, o que representa um crescimento de 30% em relação ao mesmo período de 2020.
No ano, a siderúrgica registrou lucro líquido recorde de R$ 10,1 bilhões, uma alta de 679% em relação a 2020.
A receita líquida subiu 47% no trimestre na comparação anual, para R$ 8,049 bilhões. Em 2021, foi de R$ 33,7 bilhões, 109,7% superior a 2020 - um recorde histórico para a Usiminas em todas as unidades de negócio.
Usiminas: projeções financeiras e produção
A companhia também divulgou suas projeções para investimentos, despesas financeiras e volumes de minério de ferro para o ano de 2022.
A Usiminas prevê volume de vendas de minério de ferro entre 8,5 e 9 milhões de toneladas em 2022 e vendas de 1,1 a 1,2 milhão de toneladas de aço.
Já os investimentos totais estimados para este ano somam R$ 2,050 bilhões.
Goldman Sachs não achou tão bom...
Mas os resultados da Usiminas estão longe de ser um consenso entre os analistas. O Goldman Sachs, por exemplo, chama atenção para o Ebtida de R$ 1,84 bilhão, que ficou 33% abaixo das suas projeções.
“O erro foi causado principalmente por um custo de aço mais alto do que o esperado e preços de minério de ferro abaixo do estimado. Esperamos uma reação negativa aos resultados de hoje”, diz o Goldman Sachs em relatório.
Por outro lado, o banco diz que a Usiminas conseguiu manter os volumes de vendas de minério de ferro e aço dentro das previsões, apesar dos desafios da cadeia de suprimentos e da forte queda na demanda doméstica de aço no quarto trimestre de 2021.
O Goldman manteve a recomendação de compra da USIM5, com preço-alvo de R$ 20,00 - potencial de alta de 20% com relação ao preço de fechamento dos papéis de ontem.
Olhando para o futuro, o banco espera que os ganhos do aço no primeiro trimestre sejam mais fracos, com desapontamentos no mercado, já que o custo do carvão deve atingir mais os lucros, e os efeitos dos aumentos dos preços do aço para a indústria automobilística devem ser moderados.
“No entanto, ficamos satisfeitos em ver o guidance de vendas de aço da Usiminas subindo sequencialmente no primeiro trimestre e esperamos que o lucro anual se beneficie dos sólidos preços do minério de ferro e dos preços mais altos do aço para a indústria automobilística entre o segundo e o quarto trimestre. Isso pode compensar parcialmente um ambiente esperado de alta inflação, riscos de demanda no Brasil e riscos globais de preços do aço”, diz.