🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Julia Wiltgen

Julia Wiltgen

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril. Hoje é editora-chefe do Seu Dinheiro.

Entrevista exclusiva

O gringo voltou para a bolsa brasileira; mas para este gestor estrangeiro, talvez não queira ficar por muito tempo

Edward Cole, diretor executivo da Man GLG, parte da maior gestora de fundos de hedge da Europa, acredita que estrangeiros não têm grande convicção sobre a sustentabilidade do fiscal e vê risco nas eleições presidenciais

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
21 de fevereiro de 2022
5:30 - atualizado às 19:56
Globo e cédulas de dinheiro de diversos países
Gestor da Man GLG também não está otimista com mercado americano: "O valor das empresas americanas é alarmante". - Imagem: Shutterstock

Por mais que o mercado local de ações tenha se desenvolvido nos últimos anos, e o número de investidores pessoas físicas tenha explodido, a bolsa brasileira ainda é bastante dependente do capital estrangeiro. Cerca de metade das movimentações na B3, em volume, é feita pelos gringos.

Isso significa que os investidores internacionais têm poder de mexer para valer com as cotações das ações brasileiras e o desempenho do Ibovespa. Quando eles resolvem apostar suas fichas por aqui, normalmente vemos o principal índice da B3 brilhar.

É o que tem acontecido neste início de ano. Em 2022, a bolsa local já viu um ingresso líquido de recursos estrangeiros no valor de pouco mais de R$ 50 bilhões. Não por acaso, o Ibovespa acumula alta de 7,69% no ano.

Mas esse dinheiro veio para ficar? Vem mais por aí? Ou se trata apenas de um movimento tático, momentâneo, e logo os estrangeiros vão embora novamente? Afinal, não é como se muita coisa tivesse mudado na conjuntura nacional do fim do ano passado para cá.

Além disso, o cenário internacional não está exatamente favorável para ativos de risco (que dirá para mercados arriscados como os emergentes), e neste ano ainda temos eleições presidenciais no Brasil, um evento que costuma causar bastante volatilidade nos mercados locais.

Para tentar responder a essas perguntas, nada melhor do que consultar justamente um investidor estrangeiro. Afinal, como o gringo está vendo o Brasil?

Leia Também

Para Edward Cole, diretor executivo de investimentos discricionários na Man GLG, parte do Man Group, há bons motivos para esse ingresso de capital estrangeiro no país, mas há obstáculos para que esses recursos permaneçam por aqui.

“Para ficar, o capital estrangeiro precisa estar convencido de que a política fiscal é sustentável e a governança está melhorando. No momento, não acho que os estrangeiros tenham grande convicção sobre isso”, me disse Cole, em entrevista por e-mail.

Ele acrescentou, ainda, que a eleição presidencial será muito disputada e que “provavelmente impedirá que capital sério de longo prazo seja alocado no Brasil”.

Sobre as bolsas americanas, sua visão também não é muito otimista. “O valor das empresas americanas é alarmante”, disse. Para ele, mesmo que esses valuations continuem sendo suportados, a tendência de alta para “preços estratosféricos” vista em 2020 e 2021 para as empresas sem lucros ou receitas “provavelmente ficou para trás”.

O Man Group é a maior gestora de fundos de hedge da Europa, e só a Man GLG tem mais de US$ 30 bilhões sob gestão. Veja a seguir os principais trechos da entrevista com o diretor executivo Edward Cole:

Temos visto um retorno do capital estrangeiro para a bolsa brasileira, justamente num momento de aperto monetário nos Estados Unidos e de juros altos no Brasil, o que, num primeiro momento, não parece fazer muito sentido. O que o estrangeiro está vendo no Brasil neste momento? Trata-se de um movimento pontual, tático, e que deve se reverter ao longo do ano, ou é realmente mais estrutural? Afinal, os recursos estrangeiros estão voltando para ficar?

Há alguns fatos específicos que tornam este ciclo diferente de outros ciclos de aperto:

Edward Cole, diretor executivo de investimentos discricionários na Man GLG. Foto: Divulgação.

1) Os preços das commodities permanecem muito elevados, devido às interrupções no fornecimento de energia, particularmente, que estão se espalhando por todo o espectro de commodities. Por exemplo, a escassez de gás natural está limitando a oferta de fertilizantes, o que está elevando os preços dos alimentos. E, de forma geral, a correlação positiva das commodities com a inflação é evidente. O Brasil está, significativamente, exposto às exportações de commodities como economia, e as commodities estão bem refletidas no mercado de ações;

2) Há uma rotação viciosa nos fatores de estilo do mercado de ações. As empresas de Growth (alto crescimento) estão caindo significativamente, e empresas de valor (com potencial de crescimento no longo prazo) estão tendo melhor desempenho. Os EUA possui o mercado de ações mais exposto a empresas de Growth. Mercados emergentes são geralmente menos alocados. Além disso, a grande correção nos preços das empresas de tecnologia chinesas está forçando uma realocação em portfólios de mercados emergentes;

3) O Brasil se antecipou ao Fed no aumento das taxas de juros. Isso é muito incomum. Mas muitos bancos centrais de mercados emergentes perceberam que não tinham o mesmo luxo que os bancos centrais de mercados desenvolvidos para tolerar a inflação e aumentaram as taxas de forma agressiva. Isso criou um grande prêmio de risco, que está atraindo capital estrangeiro. Em última análise, se o câmbio e as taxas locais estiverem funcionando, as ações também funcionarão, mesmo que as perspectivas de crescimento sejam ruins.

Caso se trate de um movimento mais pontual, o que precisaria acontecer para o mercado brasileiro de fato ficar mais atrativo para o investidor global recuperar o interesse no Brasil e voltar para ficar?

Para ficar, o capital estrangeiro precisa estar convencido de que a política fiscal é sustentável e a governança está melhorando. No momento, não acho que os estrangeiros tenham grande convicção sobre isso.

Qual a visão geral de vocês em relação aos ativos brasileiros em 2022, especialmente os ativos de risco? Onde estão as oportunidades e quais os principais riscos?

À medida que a inflação começar a se moderar e os juros reais subirem, o Copom sentirá menos pressão para continuar elevando os juros. No final do ano, a inflação ao consumidor pode estar abaixo de 6%, o que significa que as taxas de juros reais podem estar acima de 5%. Isso deve se mostrar muito atraente para os investidores possuírem títulos brasileiros em moeda local.

Conforme as taxas parem de subir, a pressão da economia desacelerará e as perspectivas de crescimento começarão a se tornar mais claras, o que é favorável às ações. No entanto, a eleição presidencial será muito disputada e, provavelmente, impedirá que capital sério de longo prazo seja alocado ao Brasil.

Em relação ao cenário global, a política monetária do Federal Reserve é uma fonte de preocupação ou um ajuste bem-vindo?

O Fed está mais “hawkish” do que em qualquer outro momento em mais de 20 anos. Você provavelmente terá que voltar a [Alan] Greenspan, no início dos anos 1990, para ver esse tipo de retórica agressiva no início de um ciclo.

Aumentar as taxas de juros e reduzir o tamanho do balanço do Fed vai apertar as condições financeiras globalmente e reduzir muito a liquidez. Os spreads de crédito provavelmente aumentarão, e o refinanciamento de dívida se tornará mais difícil e mais caro. Isso criará muito risco para as economias emergentes altamente endividadas e o setor corporativo.

O maior risco para a economia mundial, no entanto, é de que o Fed aperte agressivamente para uma desaceleração. Isso definitivamente não é garantido, mas há alguns sinais preocupantes do consumidor americano.

Os valuations das empresas americanas ensejam alguma preocupação? Os investidores globais, no geral, esperam algum tipo de ajuste doloroso de preços?

O valor das empresas americanas é alarmante. No final de 2021, mais empresas do índice Russell 1000 negociaram com EV/Sales (Valor da empresa/Vendas) acima de 10 vezes do que durante a bolha da Nasdaq de 2000. Além disso, o índice Shiller de preço/lucro (PE) ajustado ciclicamente está mais caro do que antes da quebra de Wall Street em 1929.

Normalmente, os múltiplos das empresas são inversamente correlacionados à inflação e às taxas de juros, de modo que o cenário macroeconômico não é favorável à manutenção desses valores. No entanto, se a economia começar a desacelerar visivelmente, e o Fed reverter o curso, os valores das empresas poderão ter suporte até certo ponto.

Uma coisa é clara, no entanto: a tendência vista em 2020 e 2021 para aumentos de preços estratosféricos das empresas sem lucros, ou mesmo receitas, provavelmente ficou para trás, felizmente.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
ÚLTIMA CHANCE

Ficou com ações da Eletromidia (ELMD3) após a OPA? Ainda dá tempo de vendê-las para não terminar com um ‘mico’ na mão; saiba como

1 de maio de 2025 - 12:44

Quem não vendeu suas ações ELMD3 na OPA promovida pela Globo ainda consegue se desfazer dos papéis; veja como

TUDO É ALVO

Ozempic na mira de Trump? Presidente dos EUA diz que haverá tarifas para farmacêuticas — e aproveita para alfinetar Powell de novo

1 de maio de 2025 - 10:55

Durante evento para entregar investimentos, Trump disse entender muito mais de taxas de juros do que o presidente do Fed

WARHOL PELO MUNDO

Andy Warhol: 6 museus para ver as obras do mestre da Pop Art — incluindo uma exposição inédita no Brasil

1 de maio de 2025 - 8:02

Tão transgressor quanto popular, Warhol ganha mostra no Brasil em maio; aqui, contamos detalhes dela e indicamos onde mais conferir seus quadros, desenhos, fotografias e filmes

SD ENTREVISTA

Diretor do Inter (INBR32) aposta no consignado privado para conquistar novos patamares de ROE e avançar no ambicioso plano 60-30-30

1 de maio de 2025 - 7:31

Em entrevista ao Seu Dinheiro, Flavio Queijo, diretor de crédito consignado e imobiliário do Inter, revelou os planos do banco digital para ganhar mercado com a nova modalidade de empréstimo

SD ENTREVISTA

Ninguém vai poder ficar em cima do muro na guerra comercial de Trump — e isso inclui o Brasil; entenda por quê

1 de maio de 2025 - 6:54

Condições impostas por Trump praticamente inviabilizam a busca por um meio-termo entre EUA e China

ABRINDO A TEMPORADA

Santander (SANB11) divulga lucro de R$ 3,9 bi no primeiro trimestre; o que o CEO e o mercado têm a dizer sobre esse resultado?

30 de abril de 2025 - 11:58

Lucro líquido veio em linha com o esperado por Citi e Goldman Sachs e um pouco acima da expectativa do JP Morgan; ações abriram em queda, mas depois viraram

Mundo FIIs

Fundos imobiliários: ALZR11 anuncia desdobramento de cotas e RBVA11 faz leilão de sobras; veja as regras de cada evento

30 de abril de 2025 - 11:06

Alianza Trust Renda Imobiliária (ALZR11) desdobrará cotas na proporção de 1 para 10; leilão de sobras do Rio Bravo Renda Educacional (RBVA11) ocorre nesta quarta (30)

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Alguém está errado: Ibovespa chega embalado ao último pregão de abril, mas hoje briga com agenda cheia em véspera de feriado

30 de abril de 2025 - 8:03

Investidores repercutem Petrobras, Santander, Weg, IBGE, Caged, PIB preliminar dos EUA e inflação de gastos com consumo dos norte-americanos

SD ENTREVISTA

Nova Ordem Mundial à vista? Os possíveis desfechos da guerra comercial de Trump, do caos total à supremacia da China

30 de abril de 2025 - 5:52

Michael Every, estrategista global do Rabobank, falou ao Seu Dinheiro sobre as perspectivas em torno da guerra comercial de Donald Trump

DIÁRIO DOS 100 DIAS

Donald Trump: um breve balanço do caos

29 de abril de 2025 - 21:00

Donald Trump acaba de completar 100 dias desde seu retorno à Casa Branca, mas a impressão é de que foi bem mais que isso

DIA 100

Trump: “Em 100 dias, minha presidência foi a que mais gerou consequências”

29 de abril de 2025 - 19:12

O Diário dos 100 dias chega ao fim nesta terça-feira (29) no melhor estilo Trump: com farpas, críticas, tarifas, elogios e um convite aos leitores do Seu Dinheiro

DERRETENDO

Azul (AZUL4) volta a tombar na bolsa; afinal, o que está acontecendo com a companhia aérea?

29 de abril de 2025 - 17:09

Empresa enfrenta situação crítica desde a pandemia, e resultado do follow-on, anunciado na semana passada, veio bem abaixo do esperado pelo mercado

MERCADO DE METAIS ESSENCIAIS

Bolsa de Metais de Londres estuda ter preços mais altos para diferenciar commodities sustentáveis

29 de abril de 2025 - 9:15

Proposta de criar prêmios de preço para metais verdes como alumínio, cobre, níquel e zinco visa incentivar práticas responsáveis e preparar o mercado para novas demandas ambientais

GOVERNANÇA CORPORATIVA

Tupy (TUPY3): Com 95% dos votos a distância, minoritários devem emplacar Mauro Cunha no conselho

29 de abril de 2025 - 8:30

Acionistas se movimentam para indicar Cunha ao conselho da Tupy após polêmica troca do CEO da metalúrgica

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA

29 de abril de 2025 - 8:25

Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo

CHINA NO VOLANTE

Salão de Xangai 2025: BYD, elétricos e a onda chinesa que pode transformar o mercado brasileiro

29 de abril de 2025 - 8:16

O mundo observa o que as marcas chinesas trazem de novidades, enquanto o Brasil espera novas marcas

Insights Assimétricos

Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide

29 de abril de 2025 - 6:06

Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente

28 de abril de 2025 - 20:00

Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços

28 de abril de 2025 - 8:06

Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana

ABRINDO OS TRABALHOS

Nova temporada de balanços vem aí; saiba o que esperar do resultado dos bancos

28 de abril de 2025 - 6:05

Quem abre as divulgações é o Santander Brasil (SANB11), nesta quarta-feira (30); analistas esperam desaceleração nos resultados ante o quarto trimestre de 2024, com impactos de um trimestre sazonalmente mais fraco e de uma nova regulamentação contábil do Banco Central 

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar