🔴 É HOJE: CONFIRA AS PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES DE ONDE INVESTIR NO 2º SEMESTRE – VEJA COMO PARTICIPAR

Nubank pode valer US$ 100 bilhões? Veja a análise completa do Felipe Miranda

6 de setembro de 2021
10:51 - atualizado às 10:59
Homem segurando um smartphone com o aplicativo do banco na tela e o cartão Nubank (NU/NUBR33) na mesa
O Nubank vem para IPO na Nasdaq com a pretensão de um valuation entre US$ 75 bilhões e US$ 100 bilhões, segundo publicou a imprensa / Imagem: Shutterstock

Este texto é sobre Nubank, mas poderia ser sobre Banco Inter. Poderia também ser sobre qualquer outra “queridinha”. Nada contra elas em particular. Ao contrário, são empresas espetaculares e merecem todo seu sucesso.

A questão é justamente esta: elas são tão boas que passam a ser percebidas como uma coisa extraordinária, quase meio metafísica, sem qualquer tipo de problema, feitas à perfeição, tocadas por forças sobrenaturais.

O mercado inventa suas narrativas e passa a acreditar nas próprias mentiras. Criam-se falsos heróis, que disfarçam (ou tentam disfarçar) sua demagogia envoltos à bandeira do Brasil no exterior. Os paralelos com o herói original sucumbem a qualquer análise crítica.

Fica aquela coisa cafona, meio épica e transcendental. Faltaram o gelo seco e as ombreiras. “Só pro meu prazer”, quase posso ouvir o Leoni: “É tudo real, nas minhas mentiras”. Prefiro o Raul: “Eu não sou besta pra tirar onda de herói, sou vacinado, eu sou cowboy”.

Valuation de US$ 100 bilhões para o Nubank

Pois aqui estamos discutindo o valuation de US$ 100 bilhões para o Nubank. É bem mais que qualquer outro banco brasileiro. Faz sentido? É possível?

Antes da essência deste texto, uma pequena ressalva. Há, na imprensa, algum exagero nesses US$ 100 bilhões. Ele seria já depois do período de estabilização, no topo do range, assumindo que “as coisas deram certo”, sem, portanto, contemplar o “IPO discount”.

Leia Também

Ainda assim, se ficarmos com US$ 75 bilhões ou mesmo US$ 50 bilhões, já seria algo exorbitante. Como explicar todo esse valor? Como valer bem mais que o Itaú?

Tenho me debruçado sobre essa questão, à luz do caso Nubank: como pode, de um lado, haver empresas brasileiras tão baratas e, ao mesmo tempo, outras tão caras?

Divido minha tentativa de resposta em três blocos de premissas.

Asset class

O primeiro se refere justamente ao asset class, à interpretação sobre a classe de ativos como um todo. Se você pegar o agregado do S&P 500, vai chegar a uma relação de aproximadamente 25 vezes seu Ebitda ajustado.

Isso mesmo com empresas lá dentro, tipo GM, que valem 4-5 vezes lucros. Ou seja, há um grupo muito mais caro, de modo a fazer a média convergir a 25 vezes a geração de caixa. 

O mercado bifurcou. Um grupo recebe a leitura de que não há, para ele, qualquer valor terminal. O negócio morre em quatro a cinco anos.

Ao mesmo tempo, existe um outro grupo cujo valor está integralmente na perpetuidade — alguns até mais do que isso; cerca de 140% está no valor terminal, porque a empresa destrói valor (queima caixa) até lá. 

Valuations como o do Nubank presumem que esse tipo de dinâmica pode perdurar por bastante tempo. Se é falso ou verdadeiro, teremos de verificar quando e se as taxas de desconto passarem a subir.

De todo modo, assumir que esse “value discount” — o enorme desconto atual entre os casos de valor e de crescimento — vai permanecer para sempre parece um argumento um tanto agressivo.

Dinâmica competitiva

O segundo bloco de premissas diz respeito à dinâmica competitiva. A disrupção não é simplesmente a substituição de um incumbente por outro entrante, capaz de oferecer um produto ou serviço melhor e/ou mais barato.

Ela representa a transferência de excedente do produtor para o consumidor, que, a partir de então, fica mais empoderado e valoriza o novo frente ao velho.

Portanto, o “disruptor” só pode valer mais do que o anterior incumbente caso ele venha e se apropriar de uma participação de mercado superior ou caso ele venha a oferecer também outros produtos àquele mesmo cliente.

É exatamente o caso da Amazon, uma dinâmica de “winner takes all” ou “winner takes most” (o vencedor leva tudo, ou pelo menos a maior parte), com aumento da gama de produtos.

O Nubank valeria mais do que o Itaú porque seria um Neobank, capaz de oferecer várias outras coisas para seu cliente. Também me parece uma assunção agressiva, posto que, na minha visão, a melhor coisa possível para um banco do futuro é ser o Itaú — melhor do que o Itaú já soa bastante improvável, porque a força da dinâmica, bem como a agenda do regulador, é em prol da desconcentração bancária (não da concentração).

O negócio em si do Nubank

Por fim, chegamos ao negócio em si do Nubank. Para se chegar no valuation ventilado, supondo um múltiplo de saída superior a 20 vezes, o pitch dos bancos no IPO passa por assumir a manutenção de uma dinâmica de LTV/CAC (lifetime value, ou seja, quanto o cliente gasta ao longo da vida dele, sobre o quanto se gasta para adquirir um cliente) semelhante à atual, de preservação de uma relação de representatividade de opex em torno de 5% a 10% do Itaú ao longo do tempo e de crescimento de 100% por vários e vários anos.

Sob essas premissas (e elas foram as utilizadas no pitch), o modelo cospe o valuation de que estamos falando.

Ocorre, porém, que isso também parece um pouco otimista. Reconheço que o Nubank pode crescer 100% por dois, três, talvez, sendo generoso, quatro anos. Hoje o banco tem basicamente dois produtos: a NuConta e o cartão.

Conforme ele aumenta a gama de produtos, a receita vai crescendo naturalmente. Uma vez completado o rol de produtos financeiros tradicionais, a coisa muda de figura. Não vai ser mais a mesma moleza para crescer.

Também acho agressivo admitir que o CAC não muda conforme a escala — nossa própria experiência empreendedora mostra aumentos importantes no custo de aquisição de cliente marginal; inclusive é uma dinâmica perversa, porque não é uma curva linear, ela passa a assumir uma forma convexa a partir de determinados volumes.

Em bom português, depois de uma determinada escala, custa muito trazer um novo cliente.

Para finalizar, manter o opex tão baixo conforme aumenta a complexidade da operação pode também não ser algo simples.

Talvez esse seja apenas um texto cringe, escrito por alguém ainda interessado em métricas tradicionais de valuation sob premissas conservadoras e a tal “margem de segurança”.

Só houve um Ayrton Senna. Ele morreu no Dia do Trabalho, em 1º de maio de 1994. Foi meu último herói. 

Mentiras sinceras não me interessam.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O elogio que nem minha mãe me fez

25 de agosto de 2022 - 12:02

Em mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks, ganha-se e perde-se muito no intraday, mas nada acontece no dia após dia

EXILE ON WALL STREET

Degrau por degrau: Confira a estratégia de investimento dos grandes ganhadores de dinheiro da bolsa

24 de agosto de 2022 - 13:57

Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que quem ganha dinheiro com ações o fez degrau por degrau

EXILE ON WALL STREET

Blood bath and beyond: Entenda o banho de sangue dos mercados financeiros — e as oportunidades para o Brasil

22 de agosto de 2022 - 12:25

Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, alerta para um possível otimismo exagerado e prematuro sobre o fim da subida da taxa básica de juro nos EUA; saiba mais

EXILE ON WALL STREET

Você está disposto a assumir riscos para atingir seus sonhos e ter retornos acima da média?

19 de agosto de 2022 - 13:50

Para Howard Marks, você não pode esperar retornos acima da média se você não fizer apostas ativas. Porém, se suas apostas ativas também estiverem erradas, seus retornos serão abaixo da média

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Qual é o mundo que nos aguarda logo à frente?

18 de agosto de 2022 - 11:45

O mercado inteiro fala de inflação, e com motivos; afinal, precisamos sobreviver aos problemas de curto prazo. Confira as lições e debates trazidos por John Keynes

EXILE ON WALL STREET

Novas energias para seu portfólio: Conheça o setor que pode impedir a Europa de congelar — e salvar sua carteira

17 de agosto de 2022 - 12:55

Para aqueles que querem apostar no segmento de energia nuclear, responsável por 10% da energia do mundo, é interessante diversificar uma pequena parcela do capital

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Está na hora de você virar um investidor qualificado

16 de agosto de 2022 - 15:03

No longo prazo, produtos de investimento qualificado podem ter uma rentabilidade média maior e permitem maior diversificação

EXILE ON WALL STREET

É melhor investir em bolsa ou em renda fixa no atual momento dos mercados financeiros?

15 de agosto de 2022 - 12:39

A resposta continuará sendo uma carteira devidamente diversificada, com proteções e sob a âncora de valuations suficientemente descontados

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Foi tudo graças à peak inflation

11 de agosto de 2022 - 11:07

Imagine dois financistas sentados em um bar. Um desses sujeitos é religioso, enquanto o outro é ateu. Eles discutem sobre a eventual existência de bull markets

EXILE ON WALL STREET

Beta, e depois alpha: Saiba por que você precisa saber analisar a temporada de balanços antes de montar sua carteira

8 de agosto de 2022 - 12:38

Depois de muito tempo de narrativas sobre juros, inflação e recessão, talvez estejamos entrando num momento em que os resultados individuais voltam a ser relevantes

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Uma ideia de research jamais poderá salvar sua alma

4 de agosto de 2022 - 11:15

Venho escrevendo relatórios de research há quase 15 anos, e ainda não aprendi uma lição: a de que não é possível alcançar consolo para os nossos lutos através da explicação

EXILE ON WALL STREET

Más notícias virando boas notícias? Saiba como queda no PIB dos EUA pode beneficiar seus investimentos

3 de agosto de 2022 - 13:14

Investidores enxergaram nesse dado ruim a possibilidade de o Fed reduzir o aperto monetário. Desde então, os índices americanos valorizaram mais de 10%. Mas será que é para ficar animado?

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Dez lições de um fracassado

2 de agosto de 2022 - 13:10

Após escrever um best-seller sobre o sucesso, hoje resolvi falar sobre o fracasso. Confira uma dezena de coisas que muito possivelmente você não vai ouvir por aí

Educação formal

Por que uma certificação ainda vale muito para trabalhar no mercado financeiro

31 de julho de 2022 - 12:15

Longe de mim desmerecer o conhecimento empírico, mas ter um certificado que comprove a sua expertise ainda é fundamental no mundo dos investimentos

EXILE ON WALL STREET

O que é preciso para alcançar os melhores resultados em investimentos

29 de julho de 2022 - 12:55

Os melhores resultados não costumam vir das nossas melhores intenções, mas das melhores leituras de cenário.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Como se não bastasse, a crise hídrica nas bolsas mundiais voltou

28 de julho de 2022 - 12:30

O Ibovespa rompeu a barreira dos 100 mil pontos 8 vezes desde junho, sem sair do lugar, e os investidores estão perdendo dinheiro com tantos pregões que não levam a lugar nenhum

EXILE ON WALL STREET

Como lidar com o desconhecido? Saiba como analisar os cenários no mundo e encontrar oportunidades de investimento

27 de julho de 2022 - 12:32

Minha sugestão é a diversificação de seu portfólio de investimentos e a ampliação do seu horizonte temporal para se apropriar dos diversos prêmios de risco ao longo do tempo

EXILE ON WALL STREET

Será possível retornar à era de ouro dos grandes fundos de ações?

25 de julho de 2022 - 11:47

O jogo está estruturalmente mais difícil, por conta da maior competição, das restrições impostas pelo tamanho e pela menor assimetria de informação

EXILE ON WALL STREET

E o Oscar de melhor fundo no curto prazo vai para…

22 de julho de 2022 - 13:26

Nas crises, o investidor inteligente é aquele que sobrevive. Para isso, deve-se preferir a consistência de bons retornos à raridade de desempenhos excepcionais

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Nasci 300 mil anos atrás, sou quase um bebê

21 de julho de 2022 - 11:03

Somos mais frágeis do que gostaríamos de admitir. Mas, se tomássemos em plena conta essa fragilidade, faltaria confiança para seguirmos adiante

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar