A vida imita a crônica: o dia em que a Suíça virou Brasil
Aconteceu nos últimos dias exatamente o que “nunca” deveria acontecer no mercado de capitais da Suíça: muita instabilidade, parecida com a de mercados emergentes
Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Na semana passada escrevi uma pequena crônica, inventando um banqueiro chamado Noah.
Primeiro, eu não imaginava que receberia (sem exageros) dezenas de e-mails, com mais de 80% deles curtindo o humor ácido que deu vida ao Noah.
Obrigado, mas essa não é a parte mais interessante.
O mais legal é que nesta semana que deixamos para trás, aconteceu EXATAMENTE o que "nunca" deveria acontecer no mercado de capitais da Suíça: muita instabilidade, parecida com a de mercados emergentes.
Queimou a língua, diria minha vó.
Leia Também
Enquanto eu estiver te contando essa história, pense como teria sido a semana do Noah, se ele existisse além dessa coluna.
Dando contornos ao óbvio
Estabilidade de retornos e diversificação são coisas que caminham lado a lado.
Isso vale para uma carteira de ações, e vale para empresas também.
Nem mesmo um investidor que fez pacto com o diabo teria uma carteira composta apenas por OIBR3, COGN3 e IRBR3. O diabo não aguentaria tanto risco.
Da mesma maneira, a estabilidade de uma empresa depende da diversificação de suas fontes de receita.
Uma empresa com mais de uma linha de receitas, por exemplo a Apple, têm muito mais previsibilidade que a média das empresas.
Quando a diversificação de produtos se soma à diversificação geográfica, como no caso da Apple vendendo iPhones, iPads e tudo mais ao redor do mundo inteiro, a coisa fica ainda melhor.
Se uma economia emergente em que a empresa faz negócios está em completo caos econômico, certamente outras regiões estarão na ponta oposta, balanceando a coisa toda.
Se olharmos para as principais empresas da Bolsa brasileira, veremos que isso ocorre apenas parcialmente.
A Vale é a maior empresa do Ibovespa, e de fato, suas receitas provém do mundo inteiro, mas em especial da China.
Depois vem os bancos Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander… são também colossos, com diversas linhas de negócios, mas extremamente concentrados no Brasil.
E por aí vai.
A estabilidade que se espera na Bolsa de um país desenvolvido provém disso: as suas principais representantes tendem a ser empresas globais.
No caso da Suíça, como brincamos na semana passada, são nomes como Nestlé, Novartis e Credit Suisse.
A natureza desses negócios, muito mais geograficamente diversificados, com certeza é um fator poderoso para explicar a diferença de volatilidade que vemos lá e aqui.
Mas obviamente, sabemos que é muito mais do que isso. Como diz o economista Marcos Lisboa, o Brasil não é pobre à toa, isso aqui é um trabalho de profissionais.
Uma semana de Brasil
O que eu disse acima se aplica, digamos, 99% do tempo.
O problema é aquela 1%, que como todos sabemos, é vagabundo…
Na última segunda-feira, o Credit Suisse, que foi alvo do humor ácido de Noah na semana passada, caiu 13,47%.
Depois, caiu 3,5% na terça e 5,95% na quarta.
Neste momento, o maior banco suíço negocia em patamares nominais similares aos de 1994.
Eventos como esse são extremamente raros.
Nos últimos 5 anos, a volatilidade média diária da ação do Credit Suisse foi de aproximadamente 0,05%.
O desvio padrão dos retornos diários foi de aproximadamente 2,08%.
Todos sabemos que o mercado não se comporta como uma distribuição normal de probabilidades (a curva de sino), mas a grande maioria de nós acorda todos os dias esperando que o pregão de hoje seja parecido com o de ontem.
Até que loucuras como essa acontecem.
Quem está investindo com você?
A queda do Credit Suisse não tem nada a ver com qualquer aspecto demográfico, geográfico ou econômico do país em que ele está inserido. Muito pelo contrário.
O problema veio da China.
O Credit estava entre as principais contrapartes da Archegos, um family office (que cuida de grandes fortunas) chinês que simplesmente implodiu ao longo das últimas semanas.
Resumindo uma longa história: extremamente alavancado (uns US$ 10 bilhões em ativos e mais de US$ 50 bilhões em exposição bruta) e com posições em várias ações que o mercado chama de "Hotéis de Hedge Funds" — aqueles nomes em que vários hedge funds grandes possuem posições —, o Archegos foi stopado e recebeu chamadas de margem enormes que não conseguiu fazer frente.
O último fato relevante que eu vi sobre o Credit Suisse falava em "perdas significativas", e os comentários em Bloomberg, Reuters e outros veículos falam de 3 até 5 bilhões de francos suíços. Dinheiro pra caramba.
Como disse meu amigo Ruy Hungria, que também é colunista do Seu Dinheiro, se o Noah tivesse que se explicar aos seus clientes, ele diria algo assim:
"Caros clientes, perdemos 13% hoje. Considerando o desvio padrão das nossas bolsas e a taxa de juros negativa, esperamos recuperar a grana perdida em cerca de 25 anos. Obrigado pela confiança."
Conclusão
Gostamos de pensar em termos objetivos e métricas simples. Médias, desvios padrão, alguns indicadores gráficos… mas a realidade cisma em ser muito mais complexa do que isso.
Mesmo dentro do próprio Credit Suisse, seus principais executivos sequer deviam ter conhecimento do que estava rolando.
Quem dirá os investidores…
Comprar uma ação é um processo que se dá num ambiente de informação EXTREMAMENTE imperfeita.
Não importa o quão boa seja a sua análise, ou o quanto você confie na pessoa que orienta seus investimentos, evite a concentração excessiva, mesmo naquilo que parece seguro.
Existem muitas coisas que sequer sabemos que não sabemos.
Contato
Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões.
Também pode seguir acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan, falamos sobre tecnologia e investimentos.
Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).
Um abraço!
Debandada da B3: quando a onda de saída de empresas da bolsa de valores brasileira vai acabar?
Com OPAs e programas de recompras de ações, o número de empresas e papéis disponíveis na B3 diminuiu muito no último ano. Veja o que leva as empresas a saírem da bolsa, quando esse movimento deve acabar e quais os riscos para o investidor
Medo se espalha por Wall Street depois do relatório de emprego dos EUA e nem a “toda-poderosa” Nvidia conseguiu impedir
A criação de postos de trabalho nos EUA veio bem acima do esperado pelo mercado, o que reduz chances de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro; bolsas saem de alta generalizada para queda em uníssono
Depois do hiato causado pelo shutdown, Payroll de setembro vem acima das expectativas e reduz chances de corte de juros em dezembro
Os Estados Unidos (EUA) criaram 119 mil vagas de emprego em setembro, segundo o relatório de payroll divulgado nesta quinta-feira (20) pelo Departamento do Trabalho
Sem medo de bolha? Nvidia (NVDC34) avança 5% e puxa Wall Street junto após resultados fortes — mas ainda há o que temer
Em pleno feriado da Consciência Negra, as bolsas lá fora vão de vento em poupa após a divulgação dos resultados da Nvidia no terceiro trimestre de 2025
Com R$ 480 milhões em CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai 24% na semana, apesar do aumento de capital bilionário
A companhia vive dias agitados na bolsa de valores, com reação ao balanço do terceiro trimestre, liquidação do Banco Master e aprovação da homologação do aumento de capital
Braskem (BRKM5) salta quase 10%, mas fecha com ganho de apenas 0,6%: o que explica o vai e vem das ações hoje?
Mercado reagiu a duas notícias importantes ao longo do dia, mas perdeu força no final do pregão
SPX reduz fatia na Hapvida (HAPV3) em meio a tombo de quase 50% das ações no ano
Gestora informa venda parcial da posição nas ações e mantém derivativos e operações de aluguel
Dividendos: Banco do Brasil (BBAS3) antecipa pagamento de R$ 261,6 milhões em JCP; descubra quem entra no bolo
Apesar de o BB ter terminado o terceiro trimestre com queda de 60% no lucro líquido ajustado, o banco não está deixando os acionistas passarem fome de proventos
Liquidação do Banco Master respinga no BGR B32 (BGRB11); entenda os impactos da crise no FII dono do “prédio da baleia” na Av. Faria Lima
O Banco Master, inquilino do único ativo presente no portfólio do FII, foi liquidado pelo Banco Central por conta de uma grave crise de liquidez
Janela de emissões de cotas pelos FIIs foi reaberta? O que representa o atual boom de ofertas e como escapar das ciladas
Especialistas da EQI Research, Suno Research e Nord Investimentos explicam como os cotistas podem fugir das armadilhas e aproveitar as oportunidades em meio ao boom das emissões de cotas dos fundos imobiliários
Mesmo com Ibovespa em níveis recordes, gestores ficam mais cautelosos, mostra BTG Pactual
Pesquisa com gestores aponta queda no otimismo, desconforto com valuations e realização de lucros após sequência histórica de altas do mercado brasileiro
Com quase R$ 480 milhões em CDBs do Banco Master, Oncoclínicas (ONCO3) cai mais de 10% na bolsa
As ações da companhia recuaram na bolsa depois de o BC determinar a liquidação extrajudicial do Master e a PF prender Daniel Vorcaro
Hapvida (HAPV3) lidera altas do Ibovespa após tombo da semana passada, mesmo após Safra rebaixar recomendação
Papéis mostram recuperação após desabarem mais de 40% com balanço desastroso no terceiro trimestre, mas onda de revisões de recomendações por analistas continua
Maiores quedas do Ibovespa: Rumo (RAIL3), Raízen (RAIZ4) e Cosan (CSAN3) sofrem na bolsa. O que acontece às empresas de Rubens Ometto?
Trio do grupo Cosan despenca no Ibovespa após balanços fracos e maior pressão sobre a estrutura financeira da Raízen
Os FIIs mais lucrativos do ano: shoppings e agro lideram altas que chegam a 144%
Levantamento mostra que fundos de shoppings e do agronegócio dominaram as maiores valorizações, superando com sobra o desempenho do IFIX
Gestora aposta em ações ‘esquecidas’ do Ibovespa — e faz o mesmo com empresas da Argentina
Logos Capital acumula retorno de quase 100% no ano e está confiante com sua carteira de ações
Ibovespa retoma ganhos com Petrobras (PETR4) e sobe 2% na semana; dólar cai a R$ 5,2973
Na semana, MBRF (MBRF3) liderou os ganhos do Ibovespa com alta de mais de 32%, enquanto Hapvida (HAPV3) foi a ação com pior desempenho da carteira teórica do índice, com tombo de 40%
Depois do balanço devastador da Hapvida (HAPV3) no 3T25, Bradesco BBI entra ‘na onda de revisões’ e corta preço-alvo em quase 50%
Após reduzir o preço-alvo das ações da Hapvida (HAPV3) em quase 50%, o Bradesco BBI mantém recomendação de compra, mas com viés cauteloso, diante de resultados abaixo das expectativas e pressões operacionais para o quarto trimestre
Depois de escapar da falência, Oi (OIBR3) volta a ser negociada na bolsa e chega a subir mais de 20%
Depois de a Justiça reverter a decisão que faliu a Oi atendendo um pedido do Itaú, as ações voltaram a ser negociadas na bolsa depois de 3 pregões de fora da B3
Cogna (COGN3), C&A (CEAB3), Cury (CURY3): Veja as 20 empresas que mais se valorizaram no Ibovespa neste ano
Companhias de setores como educação, construção civil e bancos fazem parte da lista de ações que mais se valorizaram desde o começo do ano