A vida imita a crônica: o dia em que a Suíça virou Brasil
Aconteceu nos últimos dias exatamente o que “nunca” deveria acontecer no mercado de capitais da Suíça: muita instabilidade, parecida com a de mercados emergentes

Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Na semana passada escrevi uma pequena crônica, inventando um banqueiro chamado Noah.
Primeiro, eu não imaginava que receberia (sem exageros) dezenas de e-mails, com mais de 80% deles curtindo o humor ácido que deu vida ao Noah.
Obrigado, mas essa não é a parte mais interessante.
O mais legal é que nesta semana que deixamos para trás, aconteceu EXATAMENTE o que "nunca" deveria acontecer no mercado de capitais da Suíça: muita instabilidade, parecida com a de mercados emergentes.
Queimou a língua, diria minha vó.
Leia Também
É renda fixa, mas é dos EUA: ETF inédito para investir no Tesouro americano com proteção da variação do dólar chega à B3
Ibovespa sobe 1,32% e crava a 2ª maior pontuação da história; Dow e S&P 500 batem recorde
Enquanto eu estiver te contando essa história, pense como teria sido a semana do Noah, se ele existisse além dessa coluna.
Dando contornos ao óbvio
Estabilidade de retornos e diversificação são coisas que caminham lado a lado.
Isso vale para uma carteira de ações, e vale para empresas também.
Nem mesmo um investidor que fez pacto com o diabo teria uma carteira composta apenas por OIBR3, COGN3 e IRBR3. O diabo não aguentaria tanto risco.
Da mesma maneira, a estabilidade de uma empresa depende da diversificação de suas fontes de receita.
Uma empresa com mais de uma linha de receitas, por exemplo a Apple, têm muito mais previsibilidade que a média das empresas.
Quando a diversificação de produtos se soma à diversificação geográfica, como no caso da Apple vendendo iPhones, iPads e tudo mais ao redor do mundo inteiro, a coisa fica ainda melhor.
Se uma economia emergente em que a empresa faz negócios está em completo caos econômico, certamente outras regiões estarão na ponta oposta, balanceando a coisa toda.
Se olharmos para as principais empresas da Bolsa brasileira, veremos que isso ocorre apenas parcialmente.
A Vale é a maior empresa do Ibovespa, e de fato, suas receitas provém do mundo inteiro, mas em especial da China.
Depois vem os bancos Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander… são também colossos, com diversas linhas de negócios, mas extremamente concentrados no Brasil.
E por aí vai.
A estabilidade que se espera na Bolsa de um país desenvolvido provém disso: as suas principais representantes tendem a ser empresas globais.
No caso da Suíça, como brincamos na semana passada, são nomes como Nestlé, Novartis e Credit Suisse.
A natureza desses negócios, muito mais geograficamente diversificados, com certeza é um fator poderoso para explicar a diferença de volatilidade que vemos lá e aqui.
Mas obviamente, sabemos que é muito mais do que isso. Como diz o economista Marcos Lisboa, o Brasil não é pobre à toa, isso aqui é um trabalho de profissionais.
Uma semana de Brasil
O que eu disse acima se aplica, digamos, 99% do tempo.
O problema é aquela 1%, que como todos sabemos, é vagabundo…
Na última segunda-feira, o Credit Suisse, que foi alvo do humor ácido de Noah na semana passada, caiu 13,47%.
Depois, caiu 3,5% na terça e 5,95% na quarta.
Neste momento, o maior banco suíço negocia em patamares nominais similares aos de 1994.
Eventos como esse são extremamente raros.
Nos últimos 5 anos, a volatilidade média diária da ação do Credit Suisse foi de aproximadamente 0,05%.
O desvio padrão dos retornos diários foi de aproximadamente 2,08%.
Todos sabemos que o mercado não se comporta como uma distribuição normal de probabilidades (a curva de sino), mas a grande maioria de nós acorda todos os dias esperando que o pregão de hoje seja parecido com o de ontem.
Até que loucuras como essa acontecem.
Quem está investindo com você?
A queda do Credit Suisse não tem nada a ver com qualquer aspecto demográfico, geográfico ou econômico do país em que ele está inserido. Muito pelo contrário.
O problema veio da China.
O Credit estava entre as principais contrapartes da Archegos, um family office (que cuida de grandes fortunas) chinês que simplesmente implodiu ao longo das últimas semanas.
Resumindo uma longa história: extremamente alavancado (uns US$ 10 bilhões em ativos e mais de US$ 50 bilhões em exposição bruta) e com posições em várias ações que o mercado chama de "Hotéis de Hedge Funds" — aqueles nomes em que vários hedge funds grandes possuem posições —, o Archegos foi stopado e recebeu chamadas de margem enormes que não conseguiu fazer frente.
O último fato relevante que eu vi sobre o Credit Suisse falava em "perdas significativas", e os comentários em Bloomberg, Reuters e outros veículos falam de 3 até 5 bilhões de francos suíços. Dinheiro pra caramba.
Como disse meu amigo Ruy Hungria, que também é colunista do Seu Dinheiro, se o Noah tivesse que se explicar aos seus clientes, ele diria algo assim:
"Caros clientes, perdemos 13% hoje. Considerando o desvio padrão das nossas bolsas e a taxa de juros negativa, esperamos recuperar a grana perdida em cerca de 25 anos. Obrigado pela confiança."
Conclusão
Gostamos de pensar em termos objetivos e métricas simples. Médias, desvios padrão, alguns indicadores gráficos… mas a realidade cisma em ser muito mais complexa do que isso.
Mesmo dentro do próprio Credit Suisse, seus principais executivos sequer deviam ter conhecimento do que estava rolando.
Quem dirá os investidores…
Comprar uma ação é um processo que se dá num ambiente de informação EXTREMAMENTE imperfeita.
Não importa o quão boa seja a sua análise, ou o quanto você confie na pessoa que orienta seus investimentos, evite a concentração excessiva, mesmo naquilo que parece seguro.
Existem muitas coisas que sequer sabemos que não sabemos.
Contato
Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões.
Também pode seguir acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan, falamos sobre tecnologia e investimentos.
Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).
Um abraço!
Não é uma guerra comercial, é uma guerra geopolítica: CEO da AZ Quest diz o que a estratégia de Trump significa para o Brasil e seus ativos
Walter Maciel avalia que as medidas do presidente norte-americano vão além da disputa tarifária — e explica como os brasileiros devem se posicionar diante do novo cenário
É hora de voltar para as ações brasileiras: expectativa de queda dos juros leva BTG a recomendar saída gradual da renda fixa
Cenário se alinha a favor do aumento de risco, com queda da atividade, melhora da inflação e enfraquecimento do dólar
Dólar e bolsa sobem no acumulado de uma semana agitada; veja as maiores altas e baixas entre as ações
Últimos dias foram marcados pela tensão entre EUA e Brasil e também pela fala de Jerome Powell, do BC norte-americano, sobre a tendência para os juros por lá
Rumo ao Novo Mercado: Acionistas da Copel (CPLE6) aprovam a migração para nível elevado de governança na B3 e a unificação de ações
Em fato relevante enviado à CVM, a companhia dará prosseguimento às etapas necessárias para a efetivação da mudança
“Não acreditamos que seremos bem-sucedidos investindo em Nvidia”, diz Squadra, que aposta nestas ações brasileiras
Em carta semestral, a gestora explica as principais teses de investimento e também relata alguns erros pelo caminho
Bolsas disparam com Powell e Ibovespa sobe 2,57%; saiba o que agradou tanto os investidores
O presidente do Fed deu a declaração mais contundente até agora com relação ao corte de juros e levou o dólar à vista a cair 1% por aqui
Rogério Xavier revela o ponto decisivo que pode destravar potencial para as ações no Brasil — e conta qual é a aposta da SPX para ‘fugir’ do dólar
Na avaliação do sócio da SPX, se o Brasil tomar as decisões certas, o jogo pode virar para o mercado de ações local
Sequóia III Renda Imobiliária (SEQR11) consegue inquilino para imóvel vago há mais de um ano, mas cotas caem
O galpão presente no portfólio do FII está localizado na Penha, no Rio de Janeiro, e foi construído sob medida para a operação da Atento, empresa de atendimento ao cliente
Bolsa brasileira pode saltar 30% até o fim de 2025, mas sem rali de fim de ano, afirma André Lion. Essas são as 5 ações favoritas da Ibiuna para investir agora
Em entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro, o sócio da Ibiuna abriu quais são as grandes apostas da gestora para o segundo semestre e revelou o que poderia atrapalhar a boa toada da bolsa
Cinco bancos perdem juntos R$ 42 bilhões em valor de mercado — e estrela da bolsa puxa a fila
A terça-feira (19) foi marcada por fortes perdas na bolsa brasileira diante do aumento das tensões entre Estados Unidos e o Brasil
As cinco ações do Itaú BBA para lucrar: de Sabesp (SBSP3) a Eletrobras (ELET3), confira as escolhidas após a temporada de resultados
Banco destaca empresas que superaram as expectativas no segundo trimestre em meio a um cenário desafiador para o Ibovespa
Dólar abaixo de R$ 5? Como a vitória de Trump na guerra comercial pode ser positiva para o Brasil
Guilherme Abbud, CEO e CIO da Persevera Asset, fala sobre os motivos para ter otimismo com os ativos de risco no Touros e Ursos desta semana
Exclusivo: A nova aposta da Kinea para os próximos 100 anos — e como investir como a gestora
A Kinea Investimentos acaba de revelar sua nova aposta para o próximo século: o urânio e a energia nuclear. Entenda a tese de investimento
Entra Cury (CURY3), sai São Martinho (SMTO3): bolsa divulga segunda prévia do Ibovespa
Na segunda prévia, a Cury fez sua estreia com 0,210% de peso para o período de setembro a dezembro de 2025, enquanto a São Martinho se despede do índice
Petrobras (PETR4), Gerdau (GGBR4) e outras 3 empresas pagam dividendos nesta semana; saiba quem recebe
Cinco companhias listadas no Ibovespa (IBOV) entregam dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) aos acionistas na terceira semana de agosto
Howard Marks zera Petrobras e aposta na argentina YPF — mas ainda segura quatro ações brasileiras
A saída da petroleira estatal marca mais um corte de exposição brasileira, apesar do reforço em Itaú e JBS
Raízen (RAIZ4) e Braskem (BRKM5) derretem mais de 10% cada: o que movimentou o Ibovespa na semana
A Bolsa brasileira teve uma ligeira alta de 0,3% em meio a novos sinais de desaceleração econômica doméstica; o corte de juros está próximo?
Ficou barata demais?: Azul (AZUL4) leva puxão de orelha da B3 por ação abaixo de R$ 1; entenda
Em comunicado, a companhia aérea informou que tem até 4 de fevereiro de 2026 para resolver o problema
Nubank dispara 9% em NY após entregar rentabilidade maior que a do Itaú no 2T25 — mas recomendação é neutra, por quê?
Analistas veem limitações na capacidade de valorização dos papéis diante de algumas barreiras de crescimento para o banco digital
TRXF11 renova apetite por aquisições: FII adiciona mais imóveis no portfólio por R$ 98 milhões — e leva junto um inquilino de peso
Com a transação, o fundo imobiliário passa a ter 72 imóveis e um valor total investido de mais de R$ 3,9 bilhões em ativos