O terceiro trimestre de 2020 aproxima-se do fim e a sensação é de que cada trimestre valeu por pelo menos um ano.
Além de terem parecido durar mais do que realmente duraram, cada um dos trimestres completados até o momento em 2020 teve características muito distintas, pelo menos no âmbito dos mercados financeiros.
O primeiro trimestre chegou ao fim em meio aos estragos provocados pela pandemia do novo coronavírus; o segundo trimestre, por sua vez, viu uma recuperação sem precedentes dos ativos financeiros sustentada por uma abundante injeção de liquidez por parte dos bancos centrais; já o terceiro trimestre foi marcado por intensa volatilidade em meio às muitas incertezas destes tempos de pandemia.
Novas medidas restritivas na Europa inspiram cautela
E enquanto o número de mortes confirmadas por covid-19 no mundo aproxima-se de 1 milhão – sendo mais de 140 mil apenas no Brasil –, os investidores preparam-se para mais uma semana de cautela e volatilidade à medida em que os preços dos ativos são sistematicamente reavaliados na busca por possíveis distorções, tanto para cima e quanto para baixo.
Os investidores estão particularmente preocupados com a adoção de novas medidas restritivas na Europa em meio ao aumento de casos de covid-19 no Velho Continente e seu impacto sobre uma ainda incipiente retomada econômica. Para piorar, democratas e republicanos parecem incapazes de forjar um acordo em torno de um novo pacote fiscal antes das eleições de novembro.
Já se vai meio ano desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deu à proliferação do novo coronavírus o status de pandemia e, apesar de tratamentos e remédios terem tornado a doença menos mortífera que no início e de diversas vacinas estarem em fase de testes pelo mundo, o principal temor dos investidores no momento é de que a covid-19 continue representando uma grave ameaça à retomada econômica em 2021.
Incerteza + liquidez = volatilidade
Tamanha incerteza em meio a tanta liquidez nos mercados financeiros é justamente o que está por trás da vertiginosa volatilidade observada de agosto para cá. Até aqui, porém, apesar do ajuste nos preços de algumas classes de ativos de risco, a cautela tem-se traduzido em apreciação do dólar ante a maioria das moedas.
Na semana passada, o Ibovespa recuou 1,31% no acumulado da semana. No mesmo período, o dólar avançou 3,3% contra o real. Foram, respectivamente, a quarta queda do Ibovespa e a terceira alta do dólar semanais seguidas.
Diante disto, é natural que os investidores analisem com atenção redobrada os indicadores de atividade econômica, renda, consumo e emprego. E a semana que se inicia vai trazer dados sobre a economia brasileira para todos os gostos.
Veja a seguir quais indicadores e eventos devem agitar a semana no Brasil
Segunda-feira: só pra variar, a semana começa com o boletim Focus e as expectativas dos participantes do mercado para o PIB, a taxa Selic, a inflação, a balança comercial a taxa de câmbio y outras cositas más; a seguir, a FGV divulga sua sondagem sobre o setor industrial referente a setembro.
Terça-feira: este movimentado dia tem início com a FGV divulgando os dados do IGP-M de setembro; logo em seguida, o IBGE dá a conhecer os números da inflação ao produtor (IPP) em agosto; às 11h30, o Tesouro Nacional promove leilão de NTN-B; mais tarde, o Tesouro publica resultado primário do governo em agosto; na parte da tarde, os dados do Caged permitirão saber o saldo da conta de contratações e demissões no mês passado.
Quarta-feira: enquanto o IBGE informa os números da PNAD Contínua, o Banco Central divulga o resultado da política fiscal em agosto e os números semanais de fluxo cambial.
Quinta-feira: logo cedo, a FGV informa os números de sua pesquisa sobre a confiança do empresariado; o dia de indicadores locais tem sequência com o índice dos gerentes de compras (PMI) só setor industrial levantado pelo HSBC; às 11h30, o Tesouro promove leilão tradicional de LTN e NTN-F; às 15h, o governo informa os números da balança comercial brasileira referentes a setembro.
Sexta-feira: a semana de indicadores se encerra com o índice de preços ao consumidor calculado pela Fipe em setembro e com os dados do IBGE sobre a produção industrial brasileira em agosto.
Leitura final do PIB dos EUA no 2º trimestre é destaque no exterior
Não é só no Brasil que a agenda de indicadores estará cheia de gatilhos capazes de fazer preço nos mercados financeiros.
Se na semana passada a atenção dos investidores concentrou-se nas falas dos banqueiros centrais, especialmente nos Estados Unidos, a semana que entra começará fraca, mas ganhará ritmo com o passar dos dias e permitirá novas avaliações sobre o ritmo da recuperação econômica global.
O destaque no exterior fica por conta da terceira e última estimativa para o produto interno bruto (PIB) dos Estados Unidos no segundo trimestre. A expectativa é de que o tombo de 32% da economia norte-americana na comparação anual seja confirmado.
Veja a seguir os principais indicadores e eventos previstos para esta semana no exterior
Segunda-feira: a semana começa com o Fed de Dallas divulgando sua sondagem sobre o setor industrial.
Terça-feira: o dia tem início com os indicadores de confiança do consumidor, da indústria e do setor de serviços na zona do euro; no decorrer do dia, os EUA trazem dados sobre os estoques no atacado no mês passado e a confiança do consumidor norte-americano deste mês; à noite, a China anuncia o PMI do setor industrial de setembro.
Quarta-feira: logo cedo, os dados sobre a inflação ao consumidor na zona do euro em setembro podem trazer movimentação no exterior; nos EUA, além dos dados sobre o mercado de trabalho no setor privado (ADP), o governo norte-americano divulga a terceira e última estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) do país referente ao segundo trimestre deste ano.
Quinta-feira: a zona do euro agita a cena no início do dia com a taxa de desemprego, o índice de preços ao produtor e os índices de gerentes de compra medidos pela Markit dentro da união monetária; nos EUA, serão divulgados os números sobre renda pessoal e gastos com consumo, além dos índices PMI e ISM sobre a atividade industrial em setembro; na China, o feriado nacional pelos 71 anos da Revolução Popular mantém a bolsa de valores de Xangai fechada até 8 de outubro.
Sexta-feira: a semana internacional termina com a divulgação do chamado payroll, o relatório oficial que detalha a geração de postos de trabalho e a taxa de desemprego nos EUA; também virão à tona nos EUA os dados de encomendas à indústria e o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan.