#SomosTodosDesqualificados
Quer diversificar sua carteira com um fundo que investe 100% no exterior? E que tal um veículo que compra empresas que não são listadas em Bolsa, os fundos de private equity? Essas duas categorias não estarão disponíveis para o Neivaldo, que tem menos de R$ 1 milhão investidos.
Quando comecei na série Os Melhores Fundos de Investimento , em 2016, li o depoimento de um assinante que me marcou pela fúria. O remetente era o Neivaldo, que iniciava sua jornada de investidor. “Para mim isso não faz sentido, não tem lógica. Na hora de aplicar no fundo, o cliente recebe o nome de ‘desqualificado’”, relatou em seu e-mail. Por “desqualificado”, Neivaldo se referia à classificação estabelecida pela CVM para delimitar o acesso aos fundos de investimento.
Aos olhos do regulador, na verdade, ele não era um “desqualificado”, mas um investidor que fazia parte do chamado Público Geral (denominação original da Instrução CVM 539). Para tornar-se um Investidor Qualificado, Neivaldo precisaria ter a partir de R$ 1 milhão em investimentos financeiros ou ser aprovado em um dos exames de certificação reconhecidos pela CVM. Mais adiante estão os Investidores Profissionais, aqueles que dispõem de mais de R$ 10 milhões ou são analistas e/ou consultores reconhecidos pelo regulador.
Vou dar um exemplo de como essa classificação funciona. Quer diversificar sua carteira com um fundo que investe 100% no exterior? E que tal um veículo que compra empresas que não são listadas em Bolsa, os fundos de private equity? Essas duas categorias não estarão disponíveis para o Neivaldo, que tem menos de R$ 1 milhão investidos.
O nosso assinante está coberto de razão em ficar furioso. Na prática, um milionário que não entende nada de investimentos pode ter acesso a produtos considerados mais arriscados, enquanto um estudioso do mercado ficará de fora de boas oportunidades por ainda não ter alcançado seu primeiro milhão. Salvo raras exceções, todo milionário começou “desqualificado”.
A regra atual foi definida em 2014, quando a CVM fez uma audiência pública para ouvir entidades do mercado a respeito da regulamentação da categoria de investidores qualificados e profissionais. Na época, não havia grande disseminação de informações sobre investimento; era grande a assimetria. A fonte primária do brasileiro era o gerente do banco.
Mas hoje, os tempos definitivamente são outros — posso constatar isso inclusive pela complexidade das perguntas dos nossos milhares de assinantes que chegam aqui no e-mail da série Os Melhores Fundos de Investimento. De 2016, quando a série começou, para 2020, houve um salto de conhecimento visível, com o qual me orgulho de ter colaborado. Temos visto de forma mais ampla uma revolução no mundo dos investimentos.
Leia Também
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
A própria CVM reconhece que mudanças precisam ser feitas. E a boa notícia nesse sentido é que o regulador está consultando as pessoas físicas a respeito de uma flexibilização do acesso aos chamados investimentos alternativos.
Nessa categoria estão dois mercados: o primeiro é o de securitização, composto basicamente de crédito estruturado. É o caso dos CRIs, CRAs e FIDCs. O segundo se refere aos Fundos de Investimento em Participações (FIPs), ou seja, produtos de private equity e venture capital que compram participação em empresas não listadas em Bolsa. Ambos não podem ser acessados pelo público geral (ou os “desqualificados”, como diria o Neivaldo).
Especificamente sobre os FIPs, sempre me intrigou a restrição do acesso ao investidor de varejo.
Talvez o motivo da limitação deva-se ao fato de serem ilíquidos... Isso porque, nesses instrumentos, o investidor não pode resgatar seu capital ao longo de 7 a 12 anos (prazo que condiz com o tempo de maturação dos investimentos em empresas). Mas acho que não, já que, no caso dos COEs, instrumentos amplamente oferecidos para o varejo, o investidor já tem de se comprometer com prazos longos para resgate.
Talvez sejam os riscos... Mas também não faz sentido, afinal, o pequeno investidor tem acesso individualmente a alternativas muito mais arriscadas, como se alavancar no mercado futuro ou vender opções a descoberto.
Talvez seja pelo baixo retorno... Não, com certeza não é por isso. Os FIPs têm se mostrado um excelente investimento. Os fundos da classe tiveram uma taxa interna de retorno média de 22% ao ano em dólar entre 1982 e 2010, de acordo com este artigo, fruto de uma parceria entre o Insper, a Spectra Investimentos e a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP). O primeiro quartil de performance ficou entre 31% e 159% ao ano em dólar. Sendo este último um caso extremo, pois significa uma multiplicação de capital de “apenas” 24 vezes.
Só me resta uma alternativa em mente: a assimetria de informação. Mas considerando o quanto o mercado de fundos mudou nos últimos seis anos, não vejo motivo para que o mercado de alternativos não se adapte também. Melhorar comunicação, fazer cartas, vídeos, lives e materiais explicativos das estratégias... Enfim, as possibilidades são infinitas.
O fato é que pelo menos uma coisa podemos afirmar: a pessoa física não deveria ser excluída desse tipo de oportunidade. Enquanto o investidor de altíssimo patrimônio, por já possuir um razoável capital acumulado, tende a buscar preservação de capital e manutenção do poder de compra, o pequeno investidor deseja multiplicação de capital — ele quer chegar ao primeiro milhão.
Nem que o público geral seja limitado a 10% de seu patrimônio nos FIPs (até por serem um investimento pouco líquido). Melhor ainda, pode ser 1/12 (8,33%) de tudo que o investidor guarda no ano. Se você consegue juntar R$ 1 mil por mês, basta separar um mês do ano e colocar esse dinheiro em um FIP disponível.
Vamos supor que todos os FIPs em que você entrar e todos os reinvestimentos que fizer da devolução do capital investido vão render em torno de 20% ao ano em reais — o estudo dava uma média de 22% em dólar, portanto estamos sendo mais conservadores. Ao longo de 20 anos, você teria acumulado R$ 224 mil aplicando apenas R$ 1 mil por ano. Se decidir fazer uma reserva de capital para quando seu filho ou filha recém-nascido(a) alcançar os 25 anos, ele(a) poderia começar a vida adulta com R$ 566 mil em investimentos.
Aqui na série Os Melhores Fundos de Investimento acreditamos na educação financeira aliada à análise de qualidade, em vez da política de “se é complexo, só deixo quem tem dinheiro acessar”. Defendemos que pequenos e grandes investidores tenham acesso às mesmas boas oportunidades. A nossa parte estamos fazendo, desbravando de antemão o mercado de FIPs para trazer boas oportunidades aos nossos assinantes.
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
