O investidor inteligente, versão renda fixa — a penúltima peça do quebra-cabeças
Um ponto que o argumento “a renda fixa morreu” negligencia é que a queda do juro curto permite o desenvolvimento de vários outros instrumentos de renda fixa
A cabeça é um bicho estranho. Lendo o título deste Day One, se você é mais ou menos como eu, não se interessou pela “penúltima peça”. Se formos parecidos (espero que você não seja um escândalo tão grande como eu sou), o leitor quer mesmo saber qual é a última, não a penúltima.
Calma. Uma coisa de cada vez. A última ainda não posso contar. O quebra-cabeças termina mesmo na próxima segunda-feira, logo pela manhã. Marque na sua agenda. Na semana que vem, Empiricus e Vitreo fazem seu evento anual, o primeiro conjunto e, arrisco dizer, um marco na história do mercado de capitais brasileiro. Finalmente, teremos uma alternativa a tudo que está por aí.
Teremos a presença do ministro Paulo Guedes, de André Jakurski, Rogério Xavier, Eduardo Giannetti, André Ribeiro, Florian Bartunek, Maurício Bittencourt, Sérgio Rial, Gilson Filkenstein, Abílio Diniz, Fernanda Torres, Amyr Klink, Luiz Felipe Pondé, José Roberto Guimarães e outros (sem nenhum demérito a “outros”, de verdade). Será uma presença ausente, por ser virtual. Mas estamos mesmo imbuídos de um espírito, de uma motivação, do propósito de mudar a realidade do investidor pessoa física brasileiro, transformando famílias pela via da educação financeira de qualidade, sem conflitos de interesse ou intermediários mais preocupados consigo mesmo.
Além das lives sequenciais formidáveis, cujo cronograma será disponibilizado em detalhes nas próximas horas, no máximo amanhã, temos uma grande surpresa para a segunda-feira. Essa fecha o tal quebra-cabeça. Aguardem.
Por enquanto, a penúltima peça. É dela que quero falar hoje.
Querem me convencer de que a renda fixa morreu no Brasil. Sou bicho meio teimoso e de difícil convencimento. Confesso, porém: se, com isso, querem dizer “a renda fixa convencional, ortodoxa, pós-fixada, sem volatilidade e com liquidez diária, assumindo já superada a questão da reserva de emergência”, daí concordo. Ganhou. Mas, falando sério, faltou adjetivar a parada, né, meu amigo Charlie Brown?
Leia Também
Há uma grande tendência secular, estrutural e, entendo, definitiva de redução brutal das taxas de juro no Brasil. Nosso grande produto era o CDI. Por que você iria diversificar seus investimentos e correr riscos se, sem fazer nada, ganhava 20%, 15%, 10% ao ano? Era quase um luxo e uma aventura prestar-se a isso. Agora, a coisa mudou. E não voltaremos ao cenário anterior, a não ser que optemos por explodir o país mediante o abandono do teto de gastos sem a adoção de outra efetiva âncora fiscal, no que eu não acredito.
Não quero dizer que a Selic não vai subir sob hipótese alguma. É provável que tenhamos elevação da nossa taxa básica de juro, mas será algo para 3%, 4%, talvez 5%. Não muda a essência da discussão.
Isso é, de fato, revolucionário. Juntamos isso com a maior tecnologia, a facilidade de acesso a plataformas de investimentos e a maior educação financeira e entendemos o tal financial deepening, tão intenso e rápido. Levamos cem anos para colocar 600 mil pessoas na Bolsa. Em pouco mais de dois anos, colocamos outros 2,4 milhões. Números grandes aqui só para facilitar o argumento, sem nos perdermos em filigranas.
Não dá mais para ganhar dinheiro no CDI. Acabou, já era. E não volta. Mudança estrutural e definitiva.
Falando em grandes dinâmicas de longo prazo, o que estamos vendo aqui não é muito diferente, guardadas as devidas proporções evidentemente, ao observado nos EUA pós-era Volcker. Depois das subidas expressivas dos juros por conta dos choques do petróleo, reduzimos as taxas para estimular a economia. O dinheiro rapidamente saiu da renda fixa tradicional, que não rendia mais nada, e, num primeiro momento, demos origem à era dos hedge funds, dos gestores consagrados, passando, também, claro pela gestão ativa em ações. O segundo momento foi a explosão vertiginosa dos ETFs e da gestão passiva. E, agora, temos a migração em direção a ilíquidos e alternativos.
É o mesmo script aqui agora. Com 20 anos de atraso, mas tudo bem. Sendo bem rigoroso, vejo uma pequena diferença nesse paralelo, que não muda o quadro geral. Seguindo a cronologia americana, teríamos à frente anos dourados para nossos hedge funds, basicamente os gestores macro. Se você for falar com private bankings tradicional ou grandes alocadores de recursos, provavelmente vai ouvir argumento nessa direção, sobre a necessidade de diversificar da renda fixa tradicional para abordagens multimercados. Eu, Felipe, tenho uma opinião muito particular a esse respeito.
Acho a turma macro no Brasil, no geral, muito competente em gerar retornos, aqui dentro, em juro e câmbio. Acontece que, como temos falado, boa parte desse jogo no juro acabou e o câmbio é sempre difícil. Essa turma vai ter que fazer equities e internacional — aí o jogo é outro. A verdade é que, com raras exceções, os times de ações dentro das grandes gestoras, ou mesmo os grandes gestores macro individualmente, não são caras do mundo de equities. É outra natureza. Além disso, depois de terem ficado muito grandes, as assets acabam tendo que ir lá pra fora, onde o campeonato é de outra ordem, com suas próprias particularidades e uma competição ainda mais brutal. Em alguns casos, o cotista acaba financiando a aventura empreendedora do gestor, que decide explorar mares nunca dantes navegados, num mercantilismo às avessas, em que a colônia decide explorar os mercados das metrópoles.
Feita essa ressalva, a dinâmica deve ser a mesma. Uma multiplicação do mercado de ações no Brasil (em número de empresas, em CPFs na B3, em número de fundos, em follow-ons, em volume transacionado e em valorização das companhias), uma maior penetração de ativos internacionais nas carteiras e uma caminhada em direção a ilíquidos e alternativos. Esse é o filme de longo prazo, olhando em perspectiva, com o zoom out do Google Maps.
Um ponto, porém, que o argumento “a renda fixa morreu” negligencia é que a queda do juro curto (da Selic em grande medida) permite o desenvolvimento de vários outros instrumentos de renda fixa, como o financiamento privado local, com uma expansão importante do crédito privado, e a exploração de títulos de prazo mais longo, que ainda pagam juros bastante altos.
Essa, inclusive, me parece uma oportunidade bacana agora. Há um argumento de que a Bolsa está muito mais atrativa agora que os juros caíram. Não chego a dizer que ele é falso, mas deveria importar para os valuations das ações o juro longo — afinal, ações são ativos de duration (prazo médio) longo. Em outras palavras, difícil termos uma valorização muito grande da renda variável, com permanência ou até aumento dos juros longos.
Em sua última carta aos cotistas, a gestora Persevera trouxe uma análise muito interessante sobre quanto o mercado superestima a trajetória dos juros futuros. Compactuo fortemente com a análise.
A argumentação se apoia fundamentalmente em três pilares:
- A expectativa do mercado de que a inflação deve voltar a 4,5% parece excessiva. O Brasil, e o mundo em grande medida, vive um problema de falta de crescimento e inflação, não o contrário. Sucessivamente, temos nos frustrado com a dinâmica de crescimento brasileiro nos últimos anos. Sobre o tema da inflação, vale ler artigo recente de Carlos Kawall no Valor, de título “O Choque, o IGP e o IPCA”.
- O cenário fiscal pode ser um pouco mais benigno do que os atuais prêmios de risco sugerem. A pandemia, claro, piorou a situação fiscal brasileira e do mundo. O esforço keynesiano encontra precedentes somente em períodos de guerra. Ao mesmo tempo, todos devem conviver com taxas de juro muito baixas e isso significa mais tempo para ajustar a dinâmica da dívida. Uma coisa é ter 60% de dívida/PIB com essa dívida rodando a 15% ao ano. Outra é ter 97% de dívida/PIB, com juro médio de 5% (ou algo por aí). Teríamos ainda espaço para uma discussão mais técnica sobre a necessidade de se falar em dívida líquida, não bruta, mas aí é outra história.
- A famosa taxa real neutra, aquela abstração típica dos economistas, caiu bastante, tanto no Brasil quanto no mundo. Há dinâmicas estruturais de tecnologia e demografia empurrando as taxas de juro para baixo. Fatores elementares como a reforma da Previdência e o teto de gastos também flertam com essa dinâmica. Claro que podemos reclamar da velocidade e da abrangência das reformas, mas parece inegável o processo de normalização da economia brasileira nos últimos anos quando olhamos friamente.
Essa é apenas uma das formas de se explorar o mercado de juros. No final, ele é muito mais plural e rico do que o CDI ou a Selic.
Estou muito feliz em anunciar que agora você pode comprar Tesouro Direto também na Vitreo. É mais uma peça no nosso quebra-cabeça. O mais interessante é que você pode fazê-lo de forma inteligente e lucrativa, por meio do Tesouro 3.0, a poupança do futuro. Mais retorno, com baixo risco.
O investidor pode se sofisticar bastante, mesmo dentro da renda fixa. O mundo é muito mais interessante do que a dicotomia Ibovespa x CDI. Seja muito bem-vindo à indústria 3.0. Agora você tem a opção de escolher. Agora, só volto a escrever na segunda-feira. Daí te conto a última…
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.
A temporada de balanços já começa quente: confira o calendário completo e tudo que mexe com os mercados hoje
Liberamos o cronograma completo dos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados nesta semana
CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas
Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas
Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD
A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais
O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje
Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)
Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell