Dr. Jekyll and Mr. Hyde: o estranho descolamento entre fundamentos e os preços no mercado
A ação das autoridades monetárias se parece com o elixir do Dr. Jekyll, separando as personalidades do mercado. De um lado, o fundamento, do outro, os preços dos ativos
Você já leu O médico e o monstro? Caso afirmativo, deve se lembrar bem da história. O clássico britânico de Robert Louis Stevenson, publicado em 1889, narra a descoberta, pelo Dr. Jekyll, de um elixir capaz de separar a personalidade boa e má de um dado indivíduo: uma cura para os vícios humanos.
O que no início foi a solução de diversos problemas para Jekyll, que com a poção conseguia segregar só as parcelas virtuosas de si de modo a expô-las ao mundo e aproveitar certa integridade moral, acabou se tornando um pesadelo quando ele perdeu o controle do efeito de seu suposto remédio.
Acontece que, por mais que o médico separasse sua bondade, ele não conseguia excluir sua própria maldade. A mesma permanece, não era excluída. Ninguém é inteiramente bom ou mau. Os leitores já sabem que sou contra tal tipo de determinismo maniqueísta.
Com o tempo, a parte má de Jekyll passou a, periodicamente, tomar conta do corpo do doutor, transformando-o em uma criatura sem quaisquer escrúpulos, o Senhor Hyde.
A obra acabou se eternizando na história ocidental por diversas razões (um belo romance, afinal). Curiosamente, os escritos demonstram uma representação do fenômeno psicológico de múltiplas personalidades (ou bipolaridade, no caso), quando mais de uma personalidade vive em uma só pessoa, cada uma delas muito distintas entre si.
No final do dia, contudo, tanto Jekyll e Hyde eram apenas duas facetas de uma só pessoa. Para a completude definitiva, ambas as parcelas devem existir. O todo sem as partes não é o todo e as partes sem estarem junto não verificam função per se.
Leia Também
Por mais que em minhas tradicionais alegorias neste espaço já tenha trazido a mesma ideia para tratarmos de portfólios inteiros, me debrucei sobre outra temática.
Há alguns dias, em um call com colegas de trabalho, brinquei que as autoridades monetárias estariam funcionando como o elixir do Dr. Jekyll, separando as personalidades do mercado. De um lado, o fundamento, do outro, os preços dos ativos.
Duas coisas têm puxado as bolsas americanas: i) a injeção de liquidez global; e ii) a composição dos índices, predominantemente dotada de empresas de tecnologia ou outros setores menos afetados. Tais fatores distorcem os índices e fazem com que uma onda de otimismo potencialmente artificial se disperse ao redor do mundo.
Enfaticamente, conseguimos ver claramente o aprofundamento do movimento de ações precificando o crescimento ao invés do fundamento estrito. Note abaixo como desde o pós 2008 aprofundamos o diferencial entre os dois.
Assim, representamos essa migração profunda por busca de prêmio via growth ao invés de valor. Em consequência, nasce uma nítida distorção entre as duas partes, quando as duas deveriam convergir em horizontes dilatados de tempo.
Naturalmente, mercados emergentes se beneficiam do movimento. Bolsas nos mercados desenvolvidos começam a voltar a subir sem parar e os agentes, cedo ou tarde, percebem que existe um descolamento muito contundente entre fundamento e preço.
Quanto mais sobe, menos o potencial de retorno e menor a atratividade. Fuga para mais risco, ou menos na margem, é inevitável. O famoso TINA em "there is no alternative”.
Um dos mercados mais arriscados é o de países emergentes. Se um investidor gringo tem uma alocação de 0,1% em Brasil, por exemplo, e a injeção de liquidez global pelas autoridades monetárias o faz elevar para 0,2% tal alocação, temos um aumento de 100%.
Os locais, poluídos com sentimento imaturo do investidor de varejo (ao menos no Brasil), passam a vivenciar do FOMO, ou “fear of missing out”. A consequência é a alta que estamos vendo.
Trata-se de uma dança nada coordenada entre o mercado financeiro e a economia real. O descolamento entre Wall Street e Main Street nunca foi tão grande. Aliás, segundo o banco suíço Credit Suisse, os valuations estão extremamente esticados com P/E (preço sobre lucro) a 21,5x para os próximos doze meses.
Comparado a fevereiro, o mesmo múltiplo estava em 19x, já se aproximando dos extremos vistos no final da década de 90. A evidência empírica aponta para múltiplos mais altos geralmente precedem retornos futuros mais baixos. Para ilustrar, um P/E acima de 21x é consistente com o histórico de retornos próximos a zero na próxima década.
O problema? Isso acontece enquanto o mundo entra na pior recessão desde 1929. O quadro fiscal dos países emergentes é comparável com um pós guerra (relação dívida/PIB mais elevada desde o final da Segunda Guerra Mundial), os níveis de emprego não são convidativos (pelo contrário, aliás) e o impacto na renda e no comportamento dos consumidores ainda é imprevisível.
A visibilidade melhorou na margem, mas ainda tudo é muito opaco, e a sensibilidade global as variações marginais dos sistemas monetários está cada vez mais estressada.
É um mundo curioso esse o que vivemos. É um erro observá-lo com suas partes apartadas. Assim, como Dr. Jekyll não consegue separar de si o seu Sr. Hyde, o Fed não deveria conseguir, em horizontes dilatados de tempo, manter afastado o fundamento do preço de tela. Alguma hora, as coisas convergem.
Existe como ainda assim investir em risco com responsabilidade? Claro, com certeza existe. A resposta está na alocação de recursos, não em uma ou outra posição específica. Na Empiricus, nosso best seller, a série Palavra do Estrategista, fica justamente nisso.
Nela, Felipe Miranda, estrategista-chefe e sócio fundador, se debruça periodicamente nas melhores ideias de investimento para os mais diversos perfis de investidores.
Convido-os a dar uma olhada com responsabilidade em nossos materiais, de modo a fugirmos dos aparentes truísmos espalhados por financistas mais desatentos do mercado.
Maiores quedas e altas do Ibovespa na semana: com cenário eleitoral e Copom ‘jogando contra’, índice caiu 1,4%; confira os destaques
Com Copom firme e incertezas políticas no horizonte, investidores reduziram risco e pressionaram o Ibovespa; Brava (BRAV3) é maior alta, enquanto Direcional (DIRR3) lidera perdas
Nem o ‘Pacman de FIIs’, nem o faminto TRXF11, o fundo imobiliário que mais cresceu em 2025 foi outro gigante do mercado; confira o ranking
Na pesquisa, que foi realizada com base em dados patrimoniais divulgados pelos FIIs, o fundo vencedor é um dos maiores nomes do segmento de papel
De olho na alavancagem, FIIs da TRX negociam venda de nove imóveis por R$ 672 milhões; confira os detalhes da operação
Segundo comunicado divulgado ao mercado, os ativos estão locados para grandes redes do varejo alimentar
“Candidatura de Tarcísio não é projeto enterrado”: Ibovespa sobe e dólar fecha estável em R$ 5,5237
Declaração do presidente nacional do PP, e um dos líderes do Centrão, senador Ciro Nogueira (PI), ajuda a impulsionar os ganhos da bolsa brasileira nesta quinta-feira (18)
‘Se eleição for à direita, é bolsa a 200 mil pontos para mais’, diz Felipe Miranda, CEO da Empiricus
CEO da Empiricus Research fala em podcast sobre suas perspectivas para a bolsa de valores e potenciais candidatos à presidência para eleições do próximo ano.
Onde estão as melhores oportunidades no mercado de FIIs em 2026? Gestores respondem
Segundo um levantamento do BTG Pactual com 41 gestoras de FIIs, a expectativa é que o próximo ano seja ainda melhor para o mercado imobiliário
Chuva de dividendos ainda não acabou: mais de R$ 50 bilhões ainda devem pingar na conta em 2025
Mesmo após uma enxurrada de proventos desde outubro, analistas veem espaço para novos anúncios e pagamentos relevantes na bolsa brasileira
Corrida contra o imposto: Guararapes (GUAR3) anuncia R$ 1,488 bilhão em dividendos e JCP com venda de Midway Mall
A companhia anunciou que os recursos para o pagamento vêm da venda de sua subsidiária Midway Shopping Center para a Capitânia Capital S.A por R$ 1,61 bilhão
Ação que triplicou na bolsa ainda tem mais para dar? Para o Itaú BBA, sim. Gatilho pode estar próximo
Alta de 200% no ano, sensibilidade aos juros e foco em rentabilidade colocam a Movida (MOVI3) no radar, como aposta agressiva para capturar o início do ciclo de cortes da Selic
Flávio Bolsonaro presidente? Saiba por que o mercado acendeu o sinal amarelo para essa possibilidade
Rodrigo Glatt, sócio-fundador da GTI, falou no podcast Touros e Ursos desta semana sobre os temores dos agentes financeiros com a fragmentação da oposição frente à reeleição do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva
‘Flávio Day’ e eleições são só ruído; o que determina o rumo do Ibovespa em 2026 é o cenário global, diz estrategista do Itaú
Tendência global de queda do dólar favorece emergentes, e Brasil ainda deve contar com o bônus da queda na taxa de juros
Susto com cenário eleitoral é prova cabal de que o Ibovespa está em “um claro bull market”, segundo o Santander
Segundo os analistas do banco, a recuperação de boa parte das perdas com a notícia sobre a possível candidatura do senador é sinal de que surpresas negativas não são o suficiente para afugentar investidores
Estas 17 ações superaram os juros no governo Lula 3 — a principal delas entregou um retorno 20 vezes maior que o CDI
Com a taxa básica de juros subindo a 15% no terceiro mandato do presidente Lula, o CDI voltou a assumir o papel de principal referência de retorno
Alta de 140% no ano é pouco: esta ação está barata demais para ser ignorada — segundo o BTG, há espaço para bem mais
O banco atualizou a tese de investimentos para a companhia, reiterando a recomendação de compra e elevando o preço-alvo para os papéis de R$ 14 para R$ 21,50
Queda brusca na B3: por que a Azul (AZUL4) despenca 22% hoje, mesmo com a aprovação do plano que reforça o caixa
As ações reagiram à aprovação judicial do plano de reorganização no Chapter 11, que essencialmente passa o controle da companhia para as mãos dos credores
Ibovespa acima dos 250 mil pontos em 2026: para o Safra é possível — e a eleição não é um grande problema
Na projeção mais otimista do banco, o Ibovespa pode superar os 250 mil pontos com aumento dos lucros das empresas, Selic caindo e cenário internacional ajudando. O cenário-base é de 198 mil pontos para o ano que vem
BTG escala time de ações da América Latina para fechar o ano: esquema 4-3-3 tem Brasil, Peru e México
O banco fez algumas alterações em sua estratégia para empresas da América Latina, abrindo espaço para Chile e Argentina, mas com ações ainda “no banco”
A torneira dos dividendos vai secar em 2026? Especialistas projetam tendências na bolsa diante de tributação
2025 caminha para ser ano recorde em matéria de proventos; em 2026 setores arroz com feijão ganham destaque
As ações que devem ser as melhores pagadoras de dividendos de 2026, com retornos de até 15%
Bancos, seguradoras e elétricas lideram e uma empresa de shoppings será a grande revelação do próximo ano
Bancos sobem na bolsa com o fim das sanções contra Alexandre de Moraes — Banco do Brasil (BBAS3) é o destaque
Quando a sanção foi anunciada, em agosto deste ano, os papéis dos bancos desabaram devido as incertezas em relação à aplicação da punição