O Ibovespa apagou a alta inicial do pregão desta segunda-feira e passou a cair com cada vez mais intensidade à medida que os investidores recebiam novas informações do governo sobre um novo programa de renda mínima para suceder o Bolsa Família.
O principal índice do mercado brasileiro de ações até abriu em alta repercutindo a expectativa de um acordo bipartidário em torno de novas medidas de estímulo à economia dos Estados Unidos, mas com o passar das horas entrou pela contramão.
Enquanto democratas e republicanos tentam costurar um acordo restando pouco mais de um mês para as eleições presidenciais norte-americanas, as bolsas de valores europeias fecharam em alta enquanto os índices de Wall Street apresentam avanço consistente.
Por aqui, entretanto, o Ibovespa virou no início da tarde e passou a cair depois de o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), ter informado que ainda não há acordo sobre a reforma tributária.
A intensidade da queda foi aumentando à medida que novas informações surgiam sobre o modelo de financiamento Renda Cidadã, programa proposto para suceder e expandir o Bolsa Família.
A intenção do governo é utilizar precatórios e recursos do Fundeb para financiar o programa. Ao anunciar o novo programa social do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a proposta do governo busca a “verdade orçamentária”. Segundo ele, o Brasil "é sério e se comporta dentro da responsabilidade fiscal".
Entre os investidores, porém, a leitura foi outra.
"O anúncio de que o governo iria usar a rolagem dos precatórios como fonte de financiamento do programa Renda Cidadã criou apreensão entre investidores que viram na manobra certo calote", afirmou o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito.
Por volta das 16h40, o Ibovespa operava em queda de 2,02%, aos 95.042 pontos.
Perspectiva de acordo nos EUA impulsiona Wall Street
A expectativa em torno de um acordo entre democratas e republicanos depois de meses de impasse tem-se intensificado nas últimas semanas, principalmente depois que o presidente do Federal Reserve Bank (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, chamou a atenção para as limitações da política monetária na superação da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
O otimismo em torno da proximidade de um acordo deixa em segundo plano temores relacionados novas medidas de restrição pela Europa em meio ao crescimento do número de casos de covid-19 e faz as bolsas subirem no exterior.
Anúncio do PBoC causa alívio
Enquanto isso, o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central chinês) anunciou nesta segunda-feira que passará a reduzir as taxas de juro por meio de reformas econômicas.
A autoridade monetária chinesa sugere haver espaço limitado para novos cortes de taxas - estratégia adotada por duas vezes pelo PBoC no decorrer de 2020 como forma de estimular o crescimento no país em meio à pandemia.
Ações de bancos em destaque
Entre os componentes do Ibovespa, os papéis do setor bancário figuram entre os de melhor desempenho do índice nesta segunda-feira.
Os bancos brasileiros são beneficiados hoje pela revisão da recomendação do Bank of America (BofA) para as ações ON do Banco do Brasil (BBAS3, de 'neutro' para 'compra') e a para as units do Santander (SANB11, de 'underpeform' para 'neutro').
No campo negativo, os papéis dos frigoríficos estão sob pressão da decisão do Conselho de Estado chinês de estabelecer a meta de atingir 95% de autossuficiência na produção de carne suína no longo prazo.
Dólar e juro
O dólar, por sua vez, engatou forte alta enquanto os investidores repercutiam o modo como o governo pretende financiar o Renda Cidadã.
Somente o anúncio de um leilão de dólares pelo Banco Central aliviou parcialmente a pressão sobre o real.
Por volta das 16h40, o dólar operava em alta de 1,49%, cotado a R$ 5,6383.
Já os contratos de juros futuros viram as taxas disparar acompanhando o avanço dólar em relação ao real, chegando ao fim do dia em alta acentuada.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,850% para 3,060%;
- Janeiro/2023: de 4,230% para 4,540%;
- Janeiro/2025: de 6,220% para 6,610%;
- Janeiro/2027: de 7,210% para 7,620%.