Depois de abrir em alta nesta quinta-feira, o Ibovespa passou a cair no início da tarde em meio aos temores relacionados com o cenário fiscal brasileiro e depois passou a oscilar entre o azul e o vermelho, mas perto da estabilidade.
O foco dos investidores locais, inicialmente concentrado no evento do Federal Reserve Bank (Fed, o banco central norte-americano) em Jackson Hole, migrou para o prazo dado pelo presidente Jair Bolsonaro ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para que entregue uma nova proposta referente ao programa Renda Brasil.
Ontem, em mais um episódio de fritura pública do ministro pelo presidente, a rejeição do formato proposto por Guedes para financiar o Renda Brasil fez a bolsa cair forte. Bolsonaro pediu a Guedes que apresente uma nova proposta até amanhã.
Volatilidade dá o tom do dia
Mais cedo, a bolsa subia pela reação positiva dos investidores ao discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio de política econômica de Jackson Hole.
Em seu discurso, Jerome Powell anunciou uma importante mudança na condução da política monetária do Fed. A partir de agora, segundo ele, a estratégia da autoridade monetária norte-americana será pautada por uma taxa de inflação média.
Isto significa que o Fed não vai subir os juros apenas com base na previsão de que a inflação vá acelerar, mas esperar para ver sinais de que a inflação, na média, encontra-se dentro da meta de 2% ao ano.
Com essa maior tolerância a possíveis pressões inflacionárias, a expectativa é de que os juros básicos nos EUA permaneçam próximos de zero por um período ainda mais prolongado.
O comentário de Powell intensifica a queda generalizada do dólar ante outras moedas, sustenta a alta em Wall Street e neutraliza os fatores que pesam negativamente sobre a B3.
O Ibovespa chegou a perder novamente o nível de suporte de 100 mil pontos, mas recuperou-o pouco depois. Por volta das 16h40, o principal índice do mercado brasileiro de ações operava em alta de 0,05%, aos 100.672 pontos.
No cenário atual, segundo Powell, as famílias e as empresas norte-americanas tenderão a levar para baixo suas expectativas de inflação, contribuindo para a fraqueza dos preços.
"Para evitar esse resultado e as dinâmicas adversas que poderiam advir, nosso comunicado indica que buscaremos alcançar inflação que na média fique em 2% ao longo do tempo", detalhou ele.
"Portanto, após períodos em que a inflação ficar abaixo de 2%, a política monetária apropriada buscará atingir inflação moderadamente acima de 2% durante algum tempo", concluiu.
Preocupação com cenário fiscal volta a pesar
O anúncio de Powell inicialmente relegou ao segundo plano as preocupações dos investidores com o cenário fiscal brasileiro. Mas a lembrança de que Bolsonaro estipulou um prazo a Guedes passou a pesar no início da tarde.
Ainda assim, a expectativa dos analistas de mercado é que, apesar de toda a turbulência em torno do programa Renda Brasil, o ministro de Economia, Paulo Guedes, chegará a uma proposta capaz de agradar o presidente Jair Bolsonaro sem comprometer o teto de gastos e disciplina fiscal.
"Seguimos em um ambiente desafiador para o Brasil", adverte Dan Kawa, sócio-gestor da TAG Investimentos. "Se o caminho das reformas e da estabilidade fiscal não for retomado, poderemos entrar em uma espiral negativa que será muito difícil de ser revertida", prossegue ele.
Dólar e juro
O dólar, por sua vez, voltou a cair com mais vigor em relação ao real nesta quinta-feira depois de uma alta pontual da taxa de câmbio na parte da manhã.
O movimento de queda da moeda norte-americana é sustentado pela fala de Powell, que desencadeou uma onda de apetite por risco que conduz à desvalorização generalizada do dólar em relação a outras moedas.
Por volta das 16h40, a moeda norte-americana operava em queda de 0,64%, cotada a R$ 5,5793.
Os contratos de juros futuros também reagiram em queda ao discurso de Powell, mas pouco depois os temores com o cenário fiscal passaram a pesar e os juros voltaram a subir, especialmente nos vencimentos mais curtos, levando a um discreto achatamento da curva a termo.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,830% para 2,870%;
- Janeiro/2023: de 4,070% para 4,110%;
- Janeiro/2025: de 5,960% para 5,980%;
- Janeiro/2027: de 6,970% para 6,960%.