O Ibovespa iniciou o dia em alta na esteira da possibilidade de um acordo para um pacote de estímulo econômico nos Estados Unidos. Mas no início da tarde o cenário pesado em Brasília, com a "debandada" nos quadros do Ministério da Economia, acabou pesando mais sobre o humor dos investidores e o mercado brasileiro de ações passou a cair.
Nos EUA, a notícia de que o governo norte-americano alcançou um acordo com a Moderna para a compra de milhões de doses de uma futura vacina contra a covid-19 levou os índices em Nova York subirem forte, o que repercutiu imediatamente no Ibovespa no início da sessão.
Com o passar das horas, porém, a perspectiva de deterioração do cenário fiscal começou a falar mais alto. Por volta das 16h40, o Ibovespa operava em queda de 0,3%, aos 101.869 pontos.
O peso da "debandada"
A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, sofreu duas importantes baixas na noite de ontem. Pediram demissão o secretário especial de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel.
Mattar tocava um eixo considerado importante pelos agentes do mercado financeiro, enquanto Uebel defendia a realização de uma reforma administrativa ainda neste ano.
Sob a alegação de motivos pessoais, também deixou o governo o diretor do programa de desburocratização, José Ziebarth.
Com isso, já são seis as baixas registradas na equipe econômica de Guedes no decorrer das últimas semanas. Em julho, Mansueto Almeida deixou o Tesouro Nacional, Caio Megale saiu da diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda e foi anunciado que Rubem Novaes deixará a presidência do Banco do Brasil.
O próprio ministro referiu-se às demissões como "debandada". Enquanto alguns analistas aventam temores com uma possível saída do próprio Guedes e outros observam uma pressão do ministro para usar a "debandada" a favor de sua agenda, o Ibovespa amarga perdas, na contramão dos mercados financeiros internacionais.
A notícia pesa principalmente sobre ações de empresas estatais incluídas nos planos de privatização do governo, em especial a Eletrobras, cujos papéis ON e PN (ELET3 E ELET6) recuam cerca de 4%.
Dólar e juro
Já o dólar opera em alta repercutindo a notícia da "debandada" no governo em meio a temores de aprofundamento da crise fiscal agravada pela pandemia.
Por volta das 16h40, a moeda norte-americana era cotada em alta de 0,8%, a R$ 5,458.
Enquanto isso, os contratos de juros futuros fecharam em alta, especialmente nos vencimentos mais longos, acompanhando a alta do dólar.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2021: de 1,870% para 1,875%;
- Janeiro/2022: de 2,680% para 2,770%;
- Janeiro/2023: de 3,820% para 3,950%;
- Janeiro/2025: de 5,570% para 5,700%.