Corte na Selic e tensão doméstica fazem o dólar saltar mais de 5% na semana, a R$ 5,74
O dólar à vista chegou a tocar os R$ 5,87 no momento de maior tensão na semana — desde o começo do ano, a moeda já acumula um salto de mais de 43%
O dólar à vista teve um forte alívio de 1,70% nesta sexta-feira (8). Em condições normais, essa baixa firme estamparia as manchetes e certamente contribuiria para melhorar o humor dos investidores. No entanto, estamos muito distantes da normalidade.
Afinal, é preciso colocar as coisas sob perspectiva: essa queda expressiva na cotação do dólar vem após cinco altas consecutivas e sucessivas quebras de recorde — até ontem, a moeda americana acumulava um salto de 7,4% na semana.
Sendo assim, o alívio apenas serviu para distanciar um pouco a divisa dos picos históricos: mesmo com a baixa de hoje, o dólar à vista ainda terminou a semana a R$ 5,7418, acumulando uma valorização de 5,57% desde segunda-feira (4). No ano, a alta já chega a 43,12%.
- O podcast Touros e Ursos desta sexta-feira já está no ar! Eu e o Vinícius Pinheiro falamos sobre os principais temas do mercado nesta semana, com destaque para a disparada do dólar:
A nova onda de pressão cambial nos últimos dias não ocorreu à toa: por aqui, o cenário ainda é bastante incerto, tanto no front político quanto no econômico — e tudo isso, é claro, com a crise do coronavírus como pano de fundo.
Mas a nebulosidade doméstica não foi a única responsável pela escalada do dólar à vista rumo aos R$ 6,00. A decisão do Copom, na última quarta-feira (6), e as sinalizações emitidas pelo Banco Central (BC) a respeito dos próximos passos da política monetária, foram decisivos para estressar ainda mais o mercado de moedas.
O clima também foi mais cauteloso na bolsa, mas nada semelhante ao visto no câmbio: o Ibovespa terminou a semana com uma leve queda acumulada de 0,30% — nesta sexta-feira, o índice avançou 2,75%, aos 80.263,35 pontos.
Em linhas gerais, o Ibovespa e o mercado doméstico de ações tiveram uma ajudinha do exterior nos últimos dias: o clima mais ameno visto lá fora serviu de contraposto às indecisões locais, trazendo algum balanço aos riscos.
Mas é claro que a situação na bolsa está longe de ser tranquila: desde o começo do ano, o Ibovespa ainda acumula perdas de 30,60%. O nível dos 80 mil pontos tem despontado como uma resistência importante para o índice, que não consegue se sustentar acima desse patamar por muito tempo.
Sendo assim, vamos recapitular todos os fatores que estressaram os mercados brasileiros nesta semana, em especial o de câmbio. Começando, é claro, pela surpresa com o Copom.
Juros para baixo
A autoridade monetária cortou a Selic em 0,75 ponto, ao nível de 3% ao ano — a maioria dos investidores apostava numa redução mais branda, de 0,50 ponto, o que já representou uma primeira surpresa por parte do BC.
Mas essa não foi a única novidade: no comunicado, o Copom deixou claro que poderá promover mais um corte de até 0,75 ponto na próxima reunião, o que levaria a taxa básica de juros a 2,25% ao ano — e, considerando a baixa inflação e a contração no PIB por causa do coronavírus, esse passou a ser o cenário-base de muitos analistas.
Essa disposição indicada pelo Banco Central, dando a entender que não vê problemas numa Selic cada vez mais baixa — e mostrando-se despreocupado com eventuais pressões da alta do dólar sobre a inflação —, contribuiu para dar ainda mais força à escalada da moeda americana ante o real.
Em linhas gerais, cortes na Selic acabam reduzindo o chamado diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos — a subtração entre os juros dos dois países. Com a baixa de ontem, esse gap ficou ainda menor.
Isso mexe com o câmbio porque, quanto menor o diferencial, menor é o apelo do Brasil para os investidores que buscam apenas a rentabilidade fácil dos juros. Claro, trata-se de um capital especulativo e que pouco contribui para o desenvolvimento econômico.
Ainda assim, a ausência desse tipo de agente financeiro diminui a entrada de dólares no país, contribuindo para pressionar ainda mais o câmbio.
Tensões em Brasília
No âmbito político, a deterioração nas relações entre o governo e o Congresso continuou inspirando cautela aos mercados: a percepção de que uma bomba pode estourar a qualquer momento aumenta o estresse dos investidores e gera volatilidade às operações.
E são inúmeros os focos de tensão: no Congresso, a PEC de auxílio financeiro emergencial a Estados e municípios foi aprovada pela Câmara — e sem grandes concessões aos pedidos do ministro da Economia, Paulo Guedes, o que pressiona ainda mais a situação fiscal do país.
Por outro lado, tivemos também a aprovação da PEC do Orçamento de Guerra, que separa os gastos emergenciais com a pandemia do restante das contas do governo. Esse mecanismo ainda dá ao BC a possibilidade de atuar no mercado de títulos, o que interfere no comportamento das curvas de juros futuros.
Enquanto essa batalha de projetos é travada no Congresso, também há inúmeras outras crises em paralelo: há a disputa entre o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, e o presidente Jair Bolsonaro; há também a tentativa de manter Guedes à frente da Economia, apesar de uma percepção crescente de que o ministro está sendo escanteado.
Em meio a tudo isso, também há o Centrão pleiteando cada vez mais cargos no governo, de modo a garantir alguma governabilidade à administração Bolsonaro — um quebra-cabeças complexo e que contribui para deixar os investidores na defensiva.
E, no mercado de câmbio, prudência é sinônimo de maior demanda por dólares. Afinal, num cenário como esses, toda proteção é bem-vinda.
Exterior aliviado
Lá fora, contudo, a semana foi mais amena. Apesar de os dados econômicos continuarem mostrando que a crise do coronavírus está deixando marcas profundas na atividade global, a reabertura gradual das economias da Europa e de parte dos EUA foi comemorada pelos investidores.
Além disso, tivemos um segundo foco de alívio no exterior nesta sexta-feira: Segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, negociadores de Pequim e de Washington prometeram criar condições favoráveis para a fase 1 do acordo comercial.
A tensão entre as potências voltou a preocupar os investidores no último final de semana, quando Donald Trump culpou os chineses pelo avanço do novo coronavírus e ameaçou tarifar o país.
Os indícios de pacificação na relação entre americanos e chineses se sobrepuseram, inclusive, aos dados ruins do mercado de trabalho nos EUA, com o corte de 20,5 milhões de postos em abril. O desemprego saltou de 4,4% para 14,7%, o maior nível desde 1929.
Como resultado, as bolsas americanas fecharam o dia em alta e acumularam desempenho positivo na semana. Desde segunda-feira, o Dow Jones subiu 2,56%, o S&P 500 teve ganho de 3,50% e o Nasdaq saltou 6%.
Bolsa hoje: Dólar cai a R$ 5,11 com inflação nos EUA; Ibovespa retoma os 126 mil pontos com NY e avança 1% na semana
RESUMO DO DIA: A ‘Super Sexta’ da inflação movimentou os mercados hoje, com divulgação da prévia dos preços em abril no Brasil e a inflação de março nos Estados Unidos. O Ibovespa fechou em alta de 1,51%, aos 126.526 pontos. Na semana, o principal índice da bolsa brasileira avançou 1,12%. Já o dólar acelerou as […]
Real forte? Esse bancão vê a moeda brasileira vencendo o iene — divisa japonesa atinge o menor nível em 34 anos ante o dólar
O iene, considerado uma das divisas fortes e usada como reserva financeira, tem perdido força contra a moeda norte-americana, mas não só
Usiminas (USIM5) e Banrisul (BRSR6) anunciam dividendos; veja quanto as empresas vão pagar e quem poderá receber
Siderúrgica vai pagar R$ 330 milhões, enquanto o banco gaúcho distribuirá R$ 75 milhões aos acionistas
Cogna (COGN3) nota 10? Banco estrangeiro passa a recomendar compra das ações, que lideram altas da B3
O banco também avalia um preço justo para as ações entre R$ 2,80 e R$ 4,40, o que representa um potencial valorização das ações de até 120%
Bolsa hoje: Com ‘cabo de guerra’ entre Petrobras (PETR4) e Wall Street, Ibovespa fecha em leve queda; dólar sobe a R$ 5,16
RESUMO DO DIA: O dia ficou nublado para os mercados acionários com a divulgação de novos dados econômicos nos Estados Unidos e um impasse de meses solucionado na Petrobras (PETR4). Com alguns raios de sol patrocinados pela petroleira, o Ibovespa sustentou os 124 mil pontos, mas ainda assim termino o dia entre nuvens. O principal […]
Magazine Luiza (MGLU3) recebe sinal verde para grupamento de ações e dá prazo para acionistas ajustarem as posições
A operação será feita na proporção de 10:1. Ou seja, grupos de 10 papéis MGLU3 serão unidos para formar uma única nova ação
Bolsa hoje: Ibovespa cai com bancos e NY antes de resultados da Vale (VALE3); dólar sobe a R$ 5,14
RESUMO DO DIA: O Ibovespa está encarando uma montanha-russa nesta semana, com a temporada de balanços corporativos ganhando tração e Brasília voltando a dividir as atenções dos investidores. Depois de começar o dia em alta, o principal índice da bolsa brasileira terminou o pregão com queda de 0,33%, aos 124.740 pontos. Já o dólar recuperou […]
Exame bem feito: Fleury (FLRY3) acerta o diagnóstico com aquisição milionária e ações sobem 4%
A aquisição marca a entrada do Grupo Fleury em Santa Catarina com a estratégia B2C, o modelo de negócio direto ao consumidor
Bolsa hoje: Ibovespa recua com pressão de Vale (VALE3) na véspera do balanço; dólar cai após dados nos EUA
RESUMO DO DIA: O Ibovespa até começou a semana com o pé direito, mas hoje faltou impulso para sustentar a continuidade de ganhos da véspera O Ibovespa fechou com queda de 0,34%, aos 125.148 pontos. O dólar à vista segue enfraquecido e terminou o dia a R$ 5,1304, com baixa de 0,74%. Por aqui, o […]
A bolsa nunca mais vai fechar? O plano da Bolsa de Valores de Nova York para negociar ações 24 horas por dia, sete dias da semana
O tema esquentou nos últimos anos por conta da negociação de criptomoedas e também por concorrentes da Nyse, que tentam registro para funcionar sem intervalo
Leia Também
-
Prévia da inflação veio melhor que o esperado — mas você deveria estar de olho no dólar, segundo Campos Neto
-
Bolsa hoje: Dólar cai a R$ 5,11 com inflação nos EUA; Ibovespa retoma os 126 mil pontos com NY e avança 1% na semana
-
Real forte? Esse bancão vê a moeda brasileira vencendo o iene — divisa japonesa atinge o menor nível em 34 anos ante o dólar
Mais lidas
-
1
Vale (VALE3) e a megafusão: CEO da mineradora brasileira encara rivais e diz se pode entrar na briga por ativos da Anglo American
-
2
Órfão das LCI e LCA? Banco indica 9 títulos isentos de imposto de renda que rendem mais que o CDI e o Tesouro IPCA+
-
3
Imposto de 25% para o aço importado: só acreditou quem não leu as letras miúdas