“Na raça”, o livro sobre a XP Investimentos que traz lições a partir de um fracasso
A história da empresa que ajudou a mudar a dinâmica da indústria de investimentos não se conta apenas pelos bilhões acumulados nas contas de Guilherme Benchimol e seus sócios nem no estrondoso sucesso esperado para o IPO
Uma história de sucesso costuma ensinar mais pelos fracassos no meio do caminho do que pelas vitórias. Acaba de chegar às livrarias “Na Raça”, que conta como Guilherme Benchimol e um grupo de jovens “outsiders” do mercado criaram a XP Investimentos. Eu já li o livro lançado pela editora Intrínseca e conto a seguir algumas impressões.
A publicação acontece bem no meio dos preparativos da abertura de capital da XP na bolsa norte-americana Nasdaq. As estimativas do mercado apontam que a empresa criada por Benchimol em uma pequena sala e com computadores de segunda mão deve alcançar uma avaliação na casa dos R$ 60 bilhões na oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
Mas a história da corretora que vem mudando a forma como os brasileiros investem não se conta apenas pelos bilhões acumulados nas contas de Benchimol e seus sócios nem no estrondoso sucesso esperado para o IPO.
O principal trunfo do livro escrito pela jornalista Maria Luíza Filgueiras é justamente trazer à luz os bastidores da empresa e dos vários fracassos pessoais e profissionais que levaram Benchimol a estar no lugar e momento mais inusitados para reconstruir sua vida e trajetória.
O lugar é Porto Alegre, onde foi parar depois de ser demitido da corretora onde trabalhava, ainda no começo da carreira. E o momento é 2001, logo após o estouro da bolha de internet e um ano antes da crise que antecedeu a primeira eleição de Lula.
O livro conta como estar longe demais das capitais e dos centros financeiros – e num ciclo de baixa do mercado e da vida pessoal de Benchimol – ajudou a forjar a cultura da XP. O que de longe parece uma trajetória planejada milimetricamente na verdade foi marcada por uma série de improvisos e alguns lances de sorte.
Abro aqui um parênteses para contar uma experiência pessoal. Conheci Benchimol em 2011, quando a corretora tinha sede no Rio e ainda era desprezada por boa parte do meio financeiro.
Foi quando tive a oportunidade de ouvir do próprio Benchimol sobre o processo de desbancarização que a XP pretendia liderar a partir do modelo de “shopping center financeiro” importado da corretora americana Schwab. Nos anos seguintes, assisti à profecia se cumprir bem diante dos meus olhos.
Já naquela época ele me falou dos planos de abrir o capital da empresa. Só errou no prazo e no local: quando conversamos, Benchimol acreditava que podia fazer o IPO em 2013 e na bolsa brasileira.
A abertura de capital só saiu seis anos depois, e nos Estados Unidos. No meio do caminho, a XP se “bancarizou” com a venda de 49,9% do capital para o Itaú Unibanco, por R$ 6,3 bilhões.
Foi só agora, ao ler o livro de Maria Luíza, que descobri que o plano original para o IPO não era levado a sério, e que os sócios da XP já haviam tentado algumas vezes se unir a um bancão.
Todas essas passagens são retratadas em detalhes – o processo de negociação com o Itaú certamente é um dos pontos altos. Ela também não deixa de abordar temas mais espinhosos, como a quantidade de “ex-sócios” que a XP deixou pelo caminho, incluindo o cofundador Marcelo Maisonnave.
Assim como eu, a jornalista acompanhou de perto o crescimento da XP. Ela tem passagens por algumas das principais publicações dedicadas à cobertura de economia, como a revista Exame e os jornais Gazeta Mercantil e Valor Econômico – inclusive trabalhamos juntos nos dois últimos.
Além da cobertura diária, Maria Luíza falou com antigos e atuais sócios, advogados e analistas que acompanharam ou participaram da trajetória da XP em 107 horas de entrevistas. Mas a principal fonte foi o próprio Benchimol, cuja foto estampa a capa do livro.
Como não poderia ser diferente, a versão da história – ou a “narrativa”, como se diz nesses tempos de polarização – é a do vencedor – no caso, Benchimol. Certo ou errado na forma como lidou com os antigos parceiros, foi assim que conseguiu levar a empresa ao patamar de hoje.
Você também não vai encontrar no livro nenhuma reflexão mais longa a respeito de questões como o conflito de interesses no modelo de agentes autônomos – que não têm salário fixo e, por isso, têm um estímulo natural a vender aos clientes os produtos que lhes pagam mais.
Por isso, o livro com a história da XP deve ser encarado mais como uma grande e espetacular lição de empreendedorismo do que como uma referência de empresa que veio lutar contra o "sistema" em defesa do cliente.
Nem preciso dizer que a leitura também é obrigatória para quem pretende se tornar sócio de Benchimol quando a XP lançar suas ações na bolsa.
Na Raça - Como Guilherme Benchimol Criou a XP e Iniciou a Maior Revolução do Mercado Financeiro Brasileiro
Autora: Maria Luíza Filgueiras
Editora Intrínseca
240 páginas
Impresso: R$ 49,90
E-book: R$ 24,90
Cliente da Ágora, corretora do Bradesco, poderá investir diretamente no exterior por meio de carteiras montadas pela BlackRock
Iniciativa é fruto de uma parceria da plataforma com o Bradesco BAC Florida Bank, que oferecerá conta internacional aos clientes da corretora
A crise dos unicórnios chegou às criptomoedas: controladora do Mercado Bitcoin demite 90 funcionários com cenário desfavorável; entenda
Crise das criptomoedas, juros e inflação alta: tudo que aconteceu para a 2TM precisar reduzir seu quadro de funcionários
Nova marca no pedaço: saiba por que a Brasil Brokers (BBRK3) mudou de nome e se a experiência de comprar um imóvel vai mudar
Para os cariocas, no entanto, a operação de imóveis dos mercados primário e secundário continuará se chamando Brasil Brokers
BTG Pactual compra tradicional corretora carioca e segue avançando no segmento de assessoria de investimentos
Uma semana depois de adquirir a Planner, o banco anunciou hoje a compra da Elite Investimentos
Após lançar tokens da seleção brasileira, corretora turca de criptomoedas Bitci pretende lançar fã tokens de 5 times locais
A exchange já lançou 25 fan tokens e pretende dobrar o número até o final de 2022, com investimentos no Brasil, Espanha, Índia, e países da Ásia Central
XP anuncia novo acordo para criação de corretora em sociedade com escritórios de agentes autônomos
Os escritórios BRA e BS Investimentos são especializados no atendimento de clientes focados em renda variável e, juntos, possuem quase 90 mil clientes na rede da XP
Como a compra da corretora Ideal pode fazer o Itaú partir para o ataque e abrir um novo filão em investimentos
Banco viu na Ideal uma forma de complementar a oferta para os investidores que não são clientes do banco, diz Carlos Constantini, diretor do Itaú
Após vender XP, Itaú faz nova aposta em corretoras e investe R$ 650 milhões na Ideal
O maior banco privado brasileiro anunciou a compra de 50,1% do capital da Ideal e volta a ter um cavalo na corrida das plataformas de investimento
XP (XPBR31) e Inter (BIDI4) sobem embalados pelas prévias operacionais; Goldman Sachs vê potencial de alta de 116,5% em ações da XP
Papéis do Banco Inter (BID4) têm dia de volatilidade alta, XP (XPBR31) sobe com força após publicação de dados operacionais favoráveis
XP e Modal ‘juntos e separados’: o que está por trás da compra e o que muda para o investidor
Na guerra das plataformas de investimento, XP pagou barato e ainda eliminou um concorrente ao comprar o Modal por um valor equivalente a R$ 3 bilhões
Leia Também
-
BTG Pactual lança conta com taxa zero para quem mora no exterior e precisa fazer transações e investimentos no Brasil
-
Klabin (KLBN11) e Gerdau (GGBR4) vão distribuir mais de R$ 5,5 bilhões em ações; veja como vai funcionar a bonificação
-
Onde investir na renda fixa após tantas mudanças de regras e expectativas? Veja as recomendações das corretoras e bancos
Mais lidas
-
1
Tchau, Vale (VALE3)? Por que a Cosan (CSAN3) vendeu 33,5 milhões de ações da mineradora
-
2
Dividendos da Petrobras (PETR4): governo pode surpreender e levar proposta de pagamento direto à assembleia, admite presidente da estatal
-
3
Qual o futuro dos juros no Brasil? Campos Neto dá pistas sobre a trajetória da taxa Selic daqui para frente