Mudança no Tesouro Direto melhorou retorno do Tesouro Selic, mas título ainda pode perder da poupança em algumas ocasiões
Pelos meus cálculos (e os de outras pessoas), Tesouro Selic ainda perde da poupança em situações específicas, mas já apresenta vantagem em mais cenários

A redução do spread entre as taxas de compra e venda do Tesouro Selic feita pelo Tesouro Nacional anunciada na quinta-feira (4) à noite foi muito bem-vinda pelos investidores. De fato, a redução da diferença entre as taxas de compra e venda do título mais conservador do Tesouro Direto de 0,04 ponto percentual para 0,01 ponto percentual melhorou o retorno do papel. Mas será que o título agora ganha da poupança em qualquer cenário?
A iniciativa do Tesouro Nacional é bacana, pois representa uma vitória para o investidor. Ela vem na esteira de uma matéria que eu publiquei aqui no Seu Dinheiro, baseada em queixas de investidores, mostrando que o Tesouro Selic perdia da poupança nas respectivas datas de aniversário desta quando resgatado antecipadamente em prazos inferiores a seis meses.
Como nesses casos a alíquota de IR é a mais alta (22,5%) e o spread entre compra e venda era elevado, o título não tinha fôlego para bater a poupança quando esta completava mês cheio, apenas nas datas "quebradas".
Pior que isso: se o título fosse vendido menos de dez dias depois da compra - ao menos no caso do Tesouro Selic 2025, o único à venda atualmente - o investidor teria retorno negativo!
O Tesouro Nacional se pronunciou, justificando que o spread é necessário por questões técnicas, para manter a estabilidade da plataforma de negociação e evitar perdas ao Tesouro. Mas reconheceu o problema e disse estar buscando uma solução. Meus olhos brilharam.
Ontem à noite, divulgou uma nota com o anúncio de que o spread tinha sido cortado, de 0,04 ponto percentual, o valor máximo praticado até então, para 0,01. Assim, o Tesouro Selic 2025, que era adquirido a uma taxa de Selic mais 0,02% e vendido a uma taxa de Selic mais 0,06% passou, a partir desta sexta (05), a ser vendido por uma taxa de Selic mais 0,03%.
Leia Também
O Tesouro Nacional me enviou dois gráficos, uma espécie de antes e depois da redução do spread:
Antes
Depois
Repare que o retorno da poupança, por ser mensal, faz uma escadinha, enquanto o retorno do Tesouro Selic é contínuo, posto que é diário.
Em ambas as simulações, foi considerada uma Selic constante igual à meta atual, igual a 6,5% ao ano. No entanto, foram desconsiderados feriados, quando os títulos públicos não têm rentabilidade, para ficar o mais genérico possível.
O motivo é que, dependendo da data da compra do título, o investidor pega janelas diferentes de feriados, podendo ter retornos distintos em prazos equivalentes.
Por exemplo, um título comprado em 4 de junho de 2018 e vendido em 4 de dezembro do mesmo ano pode ter um retorno diferente de um título comprado em 10 de outubro de 2018 e vendido em 10 de abril de 2019, muito embora o prazo da aplicação seja o mesmo (seis meses).
Segundo o Tesouro Nacional, é verdade que quando o spread praticado era de 0,04 pontos percentuais, o Tesouro Selic não necessariamente era mais rentável que a poupança em todos os dias dos primeiros meses da aplicação, alternando momentos de melhor rentabilidade com momentos de pior rentabilidade, dependendo da data de resgate do investimento. Você pode verificar isso no primeiro gráfico.
Antes da mudança do spread, o retorno do Tesouro Selic era inferior ao da poupança até duas semanas após a data de aniversário desta, passando a ganhar da caderneta nas duas últimas semanas do mês.
Os motivos para tal diferença seriam o spread, a taxa de custódia e o imposto de renda de alíquota elevada no curto prazo, conforme eu já havia apontado na minha reportagem anterior.
Após a mudança do spread, como mostra o gráfico de baixo, o retorno do Tesouro Selic ou está superior ao da caderneta, entre uma data de aniversário e outra, ou está mais ou menos igual, nas datas de aniversário, ao menos nos primeiros meses. Apenas nos primeiros três dias, o Tesouro Selic tem performance pior.
A partir do quinto mês, mais ou menos, o Tesouro Selic se torna vantajoso em todas as datas, e esta vantagem em relação à poupança passa a crescer cada vez mais até a data de vencimento do título.
Mas o Tesouro Selic está mesmo ganhando da poupança em qualquer prazo?
A medida do Tesouro Nacional de fato trouxe melhorias. Uma delas foi bastante significativa: agora está levando bem menos tempo para o Tesouro Selic começar a dar retorno positivo. Se antes levava 10 dias para que o investidor conseguisse vender o título sem ter perdas nominais, os preços divulgados pelo Tesouro nesta sexta mostram que agora o prazo caiu para três dias. Nada mau.
Agora, apesar de os gráficos do Tesouro Nacional mostrarem que o Tesouro Selic está mais rentável que a poupança em qualquer prazo, parece que não é bem assim. Eu fiz umas simulações que constatam que de fato melhorou, mas que o Tesouro Selic ainda perde da poupança em certas circunstâncias bem específicas.
Outros especialistas que acompanham o tema fizeram cálculos constataram o mesmo resultado, como o Luiz Rogé, especialista em renda fixa (ele já escreveu sobre o problema dos spreads do Tesouro Direto em uma coluna especial para o Seu Dinheiro), e outros investidores atentos, como este youtuber.
Primeiro vamos ver como ficaria daqui para frente, para alguém que comprasse um Tesouro Selic hoje, 5 de abril de 2019, investindo mil reais, para ser didática. O único título desse tipo disponível no Tesouro Direto é o que vence em 2025.
Usando a própria calculadora do programa e os dados fornecidos pelo Tesouro Direto para retorno mensal da poupança (0,3715% ao mês) e Selic diária (over) de 6,40%, eu simulei duas situações, considerando uma Selic constante: uma com a Selic igual à meta de 6,50% ao ano e outra com a Selic igual à Selic diária de 6,40% ao ano, uma vez que é a Selic diária que indexa o Tesouro Selic. As tabelas a seguir mostram quanto o investidor teria na poupança nas suas datas de aniversário contra o que ele resgataria, líquido, no Tesouro Selic:
Repare que, considerada a Selic de 6,50% ao ano, o Tesouro Selic só começa a ganhar mesmo da poupança a partir do quarto mês. No primeiro mês, perde. E no segundo e terceiro meses fica mais ou menos a mesma coisa. Só que se considerarmos a Selic over, a vantagem só começa a aparecer mesmo no quinto mês.
E para quem já tinha Tesouro Selic na carteira?
Outra questão que precisamos abordar é a do estoque. Como ficam as pessoas que já compraram Tesouro Selic antes? Considerando o Tesouro Selic 2025, que só tem histórico de preços a partir de 2019, alguém que o tivesse adquirido em 5 de fevereiro, dois meses atrás, teria, se o vendesse hoje (já como o novo spread), um retorno líquido de 0,71%, enquanto que a poupança, no mesmo prazo, rendeu 0,74%. Estou considerando aqui não a simulação do site do Tesouro Direto, mas sim os preços históricos divulgados na seção "Balanços e Estatísticas" do site do programa.
Fiz também umas simulações para uma venda que ocorresse apenas no futuro usando a calculadora do Tesouro Direto, com os mesmos critérios da simulação anterior, mas considerando 5 de fevereiro de 2019 como a data de compra. O resultado foi o seguinte:
Ou seja, considerando a Selic meta, o Tesouro Selic comprado antes da mudança só começa a ganhar da poupança a partir do quinto mês. Já considerando a Selic over, o problema continua o mesmo de antes: só depois de seis meses, vencida a alíquota de 22,5%, é que o Tesouro Selic passa a ganhar da poupança. Não considerei uma aplicação de um mês porque esta teria se dado ainda com o spread antigo. Em outras palavras, para os títulos em estoque, a situação está um pouquinho pior que para os títulos comprados a partir de agora.
Conclusão e resposta do Tesouro Nacional
Comparei com estranheza os meus resultados com os gráficos do Tesouro Nacional e concluí que, dada a proximidade do retorno do Tesouro Selic com a remuneração da poupança em datas de aniversário, as duas rentabilidades aparecem no segundo gráfico como equivalentes nessas ocasiões.
Em outras palavras, por arredondamento até daria para dizer que a rentabilidade das duas aplicações é a mesma nas datas de aniversário da poupança (ao menos depois do primeiro mês), enquanto que, nas demais datas, o Tesouro Selic ganha da caderneta por ter rentabilidade diária.
Conversei na tarde desta sexta-feira (5) com técnicos do Tesouro Nacional que me disseram que de fato o retorno do Tesouro Selic ainda pode ficar um pouco abaixo da poupança em alguns poucos dias específicos nos primeiros meses, mas que a redução do spread de fato potencializou o retorno do Tesouro Selic no curto prazo.
Eles me explicaram, ainda, que nunca viram esses retornos eventualmente menores no curto prazo como um problema, pois a intenção não é que o Tesouro Selic renda mais que a poupança em absolutamente qualquer prazo. Mas sim que o Tesouro Direto atue como ferramenta de educação financeira que possibilita ao investidor ganhar retornos cada vez maiores à medida em que o tempo passa - o que de fato acontece e não ocorre na poupança.
"A gente nunca enxergou a rentabilidade menor nos primeiros meses como um problema. No caso de uma reserva de emergência, se o investidor não precisar resgatá-la nos três primeiros meses, por exemplo, ele vai ter chance de ganhar muito mais num prazo maior", me disse um dos técnicos.
Ainda segundo os técnicos do Tesouro, eles já estavam cientes desta questão envolvendo o spread, mas não foi possível fazer alterações antes por questões técnicas, pois havia "restrições no sistema".
Vitória do investidor
Sem dúvida a mudança anunciada pelo Tesouro Nacional foi uma vitória para o investidor. De maneira geral, agora ou o Tesouro Selic ganha da poupança ou dá uma rentabilidade próxima à da caderneta, dependendo da data de aplicação e de resgate. Ou seja, agora, de fato, o investidor de Tesouro Selic não está mais perdendo deslavadamente para a poupança, o que é ótimo.
Só não dá para afirmar, genérica e categoricamente como nós jornalistas e educadores financeiros gostamos de fazer, que "dá para trocar poupança por Tesouro Selic de olhos fechados porque sempre rende mais". Às vezes bem que a gente gostaria de uma receita de bolo, uma regra de bolso, mas não é bem assim.
Daqui para frente, você pode até manter a sua reserva de emergência no Tesouro Selic, desde que esteja disposto a ganhar mais ou menos o mesmo que a poupança (ou um pouquinho menos, como as contas mostram) em certos prazos específicos. Para quem está de olho na segurança de um título com garantia do governo e a facilidade de aplicar por conta própria no Tesouro Direto, é uma possibilidade.
Mas você também pode optar por fatiar a sua reserva de emergência. Deixar uma parte pequena na poupança, outra em fundo de renda fixa conservadora ou CDB com liquidez diária e outra em Tesouro Selic para prazos maiores, por exemplo. Ou então deixar tudo num fundo longo, se você não estiver muito "a fim de pensar".
Agora ao questionamento: será que a próxima etapa não deveria ser dar um novo corte na taxa de custódia do Tesouro Direto? Perguntados sobre isso, os técnicos do Tesouro disseram que sempre estão monitorando essa possibilidade e debatendo essa questão com a B3, responsável pela custódia do Tesouro Direto. Segundo eles, há sempre uma busca pelo equilíbrio, considerando todos os custos que a B3 tem pelo serviço, mas que a partir do momento em que o programa cresce, a probabilidade de ter um ajuste aumenta.
*A matéria foi atualizada após conversa da repórter com representantes do Tesouro Nacional na sexta-feira (5) por volta de 15h30.
Não são só as LCIs e LCAs! CRI, CRA e debêntures incentivadas também devem perder isenção; demais investimentos terão alíquota única
Pacote de medidas para substituir o aumento do IOF propõe tributação de 5% em todos os títulos de renda fixa hoje isentos, além de alíquota única de 17,5% nas demais aplicações
Ainda vale a pena investir em LCI e LCA com o imposto de 5% proposto por Haddad? Fizemos as contas
Taxação mexe com um dos investimentos preferidos do investidor pessoa física; LCI e LCA hoje são isentas de imposto de renda
Neon lança CDB que rende até 150% do CDI, de olho em novos clientes; veja como investir
Os Certificados de Depósito Bancário tem aporte mínimo de R$ 100; promoção será válida por dois meses
Petrobras (PETR4) está considerando emitir R$ 3 bilhões em debêntures incentivadas, isentas de imposto de renda
Oferta da estatal seguiria outra oferta bilionária de dívida anunciada na semana passada, a da Vale
Vale (VALE3) anuncia emissão de R$ 6 bilhões em debêntures isentas de imposto de renda com retorno inferior ao dos títulos públicos
Com isenção, porém, papel deve se manter atrativo em relação aos títulos Tesouro IPCA+; oferta será restrita a investidores profissionais
CMN reduz prazo de carência de LCIs e LCAs de nove para seis meses, mas fecha um pouco mais o cerco a CRIs, CRAs e CDCAs
Órgão afrouxa restrição imposta em fevereiro de 2024 a LCIs e LCAs, mas aperta um pouco mais as regras para outros títulos isentos de imposto de renda
Vencimento de Tesouro IPCA+ paga R$ 153 bilhões nesta semana; quanto rende essa bolada se for reinvestida?
O Seu Dinheiro simulou o retorno do reinvestimento em novos títulos Tesouro IPCA+ e em outros papéis de renda fixa; confira
Retorno recorde nos títulos IPCA+ de um lado, spreads baixos e RJs do outro: o que é de fato risco e oportunidade na renda fixa privada hoje?
Em carta a investidores, gestora de renda fixa Sparta elenca os pontos positivos e negativos do mercado de crédito privado hoje
Retorno da renda fixa chegou ao topo? Quanto rendem R$ 100 mil na poupança, em Tesouro Selic, CDB e LCI com a Selic em 14,75%
Copom aumentou a taxa básica em mais 0,50 ponto percentual nesta quarta (7), elevando ainda mais o retorno das aplicações pós-fixadas; mas ajuste pode ser o último do ciclo de alta
Onde investir na renda fixa em maio: Tesouro IPCA+ e CRA da BRF são destaques; indicações incluem LCA e debêntures incentivadas
Veja o que BB Investimentos, BTG Pactual, Itaú BBA e XP Investimentos recomendam comprar na renda fixa em maio, especialmente entre os ativos isentos de IR
Selic em alta atrai investidor estrangeiro para a renda fixa do Brasil, apesar do risco fiscal
Analistas também veem espaço para algum ganho — ou perdas limitadas — em dólar para o investidor estrangeiro que aportar no Brasil
Criptoativos de renda fixa: tokens de crédito privado oferecem retorno de até CDI+4% ao ano; é seguro investir?
Empresas aproveitam o apetite do investidor por renda fixa e aumentam a oferta de criptoativos de dívida, registrados na blockchain; entenda os benefícios e os riscos desses novos investimentos
Tesouro Direto pagará R$ 153 bilhões aos investidores em maio; veja data de pagamento e qual título dá direito aos ganhos
O valor corresponde ao vencimento de 33,5 milhões de NTN-Bs, que remuneram com uma taxa prefixada acrescida da variação da inflação
CDBs do Banco Master que pagam até 140% do CDI valem o investimento no curto prazo? Títulos seguem “baratos” no mercado secundário
Investidores seguem tentando desovar seus papéis nas plataformas de corretoras como XP e BTG, mas analistas não veem com bons olhos o risco que os títulos representam
As empresas não querem mais saber da bolsa? Puxada por debêntures, renda fixa domina o mercado com apetite por títulos isentos de IR
Com Selic elevada e incertezas no horizonte, emissões de ações vão de mal a pior, e companhias preferem captar recursos via dívida — no Brasil e no exterior; CRIs e CRAs, no entanto, veem emissões caírem
Não foi só o Banco Master: entre os CDBs mais rentáveis de março, prefixado do Santander paga 15,72%, e banco chinês oferece 9,4% + IPCA
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado; no mês passado, estoque de CDBs no país chegou a R$ 2,57 trilhões, alta de 14,3% na base anual
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
CDBs do Banco Master pagam até 160% do CDI no mercado secundário após investidores desovarem papéis com desconto
Negócio do Master com BRB jogou luz nos problemas de liquidez do banco, o que levou os investidores a optarem por resgate antecipado, com descontos de até 20%; taxas no secundário tiram atratividade dos novos títulos emitidos pelo banco, a taxas mais baixas
O ativo que Luis Stuhlberger gosta em meio às tensões globais e à perda de popularidade de Lula — e que está mais barato que a bolsa
Para o gestor do fundo Verde, Brasil não aguenta mais quatro anos de PT sem haver uma “argentinização”
Banco Master diminui taxas de CDBs em meio à possível compra pelo BRB; veja como ficam as remunerações agora
O grupo Master já soma R$ 52 bilhões em CDBs investidos, mas o Banco de Brasília assumiria apenas uma parte desse passivo — que agora pode aumentar ainda mais