Uma boa lição filosófica, aprendida na prática
Parece uma loucura, mas quando você passa a duvidar de si mesmo, das próprias convicções, e percebe que nada pode ser afirmado com tanta certeza, assume-se uma espécie de relaxamento, porque nada é mesmo tão certo
“Para Montaigne, o maior problema do sistema jurídico era não levar em consideração uma realidade fundamental da condição humana: as pessoas são falíveis. Esperava-se sempre um veredito final e, no entanto, por definição, muitas vezes era impossível alcançar uma decisão com um mínimo grau de certeza. As provas muitas vezes falhavam ou eram inadequadas e, para complicar as coisas, os juízes cometiam erros pessoais. Nenhum juiz poderia sinceramente considerar perfeitas todas as suas decisões: eles seguiam mais as próprias inclinações que as provas, e não raro a boa ou má digestão do almoço também influenciava. Era algo natural e, portanto, inevitável, mas pelo menos um juiz mais sábio podia adquirir consciência da própria falibilidade e levá-la em consideração. Podia aprender a ir mais devagar, tomando cuidado com as reações iniciais e examinando mais atentamente as coisas. A única coisa boa no sistema jurídico era o fato de tornar tão óbvias as falhas humanas: uma boa lição filosófica.
Se os advogados estavam sujeitos a errar, o mesmo se podia dizer das leis que produziam, já que eram concebidas por seres humanos. Também este era um fato que só podia ser reconhecido e acomodado, mas não alterado. Esse desvio na direção do autoquestionamento, da autoconsciência e do reconhecimento da imperfeição tornou-se uma marca do pensamento de Montaigne em todas as esferas, e não apenas no direito.”
Acho esse trecho maravilhoso. Ele consta do livro igualmente maravilhoso “Como viver: ou uma biografia de Montaigne em uma pergunta e vinte tentativas de resposta”, da Sarah Bakewell, também autora do bom (mas não tão maravilhoso) “No café existencialista: o retrato da época em que a filosofia, a sensualidade e a rebeldia andavam juntas”.
Michel de Montaigne reflete um tipo de posicionamento perante a vida, que, na minha visão, poderia (a rigor, deveria) muito bem ser aplicado às decisões de investimento. Não deve ser coincidência que Nassim Taleb já foi por vezes apontado como uma espécie de Montaigne contemporâneo, tendo inclusive relacionado os “Ensaios” do escritor francês entre sua lista de cinco livros recomendados e de influência sobre si mesmo. De certo modo, escrever um “ensaio” é o que tento fazer aqui todas as manhãs. Por favor, não tome isso como qualquer tentativa de paralelismo com os dois supracitados, tampouco como sugestão de uma qualidade literária que, nós quatro sabemos, não disponho. Um “ensaio” vem mesmo no sentido de “ensaiar”, de se colocarem ideias conforme o fluxo de pensamentos lhe parece, com argumentos sendo construídos ao mesmo tempo em que os próprios contra-argumentos, sem necessariamente um veredicto final. Colocamos ideias, elucubrações, possibilidades — como essa que acaba de me ocorrer: poderia o Ibovespa atingir 300 mil pontos no atual ciclo positivo?
Ora, se o brilhante Guilherme Aché está certo, conforme li ontem no InfoMoney, estamos no meio de um bull market para o mercado de ações brasileiro. Então, pensa comigo: se saímos de 38 mil pontos para os atuais 107 mil pontos, houve uma multiplicação de cerca de 2,8 vezes para o Ibovespa. Se estamos no meio do caminho, grosseiramente, multiplicamos os 107 mil pontos por outras 2,8 vezes. Eu faço a conta para você: 301 mil pontos. É uma pena uma esquadra tão brilhante ainda estar restrita aos investidores institucionais.
Montaigne tinha uma mania curiosa em seus textos. Ele desviava com frequência do argumento central, perdendo-se em veredas do próprio pensamento e do autoquestionamento, às vezes sem nem mesmo saber o motivo. Tenho essa mania esquisita também.
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Outro ponto esgota nossas semelhanças. Montaigne era uma síntese de três filosofias helenísticas: o epicurismo, o estoicismo e, talvez principalmente, o ceticismo pirrônico. Conforme o nome sugere, esse último criado por Pirro de Élis, contemporâneo de Alexandre, o Grande, mas desenvolvido, estruturado e formalizado por ninguém menos que… Sextus Empiricus! Sim, ele mesmo, nosso grande pai.
Para essa turma, a ataraxia, a serenidade e a suspensão da ansiedade, tão desejadas pelos filósofos, seriam atingidas por meio da epoché, a suspensão do julgamento ou do juízo. Ou seja, não teríamos opinião, julgamento ou juízo sobre as coisas. Em resumo, um tratado definitivo contra o dogmatismo, sendo impossível afirmar qualquer coisa de maneira categórica, mantendo-se um constante estado de dúvida. Anedoticamente, é como se fosse acrescentado à frase, depois percebida como clichê e lugar-comum de Sócrates, “só sei que nada sei” algo como “e não estou muito certo disso”. Quando eu digo que não acredito em gestão ativa, não significa que acredite em gestão passiva, e vice-versa.
Parece uma loucura, mas quando você passa a duvidar de si mesmo, das próprias convicções, e percebe que nada pode ser afirmado com tanta certeza, assume-se uma espécie de relaxamento, porque nada é mesmo tão certo. Passa-se a rir de si mesmo, das pseudotentativas de se estar no controle.
É essa postura que tem nos guiado como empresários, investidores e gestores de portfólio. Ao criar um argumento, surge igualmente no mesmo instante uma ponderação de igual força, amplitude e profundidade. Como um embate dialético que, diferentemente daquele proposto por Hegel, assume uma caminhada à frente pelo confronto entre tese e antítese, posteriormente condensado numa nova síntese, aqui ficamos quase andando em círculos, sem saber qual das vidas necessariamente é a verdadeira. Não há linha de chegada para a construção patrimonial, não há destino final — logo, não pode haver um veredicto definitivo sobre teses e antíteses também.
Acima de tudo, Montaigne era um filósofo prático e crítico ferrenho aos acadêmicos — aliás, tal como Sextus Empiricus, autor de “Contra os professores”. Por um mínimo de coerência, como podemos conectar essas pobres linhas com algum contorno pragmático?
O que vinha acontecendo desde meados de outubro? Duas coisas foram fundamentais:
1. Lá fora, houve um abrandamento da rivalidade comercial entre EUA e China, com sinais de que caminhávamos para um acordo fase 1 entre as partes, e, na margem, interrompemos a desaceleração dos PMIs em nível global — os mais otimistas notaram inclusive uma aceleração. Com isso, afastou-se a hipótese de uma recessão mundial iminente, permitindo ao capital estrangeiro voltar a dirigir-se para mercados emergentes, onde crescimento global importa (e muito);
2. Aqui dentro, formalizamos a reforma da Previdência, continuamos o processo de afrouxamento monetário e notamos melhora da atividade econômica, com um início de um processo, que entendo como sistemático, de revisão para cima nas projeções de crescimento para 2020.
Momentaneamente, parecíamos viver uma espécie de céu de brigadeiro e, não à toa, o Ibovespa saltou feito um foguete para algo próximo dos 110 mil pontos, novamente sem qualquer comedimento, linearidade ou gradualismo, como costuma ser mesmo.
Até que, subitamente, Lula saiu da cadeia, os protestos na América Latina e em Hong Kong levaram ao Congresso a preocupação com distribuição de renda (o que pode dificultar as reformas estritamente liberais, ainda que isso não seja uma interpretação adequada, pois não vejo as coisas como conflitantes), houve gente falando em suspeição de Sergio Moro, outros falando em unidade da esquerda, e Donald Trump voltou a dificultar as negociações com os chineses e com as tarifas sobre importação de carros na União Europeia. Voltamos dez casas.
Mais uma vez, o investidor é lembrado de que precisa de um portfólio diversificado, de carregar proteções em suas carteiras para surpresas no meio do caminho, da importância de não se alavancar e de focar no longo prazo, como remédio para a aleatoriedade típica e dominante do curto prazo. Em resumo, da imperiosa necessidade de duvidar de si mesmo e de lembrar que ele — e todos nós, “especialistas” — somos falíveis. Uma boa lição filosófica, aprendida na prática.
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